21 janeiro 2008

O ROUBO E O PROGRESSO

CLÓVIS ROSSI

No mundo todo, 900 milhões de pessoas acham que os políticos são desonestos. Chocante, embora não propriamente uma grande novidade.
É o que se infere da pesquisa batizada de "A Voz do Povo", feita pelo Gallup International para o Fórum Econômico Mundial, a entidade que organiza, todo janeiro, os encontros de Davos.
O Gallup ouviu 61,6 mil pessoas em 60 países, mas garante que os resultados refletem o ponto de vista de 1,5 bilhão de cidadãos. Como 60% deles dizem que os políticos são desonestos, chega-se aos 900 milhões. Na América Latina são mais: 77%. O Brasil não entrou na pesquisa, mas acho que ninguém duvida de que os resultados seriam parecidos ou piores, dada a catarata de escândalos que se sucedem governo após governo.
O que mais incomoda é que ainda não se inventou outra maneira de intermediação entre Estado e sociedade que não seja a política. Se os seus agentes não são confiáveis, tem-se um buraco institucional gravíssimo. A propósito, apenas 8% dos pesquisados no mundo confiam nos políticos; na América Latina, menos (4%).
De todo modo, parece que começa a haver crescente descolamento entre a atividade política e o funcionamento do país. O Brasil é um exemplo nítido: o Congresso é um horror, a articulação Executivo/ Parlamento é atrapalhada, na melhor das hipóteses, e promíscua, na pior, a ação do governo é claramente lenta e insuficiente, mas, mesmo assim, a economia anda.
A Venezuela é outro exemplo: 79% de seus cidadãos acham os políticos desonestos, apenas 4% (metade da média mundial) confiam neles, mas, não obstante, 55% esperam que a próxima geração será mais próspera que a atual (muito mais ou um pouco mais).
Leitura possível: enquanto os políticos roubam, o país progride. Até quando, no entanto?

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