16 janeiro 2008

REQUIÃO FAZ CENA EM TV PARA CRITICAR JUSTIÇA

Folha de S. Paulo

Governador corta sua própria voz em programa de canal estatal em protesto à decisão judicial que o proíbe de fazer promoção pessoal

Juiz federal diz que só tenta vetar mau uso da emissora e que não se trata de censura; telespectador era conduzido a canal de secretário do PR

Para protestar contra o juiz federal que o proibiu de atacar adversários pela TV Educativa do Paraná, o governador Roberto Requião (PMDB) cortou sua própria voz no programa "Escola de Governo", uma reunião semanal transmitida pela emissora para anúncio de obras e projetos das secretarias estaduais. Quando Requião se manifestava, o som era cortado e uma tarja com a palavra "censurado" era colocada na tela.
Foi a primeira exibição do programa desde que o juiz Edgard Lippmann Júnior, do Tribunal Regional Federal da 4ª Região, atendeu na semana passada parte de um recurso da Procuradoria em Curitiba, que acusa Requião de usar a TV estatal para promoção pessoal e ataques a adversários, mídia, juízes e Ministério Público. O juiz proibiu as críticas, mas não suspendeu o programa, como pedia a Procuradoria.
Na exibição, além da tarja, uma mensagem associava o silêncio de Requião à decisão do juiz e avisava que o pronunciamento poderia ser acompanhado sem cortes de áudio na emissora Canal 21, do empresário Luiz Mussi, secretário especial do governo. Procurado pela Folha, Mussi não ligou de volta.
O programa começou ontem com depoimentos gravados em solidariedade ao governador e de repúdio à ordem judicial.
Entre os que criticaram a decisão, estavam o senador Pedro Simon (PMDB-RS); o líder do MST João Pedro Stédile; o ex-assessor do presidente Lula Frei Betto; e os presidentes da Fenaj (Federação Nacional dos Jornalistas), Sergio Murillo de Andrade, e da ABI (Associação Brasileira de Imprensa), Maurício Azêdo.
"A censura é uma prática abominável que tivemos nos 21 anos de ditadura militar", afirmou Frei Betto.
Ao final das declarações, Requião foi anunciado para falar. Enquanto as câmeras o mostravam conversando com a platéia, o som era cortado e aparecia a mensagem de censura. O áudio voltava quando os secretários iam a um púlpito falar sobre suas pastas. Quando Requião conversava com eles, o som era interrompido de novo.
Em entrevista, o governador criticou o Judiciário. "Querem me transformar num divulgador de receitas de bolo, como aconteceu na ditadura", disse, numa referência à publicação de receitas pelo jornal "O Estado de S. Paulo" em protesto pelas notícias retiradas pelos censores do regime.

Outro lado
O juiz Edgard Lippmann Júnior disse à rádio CBN que sua decisão não impede Requião de falar. "O que fizemos no processo foi vedar o mau uso da TV Educativa. Nunca impedi o governador de falar." Procurado pela Folha, ele afirmou que não daria mais entrevistas.
O juiz disse que vai aguardar manifestação do Ministério Público para analisar se o teor do programa de ontem extrapolou a determinação judicial. "Se ficar caracterizado que isso se constitui numa afronta, vai ser analisado por mim, porque já existe uma multa prevista [de R$ 50 mil por cada agressão]", disse Lippmann Júnior.
O juiz disse lamentar críticas de Requião sobre a decisão. Ele afirmou que recusa o convite feito pelo governador do Paraná para debater a decisão no programa.


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Por que o governador Requião insiste em atitudes como esta?
Lamentável!

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