CLÓVIS ROSSI
Dias antes de Antonio Palocci ser defenestrado da Fazenda, pelo escândalo do caseiro, cruzei em Londres com Guido Mantega, durante visita do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
O então presidente do BNDES aproveitou uma rodinha de jornalistas para fazer um comício de exaltação incontrolável dos resultados da política econômica. Terminado o comício, fiz uma observação casual, mas com a rude franqueza habitual: "Quer dizer que está dando certo tudo o que vocês [economistas do PT] passaram a vida dizendo que estava errado?".
Mantega deu um sorriso amarelo, e a rodinha se desfez, porque chegava Lula para a sua palestra a empresários britânicos e brasileiros. Palestra de sempre, que já ouvi umas 500 vezes, a primeira delas da boca do general Ernesto Geisel, na mesma Londres, em 1976. É o samba-exaltação dos feitos do governo de turno.
O Natal deste ano só reforça a sensação, nas fileiras governistas, de que dá certo o que antes era errado. Se Lula, com sua megalomania habitual, disser que nunca antes neste país o Natal foi tão animado (do ponto de vista do consumo, que hoje em dia é afinal o que conta, gostemos ou não), não estará completamente errado. Pode não ser o Natal mais animado de todos os tempos, mas tanto frenesi comprador não se via havia anos e anos.
Nada contra o samba-exaltação (todos os governantes, no mundo todo, o entoam), nada contra o frenesi natalino, nada contra Lula e o PT praticarem no governo o que condenavam na oposição. É do jogo, desde que não queiram me enganar tentando fazer crer que inventaram a pólvora.
O que realmente incomoda é a perspectiva de não haver outra política econômica possível a não ser essa de terceirizar juros, câmbio e política fiscal para o mercado, temperando-a com bolsas-esmola. De todo modo, feliz Natal.
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