NELSON MOTTA
Uma das mais legítimas aspirações do ser humano é se tornar mais belo, aos seus próprios olhos e diante das fêmeas e dos machos da espécie. Zé Dirceu é humano, tem pleno direito de querer ficar mais bonito e, como homem de esquerda, sempre acreditou que os fios justificam os meios.
O Brasil não é só o país da piada pronta do Zé Simão, também está virando o da metáfora pronta. Como essa, político-capilar, estrelada por Dirceu, tirando fios de cabelo da nuca e reimplantando-os na vasta e brilhante testa.
O velho guerreiro vai voltar à cena com o seu velho topete. Zé Dirceu sempre foi topetudo, e se orgulhava de ser chamado de "Alain Delon dos pobres". Até como galã, Dirceu já mostrava uma opção preferencial pelos pobres, embora suas fãs fossem as jovens universitárias das elites brancas: a nobre calça e a cabeleira rebelde se completavam.
Na guerra do mensalão, Dirceu se descabelou. Na solidão de sua sala no Planalto, arrancava os cabelos em fúria e desespero, até finalmente cair em desgraça, semicareca e acusado de ser o chefe de uma quadrilha que cometeu crimes cabeludos contra a democracia. Sua voz e seu sotaque continuaram os mesmos, mas os seus cabelos... E Dirceu ainda teve o topete de dizer que não sabia de nada.
Ao resgatar remotos cabelinhos rebeldes da nuca histórica e reimplantá-los na devastada testa pós-queda, Dirceu sinaliza para a militância que é hora de tomar as ruas e arrepiar, fazer onda, encrespar. Alisar e amaciar, jamais. E denuncia que o mito de que, "na hora do aperto, é dos carecas que elas gostam mais" é armação da direita disfarçada de marchinha de Carnaval.
E o "corta o cabelo dele!" da "Cabeleira do Zezé" é uma palavra de ordem fascistóide da imprensa golpista.
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