09 janeiro 2008

CAOS TERRESTRE

BENJAMIN STEINBRUCH

Há um verdadeiro caos terrestre nas estradas brasileiras, tão grave quanto aquele vivido no setor aéreo

Os feriados de fim de ano são um momento de reencontro e alegria para as famílias. O sol de verão leva milhares de pessoas às praias, onde festas e fogos espalham sentimentos de esperança.
Mas, ano após ano, o feriadão de Natal e Réveillon deixa uma rastro de tristeza. Neste ano, por exemplo, houve um aumento assustador no número de acidentes nas estradas. Só nas rodovias federais, aconteceram 4.300 acidentes, com 295 mortes. Em São Paulo, outras 82 pessoas morreram em 2.363 acidentes. Tanto quanto as armas, veículos podem ser máquinas perigosas.
Mais de 1 milhão de pessoas morrem anualmente nas estradas de todo o mundo. No Brasil, esse problema é gravíssimo. Em 2007, houve 123 mil acidentes só em rodovias federais, 6.840 pessoas morreram e 75 mil ficaram feridas. Esses números não incluem acidentes nas cidades nem em estradas estaduais e municipais. Ao todo, as mortes chegam a 35 mil por ano.
São estatísticas dramáticas. Há um verdadeiro caos terrestre nas estradas brasileiras, tão grave quanto aquele vivido no setor aéreo e que mobilizou a sociedade em busca de medidas emergenciais. Os resultados dessa mobilização, apesar de o problema estar longe de ser resolvido, já foram sentidos. Neste fim de ano, não houve confusões nos aeroportos.
O caos terrestre também exige mobilização urgente da sociedade. É preciso atacar com persistência e coragem as causas desses acidentes.
A principal causa é a imprudência de motoristas e motociclistas: excesso de velocidade, ultrapassagens indevidas, desatenção, cansaço e consumo de álcool. As deficiências das estradas, mal sinalizadas e cheias de buracos, também contribuem muito para aumentar o número de tragédias.
Falta de recursos não é desculpa para adiar medidas urgentes. A primeira ação seria o esforço concentrado para a formação e a reeducação dos motoristas. Também é fundamental o papel do agente fiscalizador. O Código Nacional de Trânsito é severo, relaciona 11 diferentes tipos de crimes, mas não se pode dizer o mesmo de sua aplicação. Não é possível haver tanta tolerância com o tráfego pelo acostamento, com caminhões em alta velocidade na faixa esquerda ou com a "costura" de motoristas apressados. A fiscalização policial implacável pode mudar esse quadro. Prova disso é que, após o feriado sangrento do Natal, com 196 mortes nas estradas federais, a polícia rodoviária lançou uma operação especial para o Ano Novo e o número de mortes caiu pela metade.
Além disso, são necessárias algumas alterações legais. A lei permite, por exemplo, o tráfego de motocicletas entre os carros nas estradas. Não é preciso ser especialista em trânsito para saber que esse tipo de ultrapassagem é perigosíssimo.
Por fim, faltam investimentos na qualificação de estradas. Com exceção de algumas do Sudeste, as rodovias brasileiras não permitem o tráfego dos veículos modernos em velocidade e segurança. Faltam acostamentos, defensas e drenagem. A sinalização é deficiente e às vezes denota displicência. São comuns placas assim: "Curva com alto índice de acidentes". Por que não se corrige a curva?
É bom lembrar também o custo dos desastres nas cidades e estradas -cerca de R$ 35 bilhões por ano-, embora esse não seja o principal problema a lamentar. O que a sociedade não pode aceitar é a morte de quase cem pessoas por dia no trânsito, porque isso é doloroso para as famílias e vergonhoso para o Brasil.


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