24 dezembro 2007

O ERRADO QUE FUNCIONOU

CLÓVIS ROSSI

Dias antes de Antonio Palocci ser defenestrado da Fazenda, pelo escândalo do caseiro, cruzei em Londres com Guido Mantega, durante visita do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
O então presidente do BNDES aproveitou uma rodinha de jornalistas para fazer um comício de exaltação incontrolável dos resultados da política econômica. Terminado o comício, fiz uma observação casual, mas com a rude franqueza habitual: "Quer dizer que está dando certo tudo o que vocês [economistas do PT] passaram a vida dizendo que estava errado?".
Mantega deu um sorriso amarelo, e a rodinha se desfez, porque chegava Lula para a sua palestra a empresários britânicos e brasileiros. Palestra de sempre, que já ouvi umas 500 vezes, a primeira delas da boca do general Ernesto Geisel, na mesma Londres, em 1976. É o samba-exaltação dos feitos do governo de turno.
O Natal deste ano só reforça a sensação, nas fileiras governistas, de que dá certo o que antes era errado. Se Lula, com sua megalomania habitual, disser que nunca antes neste país o Natal foi tão animado (do ponto de vista do consumo, que hoje em dia é afinal o que conta, gostemos ou não), não estará completamente errado. Pode não ser o Natal mais animado de todos os tempos, mas tanto frenesi comprador não se via havia anos e anos.
Nada contra o samba-exaltação (todos os governantes, no mundo todo, o entoam), nada contra o frenesi natalino, nada contra Lula e o PT praticarem no governo o que condenavam na oposição. É do jogo, desde que não queiram me enganar tentando fazer crer que inventaram a pólvora.
O que realmente incomoda é a perspectiva de não haver outra política econômica possível a não ser essa de terceirizar juros, câmbio e política fiscal para o mercado, temperando-a com bolsas-esmola. De todo modo, feliz Natal.

Nenhum comentário: