26 dezembro 2007

QUEM É O OTÁRIO?

ALBA ZALUAR

Um negócio arriscado, com a vida no fio, começou a atrair os jovens porque se dizia que não havia nada de mais ganhar muito dinheiro e pular fora da pobreza. Será?
O dinheiro que entra fácil sai fácil. Quando um jovem se envolve com quadrilhas, adota o modo de viver de seus colegas. Tem que gastar mais com roupas, festas, mulheres, drogas para se impor e ser aceito. Tem que exibir armas para dar medo. Tem que ser perdulário para impressionar.
E ainda tem que comprar armas e munições; pagar propinas a policiais corruptos que podem prendê-lo por que não é chefe nem dono; pagar advogados para defendê-lo caso o chefe não ligue para a sua sorte. Impressiona e mete medo, mas por pouco tempo. Acaba duro, preso ou morto. Muitos jovens se aproximam da boca, procurando "conceito", porque acham bacana usar drogas ilegais, porque os colegas chamaram. Pensam que são livres.
Mas a cocaína pode vir a viciar entre 30% e 40% dos que a usam. O crack mais ainda, porque seu efeito é mais forte e rápido. A sensação de estar ligado e ser poderoso logo se esvai e é substituída pela fossa. Aí vem a fissura de usar de novo para ficar "a mil" outra vez.
Uns começam a repassar drogas para pagar o vício; outros, a usá-las quando viram traficantes. Mas não pode fazer isso onde quer e como quer. Se começam a vender sem permissão, podem ser mortos. Se ganharem muito, mesmo com permissão, atraem a desconfiança e a cobiça dos outros. Quando o vício pega forte, a droga pode deixá-los desconfiados, paranóicos, cercados de inimigos.
Quando na quadrilha, os jovens se tornam inimigos dos inimigos da quadrilha. Por isso têm que andar sempre armados. Por ser jovem e, principalmente, se recebeu algum treinamento militar, tem a obrigação de fazer parte do "bonde" para defender a "boca" do chefe. As quadrilhas estão sempre em guerra, disputando território. É uma guerra que parece não ter fim. Só terá fim quando os jovens se recusarem a matar outros jovens como eles só por que são de quadrilhas diferentes.
Um em cada três jovens que viram traficantes são mortos. O risco de ser morto aumenta cada vez que as guerras recomeçam. Ou quando policiais invadem favelas para prender bandidos e acabam matando quem pouco tem a ver com a guerra. Os amigos e colegas desaparecem. Todas as mães choram. Todos têm medo. Ninguém mais dorme direito. O lugar fica sinistro.
Dizem para os jovens pobres que otário é quem trabalha por salário. Mas esperto é quem se une e luta para melhorar a vida dos pobres e defende os serviços públicos com os quais passam a ter mais e melhores oportunidades de emprego. Sem ter a vida no fio.

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