Rosely Sayão
DIANTE DAS DIFICULDADES NA RELAÇÃO COM FILHOS E ALUNOS, NÃO PODEMOS ESMORECER; AO CONTRÁRIO: É NESSAS HORAS QUE FORTALECEMOS NOSSO PAPEL
Final de ano é tempo de balanço, e uma de nossas constatações é que estamos em dívida com as crianças e os jovens. Temos ofertado um mundo hostil e pouco hospitaleiro a eles. Por quais razões?
Uma delas é o enfraquecimento dos mais velhos, sem dúvida. Os adultos, que deveriam entrar com firmeza e maturidade nessa relação, estão fragilizados para enfrentá-la. É que, para se dedicar à árdua tarefa educativa dos mais novos, é preciso ter vigor, paciência e investir muita energia.
Acontece que estamos tão envolvidos com nossas vidas, tão ocupados em buscar nossos sonhos e em atingir nossas metas, tão entretidos com a procura desesperada da felicidade e tão comprometidos com nossos problemas que acabamos esgotados. Assim, sobra pouco para ser aplicado na tarefa de formar as novas gerações. E, quando um adulto se encontra em estado de fragilidade perante os mais novos, não consegue se colocar como autoridade. Autoridade que combine com nosso anseio democrático exige disponibilidade para o diálogo. O que é isso mesmo?
Quando entramos no que chamamos de "diálogo" com os mais novos, parece mais que competimos com eles numa maratona de argumentos em que o que importa é vencer. Quando os argumentos deles são melhores do que os nossos (quase sempre são), trocamos de estratégia: construímos "combinados" que eles devem acatar. Não acatam por uma simples razão: percebem logo que se trata de um conceito usado de modo distorcido.
Para melhorar tal panorama, basta honrar o compromisso que estabelecemos com os mais novos. Aliás, ser mãe, pai ou professor foi uma escolha, as duas primeiras sem chance de retorno. Além disso, precisamos assumir nossa maturidade na vida. É preciso se colocar como mais velho na relação com filhos e alunos, e isso significa usar a experiência acumulada, ter potência para orientá-los e assumir todos os ônus dessa função. Diante das dificuldades que surgem na relação com filhos e alunos -e elas são muitas, vamos reconhecer-, não podemos esmorecer. Ao contrário: é nessas horas que temos a oportunidade de fortalecer nosso papel.
Quando eles manifestam suas teimosias, expressam a agressividade de modo violento, transgridem as regras sociais e de convívio familiar e não cumprem seus deveres, precisamos responder a isso sem lamentações ou desalento. Eles não fazem isso só para desafiar, como temos interpretado com freqüência. Fazem apenas para experimentar, para confirmar posições, para travar embates necessários ao seu crescimento e até para constatar que não estão abandonados nessa complexa tarefa de aprender a viver.
Para tornar o mundo menos hostil e mais hospitaleiro aos mais novos, precisamos educar amorosamente, e isso não significa sufocar os mais novos com nosso amor, e sim amar nosso papel junto a eles. Um bom final de ano a todos e coragem para transformar o próximo.
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