30 setembro 2007

REPRESENTANTES DE MENTIRA

JANIO DE FREITAS

É deliberada mentira que exista e que seja democrática a representação do povo e dos Estados pelos parlamentares

A condenação da Câmara e do Senado, merecedores da confiança de apenas 12,5% e 14,6% da população, respectivamente, como concluiu pesquisa promovida pela Associação dos Magistrados Brasileiros, não atesta só a progressiva deterioração do Poder Legislativo. Evidencia já uma situação crítica, incapaz de sobreviver por muito tempo sem conseqüências, se não for combatida com providências verdadeiras. Não há caso de degenerescência assim, em alicerces institucionais, que não tenha levado a problemas extremados, às vezes por faíscas mínimas.
O sistema que elege deputados e senadores é uma fraude contra o eleitorado. É deliberada mentira, no regime e na legislação do Brasil, que exista e que seja democrática a representação do povo e dos Estados pelos parlamentares. Fraude e mentira cujo fim é indispensável, como preliminar, para deter a degradação institucional e política.
A composição da Câmara só terá o sentido de representação quando obedecer à ordem quantitativa dos votos dados, em cada Estado, aos candidatos. O sistema dos "candidatos puxadores" de votos é uma fábrica de aberrações. Indústria de picaretagem eleitoral que permite, em um dos poucos exemplos divulgados, a eleição a deputado federal de uma candidata com ridículos 200 votos no maior eleitorado do país, São Paulo. Sem sobrenome identificado, prenome adotado para as circunstâncias, candidata paulista mas moradora no Rio, foi eleita pelos votos excedentes do seu correligionário Doutor Enéas, em relação ao coeficiente estabelecido. Candidatos com dez vezes ou ainda mais votos não foram para a Câmara. Entre eles e a amiga do Enéas, a mentira da "representação democrática" excluiu os mais votados. Caso único? Ou raro?
Assim é a composição da Câmara: nem 10% dos seus integrantes foram eleitos por conta própria. Em seus respectivos Estados, candidatos com maior número de votos, e portanto com maior representação do eleitorado, ficaram de fora em favor de beneficiados pelo cômputo segundo coeficientes partidários. É a vontade eleitoral adulterada; e, claro, a representação que não existe na Câmara.
Eleitos de fato e representantes potenciais só podem ser os que tenham mais votos em cada colégio eleitoral, e essa é a maneira de compor uma Câmara sem fraudar o espírito democrático da eleição e das instituições. Por isso mesmo, não é menos aberrante e fraudulenta a existência de suplente de senador, um "eleito" sem voto e, com muita freqüência, parte da tal picaretagem eleitoral (o suplente paga a campanha do candidato, que, apesar disso, arrecada e embolsa altas contribuições: é comum o suplente ser um bom negócio do efetivo). Com ou sem picaretagem eleitoral, o suplente levado ao exercício no Senado, por estar o efetivo no governo ou de licença, não recebeu representação do eleitorado, logo, existe por absurdo legal mas é ilegítimo. Outra fraude da "representação democrática".
A primeira corrupção de parlamentares a ser eliminada deve ser a que tem o governo como corruptor. A compra de adesão à tal "base governista", uma ficção que varia conforme as cobranças e pagamentos sucessivos, é corrupção institucionalizada. Está nos jornais, está na TV, como algo feio e reprovável, porém aceito e liberado para continuar. Com freqüência, no entanto, não lhe faltam os aspectos de crime de extorsão, de chantagem, e de corrupção nem se fala.
Existe solução, sim, a começar de algo que a lei exige para nada: o programa registrado por cada partido. Ou há obrigação de cumprir seus princípios, em vez de seguir o compra-e-venda aleatório, ou a lei que o exige está em vigor para encobrir corrupção política. O respeito à lei exigente de programas não impediria adesões a outros princípios e programas, bastando sua aprovação em convenções. Ou seja, do partido, e não de grupelhos dirigentes envolvidos no mesmo compra-e-venda.
A outra fonte da relação corrupta entre governo e Congresso são as emendas parlamentares ao Orçamento, pelas quais deputados e senadores tornam-se donos individuais de certas verbas e sua destinação. Medidas que impeçam ou reduzam muito o uso da liberação dessas verbas, como moeda de compra de adesão ou de voto pelo governo, são simples e de várias formas possíveis. Um teto, por exemplo, no valor total das emendas individuais, com liberação obrigatória, elimina o compra-e-venda sem perturbar as contas públicas.
Nenhuma solução deve ser esperada da Câmara e do Senado, ou não seriam incapazes de merecer um mínimo da confiança de 87,5% e 85,4% da população jovem/adulta. Mas se os que compõem esses percentuais alarmantes não gerarem esforços de mudança, passemos todos a discutir outro assunto: quando e que conseqüências virão, por certo.


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Diante disto, o que podemos esperar?

A NOVELA DAS 8 E O ESCRACHO

CLÓVIS ROSSI

Quando escrevi que o Brasil (o Brasil político) se transformara no país do "deboche pronto", não podia imaginar que Gilberto Braga e Ricardo Linhares levariam idêntica percepção para o programa de maior audiência da TV brasileira, a novela das oito (no caso, "Paraíso Tropical", ainda por cima no capítulo final).
Para quem não viu, breve resumo: a trambiqueira e prostituta Bebel (vivida por Camila Pitanga) é a única da turma do "mal" que nem morre nem perde. Ao contrário, se dá bem. Como? Graças a se tornar amante de um senador. Bebel termina em uma sessão de CPI para investigar biocombustíveis (por acaso -ou não- o tema pelo qual o presidente Lula é assumidamente obcecado). A sessão vira circo, e a trambiqueira, gloriosa, posa para fotos e anuncia que vai aparecer na capa de uma revista.
Salvo erro de memória, nunca antes neste país uma novela apresentou o "retrato falado" de um político de forma tão explícita. Só faltou dar as iniciais, o R de Renan e o C de Calheiros.
Na era Collor, uma novela da Globo também tratara da podridão política do poder. Mas o tom era moralista (sem dar conotação crítica à palavra), indignado, de "isso-não-pode-continuar".
Na era Lula, o tom é de deboche, de "isso-não-tem-mais-jeito-mesmo". Não por acaso, Camila Pitanga, simpatizante de sempre do PT e de Lula, disse que "foi uma ótima solução dos autores colocar a Bebel no contexto político que também é cheio de roubalheira".
Sempre haverá um ou dois descerebrados para acusar os autores de "conspiração", técnica canalha para fugir dos fatos.
Os fatos, no entanto, provam, dia sim, outro também, que a política brasileira é um imenso escracho, um "Cambalache", aquele tango que diz "el que no llora no mama, y el que no afana es un gil" (otário, na gíria portenha).


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O que falta mais acontecer com o Brasil?!

29 setembro 2007

AGRICULTURA E INFLAÇÃO

ROBERTO RODRIGUES

Nos últimos anos, o Brasil teve grande crise agrícola e os preços caíram muito; agora, eles passam por recuperação

Quando os preços agrícolas despencam por qualquer razão (em geral por causa do excesso de oferta), e não cobrem os custos de produção, os agricultores -como qualquer empresário eficiente- deixam de plantar. Se acontecer uma seca muito ampla e intensa, a produção pode cair demais, não atendendo à oferta, e os preços sobem de novo. Aí os agricultores voltam a plantar e a oferta excede a demanda, os preços caem outra vez e assim vai a vida no campo nos países onde não existem políticas estabilizadoras da renda rural. É a instabilidade, ruim para todos, produtores e consumidores.
O pior é que, quando um país está lutando para combater a inflação, o desastre dos agricultores é a felicidade do governo, porque os preços baixos permitem maior consumo com oferta abundante, e os consumidores -sobretudo os de baixa renda- podem ficar com a sensação de que aquilo é resultado de uma boa ação governamental. Na verdade, trata-se de um incidente do mercado, com a vantagem, do ponto de vista oficial, de derrubar os índices inflacionários.
Porém, milhares de produtores quebram, principalmente os pequenos, deixam a atividade e a produção acaba diminuindo. Os preços voltam ao patamar anterior e, não raro, a agricultura é acusada de ser causadora da inflação, quando, na verdade, o que acontece é apenas uma recuperação.
Acrescenta-se a isso o dado óbvio de que existe a safra e a entressafra. Na safra, os agricultores precisam pagar suas contas e vendem a produção a qualquer preço. Mercado não tem coração, aperta os mais fracos. Na entressafra, aqueles que conseguem agüentar vendem a preços melhores. Ora, isso é outra perversidade, porque concentra a renda: quem agüenta mais tempo vende melhor; quem está mais apertado ganha menos ou até perde, vendendo abaixo do custo.
Os governos dos países em desenvolvimento geralmente não entendem isso ou, se entendem, não ligam, porque os consumidores têm muito mais votos que os produtores. Por outro lado, sabem que, na economia globalizada, sempre dá para importar e cobrir a falta eventual de produtos. Mas a sociedade precisa compreender.
Nos últimos anos, o Brasil viveu uma das suas piores crises agrícolas, com grande quebradeira no campo, necessidade de prorrogação das dívidas e outras medidas extremas para sustentar a atividade. Os preços foram parar lá embaixo. Era evidente que uma hora voltariam a subir, recuperando-se. E, é claro, logo surgiriam vozes acusando a agricultura de alimentar a inflação, esquecidos do contrário acontecido antes.
Estamos perto disso, até porque há um aquecimento dos preços dos alimentos em razão da demanda por milho nos Estados Unidos e na China. No entanto, os números não mentem. Dados do IBGE indicam que de janeiro de 1994 (ano da implementação do Plano Real) a agosto de 2007, o IPCA aumentou 212%.
No mesmo período, leite aumentou 181%, aves e ovos, 170%, carnes, 155%, hortaliças e verduras, 150%, cereais e leguminosas (arroz, feijão, soja, milho, trigo etc.), 124%, e frutas diminuíram 34%. Tudo abaixo do IPCA.
No entanto, serviços de comunicação aumentaram 661%, combustíveis, 634%, aluguéis, 477%, transporte, 442%, eletricidade, 393%, tudo acima do IPCA. Os agricultores pagam por todos esses serviços, assim como os demais consumidores. Seu custo aumenta. E a sua renda?
Como pode a agricultura ser responsabilizada pelo aumento da inflação?


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Por que Roberto Rodrigues, enquanto ministro, não trabalhou para mudar esta dura realidade dos agricultores?

McCARTHY ESTAVA CERTO

Diogo Mainardi

"Agora que jornalistas da minha listinha de fato foram trabalhar para Lula, com carteira assinada e tudo, aguardo os pedidos de desculpas de meus detratores arrependidos, as odes em minha homenagem, os beijinhos e os cafunés"

A TV do Lula já tem um chefe: Tereza Cruvinel. Na quarta-feira, ela foi escolhida para presidir o canal estatal. Petistas e peemedebistas brigam para abocanhar cargos na Petrobras. Enquanto isso, o lobista Mainardi, com seu jeito sonso, conseguiu emplacar mais um nome de sua listinha para um posto de comando no governo.

A primeira listinha do lobista Mainardi foi publicada numa coluna de dezembro de 2005. Nela, relacionei uma série de jornalistas comprometidos com Lula. Mais do que simples torcedores ou correligionários do presidente, acusei-os de distorcer os fatos a fim de abafar as denúncias contra os mensaleiros. A certa altura, eu dizia:

O Globo tem Tereza Cruvinel. É lulista do PCdoB. Repete todos os dias que o mensalão ainda não foi provado. E que José Dirceu não deveria ter sido cassado. Ela aparelhou o jornal da mesma maneira que os lulistas aparelharam os órgãos públicos. Quando tira férias, seu cunhado, Ilimar Franco, assume sua coluna.

Minha listinha de colaboracionistas na imprensa incluía o nome do atual ministro Franklin Martins, que indicou Tereza Cruvinel para a TV do Lula. E o nome de Helena Chagas constava de uma listinha sucessiva em que tratei da quebra do sigilo do caseiro Francenildo. O que fará Helena Chagas? Ela dirigirá o departamento de jornalismo da TV estatal.

Fui muito atacado na época da primeira listinha. Me acusaram de ligeireza. Me diagnosticaram um extenso rol de neuroses. Quatro dos citados chegaram a me processar: Franklin Martins, Leonardo Attuch, Paulo Henrique Amorim e Mino Carta. Até aquele momento, os quinta-colunas da imprensa permaneciam incógnitos. Ninguém admitia que a afinidade partidária pudesse interferir no desempenho profissional dos jornalistas. E ninguém admitia que eles pudessem estar trabalhando para Lula clandestinamente. Agora que alguns deles de fato foram trabalhar para Lula, com carteira assinada e tudo, aguardo os pedidos de desculpas de meus detratores arrependidos, as odes em minha homenagem, os beijinhos e os cafunés.

No fim daquele primeiro artigo, anunciei o plano de delatar todos os lulistas da imprensa, formando o tribunal macarthista mainardiano. Como sempre acontece comigo, a piada se voltou contra mim. Por muito tempo, fui tachado como um macarthista que perseguia seus colegas por motivos puramente ideológicos. O fato é que Joseph McCarthy estava certo: o comunismo tinha um monte de agentes infiltrados no sistema americano. O fato é que eu também estava certo: o lulismo tinha um monte de agentes infiltrados na imprensa brasileira.

Dois anos depois do estouro do mensalão, já podemos fazer um retrospecto do caso. O STF delineou com clareza suas principais ramificações: o núcleo presidencial, o núcleo parlamentar, o núcleo bancário, o núcleo publicitário. O mensalinho tucano irá desmascarar o núcleo oposicionista. Quanto ao núcleo jornalístico, a ida de Tereza Cruvinel para a TV do Lula fechará o ciclo de uma vez por todas. Estou à espera dos beijinhos. Estou à espera dos cafunés.

VAI PIORAR

Lya Luft

"Tolerância zero com tudo o que nos desmoraliza e humilha, perseguição implacável ao cinismo, mudança total nas futuras eleições, faxina no Congresso"

Escritores devem escrever, palestrantes devem falar. Qualquer pessoa tem a obrigação de pensar e o direito de se expressar. Claro que isso não acontece num país de analfabetos, onde não se tem interesse em que o povo pense: um povo informado escolheria outros líderes, não ficaria calado quando pisoteiam sua honra, expulsaria de seus cargos os pseudolíderes e tentaria recompor as instituições aviltadas. Mas nós não fazemos nada disso: parecemos analfabetos e afásicos, uma manada de bobos assistindo às loucuras que se cometem contra nós, contra cada um de nós.

E eu, que tenho as duas atividades, escrever e eventualmente falar, que desde criança fui ensinada que cabeça não foi feita só para separar orelhas, mas para pensar, questionar – e também para ser feliz –, neste momento, não sei o que pensar. Muito menos o que responder quando me perguntam interminavelmente o que estou achando, como estou me sentindo. Estou virando pessimista. Não em minha vida pessoal, mas em relação a este país. Ou melhor: a seus governantes, autoridades, homens públicos, políticos. Mal consigo acreditar no que se está passando. A cada dia um espanto, a cada dia uma decepção, a cada dia um desânimo e uma indignação.

Este já foi o país dos trouxas, que pagam impostos altíssimos e quase nada recebem em troca; o país dos bobos, que não distinguem um homem honrado dum patife, uma ação pelo bem geral de uma manobra para encher o bolso ou galgar mais um degrauzinho no poder a qualquer custo; o país dos mistérios, onde quem é responsável absoluto não sabe de nada, ou finge enxergar outra realidade, não a nossa. Hoje, estamos ameaçados de ser o país dos sem-vergonha. A falta de pudor e o cinismo imperam e não há, exceto talvez o Supremo Tribunal, lugar totalmente confiável.

Entre os políticos, com cargos ou não, impera um corporativismo repulsivo – ou estaremos todos de rabinho preso? Nós, povo que se deixa enganar tão facilmente, que pouco se informa e questiona, vamos nos tornando da mesma laia? Seremos também, concreta ou moralmente, vendidos? Quando eu era menina de colégio, às vezes os rapazes se insultavam gritando "vendido!", não me lembro bem por quê. Deviam ser questões esportivas. Um ponto não marcado, um gol roubado. Era grave insulto. Hoje, parece que ninguém mais liga para insultos, leves ou pesados – nada pega, tudo é água em pena de pato, escorre e acabou-se. Um povo teflon. Vemos líderes vendendo-se em troca de comodidade, cargo, poder, dinheiro, impunidade, preservação de algum sórdido segredo, ou simplesmente a covardia protegida. Quem nos deve representar sumiu no ralo. Quem nos deve orientar se transformou em mamulengo. Quem nos deve servir de modelo chafurda na lama. E nós, povo brasileiro, nos arrastamos na tristeza. Reagimos? Como reagimos? Pintamos a cara e saímos às ruas aos milhares, aos milhões, jogamos ovos podres, paramos o país, pacificamente que seja, tentamos mudar o giro da máquina apodrecida? Aqui e ali um tímido protesto, nada mais.

De algum lugar surgiram os senadores que votam às escondidas porque não têm honra suficiente para enfrentar quem os elegeu; os deputados pouco confiáveis, alguns duvidosos ministros, de onde surgiram? De nós. Nós os colocamos lá, nós votamos, nós permitimos que lá estejam e continuem – nós, através das mãos dos ditos representantes, instituímos a vergonha nacional que em muitas décadas será lembrada como um tempo de opróbrio.

E não argumentem que a economia está ótima: ainda que esteja, digo que me interessa muito menos a economia do que a honra e a confiança, poder ser brasileiro de cabeça erguida. Existe o Bolsa Família, a miséria está um pouco menos miserável? Pode ser. Mas os hospitais continuam pobres e podres, as escolas e universidades carentes, as estradas intransitáveis, a autoridade confusa e as instituições esfaceladas, os horizontes reduzidos. O Senado terminou de ruir? Querem até acabar com ele? Pode parecer neste momento que ele não faz muita falta, mas sua ausência seria um passo para o Executivo ditatorial, a falência total da ordem e a perda de um precário equilíbrio.

Com pressentimentos nada bons, faço – embora sem grande esperança – uma conclamação: tolerância zero com tudo o que nos desmoraliza e humilha, perseguição implacável ao cinismo, mudança total nas futuras eleições, faxina no Congresso, Senado e câmaras, renovação positiva no país. Conscientização urgente, pois, acreditem, do jeito que vai a coisa tende a piorar.


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Triste realidade.
Façamos nossa parte.

A EXPERIÊNCIA DO FRACASSO

Nélio Da Silva


"Fracasso não é fracasso a não ser que você não aprenda pela experiência do fracasso."
Dr. Roland Niednagel

Você provavelmente já sentiu aquele terrível sentimento de achar que o mundo todo tomou conhecimento do seu fracasso, e você se sente que tem que fazer uma força tremenda apenas para manter a cabeça levantada. Qual foi o maior fracasso em sua vida? Talvez tenha sido o de ver a sua empresa ir a falência em função de uma atitude inconseqüente que você porventura tenha tomado, ou a sua experiência de fracasso se tornou uma realidade a você, por ver a sua família dividida depois de um tempestuoso e amargo divórcio. Seja lá o que tenha sido, a pergunta que você tem que responder - para o seu próprio bem - é: "Eu já superei a dor que esta ferida me causou?" "Já resolvi toda e qualquer resquício de emoções negativas em relação a essa experiência de fracasso?"

Gostaria de poder ajudá-lo a voltar àquela experiência dolorosa de fracasso, gostaria de poder lhe sugerir algumas perguntas que certamente lhe ajudarão na perspectiva do futuro. Essas perguntas são valiosíssimas se forem respondidas de uma maneira aberta, sincera e honesta. Por que? Porque qualquer pessoa que está num sadio processo de crescimento irá enfrentar novos desafios na vida em que fatalmente irão se deparar com a possibilidade de um novo fracasso.

Pergunta 1. Eu sou grato por essa experiência de fracasso?
Você não pode se ressentir por alguma coisa que você até mesmo é grato. Se porventura você continua intimidado pelo fracasso do passado, obviamente que você não pode ser grato por isto. Se você é grato, então você poderá identificar valores preciosos nessa experiência. Se na sua lembrança você ainda se acusa lembrando-se a si mesmo do grande fracasso que trouxe a si mesmo, deixe-me lembra-lo que muitos envolvidos no processo já se esqueceram a muito tempo atrás.

Sochiro Honda. fundador da Honda Motors disse certa vez: "Muitas pessoas sonham com o sucesso. Prá mim, sucesso só pode ser alcançado depois de muitos fracassos e introspecção. Na realidade, sucesso representa apenas 10% do seu trabalho que resulta de 90% do que é chamado de fracasso."

Há um valor muito especial em ser grato por uma experiência de fracasso.

"É o fracasso que faz os ossos firmarem, os músculos se enrijecerem e torna as pessoas invencíveis transformando-as em heróis que se despontam neste mundo. Portanto, não tenha medo do fracasso. Você nunca estará tão perto da vitória se você não usar o fracasso para uma boa causa."
Henry Ward Beecher

"Eu não posso lhe dar a fórmula para o sucesso, mas eu posso lhe dar a fórmula do fracasso: tente agradar todo mundo." Herbert Swope

Na semana passada falamos sobre a necessidade de fazermos certas perguntas que certamente irão nos ajudar a fazer frente a tropeços do passado que hoje qualificamos como fracassos.

Já avaliamos o valor da pergunta número 1: "Eu sou grato por esta experiência de fracasso?"

Hoje vamos levantar mais algumas perguntas:

Pergunta número 2: Eu realmente fracassei ou eu simplesmente fui vítima de uma irrealista expectativa?

Na sua experiência de fracasso, você esperava ser perfeito? Algumas vezes nós projetamos irrealistas e elevadas expectativas e quando não as atingimos nós achamos então que fracassamos. É porventura, possível ser esse o seu caso? Se for, então, eu tenho uma boa notícia para você:

- Tudo bem, você não precisa ser perfeito.
- Você não precisa necessariamente ter que atingir todos os alvos.
- E você NÃO precisa ser perfeito para ser relevante.

Eu sou bom em estabelecer alvos. Já estabeleci vários alvos, e os alcancei. Mas eu não posso alcançar todos os alvos. que tenho estabelecido nem preciso me sentir como fracassado porque não os alcancei. Alguns dos alvos simplesmente eram irrealistas à luz das novas e intensas realidades do mercado.

Pergunta número 3. Onde é que eu fui bem sucedido?

Muitas pessoas que experimentam um grande fracasso tem a tendência de ter uma nebulosa memória a respeito daquelas coisas que elas foram bem sucedidas porque agiram corretamente. Infelizmente elas só se focalizam naquilo que saiu errado porque é isto que lhes tem causado um traumatismo emocional enchendo-os de um sentimento de fracasso. Ao pensar na sua experiência do passado, eu sugiro que você faça uma lista das vezes e dos modos em que você foi bem sucedido, ou onde você tomou a melhor das atitudes em determinada ocasião ou situação. "Apenas uma pessoa medíocre está sempre no seu melhor." W. Somerset Maugham

Pergunta número 4. Qual foi a lição que eu aprendi?

Talvez você tenha aprendido não ser tão afoito em alguma coisa antes de avaliar com cautela e antes de procurar o sábio conselho de alguém idôneo.

Pergunta número 5. Como eu posso transformar o meu fracasso em sucesso?

Como é que o fracasso de ontem pode ser parte do seu sucesso hoje? Como é que você pode transformar limões em limonada?" O que é que você aprendeu que pode agora passar para outros?

Pergunta número 6. Quem é que "fracassou" dessa maneira anteriormente como é que eles podem me ajudar?

Ao conversar com pessoas que fracassaram nessa área, elas poderão lhe ajudá-lo tremendamente a ganhar uma nova perspectiva sobre aquilo que saiu errado. Você conhece alguém assim?

Finalmente, atente para essas palavras de Abrãao Lincoln: "Eu faço o melhor que posso fazer, me comprometendo a fazer o melhor até o fim. Se no final eu for bem sucedido, então tudo aquilo que for dito a meu respeito não terá valor algum. Porém, se no final, eu não for bem sucedido, ainda que dez anjos jurassem de que eu estava certo, isso não faria nenhuma diferença."

Ao encerrarmos a nossa breve reflexão sobre esse tópico, gostaria de deixar com você a convicção ardente e profunda de um homem que a bíblia qualifica como "homem segundo o coração de Deus." Veja o que ele diz: "Foi me bom ter eu passado pela aflição, para que aprendesse os teus decretos." Salmo 119:71


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Tenha uma boa reflexão!

21 setembro 2007

CHARGE

Do Blog de Cláudio Humberto:


Queda e coice

Cortar cana, de sol a sol, deve ser de fato menos penoso do que tentar falar com Lula em Brasília. É o que sabe agora o lavrador que foi pedir ajuda ao presidente e acabou imobilizado por seguranças na porta do Planalto.

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20 setembro 2007

O INDECOROSO ENTENDIMENTO DO PT SOBRE O DECORO

Do Blog de Reinaldo Azevedo

A delinqüência institucional do PT não tem limites. É mesmo uma coisa espantosa. A bancada do partido no Senado, sob o comando da moralista Ideli Salvatti (PT-SC), está redigindo uma proposta de emenda que transfere para o Supremo Tribunal Federal a responsabilidade por julgar os acusados de quebra de decoro parlamentar.

É uma estupidez que, creio, não prospera porque o próprio Supremo se encarregaria de deixar claro a esses valentes que não lhe cabe julgar questões relativas a decoro. Já é sua atribuição o julgamento dos crimes dos que têm foro privilegiado.

O que quer a “jurista” Ideli Salvatti? Judicializar o decoro parlamentar. Como vagabundo competente não costuma deixar ato de ofício, num tribunal que julga crimes e não decoro, a tal AUSÊNCIA DE PROVA, de que os petistas tanto falam, serviria para livrar a cara de todo mundo. Mais: o Supremo já está sobrecarregado sem essa atribuição. Reitero: não acho que prospere. Mas a intenção dá conta do estado de confusão mental e ausência de princípios em que está mergulhado o PT. O que o PT pretende? Que o Supremo passe a cassar mandatos?

O partido está investindo numa formidável confusão conceitual. A questão do decoro tem mesmo de ser um julgamento entre pares. E seus critérios são mais amplos do que essa história de ter A PROVA OU NÃO de um crime. Um senador que usasse o gabinete para se reproduzir, por exemplo, não estaria cometendo um crime, mas estaria contribuindo para, como dizer?, degradar a reputação da Casa. E seus pares têm o direito de não querê-lo no ambiente. Ou até onde um senador “põe o seu desejo”, como diria Caetano Veloso, será agora matéria para decisão do Judiciário?

Isso é indecoroso, senadora Ideli.

APRENDA NOS ROMANCES

Anna Veronica Mautner


[...] DIANTE DA INSEGURANÇA DOS ADULTOS, RESTA À LITERATURA RESGATAR PARA O JOVEM A POSSIBILIDADE DE NOVAS PERCEPÇÕES


Juventude procura porta-voz. Pode ser sábio, mas não autoritário. Deve ser capaz de dizer a coisa certa sobre dúvidas, não importa se para o corriqueiro ou para o excepcional.
O pensamento mágico que chegava pela voz de fadas, bruxas, monstros e heróis tem cada dia menos utilidade prática. Criados num mundo atravessado pelo saber da ciência, os jovens não encontram na experiência passada orientação para viver no século 21.
O bom senso de Dona Benta não dá conta dos problemas do jovem moderno. Ela tem de virar "Dra. Benta" para ensinar a viver com tudo de novo que a ciência introduziu no dia-a-dia.
Onde está a mãe, o pai ou o avô que sente firmeza em orientar a ação, os sentimentos e as dores dos filhos? O transcendente e o cotidiano tiveram sua essência modificada pelas ciências do comportamento. O apoio para os momentos difíceis teve de ser inovado.
É aí que entra a "nova ficção", ou relato de aventuras emocionais. Para adultos cujas vidas também se complicaram, há uma infinidade de títulos da chamada "auto-ajuda", que nada mais é do que a intenção de substituir o bom senso, outrora tão valioso. Tais livros ensinam desde a escrever um currículo até a lidar com a depressão.
A linguagem dos livros de auto-ajuda bate de frente com a ânsia de autonomia do jovem.
Ele não aceita receitas nem soluções de cuja concepção não participou. É próprio aos jovens ansiar por resolver a vida, surdos às pregações dos adultos. Daí a atemporal importância das fábulas e das parábolas na tarefa de orientar.
O jeito é palpitar por meio da ficção. É chegado o momento de editar livros que falam de angústias de gordinhos, medo do sexo oposto, pânico da humilhação. As conseqüências psicológicas dos conflitos familiares, de doenças, da morte e do abandono são temas aos quais a sabedoria das avós tem hoje pouco a acrescentar.
Livros de aventura na selva chegam em filmes melhor apresentados. Como o adulto não se sente eficiente para bem orientar os jovens, é chegada a hora dos artistas. Por meio daquelas histórias, o jovem pode, identificando-se, situar-se diante do moderno.
Sair da infância, adolescer e amadurecer é uma aventura para ninguém botar defeito.
Parece-me que, diante da insegurança dos adultos, resta à literatura resgatar para o jovem a possibilidade de novas percepções sem obedecer à voz imperativa de um adulto.
Harry Potter é um exemplo dessa tendência. São livros que falam de um modo de viver diferente, como uma obra de auto-ajuda disfarçada de aventura. O palpite chega sem verbo no imperativo, envolto por uma linda historia, onde conflitos se resolvem de um jeito novo.
Os jovens agradecem as modernas formas de esclarecer e fazer pensar sem o peso da autoridade outrora decretada pela "moral da história".


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Incentivemos nossos filhos a ler.
Uma boa leitura faz muito bem.

LATA DE LIXO DA HISTÓRIA

Editorial da Folha de S. Paulo

O Programa Nacional do Livro Didático (PNLD) conta em 2007 com orçamento de R$ 620 milhões. Uma cifra vultosa, mas por tudo justificável como investimento que faz chegar a 30 milhões de alunos de escolas públicas, de graça, 120 milhões de volumes.
O esforço republicano para disseminar conhecimento entre estudantes de todas as classes e regiões, exatamente por seu gigantismo, exige muito controle público para afastar o risco certo de falcatruas -materiais ou intelectuais. De quanto em quando, porém, o país se vê surpreendido com patranhas como a revelada por Ali Kamel, anteontem, no jornal "O Globo", acerca da obra "Nova História Crítica", para alunos da oitava série. Em lugar de ensinar história, o livro se consagra à canhestra tentativa de doutrinar crianças com uma enxurrada de marxismo vulgar.
A coleção de disparates vai de uma condenação ao capitalismo por objetivar lucro a um elogio da Revolução Cultural chinesa. À vulgaridade pensativa, o livro agrega falsidade histórica, omitindo os assassinatos -eles sim incontáveis- cometidos em nome da dita revolução. Apesar disso, o governo federal adquiriu de 2005 a 2007 quase 1 milhão de exemplares da obra, campeã de distribuição gratuita. Só em 2007 gastou com ela R$ 944 mil.
Não que inexistam filtros para desestimular a escolha de livros desse nível. Em 1996 introduziu-se uma avaliação pedagógica trienal dos inscritos no PNLD, para excluir das opções oferecidas aos professores aqueles volumes que contenham "erros conceituais, indução a erros, desatualização, preconceito ou discriminação de qualquer tipo". Obras incluídas são objeto de resenhas críticas no "Guia do Livro Didático".
Em 2002 e 2005, o nada didático "Nova História Crítica" havia sido aprovado "com ressalvas", por "resvalar no maniqueísmo". Deveria ter sido sumariamente eliminado, por seus erros, desatualização e preconceitos. É o que anuncia agora o MEC, para 2008, pondo a tranca na porta arrombada à vista de todos.


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Isto lembra o MST, que em seus acampamentos ensinam "doutrinas" esquerdistas.
Será apenas coincidência? E qual é o objetivo?
Tire suas próprias conclusões.

O PODER NÃO APENAS CORROMPE - TAMBÉM ENLOUQUECE

Do Max Blog de Rogério Distefano

Daí a importância dos controles institucionais e da opinião pública. O sujeito é eleito jurando fidelidade à lei. Assume e começa a achar-se ungido dos céus, o povo e o voto só fizeram a mediação entre Deus e ele. Nem inventei isso, é a teoria do direito divino providencial que vem da Idade Média. Quem discorda de suas ações e intenções é inimigo, acaba difamado, sempre grampeado e algumas vezes exilado. E dá-lhe o povo a ouvir-lhe as besteiras e sofrer – e pagar – seus desatinos. Calma, estou falando de Hugo Chávez, que quer implantar o ensino bolivariano nas escolas privadas da Venezuela. Não sei o que vem a ser bolivariano, nem Chávez explicou até hoje. No caso do ensino seria o seguinte: as escolas privadas devem ensinar o "socialismo do século 21″. Nada disso da "educação ideologizada, eurocêntrica", que ensina a admirar Cristóvão Colombo e o Super-Homem. Agora ele foi claro, mais claro impossível: socialismo do século 21 é o dele, Chávez; ideologia latinocêntrica idem, a dele. Super-Homem, ora quem é senão Chávez, que só mudou a roupa azul justinha de Clark Kent – meio boiola – pela camisona vermelha. (Bem que podia latinoamericanizar-se pueblianicamente em azul, como o líder da República del Paraná del Sur). Agora isso de Colombo, datavênia do compañero Chávez, não fosse Cristóvão – melhor, Amerigo Vespucci – Sua Excelência Bolivariana ainda estaria de tanga, fazendo sacrifícios a deus Sol. E Bolívar na Espanha, languidamente posando para Goya, que nem a Maja Desnuda naquele divã imortal.


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E de pensar que Lula
é tão amigo de Hugo Chávez ... chega a dar desespero!

19 setembro 2007

SÓ... RIA!

É preocupante

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INVASÃO E INCLUSÃO

JOSÉ ARISTODEMO PINOTTI

Os problemas na área de ensino superior estavam encobertos e intocados. Diagnosticados, podem ser resolvidos com baixo custo

Sou totalmente contrário a esse modismo agressivo, entrópico e tolo de invasão de universidades. Mas a questão de mérito levantada pelos manifestantes que ocuparam as arcadas há quase um mês por algumas horas é real, grave, intocada e não deve ser menosprezada.
A partir do quinto ano do ensino fundamental, os alunos das escolas públicas (nitidamente os mais pobres) vão se evadindo celeremente, a ponto de se tornarem invisíveis no ensino superior. Dos 400 mil jovens que terminam o ensino médio público em São Paulo, apenas 4.000 (1%) conseguem entrar nas três universidades públicas estaduais. A inadimplência nas universidades privadas chega a 30%, e a evasão, ao absurdo de 25% ao ano. Esse é o retrato acabado da exclusão.
A falta de uma política educacional construída de acordo com os interesses da nação faz a tragédia ir além. Dos 6 milhões de crianças que entram no primeiro ano do ensino primário, apenas 600 mil se formam nas universidades, nas quais temos somente 11% de jovens entre 18 e 25 anos - a Coréia tem 60%, a Espanha, 50%, e a Argentina, 35%. Sem um mínimo de 35% não há desenvolvimento. Vivemos em plena sociedade do conhecimento e desperdiçamos 90% da maior riqueza do país!
As três universidades públicas de São Paulo, nos últimos anos, vêm combatendo com ações afirmativas a iniqüidade do vestibular, que exclui os alunos mais carentes provenientes do ensino médio público.
A Unicamp (Universidade Estadual de Campinas) mostrou que a bonificação oferecida aos alunos do ensino público aumentou o número deles nos diferentes cursos, e aqueles que entraram, acompanhados durante três anos, tiveram, em 31 dos 55 cursos, uma performance melhor do que a dos demais.
O número absoluto é irrisório, mas a experiência desmistificou o vestibular e mostrou que, quando se dá oportunidade, há notória capacidade de recuperação e que não se pode sequer pensar em uma educação superior pobre para os pobres como solução para a exclusão, mas sim em oportunidades iguais.
Recentemente, o governo do Estado, por meio da Secretaria de Ensino Superior, apostou nos cursinhos gratuitos pré-vestibular para alunos do ensino médio público e, em convênio com a Unesp (Universidade Estadual Paulista), passamos a oferecer 3.500 vagas em 21 municípios, dando um segundo passo para colocar mais jovens egressos do ensino público nas universidades estaduais.
No próximo ano, a secretaria está preparada para chegar a 7.000 alunos nesses mesmos campi e iniciar o projeto na região metropolitana de São Paulo, com um número significativo de vagas. Como benefício colateral, remunera-se os alunos universitários, professores dos cursinhos, contribuindo para sua permanência nas universidades.
Entretanto, isso é ainda muito pouco para resolver o problema da exclusão social e menos ainda o da preparação de cidadãos qualificados e em quantidade para alavancar o desenvolvimento. Por essas razões, já havíamos planejado, com o atual secretário Carlos Vogt, o terceiro passo, que é um sistema estadual público, gratuito e de qualidade de ensino universitário à distância, que poderá aumentar -aí, sim, significativamente - o número de vagas e abrigar jovens que precisam compatibilizar estudo com trabalho.
Esse projeto, no qual estamos atrasados há décadas, torna-se obrigatório diante da tecnologia à disposição.
Esse conjunto de programas objetiva combater também o desemprego (falta mão-de-obra qualificada) e a violência, pois jovens ocupados não são presa fácil de atividade ilícita.
Por tudo isso, se pode perceber como os problemas na área de ensino superior estavam encobertos e intocados e, uma vez diagnosticados, podem ser resolvidos - com baixo custo.
O programa dos cursinhos custou aos cofres públicos apenas R$ 1,5 milhão e mostra que a questão da educação não é predominantemente de dinheiro -até porque a vinculação orçamentária a favorece (felizmente) -, mas de reconstruí-la pedagógica e socialmente em todos os níveis, visando um desenvolvimento humano e sustentado do país.


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Já não bastasse a saúde, daqui a pouco também a educação estará na UTI.
Aliás, o que o Estado tem nos oferecido?!

CHARGE

'Anarfa vota em anarfa'

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FRASE

"A CPMF não causa o malefício que se diz. Se perguntarmos ao cidadão comum, ele nem sabe quanto paga desse imposto"
GUIDO MANTEGA, ministro da Fazenda, defendendo a CPMF.



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Mais uma declaração desastrosa do ministro Mantega.
Aliás, desastre é o que não falta neste governo petista.

ALERTA NÍVEL MÉDIO

Editorial da Folha de S. Paulo

Ensino fundamental está universalizado, e terceiro grau cresceu 13,2%; crise mais aguda ronda agora a crucial escola secundária

Um dado da Pnad (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios) parece não ter recebido a devida atenção, após divulgação na semana passada: enquanto cresceu 13,2% o número de estudantes de terceiro grau, de 2005 para 2006, o de alunos do ensino médio caiu 0,9%.
O valor percentual baixo pode sugerir que tenha havido apenas flutuação estatística, mas há razões para crer que se trate de algo mais. É fato, por um lado, que a progressiva diminuição na taxa de fecundidade (hoje de dois filhos por mulher) vai reduzindo o contingente de jovens que chegam ao ensino médio. O acentuado acréscimo no nível universitário se explicaria, de outro lado, pela pressão por requalificação no mercado de trabalho.
Toda a dificuldade vem de que a quantidade de matrículas no ensino médio deveria aumentar, e não diminuir. A taxa de escolarização na faixa etária correspondente (82,5%, de 15 a 17 anos) está longe da universalização obtida no ensino fundamental (97,7%, de 7 a 14 anos). O indicador vinha melhorando nos anos 1990, até atingir 81,1% em 2001. Desde então, estagnou entre 81% e 82,5%.
De acordo com o Censo Escolar do Ministério da Educação, porém, essa taxa bruta de escolarização oculta que apenas 53% dos 8,9 milhões de matriculados estão na faixa etária correta. Há 4,1 milhões de estudantes secundários com 18 anos ou mais que isso, por força de reprovações. A contrapartida é que 3,6 milhões de jovens de 15 a 17 anos, que deveriam cursar o ensino médio, ainda marcavam passo no fundamental, em 2006.
Tem razão o ministro da Educação, Fernando Haddad, ao afirmar que o ensino médio no Brasil vive uma grave crise, como fez segunda-feira no Congresso. Não há outra maneira de descrever o que se passa num setor em que a taxa de reprovação é de 11,5%, e a de abandono, de 15,3%. O ministro também está certo ao concluir que não é possível esperar de 10 a 15 anos para que eventuais progressos de qualidade obtidos no ensino fundamental surtam efeito no ensino médio.
Não basta, contudo, despejar R$ 3,5 bilhões para criar duas centenas de Cefets (Centros Federais de Educação Tecnológica) até 2010. Em primeiro lugar, porque não há garantia de que, nesse curto prazo, venham a repetir o desempenho de 140 dessas ilhas de excelência que existem hoje. Depois, porque o ensino médio prosseguirá como atribuição constitucional dos governos estaduais. Cabe prioritariamente a eles propiciar a seus jovens educação que lhes franqueie acesso ao conhecimento e a bons empregos.


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São dados preocupantes.
O que nossos governantes têm feito para mudar isto?

BYE, BYE, PRINCÍPIOS

CLÓVIS ROSSI

Luiz Inácio Lula da Silva, eterno candidato, era eternamente contra a CPMF, como ele admite. Luiz Inácio Lula da Silva, presidente, é a favor da CPMF.
Por que mudou, mudou por quê? "Você não governa com principismo. Principismo você faz no partido quando pensa que não vai ganhar nunca as eleições. Quando vira governo, governa em função da realidade que tem", respondeu Lula no sábado, afundado no sofá do bar do suntuoso hotel Palace de Madri, onde se hospedou até ontem, quando viajou de volta.
O conceito é de um pragmatismo cru. Por isso mesmo é também perigoso, muito perigoso. Equivale a criar a figura dos princípios prêt-à-porter. Você vai ao supermercado político, olha os princípios disponíveis e escolhe aqueles que lhe convêm num dado momento.
Quem muda de princípios conforme a posição que ocupa na prática não tem princípios.
É essa, digamos, elasticidade de princípios que acaba criando o pântano que vem sendo a política nacional. Bem feitas as contas, é o mesmo princípio, digamos, que explica o mensalão, segundo Lula. Lembra-se da frase "o PT só fez o que todo mundo faz no Brasil"? Pois é. Enquanto era oposição, o PT era contra, "por princípio", qualquer esquema parecido com o do mensalão.
Depois que se tornou governo, "governa em função da realidade que tem". Qual é a "realidade que tem"? Segundo Lula, é que todo mundo faz (no caso, faz caixa-dois, o que é crime, convém sempre deixar claro). Então, vão para o saco, como se diz hoje, os princípios do tempo em que o partido "pensava que nunca ia ganhar as eleições".
Locupletemo-nos todos.
No tempo em que não ganhava eleições, o PT teria crucificado qualquer Renan Calheiros por muito menos do que se sabe hoje sobre o Calheiros de verdade. Hoje, bye, bye, principismo.


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Ser oposição, ficar só criticando, é muito fácil.
Agora que o PT é governo tem que engolir o que ficou bradando por 20 anos.

SENADO PRA QUÊ?

Roberto Pompeu de Toledo

Eis uma boa hora para repensar uma casa que, além de inútil, pode ser malsã

Muitos países vivem sem Senado e não são menos felizes, ou mais infelizes, por causa disso. Israel é um bom exemplo. Portugal é outro. São países que adotam o chamado sistema "unicameral", o do Poder Legislativo sediado em uma única casa, a Câmara (ou Assembléia) dos Deputados. Há, na teoria, argumentos pró e contra o unicameralismo ou o bicameralismo. No Brasil, a velhos argumentos contra a existência do Senado, somou-se, na semana passada, um novo. Os velhos argumentos são:

• O Senado torna o Poder Legislativo repetitivo e lento. O processo de uma lei passar pela Câmara, depois ir para o Senado, depois voltar para a Câmara se houver modificação no Senado, e depois até talvez voltar para o Senado se houver modificação na Câmara, produz cansaço e exasperação. No meio do caminho, perde-se o interesse e arrisca-se comprometer a oportunidade da lei. Quando se tem em conta que, em cada casa, o projeto passa por diferentes comissões especializadas, o cansaço e a exasperação crescem. As comissões existem para peneirar as propostas, examinando-as sob diversos pontos de vista. Com isso, instala-se um processo de revisão que torna redundante o "poder revisor" que se atribui ao Senado.

• A existência de duas casas legislativas resulta em concorrência de uma contra a outra. Muitos são os exemplos de rivalidade nociva entre Câmara e Senado. Fiquemos em um, recente: a instalação das chamadas CPIs "do apagão aéreo". Como não houve acordo para criar uma comissão mista (as vaidades são muitas, e a tela da televisão é pequena), criaram-se duas, uma no Senado e outra na Câmara. Resultado: duplicação de depoimentos, conclusões discordantes, desperdício de energia e perda de credibilidade.

• A especificidade do Senado dilui-se no sistema brasileiro. A especificidade do Senado é representar os estados, enquanto a Câmara representa o povo. No Senado, os estados são representados por igual, à razão de três senadores cada um. Na Câmara, um estado será tão mais representado quanto maior for sua população. Isso na teoria. Ocorre que, pela legislação brasileira, há um número mínimo (oito) e um máximo (setenta) de deputados por estado. Isso faz com que a população de estados pequenos seja super-representada e a dos grandes sub-representada. Roraima, com 400.000 habitantes e oito deputados, tem um deputado para cada 50.000 habitantes, enquanto São Paulo, com 40 milhões de habitantes e setenta deputados, tem um para cada 570.000. A população de São Paulo vale, na Câmara dos Deputados, onze vezes menos do que a de Roraima. Tal sistema existe, segundo seus formuladores, para proteger os estados menores e tornar mais equitativa, na Câmara, a presença das diversas unidades federativas. Ora, não é o Senado a casa da representação equitativa dos estados? Se a Câmara usurpou esse papel, para que o Senado?

• O Senado é em larga parte biônico. "Biônico" era o apelido, na ditadura, do senador nomeado, invenção do regime para não perder o controle da casa. Eram senadores sem voto. Pois mais de vinte anos depois da redemocratização continuam a existir os senadores biônicos, agora na pessoa do "suplente", aquele de quem ninguém ouve falar na campanha eleitoral e, quando menos se espera, lá está, ocupando uma cadeira para a qual se votou em outro. Um caso recente é o do senador Euclydes Mello, do PTB de Alagoas. O eleito Fernando Collor saiu para dar uma volta e assumiu o primo suplente. Outro caso recente é o de Gim Argello (PTB-DF), que despontou para a vaga de Joaquim Roriz com um rico elenco de suspeitas sobre sua cabeça, mas que teve a posse assegurada pelo voto amigo do presidente Renan Calheiros. A presença dos biônicos deslegitimiza a casa.

• O Senado não cumpre deveres que lhe são específicos. Cabe-lhe com exclusividade aprovar as indicações de ministros do Supremo Tribunal, embaixadores e membros das agências reguladoras. É uma tarefa nobre e útil, que mais nobre e útil seria se fosse exercida com cuidado e competência. Não é o caso. Na aprovação da notória diretoria da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), o Senado comportou-se com a habitual leviandade, antes como carimbador das propostas do Executivo do que como poder verificador e equilibrador das decisões do outro.

A esses argumentos acrescentou-se, na semana passada, evidenciado em toda sua extensão, o mal do "clubismo". Por ser uma casa pequena, onde todos se conhecem bem, o Senado é ambiente propício às cumplicidades, à troca de favores e à venda de lealdades. Não foi outra a causa da absolvição de Renan Calheiros. O clube se fechou em torno dele (ou, pelo menos, a maioria do clube), num processo de escora mútua: eu protejo você hoje e você me protege amanhã, eu finjo que não vejo o que você fez e você finge que não vê o que eu faço, e vamos todos juntos, que o barco soçobra e se um cair ao mar corremos todos o risco de lhe fazer companhia. O clube é uma instituição malsã porque, em vez de ao estado e à nação, tende a servir a si mesmo, a suas trapaças e a suas malfeitorias.



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Com a palavara os senhores senadores da República Federativa do Brasil.

REQUIÃO

Deu no Painel da Folha de S. Paulo:

Acelerado 1.
O governador Roberto Requião (PMDB-PR) enviou à Assembléia Legislativa, em caráter de urgência, pedido de autorização para constituir uma empresa que teria participação majoritária da Copel (estatal de energia do Paraná), com o objetivo de participar do leilão de concessão de rodovias a ser realizado pelo governo federal no início de outubro.

Acelerado 2. No Paraná, há dúvida sobre o real propósito de Requião com a nova empresa: de fato obter a concessão e administrar os trechos de rodovias que passam pelo Estado ou entrar no leilão apenas para melar o processo. O governador é adversário histórico dos pedágios.


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E daí, qual será a verdadeira intenção do nosso governador?

17 setembro 2007

45% DA CÚPULA DO GOVERNO É SINDICALIZADA

Folha de S. Paulo

Pesquisa do CPDOC/FGV mostra que membros filiados a sindicatos ocupavam quase metade dos cargos de elite no poder

Vagas são as mais altas do serviço público; estudo, que levou em conta 1º governo Lula, afirma que cerca de 19% eram filiados ao PT

"Um total de 46% declaram ter pertencido a algum movimento social, 31,8% declaram ter pertencido a conselhos gestores e 23,8%, a experiência de gestão local."
MARIA CELINA D'ARAÚJO
pesquisadora do CPDOC

Os cargos de confiança mais altos no governo de Luiz Inácio Lula da Silva são ocupados por sindicalizados e filiados ao PT, de acordo com dados da pesquisa "Governo Lula: contornos sociais e políticos da elite do poder", coordenada por Maria Celina D'Araújo, do CPDOC (Centro de Pesquisa e Documentação de História Contemporânea do Brasil) da FGV.

"Você tem ainda uma superposição: parte dos petistas é também sindicalizada. É uma malha associativa muito forte", diz a pesquisadora.
A amostra da pesquisa levou em conta os cargos DAS 5, DAS 6 (Direção e Assessoramento Superior) e NE (Natureza Especial), que são os mais altos no serviço público. "A população brasileira tem em torno de 14% de sindicalizados. Na nossa amostra, a gente tem 45%. É muito diferente da realidade brasileira", diz. "Nós pegamos os níveis 5 e 6, que são cargos de direção. Acho que, se olhar mais para baixo, a tendência é até ter mais militantes e sindicalizados. A nossa amostra é uma elite que requer especialização técnica", complementa.
Segundo a pesquisa, cerca de 25% tinham filiação partidária: 19,90% eram filiados ao PT, e 5%, a outros partidos. O estudo mostra que a maior parte dos filiados vem do serviço público estadual e municipal. Informações do próprio PT dão conta de que, ao todo, são 5.000 filiados que ocupam cargos comissionados no governo Lula.
"Os filiados são, em sua maior parte, "outsiders" da esfera pública", diz o texto da pesquisa, segundo o qual os indicadores de "associativismo" também impressionam. "Um total de 46% declaram ter pertencido a algum movimento social, 31,8% declaram ter pertencido a conselhos gestores e 23,8%, a experiência de gestão local. Apenas 5% pertenceram a associação patronais."

Profissionalização
Outro ponto que chamou a atenção foi o fato de a área econômica ter o maior número de servidores com experiência anterior (27%). Na área da saúde, o número fica em 14,55%, na social, em 19,12%, e na de educação, em 13,93%. "O que a gente observa é que a área econômica é a mais profissionalizada", comenta. "Quando a gente vai ver as áreas onde há maior concentração de pessoas sem experiência, sem currículo anterior e com maior militância é na área de saúde e nas áreas sociais. É muito a cara do Brasil, uma cara que se repete."
O estudo faz questão de ressaltar que "nada disso permite conclusões retumbantes, apenas aferir que, de fato, a tese que insiste num forte vínculo sindical, social e partidário está correta". Para D'Araújo, a alta participação de sindicalistas e filiados ao PT pode ser vista como democratização, "porque significa que a sociedade está participando do governo", mas também pode ser analisada como se a "sociedade organizada estivesse sendo cooptada pelo governo".
Mesmo assim, diz ser preciso olhar com cuidado a possibilidade de movimentos sociais serem controlados pelo Estado. "Isso acontece em outros países, Venezuela, Bolívia. Tem sido um recurso bastante usado por governos de recorte popular e pode ter custo para a democracia também, porque você tira autonomia, independência desses movimentos."
A professora, que é autora do livro "O Estado Novo", explica que uma participação tão intensa de sindicalistas é inédita. "Getúlio nem pensar. João Goulart não era sindicalista. O primeiro sindicalista no ministério foi o [ex-ministro do Trabalho Antonio] Rogério Magri, no governo Collor", lembra.
"Estou falando de gente que vem do chão da fábrica e depois faz carreira no escritório do sindicato. Agora, temos vários. Não necessariamente vêm do chão da fábrica, porque não são operários braçais, mas vêm do "chão do banco", são bancários. Por exemplo, o [Ricardo] Berzoini foi ministro."

Análise levou em conta só dados do 1º mandato

"Eu quero saber o corpo e a alma de quem manda na gente. Quem são as pessoas que mandam no Brasil? São essas pessoas que autorizam despesa", afirma a professora Maria Celina D'Araújo.
"Interessa para nós ver quem são as pessoas que controlam máquina pública, recursos, trajetória dessas pessoas", complementa.
A pesquisa analisou dados disponíveis sobre o primeiro mandato do governo Luiz Inácio Lula da Silva. Não levou em conta, por exemplo, a criação de 660 cargos por medida provisória aprovada recentemente pela Câmara.
Para fazer o trabalho, o CPDOC utilizou dados do SIORG (Sistema de Informações Organizacionais do Governo Federal). Há discrepâncias com os números que constam da nota informativa 304/07 do Ministério do Planejamento, datada de 16 de agosto e que foi enviada em resposta a requerimento da liderança do PPS na Câmara. Os números foram divulgados pela Folha em agosto.
Para a pesquisadora, a amostra da pesquisa, de 302 pessoas (cerca de 24% do total), demonstra uma tendência. "A mostra é significativa. Porque é a elite da elite, o topo da linha."
Nas próximas etapas da pesquisa, ela pretende comparar os dois mandatos de Lula e aprofundar outras análises. D'Araújo disse ter notado "uma quantidade grande de pessoas que vieram de experiências políticas clandestinas, não consentidas na época da ditadura". Para ela, isso pode ser analisado como uma demonstração de qualidade da democracia, capaz de "incluir opositores de ontem".


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Esta é a forma petista de governar. Com muita união entre seus pares.
Enquanto isso, o Brasil...

LULA E SEUS MILITANTES AMESTRADOS

EDUARDO GRAEFF


Placebo ideológico aqui, verbinha acolá, empregos a rodo, barriga cheia, lá vai a militância petista fazer seu número. Pula! Late!

O plebiscito sobre a privatização da Companhia Vale do Rio Doce não foi para valer, Lula esclareceu na coletiva de rádio dias depois de o PT anunciar sua adesão à iniciativa do MST e outros. A rigor, o "não tenho nada com isso" dele também não é para valer.
Às vésperas do plebiscito, enquanto o presidente da República negava que a reestatização da Vale estivesse ou pudesse vir a estar na agenda de seu governo, militantes de camiseta vermelha recolhiam assinaturas para o plebiscito comodamente instalados na portaria do Ministério do Planejamento ao som do hino da Internacional Comunista. O que vale mais: a palavra do presidente ou as centenas de milhões de reais com que ele irriga o MST, a CUT, a UNE etc.?
Uma coisa pela outra, eu diria. Falsa como uma nota de três reais é a razão formal que ele alegou para se dissociar da onda reestatizante: houve um "ato jurídico" que o governo deve respeitar. Se tivesse sombra de dúvida que o ato foi fraudulento, como gritam os "excluídos" chapa-branca, teria por obrigação mandar apurar e desfazer o malfeito.
Não fará nada, como não fez até hoje, porque não quer assustar o mercado nem ter que passar um atestado de idoneidade ao processo de privatização. Bom mesmo é deixar suspeitas no ar e faturar eleitoralmente, como fez com o boato de privatização do Banco do Brasil em 2006.
Melhor ainda juntar o proveito político do reflexo condicionado antiprivatização com o proveito econômico da Vale privatizada. Recorde de investimento: US$ 44,6 bilhões nos últimos seis anos contra US$ 24 bilhões nos 54 anos anteriores. Recorde de produção: 300 milhões de toneladas de minério neste ano contra média anual de 35 milhões da Vale estatal. Recorde de emprego: 56 mil empregos diretos hoje contra 11 mil há dez anos. Recorde de exportações: quase US$ 10 bilhões em 2006 contra US$ 3 bilhões em 1997, garantindo mais de um quarto do saldo da balança comercial "deste país".
A Vale não é exceção. Da Embraer à telefonia, passando pela siderurgia e petroquímica, o desempenho de quase todas as empresas privatizadas é uma história de sucesso em benefício de seus compradores e empregados e do país.
A isso o estatista contrapõe números que são, eles sim, fraude grosseira: a comparação dos US$ 3 bilhões pelos quais a União vendeu 42% de suas ações ordinárias da Vale em 1997 com os US$ 50 bilhões que a Vale inteira valeria hoje, depois de toda a expansão possibilitada pela privatização.
E quem foram os beneficiários desse "ato de lesa-pátria"? A quem pertence a Vale privatizada? Aos funcionários e aposentados do Banco do Brasil, principalmente, por intermédio de seu fundo de pensão. Com o BNDES, eles detêm dois terços do capital da Vale. O restante se distribui entre o Bradesco, a "trading" japonesa Mitsui e mais de 500 mil brasileiros que aplicaram parte do FGTS em ações da companhia.
O padrão de gestão da Vale é privado. A propriedade, como se vê, nem tanto. Depois de privatizada, a empresa recolheu aos cofres da União, em impostos e dividendos, algumas vezes mais do que fez ao longo de toda a sua existência como estatal.
Os obreiros do plebiscito e até, forçando a barra, os padres que ecoam essa gritaria inconseqüente dentro das igrejas podem pretextar ignorância. Lula e os dirigentes do PT, não. Esses usam deliberadamente o fantasma da privatização como uma distração para a sua militância -um osso de mentira que se dá a um cachorrinho para ele não roer a mobília.
Um placebo ideológico aqui, uma verbinha acolá, empregos a rodo, barriga cheia, lá vai a militância petista fazer seu número. Pula! Late! E Lula pisca o olho para as visitas: "É brincadeira, gente! Senta que o Lulu é manso".
Os empresários sorriem de volta, fingem que acreditam, mas pensam dez vezes antes de botar a mão no bolso. Para eles, pior do que a encenação dos militantes é a falta de vontade e/ ou capacidade do governo de estabelecer regras claras e um ambiente político confiável para os investimentos privados em infra-estrutura.
A conta das ambigüidades virá aí por 2010, prevêem os especialistas, quando o fantasma do racionamento de energia elétrica deve voltar a rondar, dessa vez não por falta de chuva, mas de investimento. Ou quem sabe em 2011. Já pensaram na ironia? Um novo governo às voltas com o apagão, a militância petista a todo vapor de volta à oposição e Lula na Guarapiranga, pescando suas tilápias...


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Você já pensou?!
Será um verdadeiro circo de horrores.

A JUSTIÇA EM DEBATE

BOAVENTURA DE SOUSA SANTOS


A frustração sistemática das expectativas democráticas pode levar à desistência da crença no papel do direito na construção da democracia

A reforma da Justiça está hoje na agenda política do Brasil. O direito e a justiça, para serem exercidos democraticamente, têm de assentar numa cultura democrática, e esta é tanto mais preciosa quanto mais difíceis são as condições em que ela se constrói.
Tais condições são hoje muito difíceis por duas razões: devido à distância que separa os direitos formalmente concedidos das práticas sociais que impunemente os violam; porque as vítimas de tais práticas, longe de se limitarem a chorar na exclusão, cada vez mais reclamam, individual e coletivamente, serem ouvidas e se organizam para resistir à impunidade. A frustração sistemática das expectativas democráticas pode levar à desistência da crença no papel do direito na construção da democracia e, em última instância, à desistência da democracia.
O imperativo da reforma judicial assenta em três razões principais. A primeira é o campo dos interesses econômicos, que reclama um sistema judiciário eficiente e rápido, que permita a previsibilidade dos negócios e garanta a salvaguarda dos direitos de propriedade. É nesse campo que se concentra a grande parte das reformas do sistema judiciário por todo o mundo.
A segunda razão tem a ver com a corrupção. Essa questão foi sempre tratada de duas perspectivas: a luta judiciária contra a corrupção; a luta contra a corrupção no Judiciário.
Até agora, na América Latina, quando se falou de corrupção e de Judiciário, falou-se sobretudo da corrupção dentro do Judiciário. Sempre que leva a cabo o combate à corrupção, o Judiciário é posto perante uma situação dilemática: esse combate, se, por um lado, contribui para a maior legitimidade social dos tribunais, por outro, aumenta a controvérsia política à volta deles.
Os tribunais não foram feitos para julgar para cima, isto é, para julgar os poderosos. Foram feitos para julgar os de baixo, as classes populares, que, durante muito tempo, só tiveram contato com o sistema judicial pela via repressiva. A igualdade formal de todos perante a lei nunca impediu que os que estão no poder tenham direitos especiais, imunidades e prerrogativas que, nos casos extremos, configuram um direito à impunidade.
Quando os tribunais começam a julgar para cima, a situação muda. Ocorre a judicialização da política. O combate à corrupção leva a que alguns conflitos políticos sejam resolvidos em tribunal. Só que a judicialização da política conduz à politização do Judiciário, tornando-o mais controverso, mais visível e vulnerável politicamente.
Nos melhores casos, tem vindo a produzir um deslocamento da legitimidade do Estado: do Executivo e do Legislativo para o Judiciário.
Esse movimento leva a que se criem expectativas positivas elevadas a respeito do sistema judiciário, esperando-se que resolva os problemas que o sistema político não consegue resolver. Mas a criação de expectativas exageradas acerca do Judiciário é, ela própria, uma fonte de problemas.
Em geral, o sistema judiciário não corresponde à expectativa e, rapidamente, passa de solução a problema. A terceira razão para a reforma judicial está no impulso democrático dos cidadãos que tomam consciência dos seus direitos. Essa consciência revela que a procura efetiva de direitos é a ponta do iceberg. Para além dela há a procura suprimida.
É a procura dos cidadãos que têm consciência de seus direitos, mas que se sentem impotentes para os reivindicar quando violados. Intimidam-se ante as autoridades judiciais que os esmagam com a linguagem esotérica, o racismo e o sexismo mais ou menos explícitos, a presença arrogante, os edifícios esmagadores, as labirínticas secretarias. Se a procura suprimida for considerada, levará a uma grande transformação do Judiciário.
Mas é preciso termos a noção da exigência que está pela frente. Não fará sentido assacar a culpa toda ao Judiciário se as reformas ficarem aquém dessa exigência.
Como ponto de partida, uma nova concepção do acesso ao direito e à Justiça. Na concepção convencional, busca-se o acesso a algo que já existe e não muda em conseqüência do acesso. Ao contrário, na nova concepção, o acesso irá mudar a Justiça a que se tem acesso.
Os vetores principais dessa transformação são: profundas reformas processuais; nova organização e gestão judiciária; revolução na formação de magistrados desde as faculdades de direito até a formação permanente; novas concepções de independência judicial; uma relação do poder judicial mais transparente com o poder político e a mídia e mais densa com os movimentos e organizações sociais; uma cultura jurídica democrática e não corporativa.

16 setembro 2007

MAIS UM DIA DE VERGONHA NACIONAL

DANUZA LEÃO

Não está dando para acompanhar o que acontece em Brasília, sob a ameaça de passar mal do estômago

O país deveria estar em festa: segundo o senador Renan Calheiros, venceu a democracia. Mas não foi isso que se viu no fim da tarde de quarta-feira nas ruas, dos porteiros dos edifícios aos garçons reunidos em frente aos restaurantes em que trabalham. Só se ouvia "que vergonha", "nunca mais eu voto", e por aí vai.
Fico imaginando o senador Renan Calheiros, depois de ir beijar as mãos de Roseana Sarney e de seu pai, o imortal José Sarney, chegando ao "recôndito do seu lar", acolhido por uma orgulhosa d. Veronica, que deve achá-lo um herói. Renan deve ter olhado no fundo dos seus olhos dizendo que devia à sua compreensão, à sua solidariedade, enfim, a ela, e só a ela, a vitória que o consagrou.
Isso com a mesa posta, coberta de acepipes vindos das Alagoas para celebrar o grande dia. Deve ter sido lindo, e d. Verônica merecia o título de a esposa do ano, como foi d. Nair, mulher de Garrincha, lembram?
Enquanto isso, Lula, inocente, passeava de carruagem na Escandinávia; será que o presidente não aprendeu nada, nos países onde esteve na semana que passou? Que neles a saúde e a educação funcionam porque os políticos não mentem, não fazem conchavos, não roubam, porque lá não há corrupção? Não, ele só pensa em botar um bom companheiro no seu lugar, para poder continuar alimentando sua vaidade que não tem tamanho.
Num país do tamanho do Brasil, com tão pouca gente politizada, quantos entenderam o que houve quarta-feira no Senado? Como entender a manobra das abstenções, de senadores que haviam declarado seu voto na véspera? E alguém pode admitir que um senador, um só, não tivesse opinião formada sobre a falta de decoro de Calheiros, mesmo que fosse uma opinião equivocada? Um homem sem opinião não poderia jamais ser senador da República. Pois foram seis. Seis.
Teve lances cômicos: a sessão, que era para ser secreta, secretíssima, e as televisões dando, de hora em hora, notícias do que estava acontecendo no recinto sagrado do Senado; os biscoitinhos do lanche dos senadores sendo negados aos 13 deputados que estavam observando a sessão, isso depois do pugilato que foi para que eles conseguissem entrar, com a permissão do Supremo. Uma baixaria sem nome. Um nojo, essa política; um nojo, certos políticos.
Essa semana foi um vexame total, e nesse quesito o Rio de Janeiro brilhou: houve o trem metralhado pelos traficantes, que obrigou os ministros a se atirar no chão para não serem feridos (há quem diga que o governador Sergio Cabral não embarcou porque estava avisado do que ia acontecer). E houve também a notícia de que César Maia poderá se aliar a Garotinho com vistas à eleição para a Prefeitura do Rio, e mais: a ameaça do governador renunciar a seu mandato, deixando Pezão, seu vice, governando o Estado, para se candidatar à prefeitura.
Ninguém merece.
Não está dando para acompanhar o que acontece em Brasília, sob a ameaça de passar mal do estômago. Em quantos políticos se pode confiar? Dez, 15? Mas se são quase 600 deputados e 81 senadores, como é que se faz?
Quando se pensa que a falta de vergonha chegou ao fundo do poço, vem outro fato pior que nos faz esquecer dos outros, até porque são tantos que não há memória para guardar todos.
Para preservar a população, uma sugestão: que a senadora Ideli Salvati só possa sair de casa de focinheira, porque ela e um pitbull são iguais.
Até fisicamente.


*

Eu nunca reparei a senadora neste ângulo...

ALTA NOS PRODUTOS AGRÍCOLAS VEIO PARA FICAR, DIZ MINISTRO

Folha de S. Paulo

Crescimento mundial e uso de matéria-prima para álcool elevam preços de alimentos a patamar superior, diz Reinhold Stephanes

Titular da Agricultura alerta para falta de financiamento do plantio da próxima safra e culpa BB por criar obstáculos para conceder empréstimos

Diferentemente do que defende a equipe econômica, o aumento de preços dos alimentos que o consumidor já vem experimentando não deve ser passageiro, na avaliação do ministro Reinhold Stephanes (Agricultura). Segundo ele, depois de 20 anos contribuindo para puxar a inflação para baixo, os alimentos atingiram novo patamar de preços e a tendência é de alta.
"Os preços se elevaram, no momento não muito, mas tenho impressão de que esse é um fenômeno que vai se manter", diz em entrevista à Folha.
Ele baseia sua avaliação no ciclo de crescimento mundial, que, diz acreditar, poderá até ser um pouco reduzido por conta da crise financeira nos Estados Unidos, mas ainda se manterá nos próximos anos, e também no uso de grãos como matéria-prima para biocombustíveis em todo o mundo.
Tudo isso, porém, rebate, não será um risco para a inflação. Stephanes, deputado eleito pelo PMDB do Paraná, fala também das expectativas à frente de uma área que enfrentou forte crise e falta de recursos no primeiro mandato de Luiz Inácio Lula da Silva.
Ele diz que um risco para o cenário favorável atual da agricultura é a falta de financiamento do plantio da próxima safra e culpa o Banco do Brasil por criar obstáculos para conceder os financiamentos depois de várias reuniões no ministério. "Até agora, só 15% dos produtores têm financiamento.
Nos outros anos, neste período, já eram mais de 40%", diz. Leia, a seguir, trechos da entrevista.



FOLHA - Há problemas na renegociação de dívida rural?
REINHOLD STEPHANES -
É que se combinaram as coisas e o Banco do Brasil não está executando. Dívida rural não é negócio. A dívida rural é uma situação que tem de ser analisada tecnicamente e tem que haver um entendimento sobre como vamos estruturá-la.

FOLHA - Os problemas são os mesmos todos os anos.
STEPHANES -
A gente discutia endividamento em tempos de crise. Dessa vez começamos em momentos mais tranqüilos, com racionalidade. As coisas andaram, pelo menos a parte que dizia respeito à obtenção de financiamento dessa safra que vai se plantar. Mas o Banco do Brasil resolveu analisar caso a caso. Agora, bem em cima da hora do plantio.
Como não há tempo de analisar, o banco diz: quem pagar aceito; quem não pagar analiso depois. Mas o sujeito quer plantar. Dizem que, se não pagar, há problemas de garantias. Mas em nenhum momento nem o diretor nem o presidente do Banco do Brasil falaram isso nas reuniões.
Até agora só 15% dos produtores têm financiamento. Nos outros anos, nesse período, já eram mais de 40%. Imagina manter a calma. É bom alertar de que há insatisfação do ministro e de agricultores.

FOLHA - A pressão dos alimentos na inflação preocupa?
STEPHANES -
Qual era o fenômeno natural nos últimos 20 anos? O preço dos alimentos estava abaixo da inflação. O que puxou a inflação? Transportes, combustíveis, telecomunicações, planos de saúde, educação, aqueles índices tradicionais. As curvas dos alimentos são descendentes. O aumento de produção se deu pela maior produtividade e esse excesso de oferta se transferia para o consumidor. Essa é a história.
Hoje, aparentemente, acontece uma inflexão dessa curva. Ela tende a subir e a se estabelecer num patamar um pouco mais alto, por duas situações convergentes que não aconteceram nos últimos cem anos.
Uma é ter um período de crescimento elevado por longo período. O último período de crescimento mundial de longo prazo foi de 1970 a 1974, quebrado pela crise do petróleo de 1975.
Agora, de repente, começa a partir de 2002 um crescimento mundial quase generalizado.
Isso leva a expansão da renda, que provoca, em primeiro lugar, aumento no consumo de comida. Muitos países que não comiam carne passaram a comer. Então, há um fenômeno de aumento de renda e de consumo. O exemplo mais claro é a China, que aumenta o consumo por alimentos em 9% e uns quebrados ao ano. Onde há aumento de produção de 9% ao ano para atender a demanda?
Há um aumento da demanda mundial. Um fenômeno que, se prosseguir, em dois, três, quatro anos de crescimento, mesmo que diminua um pouco, provocará um aumento forte por demanda. Você vê que não é por acaso que o Brasil está aumentando em 20% a exportação de carnes todo ano.
E a outra questão conjugada totalmente nova é o uso de matérias-primas agrícolas para a produção de álcool. Não é nova no Brasil, não altera o nosso panorama a curto prazo. Mas é nova quando os Estados Unidos resolvem pegar 80 milhões de toneladas de milho, mais do que a produção brasileira, só para fazer álcool.
O mercado está enxergando isso, vendo que os EUA criaram uma estrutura de produção forte a partir do milho e não vão sair dela. Claro que houve aumento do milho e da soja, que são utilizados para alimentação animal. Em conseqüência, houve elevação do preço do frango e da carne bovina.
Os preços se elevaram, no momento não muito, mas tenho a impressão de que esse é um fenômeno que vai se manter à medida que a demanda mundial continue aquecida por alimentos.

FOLHA - Qual a melhor opção para o Brasil atravessar esse período de altas nos preços?
STEPHANES -
O aumento interno ainda não é tão alto, no geral influenciou a inflação em um ponto [percentual e] alguma coisa. Mas vejo com muita dificuldade. Por mais que haja uma boa safra, isso só evita que os preços subam mais, mas a demanda mundial está aquecida.

FOLHA - Uma recessão nos EUA muda muito o quadro?
STEPHANES -
Não há previsões ainda de recessão, mas de uma diminuição no ritmo de crescimento. De qualquer forma, tem aí acumulado um bom ritmo, um novo patamar de renda e de consumo. Quando se projeta, vemos uma tendência do aumento da demanda de consumo de alimentos e não vemos muitos países com capacidade de atender essa demanda. A China vai continuar demandando produtos, não tem produção interna.
Aí vêm umas coisas interessantes. Em dez anos, o Brasil representará 80% do mercado exportador do mundo. Hoje, temos 40%. A tendência é que alguns aumentos de demanda sejam atendidos pelo país.

FOLHA - O aumento de preços será bom para o Brasil?
STEPHANES -
Acaba sendo extremamente interessante porque o Brasil é o país que tem as melhores condições para dar resposta. Tanto que somos líderes em exportação de carne, grãos, álcool etc. Nada indica que essa tendência vá cair, a não ser que haja uma recessão mundial.

FOLHA - O aquecimento de preços representa ameaça ao controle da inflação?
STEPHANES -
Não, porque é preciso ver o peso da comida no orçamento familiar. Claro que agora há pequeno ajuste, mas nada de mais. Isso vai ser agora um processo, pode ver que já houve o primeiro impacto.
Os preços já estão num novo patamar, e a inflação já absorveu. É evidente que, olhando isso no longo prazo, a tendência é crescer, mas não para grandes saltos, um pouco a cada ano.

FOLHA - Qual é a visão do governo a respeito?
STEPHANES -
Até agora, não temos sentado para conversar sobre isso, porque esses impactos aconteceram há pouco tempo, o próprio Mantega considerou pontuais e já absorvidos. Agora, evidentemente, tem de monitorar daqui para a frente.


*

Não podia esperar outra coisa do ministro Reinhold Stephanes.
Um político sério e responsável, defensor das causas justas.
Eis um homem público com elevado espírito público.
Muito mais do que o cargo que ocupa, o que vale para ele, é a consciência do dever cumprido.

15 setembro 2007

E VIVA O SENADO!

André Petry

"Ora, com todo esse comportamento de confundir-se com o Senado, de misturar
sua pequenez à grandeza da Casa, Renan Calheiros e seus 40 querem, além de tudo, roubar uma instituição da nação"

Desde que os números da vergonha apareceram no placar já se bateu todo o tipo de bumbo contra o Senado. Já se disse que ficou menor e desmoralizado. Que está maculado, diminuído. Que sai do episódio lanhado e podre. Até já voltaram a aparecer propostas para extingui-lo, deixando o Parlamento reduzido à Câmara dos Deputados. O Senado, ao se deixar estuprar por Renan Calheiros e seus 40, passou a ser a melhor expressão do lixo institucional de Brasília.

Mas que nada. Que injustiça. E que equívoco.

O Senado é nosso. O Senado, essa instituição de 180 anos, está onde sempre esteve, funciona no mesmo endereço, com a mesma missão, com os mesmos poderes e prerrogativas. E é nosso, pertence aos cidadãos brasileiros. Neste momento, quem demoniza o Senado faz, mesmo sem querer, mesmo com a mais nobre das intenções, o jogo obscuro de Renan Calheiros e seus 40. Explico-me.

Desde o início de tudo, desde quando sua vida clandestina começou a ser revelada ao país, o senador Renan Calheiros agarrou-se ao Senado – e o uso da expressão "vida clandestina" aqui se refere aos negócios escusos da sala de jantar, e não aos ardores solares da alcova. Renan Calheiros agarrou-se ao Senado como se fosse propriedade sua, como se fosse uma de suas fazendas no interior de Alagoas. Com a ajuda patética de seus 40, agarrou-se à cadeira de presidente do Senado, recusando-se a abandoná-la, como se fosse um banco de praça de Murici. Defendeu-se sentado ao centro da mesa do Senado como se fosse balcão de sua cozinha. Homiziado no Senado, Renan Calheiros fez tudo isso para misturar sua pequenez à grandeza da Casa. Quem não lembra da passagem pedestre em que disse que qualquer ataque contra ele era um ataque contra o Senado?

Pois bem. É por isso, para manter-se homiziado no Senado, que Renan Calheiros já disse inclusive que ninguém é mais apropriado para presidir a instituição do que ele mesmo. "Se eu não tiver condição de presidir o Senado, quem vai ter?", indagou em entrevista à Rádio Gaúcha. Ora, com todo esse comportamento de confundir-se com o Senado, Renan Calheiros e seus 40 querem, além de tudo, roubar uma instituição da nação. Uma instituição que pertence a nós, cidadãos brasileiros. E não podemos, bestificados, entregar o Senado a Renan Calheiros e seus 40.

Renan Calheiros vai passar. Certamente vai passar mais tarde do que cedo, mas vai passar. Seu cardápio de opções políticas, neste momento, oferece só coisas como afastamento, licença, férias prolongadas, renúncia. É lamentável que seja assim, na medida em que deveria incluir apenas cassação, e ponto. Mas Renan está liquidado. É o sorriso do cadáver. Deixemos que se vá. Porque uma hora Renan vai embora. Mas fiquemos com o Senado. O Senado é nosso. Quem está pequeno e desmoralizado, maculado e diminuído, lanhado e podre são os senadores. Renan Calheiros e seus 40. O Senado, não. Viva o Senado!

PMN

O PMN continua crescendo na região.
Ontem, mais uma provisória foi criada, desta vez em Bom Sucesso. À frente, o vice-prefeito do Município, Delcir Aparecido da Silva, além de Misael Gomes Ribeiro e José Roberto da Silva.

SEMANA HISTÓRICA

Diogo Mainardi

"Num dia, Bin Laden elogiou Chomsky. No outro, Renan recorreu a Gramsci. O que restava da
esquerda acabou. Depois desses dois episódios, ela nunca mais conseguirá se reerguer"

Fernando Gabeira acertou um soco num senador. Melhor ainda: ele acertou um soco num senador petista. Melhor ainda: ele acertou um soco num dos senadores petistas que comandaram o banho de descarrego em Renan Calheiros, na última quarta-feira. Epa! Se é assim que funciona, eu também quero entrar na briga.

O banho de descarrego em Renan Calheiros deu certo. Ele saiu purificado do Congresso Nacional. E nem precisou pagar o dízimo. Nós é que pagaremos em seu lugar. O dízimo cobrado pelos bispos petistas tem um nome: CPMF. Que continuará sendo pago por crentes e descrentes, sacramentado por todos os partidos.

Em sua defesa, Renan Calheiros citou Antonio Gramsci, repetindo mais uma vez o argumento de que a imprensa – em particular VEJA – perseguiu-o a fim de desestabilizar Lula. Foi uma das piores semanas de todos os tempos para a intelectualidade de esquerda. Num dia, Osama bin Laden elogiou Noam Chomsky. No outro, Renan Calheiros recorreu a Gramsci. O que restava da esquerda acabou. Depois desses dois episódios, ela nunca mais conseguirá se reerguer.

Renan Calheiros intimidou os senadores prometendo denunciar seus pecados caso eles insistissem em cassá-lo. Nosso papel, a partir de agora, é descobrir os pecados de cada um deles. Descobrir e dedurar. Quanto maior e mais escandaloso o pecado, melhor. Mas defendo a necessidade de denunciar também os pequenos pecados. Nem que seja só para aborrecer. Estupidamente, acostumamo-nos a acreditar que, fora do horário de trabalho, um político tem o direito de se comportar como quiser. Renan Calheiros mostrou que isso é uma tolice, porque um segredo de alcova, por mais ínfimo que seja, sempre pode ser usado como instrumento de chantagem contra a democracia.

Um dos senadores achacados por Renan Calheiros foi Jefferson Péres, que empregou a mulher em seu gabinete. Se isso é verdade, Renan Calheiros está certo, Jefferson Péres está errado. Pena que suas denúncias tenham parado aí. Como reagiram os outros senadores durante seu discurso? O que eles fizeram? Aloizio Mercadante olhou para Patrícia Saboya? Ideli Salvatti pensou nas assessoras de Sibá Machado? Romero Jucá refletiu sobre o destino dos filhos fora do casamento? Edison Lobão foi flagrado por um telefonema de sua mulher?

Quem mais tinha a perder com a queda de Renan Calheiros nem era um senador, e sim Lula. Tanto que ele mobilizou o PT para salvá-lo. O acordo que une Lula a Renan Calheiros parece ser bem mais profundo e temerário do que aquele entre um senador e sua secretária. O acordo tem um aspecto público, ao alcance de todos. Basta analisar o organograma de uma Eletronorte. A dificuldade é tentar desmascarar o que acontece por trás do organograma.

Depois do julgamento no Supremo Tribunal Federal, eu disse que Lula seria lembrado como o presidente dos mensaleiros. Depois do julgamento no Senado, digo que seu legado será Renan Calheiros. Um evento como o de quarta-feira dá uma canseira danada. A gente acaba achando que nem adianta continuar a espernear. Adianta, sim. Adianta para desfazer um monte de crendices que ainda temos sobre o país. Adianta para consolidar a imagem de uma época. Renan Calheiros passa. Lula passa. A gente fica.