31 dezembro 2007

FELIZ ANO NOVO!

Mais um ano está terminando...

Assim como a misericórdia do Senhor se renova a cada dia, renovam nossos sonhos com a chegada de um novo ano.

Sonhos, projetos, planos, desejos. Busca, entrega, encontro... tudo de novo. Que maravilha é viver!

Obrigado Senhor, pela minha vida e pela vida dos meus.
Obrigado Senhor, pela vida de quem lê esta mensagem.


Que neste novo ano que chega possamos ter Deus na direção de todas as coisas, porque somente Ele nos basta.

Dai-nos Senhor, força, sabedoria e coragem. E seja conosco todo o tempo.


O meu desejo é que você se sinta abraçado e abençoado pelo Pai hoje e para todo o sempre.

FELIZ ANO NOVO PARA VOCÊ!

FELIZ ANO NOVO PARA TODOS NÓS!

VEM 2008!

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A MALDIÇÃO DOS QUE NÃO SE CONFORMAM

DANUZA LEÃO

A cada vez que fazem o que se costuma fazer nas datas certas, como todo mundo, sofrem, e muito

Ninguem decide ser inconformado; eles nascem assim, ou não.
O universo dos que não se conformam é único. Sem nem se dar conta, eles compram as revistas de moda só para fazer exatamente o contrário do que elas mandam. Se foi decretado que o amarelo é a cor desse verão, o inconformado não precisa nem pensar: antes de sair de casa, tudo funciona no piloto automático, e até que o amarelo saia de moda ele não será visto convivendo com nada dessa cor; talvez nem coma mais bananas, até a onda passar.
Ele estará sempre ou muito à frente do seu tempo, ou lá atrás, bem longe. Um inconformado não iria, por dinheiro nenhum, passar o Réveillon ou o Carnaval em Salvador ou Trancoso; para ele, isso é coisa de um passado remoto, já vivido, ou talvez de um futuro, um dia. Recentemente foi obrigado a deixar de lado o vinho rosé, de que gostava tanto - e até bebia com duas pedrinhas de gelo- para não fazer parte da turma que descobriu, em 2007, esse tão antigo vinho da Provence. Teve que rever seus gostos, pelo menos por aqui, para não fazer parte do mundo dos que seguem a moda de perto demais. Os inconformados sofrem.
Não que sejam pessoas difíceis; elas apenas gostam de andar na contramão, e isso em tudo. Um inconformado só freqüenta praias no inverno, não vai a restaurantes da moda, e seu roteiro internacional é, geralmente, um pouco de Paris, Veneza, Marrakech ou Capri - fora de estação, é claro. Nunca pisaram em Bali e estão esperando que passe a febre da Índia para poderem voltar a esse país tão lindo, hoje tão banalizado; preferem ficar em casa, inteiramente sós, a fazer parte de qualquer grupo que se guia por modismos.
Um inconformado detesta datas; não sabe do dia do aniversário de nenhum amigo e gostaria que esquecessem do dele. Quando pode, pega um avião, vai para bem longe e só volta uns dez dias depois da "data querida", mas nem sempre consegue se livrar; tem sempre um amigo ou uma amiga que lembra e dá os parabéns quando ele volta. E tem mais: se ninguém se lembrar, o inconformado é capaz de sofrer, se achando um rejeitado. Se não é fácil entender um inconformado, mais difícil é ser um deles.
O fim de ano dos inconformados é um verdadeiro suplício; quando vê um gorrinho de Papai Noel, os comerciais na TV anunciando o Natal, as guirlandas de luzinhas piscando, ele passa mal, e se alguém mandar um cartão de feliz Natal ou uma lembrancinha, quer se atirar pela janela. Passa tudo adiante imediatamente, mas felizmente empregadas domésticas e porteiros estão aí para isso mesmo. Entre 20 de dezembro e 6 de janeiro, em suas casas não entra uma só castanha, um só panetone, nada que lembre, de longe, o tal do Natal; e, se conseguir, durante esse prazo nem atende o telefone. Um problema, entender um inconformado.
Eles até tentam, mas não conseguem - e não por falta de esforço; a cada vez que fazem o que se costuma fazer nas datas certas, como todo mundo, sofrem, e muito. Depois de algumas tentativas, desistem, ficam como são, e pronto; mas fácil não é.
Basicamente, os inconformados não suportam ter que viver da maneira que foi determinada, seja lá por quem for, mas têm, pelo menos, um mérito: não obrigam ninguém a fazer o que eles querem, seja lá o que for.
Só um inconformado compreende outro inconformado, e como eles são poucos, geralmente passam a vida sós; sós e sofrendo, porque eles sofrem - mas preferem assim. Mas, de alguma maneira, não escapam de desejar, a amigos e a todos, um feliz Ano Novo.
Sendo assim, feliz 2008.

CAI O NÚMERO DE FORMADOS NA REDE PÚBLICA

Folha de S. Paulo

Levantamento mostra que, apesar de mais alunos entrarem nas universidades públicas, quantidade de formados caiu 9,5% em 2 anos

Resultado revela perda na eficiência das instituições, que são financiadas com verba pública; evasão é tida como uma das causas

O número de alunos que entra nas universidades públicas brasileiras cresce desde a década passada. Nos dois últimos anos, porém, a quantidade de estudantes formados nessa rede caiu quase 10%, apontam dados do Ministério da Educação.
O resultado representa uma perda na eficiência nessas instituições, que são financiadas com recursos públicos. Neste ano, somente a rede federal terá R$ 1,7 bilhão para custeio, três vezes mais do que há quatro anos, segundo o MEC.
Pesquisadores afirmam que a queda ocorre devido ao aumento da evasão (estudantes que desistem dos cursos). Outro ponto é o aumento do tempo que os estudantes têm levado para se formar.
Para esses analistas, diversos motivos causam os dois problemas, entre eles a necessidade de o aluno começar a trabalhar e o descontentamento com os cursos.
Tabulação feita pela Folha com base nos dados do Censo da Educação Superior, divulgado neste mês, mostra que 19.177 estudantes a menos se formaram nas instituições públicas em 2006 do que em 2004 (queda de 9,5%).
A perda de mais de 19 mil alunos representa quase o dobro de vagas oferecidas pela USP no vestibular para 2008.
Também houve diminuição de formados na rede pública entre 2005 e o ano passado. Até 2004, a quantidade de estudantes formados nessa rede vinha aumentando.
O volume de ingressantes cresceu 17% entre 2001 e 2003, quando entrou a maioria dos alunos que deveriam se formar entre 2004 e 2006. No período em que as instituições públicas perderam eficiência, houve aumento de 30,5% de formados nas universidades privadas.
Também utilizando dados do censo, o professor Oscar Hipólito (ex-diretor do Instituto de Física USP-São Carlos e consultor do Instituto Lobo para o Desenvolvimento da Educação, da Ciência e da Tecnologia) calculou a evasão na rede pública, a pedido da Folha.
Os dados mostram que o número de alunos que deixaram seus cursos cresceu de 11,8% para 12,3% entre 2005 e 2006 (variação de 4,2%). "Só isso não explica a queda de egressos [formados]. Os alunos também estão demorando mais para se formarem", disse Hipólito.
Segundo seus cálculos, em 2006 apenas 43% dos estudantes concluíram seus cursos no tempo esperado.
"A queda no número de formandos é preocupante. Representa prejuízo financeiro para o Estado, além de perdas acadêmicas e sociais", afirmou.
Os resultados do Enade (antigo Provão) mostram que os cursos de melhor qualidade estão nas instituições públicas.
Na edição 2006 do exame, 21,2% dos cursos das universidades pública alcançaram o conceito 5 (máximo), ante 1,6% do sistema particular.


Para educadores, desinteresse por cursos e problemas financeiros aumentam a evasão

Dificuldade para se manter na universidade, desencanto com os cursos e problemas de gestão são algumas das possibilidades citadas por pesquisadores e gestores para explicar o aumento da evasão e do tempo de conclusão dos cursos das instituições públicas.
O presidente da Andifes (associação que reúne as universidades federais), Arquimedes Diógenes Ciloni, afirma que o aumento das matrículas que ocorre desde a década passada fez com que entrassem nas universidades camadas mais pobres da sociedade -que possuem mais dificuldades para seguir no ensino superior.
"Mesmo que o curso seja gratuito, há gastos com transporte, livros, alimentação. Fica pesado, principalmente para os que precisam mudar de cidade. Muitos desistem", afirmou.
O consultor em ensino superior Carlos Monteiro também cita as dificuldades financeiras dos estudantes. "Durante o ensino superior, muitos passam a ser chefe de família e precisam começar a trabalhar. Às vezes não é possível conciliar."
Monteiro aponta também que o modelo do ensino superior pode desagradar. "Na maioria absoluta dos casos, as aulas repetem o modelo do ensino básico. O aluno se cansa."
Para Monteiro, uma das principais medidas para "segurar" os alunos no ensino superior é diversificar o sistema, aumentando os cursos de curta duração, por exemplo.
O pesquisador Oscar Hipólito, ex-diretor do Instituto de Física USP-São Carlos, diz que a queda no número de concluintes ocorre principalmente devido a problema de gestão das universidades. E cita como exemplo o sistema de créditos, no qual o próprio aluno monta sua carga horária de aulas. "Do mesmo modo que dá mais liberdade para o aluno, o que pode ajudá-lo, muitas universidades deixam o estudante solto, e ele acaba se perdendo."

Gestões Lula e FHC
O Ministério da Educação do governo Lula culpou a gestão FHC (1995-2002) pela perda de eficiência nas universidades federais do país. Os tucanos rebateram a crítica.
Para o atual secretário de Ensino Superior, Ronaldo Mota, a queda de concluintes entre 2004 e 2006 é reflexo de "políticas adotadas" na década de 2000. Mota cita as verbas de custeio, que, de acordo com ele, eram, em 2003, cerca de um terço das deste ano.
"O número de concluintes de agora reflete políticas adotadas no período anterior. Com falta de custeio e carência de recursos humanos, as universidades se sentiram pouco estimuladas a repensarem seus modelos acadêmicos e a combaterem a evasão", disse.
Ministro da Educação na gestão FHC, Paulo Renato Souza negou que as universidades tenham sofrido problemas financeiros em seu período.
De acordo com o ex-ministro, a análise apresentada pelo governo Lula desconsidera convênios feitos em 2000 que renderam R$ 500 milhões (valor da época) em equipamentos para as instituições.
"Tanto não houve problema de recursos que o número de alunos nas universidades federais cresceu na minha gestão", afirmou. Segundo dados do MEC, entre os anos de 1995 e de 2002, o número de vagas nesse sistema cresceu 46,43%.
De acordo com o ex-ministro, atualmente deputado federal pelo PSDB-SP, o número de concluintes caiu nas universidades federais "porque não está havendo cobrança do governo" em cima das universidades públicas.

O QUE NÃO LEIO NOS ASTROS

FERREIRA GULLAR


Gostaria de só lembrar coisas boas, como o ursinho branco que comoveu o mundo

Numa noite de 31 de dezembro, há muitos anos, na casa da família, no Leme, onde passávamos o Réveillon, debrucei-me à janela e olhei o céu. Era meia-noite e brindávamos a passagem do ano. Bebi um gole de champanhe e demorei-me a observar alguns pontos de luz que brilhavam na escuridão cósmica. Eram estrelas? Planetas? De fato era o mesmo céu que outras vezes olhara daquela janela.
Não havia ali nenhum sinal de que um novo ano começava. Olhei para a rua, os carros estacionados sob a luz dos postes, nada indicava que algo de especial acontecia. O Ano Novo não começa nem no céu nem no chão, pensei, começa no coração. No coração e na mente das pessoas, porque a vida é inventada. Nós dividimos o tempo em dias, meses, anos e, só por isso, amanhã, dia 31, termina o ano de 2007.
Não estarei naquela janela do apartamento do Leme e muitas daquelas pessoas não existem mais, melhor dizendo, estarão possivelmente brilhando como pequenas luzes na noite enigmática. Não voltarei a buscar nas estrelas sinais de que o ano mudou, mesmo porque, aqui em Copacabana, o céu estará tomado pelo estourar colorido dos fogos de artifício. E esse, sim, é um sinal de que um ano novo começa. Não um sinal cósmico, já que o cosmo está na dele: um sinal humano, com que assinalamos a alegria de estarmos vivos.
Mas, hoje, dia 30, pergunto-me o que de significativo ocorreu durante este ano que finda. Minha memória é falha, já nem consigo saber ao certo se determinado fato aconteceu este ano ou no ano anterior. Gostaria de só lembrar coisas boas, como aquele ursinho branco que a mãe ursa abandonou e cuja imagem comoveu o mundo. Os ecologistas queriam acabar com ele, dentro da lógica ecológica, segundo a qual, se a mãe ursa desistiu de criá-lo, não devemos nós contrariá-la. Ela é a natureza e a natureza tem sempre razão. E eu me perguntava: por que matar um bichinho tão lindo e sem culpa? Felizmente, os funcionários do zôo, "ignorantes", deixaram-se levar pelo carinho e o salvaram. A adesão cega a "verdades" pode nos levar a praticar crueldades, como, por exemplo, o jovem Raskolnikoff de "Crime e Castigo" ou, em escala apocalíptica, Osama bin Laden.
Um fato que muito me chocou este ano foi a cena daquela deputada chavista, esbofeteando, "ao vivo", um apresentador de televisão, que a teria ofendido. Ela veio garantida por quatro capangas, invadiu o estúdio e espancou o cara, repetidas vezes. Antevi o que seria a Venezuela sob uma ditadura chavista.
Se Hugo Chávez me lembra um urso pouco simpático, reconheço, não obstante, que a sua liderança é expressão do contexto histórico venezuelano, marcado por governos corruptos e indiferentes às desigualdades sociais. Porque procurou reduzir essas desigualdades, conta com o apoio dos pobres e dos que com eles se identificam. Mas a ambição do poder subiu-lhe à cabeça e ele então inventou o "socialismo bolivariano", que implicaria o fim da democracia na Venezuela. E não só lá, uma vez que, por dizer-se bolivariano, o novo regime tenderia a se estender por toda a América Latina.
Chávez deixa isso evidente quando se intromete nas questões internas dos países vizinhos, seja Colômbia, Peru, Bolívia, Equador, México e mesmo o Brasil, cujo Congresso foi por ele insultado.
As mudanças que Chávez pretendia ver aprovadas pelo referendo, além de permitir-lhe reeleger-se indefinidamente, transferia para suas mãos uma soma de poder que acabava com a autonomia do Judiciário e do Parlamento e liquidava na prática com a liberdade de imprensa. A criação de comitês comunais, cujos líderes dependeriam de sua aprovação, visava anular a ação dos partidos políticos e levar à imposição do partido único. Confiado na popularidade, Chávez tinha como certa a aprovação da proposta. Mas eis que a juventude universitária venezuelana tomou a si a missão de defender a democracia, foi para as ruas, mobilizou a opinião pública e derrotou o líder que parecia imbatível.
Quase no mesmo dia, pesquisa Datafolha revelou que 65% dos brasileiros são contrários ao terceiro mandato de Lula. Evo Morales também desistiu da reeleição sem limites. Os três baixaram o tom.
Talvez tenham entendido que podem fazer muito por seus países, sem embarcar numa aventura antidemocrática. Quanto a Chávez e Morales, não garanto, mas Lula sabe que, no Brasil, o buraco é mais embaixo. De qualquer modo, se não leio no céu nenhuma mensagem confiável, sei que pelo menos não pagaremos CPMF nos próximos meses.

"DE OLHO NO IMPOSTO"

ELIANE CANTANHÊDE

Governo e oposição chegam ao final do ano contabilizando perdas e ganhos com o fim da CPMF. Lula tenta transformar a derrota em vitória, acusando a oposição de prejudicar a Saúde. DEM e PSDB querem cristalizar a vitória amplificando na sociedade a grita contra a carga tributária. Boa briga.
O fim da CPMF encerra um ciclo de aumentos de impostos. Agora, o movimento é pela redução, soprado por ventos internacionais favoráveis, crescimento da economia interna, explosão na arrecadação. E não dá para continuar esperando a reforma tributária decidida por União, Estados e municípios.
Para o deputado Paulo Bornhausen (DEM-SC), que levantou a bandeira do "Xô, CPMF!", eles são um "clubão": "Quando esse clubão se reúne, é sempre para aumentar impostos, nunca para baixar".
Para surfar na onda do fim da CPMF e chegar a uma reforma tributária em dois anos, é preciso ampliar o debate do "clubão" para a sociedade que, pela primeira vez, tomou posição em relação a um imposto. O tema emergiu. O próximo passo da oposição será a favor de um projeto, De Olho no Imposto, que chegou ao Congresso pelas associações comerciais e com 1,5 milhão de assinaturas, determinando que as notas fiscais especifiquem o que vai para impostos e o que o consumidor paga de fato pelo produto ou serviço.
No Brasil, os impostos são abstrações. O camarada paga sem saber. Ouve falar que são escorchantes e nunca confere - nem se escandaliza. Se a nota fiscal deixar bem claro o golpe, vai servir de alerta, primeiro, e gerar pressão, depois.
A questão da transparência dos impostos pode chegar madura às eleições de 2010. O futuro presidente e o futuro Congresso serão compelidos a tomar providências. Não apenas sentados com governadores e prefeitos, mas ouvindo a voz dos contribuintes.
Taí, parece promissor.

OS PRÍNCIPES

Editorial da Folha de S. Paulo

Sobrou sorte e faltou ousadia a Lula em 2007; não se deu nenhum desastre, não se assumiu, tampouco, risco nenhum

Um presidente confiante e tranqüilo ocupou as telas de televisão brasileiras na noite de quinta-feira, e não eram imaginários os motivos de seu otimismo. Neste final de 2007, Lula colhe os frutos de um programa econômico e de uma política de correção das desigualdades implantados há mais de dez anos, nos quais teve o bom senso de persistir e que soube aprofundar.
Só interessa aos sectários de uma ou outra filiação partidária estabelecer as responsabilidades pessoais - se de Fernando Henrique, se de Luiz Inácio, que travam uma batalha de egos pelo cetro do príncipe - a respeito dos índices positivos que a economia e a sociedade brasileiras ostentam nesta passagem de ano.
Verdade que as expectativas têm sido modestas. Passou o tempo em que se acreditava numa súbita elevação do Brasil ao status de potência. Todos - petistas ou tucanos - aprenderam com o tempo que o fim do regime militar não seria o abre-te sésamo de uma era de prosperidade automática e de justiça social isenta de conflitos.
Durante um bom tempo, o PT concentrou em torno de si mesmo as expectativas mágicas de que poderia dar conta de todos os problemas do país. Em certa medida, esse papel já tinha sido desempenhado pelos tecnocratas tucanos - mais modestos, sem dúvida, do que tantos petistas embriagados de pureza falsa e moralismo imaginário.
Arrogância não faltou, contudo - e não falta - na atitude de governistas e oposicionistas. A propaganda de ambos se beneficia de uma conjuntura internacional favorável, e é duvidoso que pudessem ostentar seus feitos sem o concurso da sorte.
Sorte, ou "fortuna", no vocabulário de Maquiavel, faz par com o conceito de "virtù". A palavra pode ser traduzida menos como um senso de integridade moral, idéia que os dias presentes estão longe de incentivar, e mais como espírito de oportunidade, ímpeto de renovação.
Beneficiado pela "fortuna", o governo Lula de algum modo minimizou seu próprio senso de "virtù". Equilíbrio e prudência evitaram que o pior acontecesse. Evitaram, também, que o melhor fosse tentado.
Na TV, Lula comemora fatos que ninguém deixará de encarar como positivos. São poucos, entretanto, diante do que se poderia esperar de seu governo.
O que foi feito diante da crise terminal vivida pela segurança pública no país? Como enfrentar as óbvias distorções do sistema previdenciário? O que fazer diante da escandalosa disfuncionalidade, mais uma vez escancarada no caso da CPMF, do sistema político?
Ainda que justas, as comemorações presidenciais carregam o travo da omissão. Nisso reside a diferença maquiaveliana entre "fortuna" e "virtù".
Sobrou "fortuna" e faltou "virtù" a Lula em 2007. Não se deu nenhum desastre; não se assumiu, tampouco, risco nenhum. A mediocridade pode ser vista, de qualquer modo, como um triunfo. Desde que se abandonem, o que seria deprimente, as perspectivas de fazer do Brasil um grande e civilizado país.

SÓ... RIA!

Do Blog de Cláudio Humberto:


Prêmio Micomandante

Dividem o troféu o ministro Nélson "Sucuri" Jobim, o mandante da Venezuela Hugo Chávez, e Lula, pela "atuação" na CPMF. Achavam que mandavam, mas só pagaram mico.

Troféu Por qué no te callas?

Confeccionado na Espanha, o prêmio vai para Lula e o povo do Rio. O primeiro quer esquecer a estrondosa vaia. Os cariocas, repeti-la.

Prêmio Trapalhões

Caso consigam vôo, os ex-comandantes da Anac Milton Zuanazzi e Denise Abreu levam também passagem só de ida ao Paquistão. O ministro Tarso Genro ganha balsa cubana para trazer Cacciola do principado de Mônaco.


Troféu Playboy

Para os politicos infiéis, que trocaram de partido, perderam a amante e ficaram com a mulher.

Prêmio Duas Caras

Pelo roteiro, direção, melhor "montagem" e interpretação, ganha a novela do Senado sobre a absolvição de Renan Calheiros e a votação da CPMF

Troféu Tiradentes

Para Lula, "traído pelos controladores de vôo", mensaleiros com a corda no pescoço da Justiça, e ministros do Supremo, traídos por e-mails na internet.

Troféu Penico de Ouro

Pelo conjunto da obra na vida pública, porque a privada se desconhece, Hugo Chávez ganha, mas não leva, por falta de "malas" à prova de titica.

Top dos Tops

Para o aspone erótico para assuntos internacionais aleatorio, Marco Aurelio Garcia, que adoraria ter sido Simão Bolívar, mas não passaria de um sargento do herói do coronel Hugo Chávez. Sargento Garcia.

Estupra, mas não goza

Para todos os passageiros das linhas aéreas que ficaram horas ou dias nos aeroportos tentando relaxar e gozar.

Ouro no Tiro ao Alvo

Para o rei da Espanha, Juan Carlos I, que silenciou o falastrão da Venezuela com o insuperável "Por qué no te callas?".

Troféu Podia dormir sem esta

Para o semiditador Hugo Chavez, pelo besteirol hispano-cucaracho que provocou a bronca do rei da Espanha.

Papai Lula

Troféu dos bolivianos para o presidente do Brasil, por tudo que ele fez por eles e não fez por nós, neste ano que termina.

Prêmio Maurício de Souza

Para o senador Renan Calheiros, por ter folheado a Mônica, por quase levar um Cascão dos colegas e conseguir não chorar na hora de cortar Cebolinha.

Troféu Vingança

Para FHC, que quis lavar e enxagüar a biografia ao teleguiar o fim da CPMF e ainda tirou R$ 40 bilhões do maior adversário, que é também seu maior herdeiro e seguidor.

Prêmio Castigo Supremo

Para o Supremo Tribuna Federal, por mostrar aos mensaleiros do PT e aliados que a Justiça é cega, mas acerta tiro.

Prêmio Guiness

Para o senador Renan Calheiros, que fechou 2007 com o título de político mais absolvido do País, em todos os tempos...

Chávez de Ouro

Para a presidente Argentina, Cristina Kirchner, que foi eleita com a ajudinha dos recursos de amigos e vizinhos.

Prêmio Chave de cadeia

Vai para o clube das Luluzinhas Alopradas do Pará: a governadora Ana Júlia Carepa, a delegada e a juíza, que permitiram a tragédia com a garota presa com homens. De brinde, levam pares de algemas.

Prêmio Menino de Ouro

Um troféu para não perder a esperança: vai para o catarinense Riquelme dos Santos, 9, que vestido de Homem-Aranha salvou do incêndio o bebê do vizinho. Coragem, meninos, e feliz 2008!

29 dezembro 2007

CHARGE

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FICAMOS MAIS BESTIAIS

Diogo Mainardi

Luiz Moyses perdeu a mulher na tragédia da TAM. Na tragédia do Aeroporto de Congonhas. Na tragédia do Airbus. Na tragédia da Anac. Na tragédia da Infraero. Na tragédia de Lula. Chame do jeito que quiser.

Luiz Moyses era de Porto Alegre. Depois do acidente, a TAM o acomodou no Hotel Blue Tree, em Moema, perto de Congonhas. Em 31 de agosto de 2007, à noite, ele estava no bar do hotel, acompanhado por dois outros familiares de vítimas do Airbus. No mesmo dia, ocorrera a abertura do III Congresso Nacional do PT. Mais de 150 delegados do partido também estavam hospedados no Hotel Blue Tree. O PT sempre se deu bem com o Hotel Blue Tree. Um dos delegados petistas foi confraternizar com Luiz Moyses, imaginando que ele fosse um correligionário. Luiz Moyses repeliu-o dizendo que Lula era o culpado pela morte de sua mulher. O delegado petista tentou agredi-lo. Insultou-o. Disse que os parentes dos mortos da TAM estavam chorando demais. O agressor só foi contido pelo deputado baiano Joseph Bandeira e pelos guarda-costas do partido.

O próprio Luiz Moyses relatou-me o episódio alguns meses atrás. Nesta semana, à procura de uma imagem que sintetizasse o ano, lembrei-me dele. Mais do que pelo acidente de Congonhas, 2007 ficará marcado pela bestialidade que deflagrou. Da alegria indecente de Lula na posse de Nelson Jobim ao top, top, top de Marco Aurélio Garcia quando o Jornal Nacional falou sobre o reversor pifado, o Brasil desceu mais uns degrauzinhos na escala de civilidade.

Em 2005 e 2006, o conflito foi entre lulistas e antilulistas, entre achacadores e achacados, entre quadrilheiros de um bando e de outro. 2007 foi pior: o conflito passou a ser mais essencial, mais primário, entre a selvageria e a humanidade. Os fatos do Hotel Blue Tree resumem idealmente o que aconteceu no país nos últimos tempos. Num artigo pomposo como este, em que se analisa o passado em busca de ensinamentos para o futuro, cai bem citar um autor ilustre.

É kitsch, mas cai bem. Pensando em Lula, em Marco Aurélio Garcia e no agressor de Luiz Moyses, cito o autor mais manjado de todos, Samuel Johnson: "A piedade não é natural ao homem. Crianças são sempre cruéis. Selvagens são sempre cruéis. A piedade é adquirida e aperfeiçoada pelo cultivo da razão".

A mulher de Luiz Moyses chamava-se Nádia. Foi sua primeira namorada. Eram casados havia sete anos. Quando Nádia morreu, Luiz Moyses vendeu sua empresa e mudou-se de Porto Alegre. Atualmente, ele tenta reconstruir sua vida em outro lugar, ao mesmo tempo que coordena as atividades do grupo de parentes dos 199 mortos de Congonhas. Chegou a ser recebido por Lula no Palácio do Planalto. Perguntou o motivo do descaso do governo com a segurança nos aeroportos. Lula respondeu, segundo ele, que "o povo brasileiro nunca pediu segurança, pediu que modernizássemos os terminais". Lula teria acrescentado que o Brasil "possui os melhores terminais do mundo, com shopping center e tudo o mais".

O ano acabou. A tragédia da TAM ficou para trás. Menos para Luiz Moyses e todas as pessoas que perderam parentes ou amigos. Eles continuam a buscar respostas para os acontecimentos daquele fim de tarde de julho. Reúnem-se, confortam-se, trocam mensagens. A última suspeita que circula entre eles é que o piloto do Airbus teria pedido autorização para aterrissar no Aeroporto de Guarulhos, mas tivera seu pedido negado pelos controladores. Em 2007, o Brasil pediu para aterrissar numa pista longa e segura, mas acabou numa pista incerta e escorregadia, "com shopping center e tudo o mais".

O TESTE DE VEJA

Abaixo algumas perguntas elaboradas pela revista VEJA sobre os grandes acontecimentos do ano.

Um excelente exercício para testar nossa memória.

Vamos lá?


BRASIL

1 - Que casal estampou as páginas policiais após entrar nos Estados Unidos com 56.000 dólares escondidos em uma mala, uma mochila, um porta-CDs e um exemplar da Bíblia?
a) Anthony Garotinho e Rosinha Matheus
b) Luciano Huck e Angélica
c) Ciro Gomes e Patrícia Pillar
d) Estevam e Sônia Hernandes

2 - Preso ao cinto de segurança do carro, ele foi arrastado por sete quilômetros. Como se chamava o menino cuja morte chocou o país no mês de fevereiro?
a) João Paulo
b) Paulo Henrique
c) João Hélio
d) Hélio de Souza

3 - Em maio, o Papa Bento XVI visitou o Brasil. Além de abrir a V Conferência Geral do Episcopado Latino-Americano e do Caribe, o pontífice teve outra missão:
a) Abençoar o Palácio do Planalto
b) Canonizar Frei Galvão
c) Canonizar Madre Paulina
d) Inaugurar a Catedral de São Galvão

4 - Qual o modelo do avião que se acidentou em São Paulo e vitimou 199 pessoas em julho?
a) Airbus 3054
b) Learjet
c) Boeing MD-83
d) Legacy

5 - "Trata-se de uma fábrica de tubaína que vale menos de 10 milhões de reais. Em maio do ano passado, porém [...] conseguiram vendê-la à Schincariol por 27 milhões de reais". O texto refere-se a um negócio efetuado pela família de qual membro do Congresso Nacional?
a) Arlindo Chinaglia
b) Renan Calheiros
c) Tião Viana
d) Demóstenes Torres

6 - Uma decisão da Comissão de Anistia do Ministério da Justiça beneficiou a família de um personagem histórico brasileiro morto há quase 40 anos. Os familiares de Carlos Lamarca, desertor do Exército, comunista e guerrilheiro, receberam uma indenização do governo quando ele foi promovido a:
a) Tenente
b) General
c) Coronel
d) Capitão

7 - Quais boxeadores cubanos foram localizados e deportados em menos de 48horas após desertarem durante os Jogos Pan-americanos do Rio de Janeiro?
a) Guillermo Lara e Erislandy Rigondeaux
b) Guillermo Rigondeaux e Erislandy Lara
c) Rafael da Costa Capote e Michel Fernandez Garcia
d) Rafael da Costa Capote e Erislandy Lara

8 - Ora ele encarnava o coronel nordestino de métodos truculentos, ora o administrador competente da Bahia. A quem o texto se refere?
a) Ao ministro da Integração Geddel Vieira Lima
b) Ao governador da Bahia, Jacques Wagner
c) Ao senador Antônio Carlos Júnior
d) Ao senador Antônio Carlos Magalhães, morto em julho

9 - Em novembro, Petrobras encontrou reservas gigantes de petróleo no campo de Tupi, na Bacia de Santos. A megajazida, no entanto, só vai operar em:
a) 2010
b) 2013
c) 2020
d) 2009

10 - Em outubro, o presidente Lula aproveitou seu discurso na abertura da Assembléia Geral da ONU para discutir qual tema?
a) biocombustíveis
b) aquecimento global
c) participação de soldados brasileiros no Iraque
d) missão de paz no Haiti


GENTE E ENTRETENIMENTO

1 - A guerra do BOPE contra os traficantes de drogas nos morros cariocas é o tema do filmeTropa de Elite. Quem interpreta o Capitão Nascimento, personagem central do filme?
a) Selton Melo
b) Lázaro Ramos
c) Wagner Moura
d) Fábio Assunção

2 - Entre os vários micos que a cantora Britney Spears pagou em 2007, dois ficaram famosos. Quais:
a) Gravou um vídeo erótico com o ex-marido e pai de seus filhos, o rapper Kevin Federline e colocou na internet
b) Tatuou o número 666 na testa e escreveu uma música com o título Eu sou o Anticristo
c) Raspou a cabeça com máquina zero e exibiu o excesso de peso na apresentação do Video Music Awards 2007
d) Criticou e ameaçou a platéia, ao ser vaiada em um show da sua nova turnê pelo álbum Blackout

3 - Uma personalidade famosa foi impedida de integrar o contingente do Exército na guerra do Iraque, após receber diversas ameaças de militantes radicais. Quem foi essa pessoa?
a) O príncipe Willian, segundo na linha de sucessão ao trono britânico
b) O príncipe Harry, filho caçula do príncipe Charles
c) O ator Daniel Raddcliffe, protagonista da série do bruxinho Harry Potter
d) O ator Zac Efron, protagonista do filme americano High School Musical

4 - Em abril, um cantor causou polêmica ao impedir a circulação de um livro sobre sua vida, atitude que chegou a ser associada à censura. Quem foi ele?
a) Michael Jackson
b) Paul McCartney
c) Caetano Veloso
d) Roberto Carlos

5 - Em março o rabino Henry Sobel foi flagrado por câmeras de segurança roubando gravatas em lojas de luxo de West Palm Beach, na Flórida (EUA). Depois do julgamento, ele foi condenado a:
a) prestar 100 horas de serviço comunitário.
b) devolver as gravatas.
c) cinco meses de detenção em uma cadeia nos Estados Unidos.
d) cinco meses de prisão domiciliar.

6 - Em novembro, uma banda clássica do rock retornou aos palcos, em uma apresentação única, após 12 anos sem tocar em público. A banda em questão é:
a) Black Sabbath
b) Pink Floyd
c) Led Zeppelin
d) The Police

7 - Na mesma semana do mês de julho, o cinema mundial perdeu dois nomes importantes, com a morte dos cineastas:
a) Michelangelo Antonioni e Luchino Visconti.
b) Fabián Bielinsky e Ingmar Bergman.
c) Michelangelo Antonioni e Ingmar Bergman.
d) Roman Polansky e David Lynch.

8 - A patricinha Paris Hilton, famosa por 'aprontar' em suas saídas noturnas, passou 23 dias na prisão em junho por:
a) dirigir alcoolizada
b) dirigir sob efeito de drogas
c) dirigir sem carteira de motorista
d) furtar bolsas Gucci em uma loja em Nova York

9 - As Spice Girls anunciaram em junho o retorno aos palcos, numa turnê que começa em dezembro no Canadá, e o lançamento de um novo CD, Spice Girls Return. Em que ano foi anunciado o fim oficial do conjunto?
a) 1998
b) 1999
c) 2000
d) 2004

10 - O ator John Travolta entrou na pele da dona-de-casa Edna Turnblad - sob cinco próteses e um macacão de 15 quilos -, entre outros acessórios, para estrelar o remake de qual filme?
a) Hairspray
b) Os embalos de sábado à noite
c) Grease, nos tempos da brilhantina
d) A Noviça Rebelde


INTERNACIONAL

1 - Hugo Chávez lançou um novo sistema educacional na Venezuela, que exclui dos livros didáticos sua tentativa fracassada de golpe em 1992. Como é chamado esse sistema?
a) Sistema Educativo Chavista
b) Sistema Educativo do Socialismo do século XXI
c) Sistema Educativo Bolivariano
d) Sistema Educativo Neo-Socialista

2 - A astronauta Lisa Nowak foi notícia em jornais de todo o mundo após:
a) Ser a única sobrevivente na queda do ônibus espacial Discovery
b) Ter sobrevivido à queda do ônibus espacial Columbia
c) Ser presa por atacar sua rival num triângulo amoroso envolvendo outro astronauta.
d) Ser morta por uma astronauta que descobriu que Lisa tinha um caso com seu marido

3 - O legado do primeiro presidente russo após a era soviética inclui o enterro do comunismo e a libertação dos povos das outras 14 repúblicas soviéticas e da Europa Oriental. Quem foi esse líder, morto em maio deste ano?
a) Vladimir Putin
b) Mikail Gorbatchev
c) Boris Ieltsin
d) Nikita Krushev

4 - Na mais velha democracia da Europa continental, onde o voto não é obrigatório e a abstenção nas eleições se tornou símbolo da descrença nos políticos, quase nove entre dez eleitores foram às urnas em maio eleger seu novo presidente. Qual e o país e quem é o presidente?
a) França, Jacques Chirac
b) Alemanha, Horst Köhler
c) Itália, Giorgio Napolitano
d) França, Nicolas Sarkosy

5 - Em agosto, um terremoto de 8 graus na escala Richter matou pelo menos 510 pessoas e deixou mais de 1.500 feridos em qual país sul-americano?
a) Chile
b) Peru
c) Argentina
d) Bolívia

6 - Cristina Kirchner foi eleita a presidente da Argentina em outubro, vencendo no primeiro-turno com larga vantagem sobre seus adversários. Cristina já figurava no cenário político argentino como:
a) Primeira-ministra
b) Vice-presidente
c) Primeira-dama
d) Embaixadora

7 - Em março deste ano, o Brasil recebeu para uma visita de 23 horas o presidente dos Estados Unidos, George W. Bush. Pode-se destacar como o principal motivo da visita do líder norte-americano:
a) Transformar o etanol em uma commodity internacional
b) Buscar soldados latinos para lutar na Guerra do Iraque
c) Averiguar as denúncias de que Bin Laden poderia estar escondido em solo brasileiro
d) Testar sua popularidade na América Latina

8 - Em setembro, Mianmar, um pequeno país asiático, atraiu para si os olhares do mundo após o início de uma série de protestos de monges budistas. O que se poderia apontar como estopim dos protestos?
a) O aumento no preço dos combustíveis e a brutalidade policial contra um grupo de monges
b) A proibição do culto a Buda e o aumento no preço dos combustíveis
c) A brutalidade policial contra um grupo de monges e o racionamento de comida
d) O aumento no preço dos combustíveis e o racionamento de comida

9 - Uma grave crise no Paquistão teve início quando o presidente revogou a Constituição, desautorizou a Suprema Corte e mandou prender seus opositores com um único objetivo: preservar o próprio poder. Quem é este presidente?
a) Pervez Musharraf
b) Benazir Bhutto
c) Benazir Musharraf
d) Pervez Bhutto

10 - Após dez anos à frente do governo, Tony Blair, renunciou ao cargo de primeiro-ministro da Grã-Bretanha em junho. Quem o ex-premiê deixou como seu sucessor?
a) Gordon Brown
b) Lord Falconer
c) Patricia Hewitt
d) David Miliband


QUIZ VEJA - FRASES

1 - "É uma afronta à sociedade. Eu não fui vítima de nenhum atentado aos direitos humanos, mas dos meus próprios erros. Repito: eu não quero (anistia)."
a) José Dirceu, ex-ministro da Casa Civil e deputado cassado.
b) Renan Calheiros, afastado da presidência do Senado.
c) Roberto Jefferson, presidente do PTB cassado depois de denunciar o escândalo do mensalão
d) Lula, presidente da República, desculpando-se por não saber da existência de Caixa 2 no PT

2 - "Eu cometi muitos erros, mas o único que não cometi foi roubar."
a) Paulo Maluf
b) José Dirceu
c) Marcos Camacho, o "Marcola", do Primeiro Comando da Capital
d) Kia Joorabchian, iraniano que representava o MSI no Corinthians.

3 - "A coisa mais estranha que já cheirei? Meu pai. Ele foi cremado e não pude resistir: misturei com cocaína. O efeito foi bem bom e ainda estou vivo."
a) Pete Doherty, líder da banda britânica Babyshambles
b) Ozzy Osbourne, ex-vocalista da banda de heavy metal Black Sabbath
c) Diego Maradona, ex-jogador argentino de futebol
d) Keith Richards, guitarrista dos Rolling Stones

4 - "Eu acredito que a raça humana não tem futuro se não for para o espaço."
a) Stephen Hawking, físico inglês
b) Marcos Pontes, astronauta brasileiro
c) Barbara Morgan, primeira professora a viajar ao espaço
d) Charles Simonyi, milionário americano e quinto turista a viajar ao espaço

5 - "Eu sou o único líder democrata do mundo."
a) Vladimir Putin, presidente da Rússia
b) George W. Bush, presidente dos EUA
c) Hugo Chávez, presidente da Venezuela
d) Fidel Castro, líder de Cuba

6 - "Relaxa e goza porque você esquece todos os transtornos depois."
a) Renan Calheiros para outros parlamentares que também enfrentam processos de cassação por quebra de decoro
b) Lula, acalmando os industriais preocupados com um possível novo apagão energético
c) José Dirceu, apontado como líder do esquema do Mensalão, aos 39 mensaleiros que viraram réus no processo
d) Marta Suplicy, ministra do Turismo, aos viajantes irritados com o caos nos aeroportos brasileiros

7 - "Sou um medroso para andar de avião. Cada vez que o avião fecha a porta eu entrego minha sorte a Deus."
a) Milton Zuanazzi, em sua carta de demissão da diretoria da Agência Nacional de Aviação Civil
b) Lula, na posse de Nelson Jobim no Ministério da Defesa
c) Nelson Jobim, ministro da Defesa, em crítica à administração de Denise Abreu, ex-diretora da Anac
d) Sergio Gaudenzi, presidente da Infraero ao assumir ao cargo em agosto deste ano, antes de prometer melhorias no setor

8 - "Passe água oxigenada na boca para falar de mim!"
a) Heloísa Helena, ao então presidente do Senado, Renan Calheiros, que a chamou de desdentada
b) Walfrido dos Mares Guia, ex-ministro das Relações Institucionais, ao ser formalmente denunciado pelo procurador-geral da República por envolvimento no mensalão tucano
c) Renan Calheiros, dirigindo-se a ex-senadora Heloísa Helena, que o chamou de mentiroso
d) Roberto Jefferson, ao ouvir o parecer do ministro do STF Joaquim Barbosa, relator do processo que o colocou no banco dos réus por envolvimento no esquema do mensalão

9 - "Você é tão feia que não serve nem para ser prostituta".
a) Mônica Veloso, pivô do escândalo desbaratado na Operação Navalha, à Maria Verônica, mulher de Renan Calheiros, que havia ofendido a jornalista quando o escândalo veio à tona.
b) Frase atribuída ao deputado Clodovil Hernandes, em uma briga com a colega da Câmara, Cida Diogo
c) Blake Fielder-Civil, marido de Amy Winehouse, em uma de suas famosas brigas públicas com a cantora
d) Frase que atribuída ao presidente francês Nicolas Sarkosy à sua ex-mulher Cecília, motivo pelo qual teriam se divorciado em outubro.

10 - "Era um Deus e descobri que era um banana de pijama (...) Para mim ele morreu, está sepultado. Não posso acreditar que um cara de 65 anos faça uma galhofa dessa".
a) Luana Piovani, referindo-se a Caetano Veloso, que confirmou ter escrito uma música para a atriz depois de ter negado em público.
b) Hugo Chávez, presidente da Venezuela, depois que o rei da Espanha o mandou calar a boca.
c) Luís Inácio Lula da Silva, após as primeiras denúncias sobre o senador Renan Calheiros
d) Dom Odilo Scherer, arcebispo de São Paulo, indignado com as denúncias feitas contra o padre Júlio Lancelotti por um ex-interno da Febem

28 dezembro 2007

CHARGE

COMO CHEGAMOS PERTO DA OPERAÇÃO CONDOR

CLÓVIS ROSSI

Tem toda a razão o historiador Peter Kornbluh, do Arquivo de Segurança Nacional, em Washington, ao pedir que o governo brasileiro abra seus arquivos militares como a melhor - ou única - fórmula para se chegar à verdade sobre a Operação Condor, a multinacional repressiva montada por países do Cone Sul nos anos 70/80.
Posso testemunhar que é assim porque um grupo de jornalistas latino-americanos esteve a um passo de pôr a mão em arquivos militares, no curso de investigação informal que fizemos nos anos 70, quando ainda todos os países que participaram da Condor eram ditaduras.
O grupo de jornalistas tinha informações, aparentemente corretas, de que a operação nasceu durante ou nos bastidores de uma conferência dos Exércitos americanos, realizada em 1975 no Hotel Carrasco de Montevidéu. Esse tipo de conferência gera um minucioso relato de todos os temas que foram discutidos, mesmo fora das sessões plenárias.
Prova-o o fato de que esta Folha conseguiu o relatório completo de uma dessas conferências, a 17ª (1987), quando as ditaduras já estavam no ocaso ou haviam terminado. A reportagem de 25 de setembro de 1988, e o resumo da capa do jornal dizia: "Representantes de 15 Exércitos das Américas, entre eles o do Brasil, assinaram em novembro do ano passado um acordo que prevê "ações nos demais campos do poder", além do estritamente militar, para "a segurança e defesa do continente americano contra o Movimento Comunista Internacional (MCI)".
O acordo é um dos protocolos assinados na 17ª Conferência dos Exércitos Americanos, realizada em Mar del Plata, na Argentina. Todos foram mantidos em sigilo mas a Folha obteve, nesta semana, cópias dos 15 acordos, das atas das reuniões e dos informes de inteligência militar submetidos à apreciação dos oficiais reunidos.
O informe sobre "a situação da subversão no Brasil", assinado pelo general de brigada Paulo Neves de Aquino, hoje sub-chefe-de-gabinete do Estado-Maior do Exército, afirma que "dos 559 membros da Assembléia Geral Constituinte, cerca de 30% são militantes ou simpatizantes das OS [organizações subversivas]".
Se esse era o teor quando a democracia já estava de volta na maioria dos países, fica fácil imaginar o que poderiam conter as atas completas da conferência de 1975.
A certeza de que havia uma operação militar coordenada e ordenada de cima veio dos depoimentos de parentes das vítimas. A mim, coube entrevistar a viúva do general e ex-presidente boliviano Juan José Torres, assassinado em 1976, e as filhas do general chileno Carlos Prats, morto por um carro-bomba em Buenos Aires, em 1974. Ou seja, não eram militantes da esquerda, que poderiam ser eliminado por comandos rotineiros, mas figuras que haviam atingido o pico da carreira militar. Prats antecedeu Pinochet no comando do Exército. Legalista, opôs-se ao golpe. Perdeu a vida por isso.
Os depoimentos dos familiares e outras apurações levaram a uma pilha de indícios sobre a Condor. Mas faltava uma prova documental.
A oportunidade de obtê-la parecia ter surgido com a perspectiva de eleição na Bolívia, no início dos anos 80. O candidato favorito era Hernán Siles Suazo, histórico líder do Movimento Nacionalista Revolucionário, amigo de alguns dos jornalistas do grupo. A idéia era convencê-lo, uma vez chegado ao poder, a entregar-nos os arquivos militares.
Como eu era o único jornalista não-exilado do grupo, era também o único com liberdade de movimentos entre os países da região. Tocou-me ir a La Paz para conversar com Siles Suazo. Levava, entre outras recomendações, carta de uma amiga dele, alta funcionária das Nações Unidas.
Consegui falar com Siles no final de um comício, nos arredores de La Paz. Expliquei a operação, e ele me encaminhou a um coronel que era o seu enlace com as Forças Armadas.
O coronel trabalhara antes nos serviços de inteligência, o que lhe dava autoridade para confirmar que era viável a tese de que houvesse documentos que delatassem a Condor. Prometeu que nos ajudaria assim que chegassem ao poder.
Não chegaram. Pelo menos não naquela época. Houve outro movimento militar, a eleição foi adiada, Siles Suazo acabou chegando ao poder apenas em 1982, tão asfixiado pela situação econômica e a pressão militar que não havia meios para cobrar dele a promessa.

NATAL SANGRENTO

ELIANE CANTANHÊDE

Muita gente morre de medo de avião, até presidentes e governadores, obrigados, pelo ofício, a voar por aí (no bom sentido) o tempo inteiro. Mas o perigo não está no ar, está muito mais na terra.
Em 2006, morreram 215 pessoas em acidentes aéreos, 154 delas só no choque do Legacy com o Boeing da Gol. Em 2007, foram 264 mortos até ontem, sendo 186 passageiros de um só vôo, o TAM 3054.
No trânsito, foram cerca de 34 mil mortos no ano passado, 5.054 só nas rodovias federais, e podem chegar a 40 mil neste ano, quando já morreram mais de 6.000 nas federais -196 (mais do que no Boeing e no Airbus) apenas no feriadão de Natal. O que é mais perigoso, viajar de avião ou de carro/ônibus?
Todo ano, vou e volto de carro para São Paulo e escrevo sobre os sobressaltos (literais) nas estradas. Uma cratera atrás da outra. E tome curva! Tome chuva! Não é surpresa que o recordista de tragédias no Natal tenha sido Minas, com 460 acidentes, 309 feridos e 26 mortos.
Neste ano, as pessoas fugiram do caos aéreo e caíram no risco das estradas. Fiz o contrário: fugi das estradas. Aeroportos lotados, vôos atrasados, mas nada que não fosse suportável para épocas de pico -e muito menos tragédias.
Em dez anos, a frota de veículos no Brasil pulou de 28,8 milhões para quase 50 milhões. Palmas para a economia, para indústria automobilística, para a classe média motorizada. Só que... à explosão da frota não corresponderam a ampliação e a melhoria da malha viária. A infra-estrutura continua praticamente a mesma. Não pode dar certo.
Entra ano, sai ano, vem a ladainha do governo de que infra-estrutura é fundamental, mas... fica para depois. Agora, o fim da CPMF ameaça o PAC, bem diante da expectativa de 5% de crescimento. Alto crescimento com baixa infra-estrutura gera caos, como nos aeroportos, e tragédia, como a das estradas e de suas vítimas.

CHAMAR AS COISAS PELO NOME

CLÓVIS ROSSI

Gestos humanitários são sempre elogiáveis. Mas termina aí -ou deveria terminar aí- qualquer atitude de legitimação das Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia) a partir da previsível libertação hoje de três das centenas de reféns que o grupo mantém.
Como os governos que testemunharão a operação são todos de origem esquerdista, está na hora de parar de tratar os narcoterroristas como "hermanos".
Se alguma vez tiveram um viés político, justificado ou não pelo contexto de outros momentos históricos, hoje as Farc são apenas um grupo de delinqüentes. E é preciso que se use a palavra certa especialmente na hora em que ocupam o noticiário internacional exatamente por conta do episódio dos reféns.
Quem ler os depoimentos dos parentes das três vítimas a serem presumivelmente libertadas hoje encontrará histórias tremendas de violação dos mais elementares direitos humanos.
Em especial, as mulheres de esquerda deveriam ser as primeiras a erguer o grito ao céu, porque uma das que devem ser libertadas, Clara Rojas, teve um filho no cativeiro, de um dos captores. Pode até ter sido uma relação consentida, mas que tipo de consentimento uma mulher pode dar a um homem quando ela é prisioneira dele?
Silenciar a respeito, a pretexto de que se trata de um combate contra o imperialismo e contra o capitalismo, é, primeiro, mentir. Depois, é sacramentar a mais absurda das violências, desde que seja do "meu" lado. Intolerável em qualquer circunstância.
O "espetáculo" previsto para hoje só se tornou possível graças ao hiperativismo do presidente francês Nicolas Sarkozy. Depois do show, deixar que apodreçam na selva os demais reféns é aceitar que há cidadãos de primeira e de segunda classe. Tudo o que governantes supostamente de esquerda não poderiam tolerar.

27 dezembro 2007

AS MORTES DE CARLOS

André Petry

"Os índios caetés, que devoraram o bispo Sardinha em 1556, são os antepassados culturais dos seis policiais que mataram o garoto de 15 anos depois de torturá-lo com choques elétricos"

A primeira morte de Carlos Rodrigues Junior, adolescente de 15 anos, aconteceu na madrugada de sábado 15, em Bauru, no interior de São Paulo. Seis policiais entraram na casa do garoto, em plena madrugada, foram até seu quarto e lá ficaram por uma hora e onze minutos. O rapaz foi torturado com choques elétricos, enquanto sua mãe e sua irmã ficavam na sala, impedidas de entrar no quarto, escutando seus gritos e gemidos. Carlos era suspeito de roubar uma moto. Não tinha ficha policial. O laudo do Instituto Médico-Legal encontrou em seu corpo trinta marcas de choques elétricos, duas no coração, além de escoriações no rosto e no tórax. Na viatura dos policiais, havia um fio elétrico.

A segunda morte de Carlos deu-se nos dias subseqüentes. A notícia saiu aqui e ali, mas tratada quase com a leveza da rotina. O presidente Lula estava ocupado demais para tratar de um assunto que não lhe rende votos e, afinal de contas, ocorreu no estado de seu amigo imaginário, o governador José Serra. O próprio governador disse que o caso mostrava uma "brutalidade inaceitável", e mais não fez nem disse. Enviar condolências à família? Não se teve notícia disso. Participar do enterro, ir ao velório? Também não se soube disso. Mostrar de algum modo, com a presença física, que o inadmissível aconteceu? Nem pensar. Serra preferiu seguir um modelito mais ou menos parecido com o implantado pela governadora Ana Júlia Carepa, do Pará, quando da descoberta da menina enjaulada com um bando de marmanjos. Só não culpou o passado e os antecessores porque não dá.

Os índios caetés, que devoraram o bispo Sardinha em 1556, são os antepassados culturais dos seis policiais. Pois hoje, na terra dos ex-selvagens e na entrada do terceiro milênio, o recado é o seguinte: o brasileiro Jean Charles de Menezes, assassinado com oito tiros pela polícia inglesa ao ser confundido com um terrorista, é um absurdo. Não pode. Mas os ingleses precisam entender que nós mesmos podemos fazer esse trabalho com os nossos. A prisão de Abu Ghraib, cadeia que se tornou símbolo das atrocidades de Saddam Hussein, que também virou símbolo da tortura e da humilhação infligidas pelos soldados americanos aos presos iraquianos, é um escândalo. Mas, no Brasil, nós mesmos nos encarregamos de fazer isso com os próprios brasileiros.

No velório de Carlos Rodrigues Junior, sua mãe, Elenice Rodrigues, percebeu que o filho estava com os dedos quebrados. O advogado de um dos policiais também compareceu ao velório, só que acompanhado do cidadão que teve sua moto roubada. O motivo da visita era reconhecer o assaltante. O ladrão, disse a vítima, era mesmo o garoto Carlos Rodrigues. Pronto. Como era aparentemente culpado, eis o que basta para que muitos entendam que a tortura, afinal de contas, foi merecida. É exatamente assim que se constrói a barbárie.

À família de Carlos Rodrigues Junior, ainda que isso não sirva nem como consolo tardio, vai aqui, neste texto, pelo menos a lembrança de uma injustiça impressa no papel. Um papel que, se quisermos, podemos usar para forrar a gaiola do passarinho, enrolar o peixe de amanhã ou simplesmente rasgar.

QUE MATÉRIA!

Diogo Mainardi

"Esse é um bom resumo de 2007. Se estivéssemos num romance de Chico Buarque, eu diria que, no instante em que cumprimentei Paulo Henrique Amorim, o ano inteiro passou diante de meus olhos. O Brasil mergulhou de vez na chanchada"

Paulo Henrique Amorim e eu no Fórum de Pinheiros, em São Paulo. Ele como acusador, eu como réu. Encontramo-nos na última segunda-feira, na ante-sala da 1ª Vara Criminal. Fui até ele, cumprimentei-o e perguntei:

– Onde está sua bota cor-de-rosa?

Eu me referia ao programa de Tom Cavalcante, na Rede Record. Duas semanas atrás, Paulo Henrique Amorim participou do quadro B.O.F.E. de Elite, que está circulando na internet com o título "Jornalista de Elite".

B.O.F.E. de Elite, segundo seus autores, é "uma tropa gay, chiquetérrima". Os soldados trajam roupas pretas e botas cor-de-rosa. No programa, Paulo Henrique Amorim desempenhou o papel de um jornalista sério. Em primeiro lugar, perguntou o que teria de fazer para se tornar ele próprio um membro do B.O.F.E. de Elite. O aspira 011 ("Porque 11 é um atrás do outro") respondeu: "Tem de saber segurar no fuzil com carinho". Em seguida, o cantor Tiririca, intérprete do aspira 08 ("Além de macho, ele come biscoito"), soltou o grito de guerra do B.O.F.E. de Elite ("Pochete, gilete, agasalhamos o croquete/Me bate, me arranha, me chama de pira-nha"). Paulo Henrique Amorim curvou-se de tanto rir. Em outra cena, um ator de filmes pornográficos, Alexandre Frota, mandou o jornalista ficar de costas para poder "analisar melhor a sua matéria". Paulo Henrique Amorim obedeceu prontamente, dando um rodopio sensual e recebendo um galanteio do chamado Capitão Monumento: "Que matéria!".

Esse é um bom resumo de 2007. Se estivéssemos num romance de Chico Buarque, eu diria que, no instante em que cumprimentei Paulo Henrique Amorim, o ano inteiro passou diante de meus olhos. O Brasil mergulhou de vez na chanchada. Os aspectos mais grotescos da nacionalidade eliminaram aquele pingo de pudor que a gente ainda fingia conservar. Consagrou-se a burrice, a obtusidade, o descaramento. O lado mais rasteiro do lulismo contaminou o resto da sociedade.

Paulo Henrique Amorim me processou duas vezes por um comentário sobre seu blog no iG. O primeiro processo eu ganhei. Na segunda-feira, apresentamos as testemunhas do segundo. Ele argumenta que, quando eu o acuso de ser a voz do PT, trata-se de uma calúnia. Quando ele me acusa de ser fascista e caluniador, trata-se de uma simples opinião. De acordo com ele, minha coluna afetou seriamente sua imagem. Ele disse à juíza: "A senhora confiaria num jornalista que escreve a soldo? A senhora não deve acreditar no que eu escrevo porque eu sou um jornalista sem credibilidade". Pelo contrário: ele tem toda a credibilidade que se confere a um jornalista do B.O.F.E. de Elite.

Paulo Henrique Amorim saiu enfurecido do tribunal, berrando: "Perdi! Não vou conseguir metê-lo na cadeia". Ele tinha uma viagem marcada para Nova York. Perguntei se ele ficaria em um de seus dois apartamentos na cidade. Ele respondeu que sim. Perguntei se os dois apartamentos haviam sido declarados ao imposto de renda. Ele respondeu mais uma vez que sim.

Enquanto Paulo Henrique Amorim se afastava, analisei-o de costas e pensei:

– Que matéria!

MULHERES NO PODER: MIREMOS OS BONS EXEMPLOS

FAUSTO RODRIGUES DE LIMA

O que é incrível no caso da adolescente violentada seguidas vezes no Pará é a omissão ou o consentimento de diversas mulheres

Notícias vindas do sistema prisional do Pará neste ano estarreceram a opinião pública. Por incrível que pareça, a perplexidade geral não foi motivada apenas pelos fatos em si. Afinal, abusos, inclusive sexuais, em penitenciárias brasileiras não são novidade.
O que é incrível nesse caso é que uma mulher foi trancafiada para ser violentada sexualmente por diversos presos, dia após dia, com a omissão ou o consentimento de uma delegada de polícia, uma juíza, uma secretária de Segurança Pública e uma governadora. Para arrematar, a corregedora de polícia, que deveria apurar a conduta dos policiais envolvidos, sustentou que a vítima "provocou" os presos, argumento clássico utilizado para culpar as mulheres violentadas em ambiente público ou privado.
A situação gerou críticas agudas à atuação das referidas mulheres, as quais ocupam alguns dos mais relevantes cargos da República. Justa ou injusta, é inevitável a grande cobrança sobre as mulheres que exercem o poder. Sempre relegadas ao espaço privado, em que exerciam as funções de mãe e esposa, elas conseguiram recentemente mais espaço na vida pública e participação na condução dos destinos do país.
Nesse percurso, provaram que não são melhores ou piores que os homens. São simplesmente iguais. Erram e acertam na mesma proporção. Praticam atos nobres, mas não estão imunes a atos vis e preconceituosos. Algumas discriminam suas próprias congêneres e defendem privilégios machistas de forma mais radical do que muitos homens.
Em Brasília, por exemplo, uma juíza e uma procuradora de Justiça deixaram de aplicar a Lei Maria da Penha em um caso no qual o marido ateou fogo, utilizando álcool, na esposa grávida, causando-lhe lesões de primeiro e segundo grau; pleitearam a impunidade dele, alegando que o casal havia se "reconciliado", como se um pedido de desculpas pudesse justificar a agressão e excluir a punição criminal.
Essa omissão só foi sanada após recurso aviado pelo Ministério Público, que resultou no julgamento histórico ocorrido no dia 31/5/07, em que o Tribunal de Justiça do Distrito Federal determinou o desarquivamento do caso e a observância da Lei Maria da Penha. Essa decisão, conduzida pelo desembargador Sérgio Bittencourt, tem servido de exemplo e referência para diversos tribunais brasileiros.
Pois bem. Um dos fundamentos utilizados para impedir a impunidade daquele crime tem origem em decisões da juíza mineira Jane Silva. Desembargadora do Tribunal de Justiça de Minas Gerais, Jane Silva, desde o ano de 1994, repudia os entendimentos judiciais que, ainda hoje, permitem aos maridos "corrigir" suas esposas.
Suas palavras, fonte de inspiração para nossa atuação, merecem destaque: "A absolvição em nome de uma pretensa harmonia familiar é uma aberração jurídica. A transitória paz conjugal, muito alegada durante os processos por espancamento das esposas, rapidamente se quebra, uma vez obtida a absolvição". Com essa fundamentação, Jane cassou várias decisões proferidas por juízes e juízas de Minas Gerais.
Sua firmeza na defesa dos direitos humanos a habilitou a ocupar, atualmente, o cargo de ministra do Superior Tribunal de Justiça, um dos mais altos degraus do Poder Judiciário brasileiro. É um exemplo a ser seguido por homens e mulheres que pretendem ocupar cargos importantes com um mínimo de decência.
Diversas outras atuações importantes poderiam ser citadas. Neste ano, por exemplo, a juíza Amini Haddad e a promotora Lindinalva Rodrigues, titulares da Vara de Combate à Violência Doméstica de Cuiabá (MT), foram apontadas pelo governo federal como exemplo no enfrentamento da violência contra a mulher.
Isso demonstra que o sexo (e a raça, e a religião, e a origem etc.) não é decisivo para rotular capacidades e pessoas. Importante é a conduta de cada um, observando-se o grau de tolerância da sociedade à violência.
O caso do Pará mostra apenas o quanto nosso país valoriza uma mulher, adolescente, negra e pobre. Não sejamos hipócritas para afirmar que os mesmos fatos não ocorrem em todos os Estados brasileiros, com a mesma perversidade e naturalidade.
Dito isso, reconheçamos que as mulheres foram à luta e conquistaram direitos. Vieram pra ficar e pretendem mais espaço. Na 10ª Conferência Regional sobre a Mulher da América Latina e Caribe, realizada em agosto deste ano, as latino-americanas aprovaram o Consenso de Quito, que, de forma eloqüente, promete "adotar medidas para garantir que as mulheres alcancem o mais alto nível hierárquico na estrutura do Estado". Cristina Kirchner (Argentina) e Michele Bachelet (Chile) que o digam.


BASE INSTÁVEL

Folha de S. Paulo

Fisiologia na negociação entre o Executivo e o Congresso torna necessária a discussão de uma reforma política

Poucas expressões, no vocabulário político brasileiro, são tão enganosas quanto a de "base de sustentação do governo". Causa desalento verificar, a cada deliberação importante no Congresso Nacional, a quantidade de esforços empreendidos pelo Executivo para obter, com os próprios partidos da situação, os votos de que necessita.
Ministérios, estatais, exigências de verbas e favores, que haviam sido objeto de custosos acordos no momento de formar-se a coligação eleitoral, voltam ao balcão das negociações a cada decisão de interesse do governo. É como se nenhuma base existisse -e nenhuma sustentação houvesse- sem o atendimento de pleitos individuais de cada parlamentar.
Menos do que nos partidos que compõem as forças governistas, parece estar nas mãos de deputados e senadores isolados o destino de qualquer decisão do Congresso. Foram exibidas sem descanso -mas o espetáculo se reproduz cronicamente- as desesperadas concessões do governo Lula para tentar, com êxito na Câmara e insucesso no Senado, a prorrogação da CPMF.
Mais uma vez, o PMDB apresenta a conta ao governo federal: terá o Ministério dos Transportes. Mas que PMDB? Aquietam-se provisoriamente, apenas, as exigências dos setores do partido ligados a José Sarney. Como a hidra mitológica, a agremiação tem inúmeras cabeças, e em todas o mesmo insaciável apetite.
Com algum exagero de imaginação, seria o caso de dizer que cada concessão oferecida pelo Executivo aos partidos de sua base arrisca-se a encontrar, cedo ou tarde, a contrapartida de uma investigação da Polícia Federal; o célebre lema do "é dando que se recebe" poderia, assim, conhecer uma complementação: é recebendo que se termina indiciado.
Antes fosse assim. Mas seria preciso um contingente multitudinário de investigadores e delegados para que os prejuízos acarretados pela fisiologia viessem a eliminar-se significativamente do cenário.
Não há como persistir, dado esse quadro, na tese de que a reforma política seria um assunto excessivamente abstrato e bizantino. Sem constituir, evidentemente, uma panacéia para problemas que têm raízes na própria cultura e no grau de informação da população, trata-se de um tema com implicações práticas e imediatas.
Na ausência de mecanismos que promovam a fidelidade partidária e disciplinem os gastos de campanha, por exemplo, é virtualmente impossível ao Executivo -seja no governo Lula ou nos que o sucederem- contar com elementos mínimos de previsibilidade nas decisões políticas e de maior controle dos gastos governamentais.
A instabilidade do bloco parlamentar do governo -e tudo o que supõe de benefícios fisiológicos para mantê-lo- é, para não dizer o principal, um dos mais decisivos fatores para a degradação que a atividade política hoje conhece no Brasil. O tema -apesar das dificuldades que o cercam- não tem como ser adiado.