15 dezembro 2007

TRAIÇÕES, ERROS E 2010 DERROTAM GOVERNO

Folha de S. Paulo

Fatores levaram presidente Lula a sofrer uma das principais derrotas no Congresso, ao ver a CPMF não ser prorrogada

Senadores falavam em quebrar a "arrogância" do presidente, que não deixou de hostilizar a oposição mesmo precisando de votos

Traições, base aliada rebelada, questões paroquiais, erros de negociação e desejo de sangrar o presidente Lula para enfraquecê-lo no jogo de 2010.
Essa confluência de fatores, reunidos de uma forma improvável num mesmo momento, levou o governo Lula a sofrer uma das principais derrotas no Congresso na madrugada de ontem, quando a CPMF perdeu sua sobrevida no próximo ano.
Democratas e tucanos, tidos como votos certos no início do ano para renovar a CPMF, viram na votação o momento apropriado para minar Lula numa fase de boa avaliação e economia crescendo, com inflação baixa, reservas perto de US$ 200 bilhões e investimentos em alta. Um cenário que pode transformar o petista no grande eleitor de 2010.
Sem os R$ 40 bilhões da CPMF, a oposição reduz o poder de fogo do petista em suas duas principais frentes: vitaminar os programas sociais e acelerar o PAC (Programa de Aceleração do Crescimento).
Em reuniões reservadas, senadores da oposição apontavam a necessidade de quebrar o que classificam de "arrogância" do presidente Lula, que mesmo precisando de votos da oposição não deixou de hostilizá-la até na véspera da votação.
Esse cenário provocou a primeira surpresa para os petistas. Não só os democratas, mas também os tucanos votaram unidos contra a CPMF, quando Lula apostava que pelo menos senadores do PSDB iriam votar com ele na reta final.
O presidente se sentiu traído por tucanos. O senador Marconi Perillo (PSDB-GO), por exemplo, chegou a se encontrar sigilosamente com Lula na última terça-feira, na casa do governador José Roberto Arruda (DEM-DF). Perillo admitiu que havia errado em se posicionar contra a CPMF e perguntou ao presidente o que poderia fazer para ajudá-lo na aprovação.
No dia da votação, quando o ex-governador de Goiás discursava no plenário contra a CPMF, Lula reclamava do comportamento do senador tucano.
Não só dele, mas principalmente do líder do PSDB no Senado, Arthur Virgílio (AM). Aliado do ex-presidente FHC, ele foi o responsável pelo rompimento de dois acordos fechados com o governo Lula. "Está claro que o resultado teve um caráter de quebra de ritmo do governo, de fazer ele perder qualidade", disse a líder do PT, senadora Ideli Salvatti (SC).

Planalto
A oposição diz que o Planalto contribuiu para minar as forças dos senadores tucanos que desejavam votar a favor com uma negociação errática e constantes críticas, inclusive por parte de Lula. Tasso Jereissati (PSDB-CE), visto como voto pró-CPMF, reclamava reservadamente na segunda-feira que ficava difícil defender o governo com os ataques do presidente durante viagem a Belém.
Os tucanos queixaram-se também do desempenho do ministro Guido Mantega (Fazenda) no início das negociações. Na avaliação de senadores, se o ex-ministro Antonio Palocci tivesse participado desde o começo, a CPMF poderia ter sido aprovada.
Só que a oposição sozinha não foi responsável pela derrota do governo. De um total de 53 senadores em partidos governistas, o presidente descobriu que pode contar com no máximo 47 deles.
Motivo: descuidou-se das negociações com alguns senadores da base, como Expedito Jr. (PR-RO) e Mozarildo Cavalcanti (PTB-RR). O primeiro se sentiu alijado na distribuição de cargos em seu Estado. O segundo votou contra por motivos paroquiais: é inimigo em Roraima do líder do governo Romero Jucá (PMDB).
O governo não conseguiu também fazer com que os peemedebistas Jarbas Vasconcelos (PE), Geraldo Mesquita (AC) e Mão Santa (PI) votassem como senadores aliados. Assessores de Lula admitiam que, no caso dos dois últimos, se eles tivessem sido tratados com "deferência", leia-se serem atendidos em seus pleitos por verbas e cargos, teriam votado a favor do imposto do cheque.
Quando a CPMF chegou no Senado, o prazo era exíguo. Os líderes tiveram de correr contra o tempo e novos erros foram cometidos-como privilegiar as conversas com a oposição. Descobriu-se o equívoco um pouco tarde, num momento em que senadores governistas já estavam rebelados.

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