07 janeiro 2008

PALAVRAS PROIBIDAS

RUY CASTRO

Uma comissão da Câmara aprovou por unanimidade (ou seja, sem ler) o projeto do deputado Aldo Rebelo (PC do B-SP) banindo os estrangeirismos em voga no Brasil e obrigando sua substituição por equivalentes da língua portuguesa. Se o projeto for aprovado pelo Senado, significa que Aldo Rebelo passará a ditar como Millôr Fernandes, Carlos Heitor Cony, Luis Fernando Verissimo e todos nós poderemos escrever.
Fico imaginando se Aldo Rebelo tivesse imposto sua novilíngua no século 19. Constaria apenas das palavras portuguesas e, quem sabe, indígenas. Isso quer dizer que ficaríamos privados da contribuição negra ao nosso vocabulário, já que muitos dos africanos trazidos como escravos eram estrangeiros, de nações fora do domínio colonial luso.
Angu, balaio, balangandã, banzé, banzo, batuque, berimbau, bugiganga, bunda, cachaça, cachimbo, caçula, cafuné, calombo, cambada, camundongo, candomblé, careca, cochilo, dengo, engambelar, fubá, jiló, macambúzio, mandinga, marimbondo, minhoca, mocotó, moleque, muamba, muxoxo, quitute, samba, senzala, tanga, vatapá, xingar, zumbi. Estas são apenas algumas palavras que viajaram nos porões dos navios e não seriam permitidas. Para Aldo Rebelo, só valeriam as que viessem no convés, faladas pelos brancos.
O nacionalismo tem suas virtudes, uma delas a de não se sujeitar a ser imposto por uma penada -exceto na Albânia, país dos amores do deputado. De fato, o brasileiro tem abusado do inglês em suas estratégias de marketing (olha ele aí) e fachadas de lojas. A cafonice impera. Mas a língua possui lógica própria. Só conserva o que o povo quer, e essa definição leva tempo.
Aldo Rebelo já fez melhor. Em 2005, graças a ele, o governo Lula instituiu o dia 31 de outubro como o Dia do Saci Pererê.

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