31 julho 2007

FRASE

"É a tática chavista de tentar dividir a sociedade. Lula se coloca como pai dos pobres, mas na verdade é apenas o pai dos mal-informados."
Do deputado ANTONIO CARLOS PANNUNZIO (PSDB-SP), sobre as críticas do governo ao movimento "Cansei".



*


E agora: Lula é pai de quem?!
Você decide.

CARTA ABERTA AO MINISTRO DA DEFESA


MARIA INÊS DOLCI

O sr. não pode aceitar que a Anac seja um apêndice das empresas aéreas, permitindo todo o tipo de abuso

Prezado Senhor Ministro Nelson Jobim:
Em primeiro lugar, peço licença para dispensar as formalidades e ir direto ao assunto. Não suportamos mais o caos aéreo, nem o temor, quando entramos em qualquer avião nos aeroportos brasileiros, de que estejamos arriscando nossas vidas além do normal nesse tipo de transporte.
Como o governo federal nada fez, de efetivo, entre as quedas do vôo 1907, da Gol, no dia 29 de setembro de 2006, e do vôo 3054, da TAM, no último dia 17 de julho, esperamos que o senhor:
1. Fique de olho nas companhias aéreas, que demonstraram, até agora, total desprezo pelos passageiros, seja em terra, nos aeroportos, enquanto esperam alguma notícia sobre vôos atrasados, cancelados, transferidos etc. Ou no ar, quando lotam, por exemplo, uma aeronave que deveria sofrer reparos no reverso, como foi o caso do fatídico vôo 3054 da TAM;
2. O senhor não pode aceitar que a Anac (Agência Nacional de Aviação Civil) seja um apêndice das companhias aéreas, permitindo todo o tipo de abuso, como o overbooking, com um sorriso nos lábios;
3. Cancele, por favor, imediatamente, qualquer majoração nos preços das passagens aéreas, pois isso parece gozação (não a sugerida pela ministra do Turismo, Marta Suplicy), e até outras palavras que não seria educado dizer ao senhor;
4. Cobre, do Ministério dos Transportes, dos governos estaduais e municipais, providências imediatas (já, hein, ministro!) com relação aos trens-bala, para ligação entre São Paulo-Rio, São Paulo-Belo Horizonte, São Paulo-Curitiba, dentre outras rotas;
5. Planeje, com o governador de São Paulo e com os prefeitos, ações emergenciais para reduzir o tempo nas viagens do centro da cidade até os aeroportos de Guarulhos, de Jundiaí e de Campinas;
6. Com o Ministério da Justiça e os secretários estaduais dessa pasta, estabeleça um acordo para abertura imediata (já, ministro) de postos de entidades de defesa do consumidor nos aeroportos. E, de inhapa, com o Judiciário (afinal, o senhor já esteve lá, no Supremo Tribunal Federal), a instalação de plantões judiciais nos principais aeroportos brasileiros, para julgamento, imediato, de abusos das companhias aéreas, da Infraero etc;
7. Não caia na tentação do marketing político -aquele que anuncia pacotes o tempo todo, mas nada soluciona. Decida, faça, cobre, demita (dispensar incompetentes e malandros não é crime, é obrigação);
8. Não use a surrada expressão "terceiro turno eleitoral" ou coisa que o valha para responder a críticas objetivas, justas e coerentes. Cobrar governos é obrigação da oposição, da mídia, das organizações da sociedade civil;
9. Faça isso tudo rapidamente, para mostrar que, agora, há comando na aviação civil;
10. Peça para seus colegas trabalharem mais, falarem menos e esquecerem suas medalhas em casa.
Boa sorte para todos nós!


*

As coisas parecem tão fáceis... e são fáceis. Falta apenas boa vontade.
Torcemos para que Jobim faça um bom trabalho. O Brasil merece.

MATAR REQUIÃO? SÓ DE RAIVA

Marcus Vinicius

Se você acreditou na manchete da ‘Folha de Londrina’ que anuncia um plano para assassinar o governador Roberto Requião, bem feito.

Reproduzi a matéria em post abaixo, para que fique para a posteridade. Ei coleguinhas das escolas de jornalismo, divirtam-se.

É caso exemplar de reportagem que vai do nada a lugar nenhum. Um comerciante em São Paulo, que visita regularmente a cidade de Palmas, no interior do Paraná, teria informado à Secretaria de Segurança Pública um plano para matar Requião.

Nome do sujeito: Joaquim Silvério dos Reis. Quaquaquá.

Só pode ser piada. E piada de boteco. Tá ali a turma tomando cerveja e comendo um salaminho, vê o Requião falando na TV e diz: eu mato esse homem. Pronto, lá vai o espião ligar para o secretário Luiz Fernando Delazari - que é a versão curitibana do baixinho da Kaiser - para relatar a ocorrência.

Agora, a dúvida: por que tinha que ser um paulista a denunciar um complô no Paraná? Ora, porque todo paranaense é cúmplice. Quaquaquá. Lincha, esfola, mata!

Profissão do espião: comerciante, dono de padaria. E daí ele entra no táxi e o motorista pergunta: ‘Para onde, senhor?’ ‘Não interessa’.

Mais: segundo a reportagem, os suspeitos do complô seriam quatro advogados, dois ex-administradores públicos e até um delegado.

O presidente da OAB em Palmas, Raul Silveira Boeno, prontamente se incluiu na lista dos citados, mas reforçou que as denúncias são ‘infundadas’.

Na cidade, a história virou piada. Conta-se que uma das primeiras ações do grupo era sequestrar o camisão jeans de Requião e enviar um bilhete de resgate. O dinheiro serviria para as ações do grupo que culminariam com a morte de Requião. A arma usada seria um compêndio de discursos políticos do governador. Um catatau de 1.200 páginas a ser arremessado contra Requião durante a reunião da Escolinha com a ajuda de uma catapulta.

Se o governador sonhava com um ‘Dia do Chacal’ ganhou um ‘Dia da Chacota’. É o que lhe cabe no anedotário popular.


*

É muito engraçado!...
Espero que o governador não se zangue com a brincadeira.

ARGUMENTUM E MISERICORDIAM


Antonio Sepulveda


Lula da Silva, com três dias de atraso, foi ao rádio e à televisão para se manifestar sobre a tragédia da TAM em Congonhas. Não fez um exame de situação, não enunciou fatos pertinentes, não expôs nem ponderou nem contestou argumentos; enfim, não se comportou como um decisor que tenha os pés no chão. Mal assessorado, mentiu ao afiançar que nossa malha aérea operava em padrão internacional; não reconheceu que a aviação brasileira se encontra à beira do abismo e a exigir um planejamento abrangente para investimentos em segurança e eficácia. Lula da Silva parece ter só uma preocupação na vida: passar por bom-moço aos olhos da opinião pública.

E o que disse nosso presidente afinal? Partiu para o argumentum ad misericordiam, ou seja, um raciocínio falso que simula veracidade, porque invoca compreensão piedosa com o propósito de ter a conclusão aceita. E foi compreensão que Lula da Silva pediu com o governo; considerou injustas, precipitadas e “quase irresponsáveis” (sic) as críticas à incúria governamental na condução da crise aérea. Não condenou os discursos nem os gestos de seus subordinados mais diretos; nocivos, levianos, despropositados e agressivos, raiando pela obscenidade. Com extrema insensibilidade, chegou ao cúmulo de permitir a condecoração da incompetência dos diretores da ANAC em ato quase simultâneo aos velórios das vítimas e enquanto ainda fumegava o local da tragédia.

Quem entende do riscado afirma que nossa malha aérea precisa de sistemas digitais e cobertura integral por satélite, incluindo-se equipes adestradas e equipamentos de back-up; e é preciso pôr um fim ao angu-de-caroço a ser enfrentado por quem se aventurar a uma simples viagem de avião.

O leitor deve estar dando boas risadas, porque qualquer um que tenha superado a barreira do primeiro grau sabe que nosso supremo mandatário nada conhece sobre esses assuntos ou qualquer outro assunto sério; não compreende o que dele se espera nem possui discernimento, se a questão comporta um mínimo de complexidade. Lula da Silva é, sem dúvida, uma entidade populista, cujo estilo tosco exerce um fascínio doentio na plebe ignara e sustenta a cupidez dos mal-intencionados. Ele foi fabricado pela nomenclatura petista que o usa e dele abusa para se perpetuar no poder e instalar, no Brasil, o flagelo socialista. Não governa, porque não sabe governar; não passa de um presidente de fachada. Somente num país de analfabetos e apedeutas, a escória política teria condições de urdir a figura tão prosaica que ocupa o poder executivo e hoje nos impõe este cenário de catástrofe.

E esta é também uma inquietação dos cortesãos do Planalto, porquanto sabem que terão perdido a galinha dos ovos de ouro, na hora em que a massa de eleitores intelectualmente desfavorecidos compreender a funesta realidade da camarilha de Lula da Silva e a parvoíce do próprio Lula da Silva. Eis a lógica da matula que cerca o presidente: manter o poder a qualquer custo, e o resto que se dane, ainda que o resto sejam vidas inocentes, brutalmente ceifadas pela fúria dessa ambição canalha de viés ideológico.

Mas o governo tem culpa, sim. Como em qualquer administração centralizada e estatizante, o governo é culpado de quase tudo. O raciocínio é de uma simplicidade franciscana. Quem programa, administra, regulamenta e fiscaliza a infra-estrutura dos aeroportos e as companhias de aviação é o governo; quem controla a segurança da navegação aérea é o governo; e é também o governo quem concede e distribui as linhas às empresas. O governo é o faz-tudo. Por conseguinte, se houve falha, se o sistema não funciona, se não existe garantia de salvaguarda da vida humana, se a aviação brasileira é um caso de calamidade pública, a culpa é, sim, necessariamente, do governo; do mesmo governo que nos cobra uma fortuna em taxas e impostos extorsivos pela prestação desses serviços.

Já andam dizendo por aí que a causa do acidente em Congonhas foi explicada: falha humana ao digitar o voto.



*


O texto foi escrito a alguns dias atrás, mas vai a pena ser ler lido e relido.

Atenção para o último parágrafo: "Já andam dizendo por aí que a causa do acidente em Congonhas foi explicada: falha humana ao digitar o voto."

Não é brincadeira, não!

MORREMOS TODOS


Diogo Mainardi


"A posse do ministro da Defesa, na última quarta-feira, foi o espetáculo mais indecoroso da história política brasileira. Lula ria. Nelson Jobim ria. Tarso Genro ria. Guido Mantega ria. Celso Amorim ria. Juniti Saito ria. Marco Aurélio Garcia ria. Por algum motivo, até mesmo o demitido Waldir Pires ria. Lula provavelmente se regozijava por ter se safado, segundo seus cálculos, de mais uma fria"

Quando é que derrubaremos Lula?

A posse do ministro da Defesa, na última quarta-feira, foi o espetáculo mais indecoroso da história política brasileira. Lula ria. Nelson Jobim ria. Tarso Genro ria. Guido Mantega ria. Celso Amorim ria. Juniti Saito ria. Marco Aurélio Garcia ria. Por algum motivo, até mesmo o demitido Waldir Pires ria. Lula provavelmente se regozijava por ter se safado, segundo seus cálculos, de mais uma fria. No caso, os 200 mortos da tragédia da TAM. Ele repetiu despudoradamente, com sua risada, o gesto de escárnio feito por Marco Aurélio Garcia em seu gabinete, no Palácio do Planalto. Que espécie de gente tripudia sobre 200 mortos? Como alguém pode atingir esse grau de pusilanimidade? Se um dos militares presentes naquela sala batesse vigorosamente as botas, Lula e seus ministros com certeza sairiam em disparada, aos gritos, acotovelando-se e pisoteando-se no carpete verde. Eles só sabem cuidar da própria pele e do próprio bolso. Dane-se todo o resto.

Ninguém derrubará Lula. O que vai acontecer conosco é muito pior: um progressivo desmoronamento da sociedade. É sempre complicado tentar apontar o momento em que um país se perde irremediavelmente. Mas, se eu fosse apostar, apostaria todas as fichas que ele ocorreu na posse de Nelson Jobim, na quarta-feira passada. Entre uma tirada de bar e outra, Lula profanou os 200 corpos dando a entender que o desastre poderia servir pelo menos para diminuir as filas da ponte aérea. Uma sociedade resiste a um governo corrupto. Ela resiste também a um presidente incapaz. O que elimina qualquer possibilidade de convívio é o triunfo dessa boçalidade predatória que caracteriza Lula e sua gente. Eles cercaram a cidadela e ficaram esperando que nossas reservas de civilidade acabassem. Elas acabaram. Estamos desarmados e rendidos.

O Brasil é um buraco. Nunca fizemos algo que prestasse. Mas até outro dia ainda tínhamos uma vaga idéia de como nos comportar. E era essa vaga idéia que mantinha o país andando. Andando de lado, mas andando. Uma das regras de comportamento que a gente seguia era manter certa dose de compostura diante da dor pela morte de alguém. Lula violou essa regra. Depois de violá-la, tripudiou mais uma vez, ensinando aos familiares dos mortos do desastre da TAM que "é preciso que a gente tenha momentos de descontração para tornar a vida menos sofrível". Um dia Lula morrerá. Mas nós já teremos morrido antes dele.


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Para onde caminha o Brasil?

INSTITUIÇÕES EM FRANGALHOS

Roberto Pompeu de Toledo

Se Lula diz que ao voar entrega sua sorte a Deus é porque nem ele confia nos controles de seu governo

O título acima é de um histórico editorial do jornal O Estado de S. Paulo, quando da edição do Ato Institucional nº 5, em 1968, e do conseqüente apagão do que restava de instituições democráticas no país. O.k., não chegamos a tanto. O governo foi legitimamente eleito, o Congresso está aberto, a imprensa é livre e vigoram o habeas corpus e outras garantias individuais. Mas, se não temos um apagão no âmbito das liberdades, vivemos um outro, no campo da eficiência, que a crise do setor aéreo, desdobrada em tragédia, tornou mais claro do que nunca. Alguns exemplos de instituições em frangalhos:

Ministério da Defesa. Quando foi criado, no governo Fernando Henrique, representou uma esperança de avanço civilizacional. Era, enfim, a consagração da supremacia do poder civil, e portanto político, sobre o militar. De quebra, abria-se a possibilidade de as três Armas trabalharem em conjunto, livres de diferenças de filosofia e mais aptas a fazer o interesse geral prevalecer sobre os enclaves corporativos. Tudo ótimo, não tivesse o próprio governo Fernando Henrique se empenhado em desfazer a ilusão ao nomear ministros fracos e decompor-se em melindres diante de militares acuados pela ameaça de perda de poder e status. No governo Lula, e em especial na gestão Waldir Pires, quando a crise aérea despertou o ministério do sono a que se auto-condenara, sua doentia inoperância revelou-se por inteiro.

Na semana passada, a troca de Waldir Pires pelo ex-deputado, ex-ministro da Justiça e ex-ministro do Supremo Tribunal Federal Nelson Jobim ganhou ares de relançamento da instituição. Finalmente assumia o cargo um titular de perfil forte, de quem se espera ação, e não desempenho tão invisível e entorpecido quanto possível. Jobim tem pela frente o desafio de pôr fim à bagunça vigente no transporte aéreo. Façamos votos para que tenha êxito, mas tenhamos em mente o importante detalhe de que o melhor de suas qualidades e os mais intensos de seus esforços estarão voltados para uma questão que nada tem a ver com Defesa. Transporte é atividade civil, e só por uma deformidade institucional brasileira o transporte aéreo abriga-se sob jurisdição fardada. Ainda não foi desta vez que o Ministério da Defesa ganhou um titular para enfrentar os assuntos centrais da pasta.

Anac. A Agência Nacional de Aviação Civil, assim como outras agências reguladoras, foi criada para representar o papel de órgão do estado, e não do governo de turno. Por isso mesmo, a seus diretores se atribuíram mandatos fixos (de cinco anos) e não coincidentes com os do Poder Executivo. Isso quer dizer que nem podem ser demitidos nem têm sua atuação limitada a um único mandato presidencial. Diante do despreparo da maioria dos diretores da Anac, no entanto, cogitou-se na semana passada de mudança na lei, de modo a torná-los demissíveis. O próprio Nelson Jobim pronunciou-se nesse sentido.

Ora, tornar os responsáveis pelas agências demissíveis por um ministro ou pelo presidente equivale a subordiná-las ao governo, o que lhes retira a própria razão de ser. O problema está, numa ponta, na opção do governo por indicar apaniguados, de preferência a pessoas de "ilibada reputação" e "elevado conceito no campo de especialidade dos cargos para os quais serão nomeadas", como diz a lei, e, na outra, na omissão do Senado, ao qual cabe examinar as indicações do Executivo. Por conveniência, conivência ou preguiça, o Senado não tem feito senão carimbá-las, como sempre fez com as indicações para os tribunais superiores ou as embaixadas.

O governo como um todo. "Toda vez que o avião fecha a porta, entrego minha sorte a Deus", disse o presidente Lula, na cerimônia de posse do ministro Jobim. O discurso foi dos mais desastrados, na longa série de discursos desastrados já proferidos pelo mesmo orador. Houve até gracinhas, num momento que aconselharia sobriedade. Reveladora como um ato falho foi a afirmação da entrega da sorte a Deus quando viaja de avião. O bom funcionamento dos motores, as perfeitas condições dos aeroportos, a habilidade dos controladores de vôo – em nada disso o presidente confia. Ou seja: não confia em nada daquilo que cabe a seu governo controlar e fiscalizar.

No desdobramento do raciocínio, Lula disse que ao viajar de avião está "na mão de um comandante, que é um ser humano", e ao sabor "das intempéries, que nem sempre o ser humano consegue controlar". Esse tal de "ser humano" é uma das obsessões do presidente. Freqüenta-lhe os discursos com a mesma assiduidade que as imagens do futebol, as autolouvações do "nunca antes neste país" e as histórias do passado de retirante. Poucos dias antes, ele descrevera as vaias recebidas no Maracanã como "reação do ser humano". O "ser humano" é invocado para justificar erros, fraquezas e limitações da espécie. No caso do discurso da semana passada, não será talvez demais imaginar que o avião que o presidente tinha em mente era o avião Brasil e que o comandante, tão sujeito a falhas que o melhor é confiar em Deus, não seria senão ele próprio.


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O Brasil está sendo comandado?!

DENTRO DO POLITICOVIL

André Petry

"Com politicalhões assim, corremos o risco de ficar numa situação parecida com a condição a que o nazismo relegou suas vítimas: não eram consideradas seres humanos, apenas futuros cadáveres"

Tudo já indicava que estamos cada vez mais distantes da política e mais próximos da politicalha, mas a tragédia de Congonhas jogou uma luz intensa sobre essa deformação nacional. A politiquice pós-tragédia dividiu Brasília em dois bandos. Os politiqueiros do governo torcem para que a principal explicação do desastre seja um defeito no avião ou erro do piloto, aliviando a barra governista. Os politiquetes da oposição fazem figa para que a pista de Congonhas seja a grande culpada, o que compromete o governo. Como as investigações iniciais sugerem que o problema principal ocorreu na cabine do avião, e não na pista do aeroporto, politiquinhos governistas talvez se sintam autorizados a voltar a brincar de top, top, top.

Essa versão amesquinhada da política não é exclusividade brasileira, mas nas democracias mais maduras os politicastros ao menos se empenham em esconder seus impulsos. Aqui, as coisas estão mais debochadas. É impressionante a incapacidade dos nossos politicantes de fazer a política grande, nobre, a política que, apesar de todas as divergências, leva em conta que, afinal, vivemos todos juntos. Mas nossos politicóides são indiferentes a esse projeto de bem comum. Vulgarizaram-se tanto que se apartaram do sentimento do brasileiro médio, que se espantou de verdade, se chocou de verdade com o avião explodindo, se solidarizou de verdade com o drama das famílias. O senhor Marco Aurélio "Top, Top, Top" Garcia é exemplo dessa alienação. Filmado, como ele diz, de "forma clandestina", Garcia mostrou preocupar-se menos com a comoção nacional e mais com o impacto eleitoral da tragédia. Coisa de politiquilho.

Com o mesmo alheamento, o presidente Lula sumiu por três dias depois do maior acidente aéreo do país, tal como fazem os oposicionistas na hora em que são postos à prova. José Serra desapareceu quando o PCC colocou São Paulo de joelhos. Agora, como Congonhas não é obra sua, Serra aparece em Congonhas. E Lula, como Congonhas é obra sua, some de Congonhas, some de Porto Alegre e cancela visitas a toda a Região Sul do país, exatamente para onde deveria viajar se vencesse a covardia da politicagem, se deixasse de fazer politicócoras.

Com politicalhões assim, corremos o risco de ficar numa situação algo parecida com a condição a que o nazismo relegou suas vítimas, conforme a formulação de Hannah Arendt: não eram consideradas seres humanos, apenas futuros cadáveres.

Basta de politicoveiros. Precisamos de políticos.

O EXEMPLO DE OSCAR

Na transmissão do jogo de basquete entre Brasil e Canadá, Oscar Schmidt, o maior cestinha brasileiro, pediu publicamente desculpas pelas vaias que organizou nas provas de ginástica do Pan. Como na coluna da edição passada este autor criticou o comportamento do ex-atleta, vão aqui, agora, os cumprimentos a Oscar por sua humildade e sua capacidade de admitir um erro e corrigi-lo. Com seu pedido de desculpas, Oscar dá bom exemplo à sua legião de fãs.


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Precisamos de políticos sérios que assumam responsabilidades e tenham compromisso com a nação.
"Empurrar com a barriga" é fácil e qualquer um faz.

UM GRANDE LAMENTO

Lya Luft

"Morreram e vão continuar morrendo desnecessariamente pessoas que amamos tanto"

Não foi por fatalidade, não foi pela mão de um só culpado, mas porque a estrutura administrativa brasileira está confusa e precária, sem gestão forte e eficiente, que em alguns meses se perderam centenas de vidas preciosas e viajar neste país se tornou um risco suicida. Porque se quebraram os velhos parâmetros de seriedade e responsabilidade, estamos embarcados num avião desgovernado. Porque aqui a vida humana não vale grande coisa, porque ninguém cuida da nossa segurança nem se importa com a manutenção de estradas, aeroportos e aviões, porque desmando e ganância imperam disfarçados por uma cortina de acusações mútuas e inverdades – por tudo isso, morreram e vão continuar morrendo desnecessariamente pessoas que amamos.

Porque depois de um primeiro acidente que desgraçou centenas de vidas não se tomaram providências radicais. Porque só bem mais tarde o chefe da nação veio a público pedir soluções "com data e hora marcada" (mas ninguém lhe deu atenção e alguns brincaram que ele tinha esquecido de marcar o ano). Porque órgãos diretamente ligados à segurança nos aeroportos não exercem sua função e o dinheiro destinado à segurança se desvia ou fica nos bolsos da União. Porque temos no governo tantas figuras desastradas, há quartos vazios onde entrar e chorar, nomes a chamar em vão, caixões quase vazios a enterrar, crianças a quem anunciar o indizível, que é a morte de seus pais – pois morreram e vão continuar morrendo desnecessariamente pessoas que amamos.

Como me escreveu um piloto experiente, "construímos aeroportos imponentes, com mármore, granito polido, escadas rolantes e boas lojas, mas não se dão nem assistência nem apoio aos pilotos, os sistemas estão obsoletos e não há seriedade na administração", e, como diz um de meus filhos que diariamente percorre grandes distâncias em estradas federais abandonadas, "a cada tantas semanas perdemos nessas rodovias vergonhosas dezenas de pais de família ou famílias inteiras, vítimas do descaso, da corrupção e da incompetência". Aviões, automóveis, ônibus e caminhões se tornaram instrumentos de mortes que poderiam ser evitadas. O que nos oferecem, a nós que somos atingidos dessa maneira miserável e tantas vezes anunciada? Discursos sentimentais, atitudes arrogantes, falas professorais, teorias falhadas, posturas entediadas ou ofendidas, projetos insensatos e desconhecimento do complicadíssimo assunto. Prometem-nos quem ainda acredita em promessas do governo?) "investigações sérias", desde os tempos do mensalão. Não haverá medidas reais e eficazes de segurança e, se houver, faltará quem as fiscalize, pois os órgãos que deveriam administrar e fiscalizar a aviação brasileira entregam aos heróicos pilotos e seus pobres passageiros aeroportos inadequados, aparelhagem defeituosa, pistas precárias. Por isso morreram e vão continuar morrendo desnecessariamente pessoas que amamos.

Quem devia agir com autoridade, demitir os incompetentes e reordenar esse escandaloso caos (há quem tenha coragem de dizer que não existe caos nos ares do Brasil) hesita e adia: os péssimos são mantidos em seus cargos, os corruptos são recompensados, os mais incompetentes recebem medalhas, insultando os mortos e os que por eles choram. Como os desinformados são também crédulos e os que sabem (com raras exceções) não querem se incomodar, não há esperança de melhora. Nada vai mudar: vamos continuar prevendo e vivendo tragédias que poderiam ser evitadas, por terra e pelos ares do Brasil. Imaginaremos os segundos de horror antes da morte e homenagearemos os restos calcinados dos que um dia foram a luz da nossa vida. Continuaremos ameaçados, sem proteção. Não podemos aceitar. Não devemos esquecer. Não há como perdoar. Talvez, enquanto não houver uma resposta verdadeira aos nossos reclamos, ninguém mais deva viajar sem grande urgência: quem sabe um prejuízo econômico provoque a reação que a perda de tantas vidas não causa. Ou já está tudo tão desorganizado que não há mais remédio: levados ao sacrifício como pobres carneiros, vão continuar morrendo desnecessariamente pessoas que amamos tanto.


*

Um texto duro, mas totalmente verdadeiro.
Por que tamanha omissão?
O que nós, cidadãos podemos fazer para mudar esse quadro?

30 julho 2007

CHARGE

Sem noção

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O FOGO DA JUVENTUDE

Eliseu Resende, hoje um senador septuagenário, era candidato ao governo de Minas, em 1982, contra Tancredo Neves. Inexperiente, cometeu um erro ao criticar a idade do adversário: "Não podemos entregar o Estado a quem, numa idade provecta, não pode sustentar o peso da administração."
Tancredo não passou recibo. Foi à tevê elogiar o rival e acabar com ele:
- Konrad Adenauer deixou o governo da Alemanha aos 80 anos, após reconstruir o país. Já o jovem Nero, aos 31 anos, tocou fogo em Roma.
Tancredo foi eleito.


*

É aquela coisa: quem fala o que quer, ouve o que não quer.

ARREPENDIMENTO MATA

De Cláudio Humberto:

O vice-governador do Paraná, Orlando Pessuti, está arrependido de recusar o Tribunal de Contas estadual. O sonho de ser candidato natural ao governo segue para o brejo: Roberto Requião dá sinais de que não o apoiará.


*

Requião não costuma apoiar companheiros.
Sucessão paranaense é sempre um grande mistério.
Mas, bons nomes despontam para o maior cargo do Estado.
Apesar de estar longe, vamos acompanhar com carinho e aguardar.

CANSEI

Da coluna de Mônica Bergamo:

MENOS DOIS

Baixa de peso no movimento "Cansei", organizado por empresários como João Doria e Paulo Zottolo, da Philips: a TV Globo e a TV Bandeirantes decidiram não ceder espaços para a veiculação de anúncios do protesto. A avaliação interna da Bandeirantes foi a de que a campanha, com slogans contra a corrupção e o caos aéreo, poderá ganhar conotação político-partidária.

PARÂMETRO
A TV Globo fez avaliação semelhante. Convidada por Jesus Sangalo, irmão da cantora Ivete Sangalo, a emissora chegou a participar de reunião do "Cansei". Concluiu que a campanha não se enquadra nos parâmetros de ações sociais, de filantropia e de cidadania necessários para que ela divulgue anúncios gratuitamente. A Globo chega a ceder o equivalente a R$ 154 milhões para campanhas de entidades como a Organização Mundial de Saúde.

APARTIDÁRIO
João Doria, que organizou eventos de arrecadação de dinheiro para a campanha presidencial de Geraldo Alckmin, em 2006, contra a reeleição do presidente Lula, nega que o "Cansei" seja contra o governo. Diz que o movimento é cívico, apartidário e sem viés político.

*


É complicado! A tudo se dá conotação política...
Por que as emissoras não deixam o telespectador decidir? Fica a impressão de que elas são sempre parciais. Neste caso, querem defender quem?!
Num país democrático como o Brasil, não cabe esse tipo de atitude de órgãos que tem como principal objetivo, a informação. Pelo menos, deveria ser assim.
Eu, cansei!

GIBA

Folha de S. Paulo

Um dos ícones da supervitoriosa geração de vôlei, atleta faz críticas ao governo brasileiro e diz que pessoas levam "para a vida delas" a determinação da seleção

"Nosso time, que não desiste nunca, dá esperança ao Brasil"


Considerado o mais habilidoso jogador de vôlei do mundo, Gilberto Amauri de Godoy Filho, 30, o Giba, já iniciou sua contagem regressiva. Após a Olimpíada de Pequim-08, vai pendurar a camisa da seleção. O atacante, dois títulos mundiais e um olímpico, é um dos símbolos da vitoriosa era Bernardinho. Com o ouro no Pan, sábado, não faltam mais troféus a essa geração.


INFÂNCIA DO ÍDOLO, EM LONDRINA, FOI DIFÍCIL

Giba teve leucemia aos seis meses. Aos 10 anos, já no vôlei, caiu de uma árvore na grade de um portão e levou 150 pontos no braço. "Pensei que nunca mais iria jogar." Problemas financeiros na família o levaram a trabalhar aos 12 anos


Giba, que acredita que a importância da seleção de vôlei já transcendeu as quadras, falou à Folha ontem, no Rio.

FOLHA -Essa geração ficou marcada pelo treinador, conhecida como "o time do Bernardinho". Ele tem mais exposição que os próprios jogadores. Como você lida com isso?
GIBA
- Não existe essa vaidade para nós. Ele colheu os frutos que plantou. Todo mundo tem reconhecimento, cada um do seu jeito. O fato de ele estar no Brasil e pessoas o verem o tempo inteiro faz com que a equipe tenha esse rótulo. O brasileiro tem memória curta. Depois da Olimpíada de Atenas [em 2004], as pessoas perguntavam se eu tinha largado a seleção. A gente fica oito meses jogando fora. E o fato de o Bernardinho estar aqui alimenta isso.

FOLHA - A crise no Pan expôs divergências com a comissão técnica. O time se portou mais como um grupo vitorioso do que como uma família?
GIBA
- Discordo. Se não tivéssemos essa ligação de família, não teríamos a condição de olhar um no olho do outro e dar uma bronca. Se você só passa a mão na cabeça não está sendo amigo. Na hora da bronca, a pessoa pode ficar brava, se afastar, mas ela vai parar, pensar e ver que foi para o bem dela.

FOLHA - O Ricardinho [cortado do Pan] merecia essa bronca?
GIBA
- As coisas que aconteceram só dizem respeito a nós. O Bernardo tomou uma decisão que julgou ser correta, e não cabe a nós julgarmos isso. O que quero é cumprir nosso pacto e ir com o Ricardinho até Pequim [sede da Olimpíada de 2008].

FOLHA - O que achou do Pan?
GIBA
- Como evento, me surpreendeu. Achei que haveria dificuldade, pelo que lia nos jornais. Sou muito crítico.

FOLHA - O vôlei foi bem organizado, mas você acompanhou os problemas em outras instalações?
GIBA
- Não tinha como acompanhar nada. A gente jogava às 22h, chegava na Vila [Pan-Americana] à 0h30, dormia às 2h. No dia seguinte acordava às 10h30 e ia treinar. Eu só fui do quarto para o restaurante e do restaurante para o quarto.

FOLHA - Você acompanhou as vaias ao presidente Lula na cerimônia de abertura?
GIBA
- Um americano, diretor de banco, me disse uma vez que o Brasil é o país mais rico do mundo. O que você planta dá, o que quer, tem. Tem qualquer tipo de clima, todas as raças juntas, e ninguém briga. É onde todo mundo rouba, e o dinheiro nunca acaba. É uma coisa para se pensar. Minha mulher, que viveu no comunismo na Romênia, me conta os problemas por que passou. Na Itália, as pessoas contam as dificuldades da guerra. Me pergunto se a gente não tem de passar por algo assim para dar valor ao que temos. Tudo isso para chegar nas vaias. As pessoas que comandam o país não dão o devido valor ao nosso povo.

FOLHA - Foram merecidas?
GIBA
- Sim. Não diretamente para ele. É o presidente, mas não muda tudo sozinho.

FOLHA - Votou no Lula?
GIBA
- Não. Estava fora do país e não quis votar. Se estivesse aqui, anularia.

FOLHA - Você pretende voltar a morar apenas no Brasil?
GIBA
- Não penso em viver fora, mas este não é o país em que eu queria morar. O principal problema é a segurança. Como diz a música do Rappa, você não sabe quem está preso, se é você ou o bandido.

FOLHA - Foram gastos cerca de R$ 4 bilhões com o Pan do Rio. Não existiriam outras prioridades?
GIBA
- Não é questão de prioridade. Está mais do que na cara como as coisas acontecem no país, e ninguém faz nada. Não é questão de gastar esse dinheiro aqui ou ali. É parar de roubar. O Brasil precisava de um evento desse. O orçamento estourou, mas existem recursos que poderiam ter sido investidos em outros setores há muito tempo.

FOLHA - O que falta para o esporte se desenvolver mais no país?
GIBA
- Não temos apoio das empresas. Por exemplo, acho um absurdo Curitiba não ter time de vôlei, basquete. Existem várias empresas grandes lá que não querem patrocinar.

FOLHA - Por que isso acontece?
GIBA
- Não sei. Todo mundo falou na lei de incentivo ao esporte, mas não sei se vai resolver. Vou entender quando eu parar.

FOLHA - O que você vai fazer?
GIBA
- Ser cartola, tentar resolver as coisas. Sei como funciona porque já passei por tudo.

FOLHA - A seleção feminina sofreu com um caso de doping no Pan e reclamou de que a Agência Mundial Antidoping está sendo muito rigorosa com substâncias que não ajudam na performance. Você foi pego com maconha. O que acha disso?
GIBA
- Não sei o que aconteceu com a Jaqueline, mas, se você absolve, vai ter precedentes quando pegar pessoas com doping de verdade. Mas tem de estudar caso a caso. O meu foi totalmente diferente. Era uma droga social, mas vai contra tudo que o esporte prega.

FOLHA - Que lição você tirou?
GIBA
- Quando eu cheguei ao Brasil, crianças e senhoras diziam que estavam torcendo por mim. Ali eu vi o que representava. Muita gente fala que quer ser como eu. Querem ser como eu, e eu fazendo essas besteiras? Foi uma grande lição.

FOLHA - O que a seleção de vôlei representa?
GIBA
- Dentro do que falamos até agora, da política, acho que esse time dá mais esperança ao povo. As pessoas dizem que nos vêem jogar, não desistir nunca e ganhar sempre no final e levam isso para a vida delas.

FOLHA - Você disse que pensou em parar de jogar na seleção...
GIBA
- É verdade. Depois de Atenas [2004], pensei seriamente. Não consigo mais ficar longe da família. Minha filha já entende as coisas, ela chora. É uma tortura, não agüento mais.

FOLHA - Muitos cubanos que desertaram estão na Itália. Você tem contato com eles?
GIBA
- Sim. Falam que não agüentaram. Viram as chances que tínhamos e eles não. Os jogadores de vôlei contam que ganham US$ 8 por mês. O governo dá o resto, mas...

FOLHA - Você acha que os atletas têm orientação necessária para gerir suas carreiras?
GIBA
- É uma coisa em que eu venho pensando. Conheci uma pessoa que está estudando isso. Ele trabalha com treinamento de empresas e está entrando no esporte, voltado para o futebol e também outros esportes. Estou empolgado.

FOLHA - Vai virar empresário?
GIBA
- Um pouco de tudo. Lógico que não pode chegar para o cara e dizer: "Você não vai fazer isso". Mas pode orientar. Fazemos isso. Outro dia dei uma bronca no Samuel [novato da equipe], falei para ele fazer uma poupança. Se eu tivesse feito... Vou passar minha experiência.

FOLHA - Giba será, então, cartola e empresário?
GIBA
- Se cansar, vou é pegar um barquinho e virar pescador.


*

Giba é um dos melhores jogadores da seleção. E fez bonito no Pan.

AGRICULTURA FAMILIAR: ESCOLHAS E DESAFIOS

GUILHERME CASSEL

A agricultura familiar é responsável por cerca de 60% dos alimentos que chegam à mesa das famílias brasileiras

A agricultura familiar é responsável por cerca de 60% dos alimentos que chegam à mesa das famílias brasileiras e pela matéria-prima para muitas indústrias, representando 85% do total de estabelecimentos rurais do país. Além disso, contribui para o esforço exportador do Brasil, sendo responsável por cerca de 10% do PIB nacional. Ao todo, são aproximadamente 4,1 milhões de famílias gerando renda e respondendo por 77% das ocupações produtivas e dos empregos no campo.
Esses dados justificam os investimentos nesse setor que, além de produzir alimentos, gera trabalho e renda, ajudando a construir um padrão sustentável de desenvolvimento.
O Plano Safra 2007/2008 da Agricultura Familiar disponibilizará R$ 12 bilhões nas diversas linhas de crédito para custeio, investimento e comercialização do Pronaf (Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar) - R$ 2 bilhões a mais do que foi investido na safra 2006/ 2007. Ao todo, serão cerca de 2,2 milhões de famílias acessando o crédito do Pronaf, com aumento de cerca de 10% dos valores médios financiados em relação à safra passada.
Além da ampliação do crédito, o Plano Safra traz outros avanços: mais recursos a juros menores, ampliação e qualificação dos serviços de assistência técnica e extensão rural, novos estímulos à diversificação produtiva, à proteção do meio ambiente e à geração de renda.
Trata-se do maior e mais completo plano da agricultura familiar. É o maior pelo volume de recursos, pela taxa de juros, que nunca foi tão baixa, e porque é capaz de agregar mais de 2 milhões de famílias ao programa. E é o mais completo porque, pela primeira vez, há um leque de políticas que cobre todo o âmbito da agricultura familiar: seguro, assistência técnica, comercialização, agroindústria e desenvolvimento territorial.
Outro elemento importante é a democratização da distribuição dos recursos, condição para a superação de distorções regionais.
Há quatro anos, 80% dos investimentos eram aplicados na região Sul; hoje, quase 50% de todos os recursos investidos estão no Nordeste, que conta com mais de 2 milhões de agricultores familiares.
Para dimensionar a importância dessas políticas, vale lembrar que, nas últimas décadas, a combinação de uma estrutura agrária concentradora e de padrões tecnológicos excludentes produziu o empobrecimento de milhares de famílias, processo que, em muitos casos, resultou na perda de suas propriedades, na perda da biodiversidade e na contaminação pelo uso intensivo de agrotóxicos.
Do ponto de vista social, o êxodo forçado do campo alimentou um processo de urbanização caótico.
Do ponto de vista ambiental, a degradação de nossas reservas naturais e a redução da biodiversidade trouxe impactos que não podemos esquecer.
A diversidade das culturas está se reduzindo nos terrenos agrícolas de todo o mundo, conforme advertência feita pela FAO (Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação) em 2006.
Nos últimos cem anos, 75% das variedades agrícolas se perderam. Historicamente, o ser humano utilizou entre 7.000 e 10 mil espécies, ao passo que hoje só se cultivam 150 espécies -12 das quais representam 75% do consumo alimentar humano. Dessas, só quatro espécies são responsáveis pela metade dos nossos alimentos.
Reverter esse quadro de destruição da biodiversidade exige investimentos em práticas ambientalmente sustentáveis e em tecnologias de energia renovável.
Podemos repetir experiências do passado, concentradoras de terra e de renda, com forte impacto social e ambiental, ou trilhar novos caminhos, aliando a produção de alimentos de qualidade ao uso de biomassa para diversificar nossa matriz energética, a políticas de distribuição de renda, geração de trabalho e combate à pobreza rural.
Países como França, Itália e Alemanha mostraram como a agricultura familiar contribui para a preservação ambiental e para a melhoria da qualidade de vida da população.
Historicamente, o Brasil construiu um modelo agrícola baseado fortemente na monocultura. Os problemas sociais, ambientais e energéticos que nos desafiam parecem indicar que está na hora de seguirmos outros rumos.


*

O autor do texto é ministro do Desenvolvimento Agrário.
O texto é interessante e traz dados significativos.
Contudo, mais que teoria, fundamental é a ação. E nesse quesito o atual governo deixa muito a desejar.
A importância da agricultura familiar é vista no nosso dia-a-dia.
Que possamos reconhecer e valorizar esse patrimônio.

28 julho 2007

A BRUXA NA CABEÇA



FERNANDO GABEIRA


Ao voltar , descubro que é difícil escrever sobre o Brasil. Tão difícil como escrever legenda de foto muito expressiva. Ela fala por si própria. No entanto, há algo no ar além dos poucos aviões de carreira. É uma sensação de que o governo, diante da crise, deixou de fazer sentido, deixou de dizer coisa com coisa. As pessoas não acreditam ainda no que estão ouvindo. É um pouco como a avó da gente, que fala hoje uma frase meio sem sentido, passa um bom tempo reagindo com lucidez e, de repente, afirma que viu um cavalo alado na cozinha. É o tipo de processo que nos deixa mais inseguros. Quando será a próxima?
A posse do novo ministro da Defesa, já reconhecida pela mídia como um passo à frente, talvez pelo desejo enorme de dar o passo à frente, foi bastante estranha. Em outro lugar do mundo, digamos em outra lógica, um novo ministro teria pelo menos um esboço do que pretende fazer. Teoricamente, nessa minha teoria estrangeira, sua escolha seria o fruto de uma análise de suas características e de suas idéias para arrancar o país da crise.
Em vez de ser uma reflexão sobre novos rumos, a posse versou sobre economia doméstica. O presidente diz que o ministro Pires deveria se aposentar e que o novo ministro Jobim tinha se aposentado muito cedo. Precisava voltar ao trabalho para não ficar em casa, atrapalhando a mulher. Na sua primeira entrevista, o ministro diz que assumiu o cargo a conselho da mulher. Não importa, realmente, se foi a conselho da mulher, da sogra ou de uma cartomante. Importa saber o que pensa fazer e quais são suas credenciais para isto.
Vivemos numa crise há, pelo menos, dez meses. A impressão que dá, por sua primeira entrevista, é a de que não a acompanhou em detalhes. Os cronistas políticos vêem com bons olhos. Todos queremos uma saída da crise. Mas não deixa de ser um culto à onipotência do político supor que apenas as qualidades típicas de um quadro bastam para resolver um problema que demanda técnica e capacidade, até mesmo internacional.
A Suíça em crise contratou uma empresa holandesa para reorganizar seu sistema aéreo. Deu certo. Eles entenderam como um problema de gestão o que se entendeu aqui como um problema de autoridade. O que fazer quando as coisas se precipitam dessa forma? Talvez considerar que a bruxa está solta na sua cabeça e você mesmo deixou de fazer sentido há algum tempo. Nas mãos de um jurista do PMDB, o complexo tráfego aéreo brasileiro vai encontrar o seu destino.

*

É muito preocupante... cada vez estamos mais desesperados.
Há muito tempo, o medo venceu a esperança.
Cabe a nós fazermos nossa parte... e orar muito!

VENHA VAIAR VOCÊ TAMBÉM


PLÍNIO FRAGA


Vaiar virou um dos esportes prediletos da torcida brasileira no Pan. Se na abertura o alvo foi o presidente Lula, americanos, cubanos, venezuelanos e argentinos enfrentaram apupos altos e constantes, como se, na disputa por medalhas, estivessem Bush, Fidel, Chávez e Kirchner.
Brasileiros da ginasta e do atletismo se queixaram da falta de educação da torcida ao vaiar competidores estrangeiros em momentos que exigem concentração. Vaias repreensíveis como essas são estimuladas por gente como o ex-jogador de basquete Oscar Schmidt, que, portando crachá da TV Globo, esgoelou-se a gritar "vai cair, vai cair" para uma atleta canadense -possível futuro destaque da equipe olímpica, com 14 anos recém-completados- enquanto ela tentava difíceis acrobacias na trave da ginástica artística. Uma covardia. Peng-Peng Lee, a canadense revelação, caiu; mas saiu altiva como os grandes sabem ser ao tropeçar.
O Pan tem sido uma diversão para o Rio, a despeito dos índices técnicos, incomparavelmente ruins, na maior parte dos casos, quando contrapostos aos da elite esportiva mundial. Trânsito lento por deficiência de transporte público adequado e a usual incompetência na venda e na entrega de ingressos não macularam os jogos. Não seriam as vaias que o fariam.
A vaia é legítima em qualquer campo (alguém precisa lembrar isso a Lula e seus asseclas). É uma manifestação contestatória política e apaixonada -a paixão é cega, e a política, injusta, sabe-se-, mas é melhor do que se prostrar, permanecer rendido à pasmaceira. "Venha vaiar você também" é uma provocação. Um convite para ser vaiador ou ser vaiado. Ser agente da história é melhor do que receber prêmio por bom comportamento, quase sempre aceitação passiva do que está por aí e que deveria revoltar.

*

Lula anda profundamente irritado com as vaias que vem recebendo: falta humildade?
Todo homem público está sujeito a manifestações, sejam elas favoráveis ou contrárias. O presidente já deveria saber disso há muito tempo, afinal, quando oposição, comandava manifestações pra lá de grosseiras.
No tocante às vaias do público do Pan aos atletas de outros países, fica a clara impressão da falta de espírito esportivo, e pra ser mais exato, falta de educação.
Como o país quer sediar uma olímpiada se não respeita sequer seus adversários?

O TEMPO DE JOBIM


FERNANDO RODRIGUES

Começou a produzir efeitos políticos a nomeação de Nelson Jobim para o Ministério da Defesa. As TVs mostraram ontem o ministro ao lado do governador de São Paulo, José Serra, e do prefeito paulistano, Gilberto Kassab. Em resumo, um lulista, um tucano e um democrata (ex-pefelista). Não apenas juntos, mas em harmonia. Lula poderia brincar repetindo a frase do comercial de cartão de crédito, pois a imagem da trinca "não tem preço" na política.
Hoje, para completar, Jobim permanece em São Paulo. Deve almoçar com Serra. A relação entre ambos é mais do que cordial. Para atestar o grau de distensão basta imaginar qual seria o cenário hoje se o ministro da Defesa nomeado tivesse sido mesmo Paulo Bernardo, o petista e atual titular do Planejamento -como se cogitou antes da aceitação de Jobim. Com Paulo Bernardo certamente não haveria o almoço de hoje nem a imagem amistosa de ontem.
Nenhum desses movimentos, por óbvio, resolve a crise aérea. Mas calmaria política e civilidade nas relações entre as diversas esferas de poder são o passo número um para a viabilização de algum tipo de solução. Pode não ser suficiente, é verdade. Só que sem esse pré-requisito nada daria certo.
Para azar de Lula, entretanto, nem só de política é possível viver. As ações práticas terão de ser empreendidas a partir da próxima semana. E há obstáculos à frente. A troca de dirigentes da Infraero (a estatal dos aeroportos) e da Anac (a agência reguladora do setor) é desejável. Melhor ainda seria haver peças de reposição disponíveis e de melhor qualidade. Não há.
Tudo somado, o tempo de Jobim é curto. Terá de exercitar seu comando sem muita margem de manobra. Em alguns dias começará a ser fortemente cobrado -até porque capital político é um dos mais evanescentes da natureza.

*

O que o Brasil espera é que essa nomeação não tenha apenas fins políticos.
A crise é gravíssima e precisa de uma solução com a máxima urgência.
Vamos torcer que prevaleça em Jobim o espírito público e que ele saiba o tamanho da responsabilidade do cargo que ora ocupa.

A VAIA DO AMIGO DO REI

CLÓVIS ROSSI

Diz o noticiário on-line que Lula foi vaiado ontem no Nordeste, pelo segundo dia consecutivo. Como César Maia não é prefeito no Nordeste, talvez escape das acusações de ter organizado as vaias. Até porque uma vaia muito mais sólida, por escrito, saiu da pena de um dos mais próximos amigos do presidente, além de confessor da primeira-família, o dominicano Frei Betto, que passou dois anos (2003 e 2004) como assessor especial de Lula.
Saiu desiludido e conta assim a sua desilusão no livro "Calendário do Poder": "No primeiro mandato, o medo venceu a esperança. O projeto petista de nação cedeu lugar ao de eleição. Não me refiro ao medo como experiência somática, a que enrijece os músculos, crispa os nervos e desata os fantasmas que nos povoam os subterrâneos da imaginação. Falo de escolhas políticas pautadas por viciados paradigmas da República brasileira, agora refém do neoliberalismo, travando a singularidade de novos e ousados caminhos esboçados com nitidez nos textos fontais do Partido dos Trabalhadores".
"O governo Lula optou por privilegiar alianças partidárias que, por vezes, incluíram políticos notoriamente corruptos, de práticas antagônicas aos fundamentos do PT. No calor do processo eleitoral, essas alianças não se pautaram por metas estratégicas capazes de delinear o perfil de um novo país. O balaio de votos pesou mais que a utopia de construir "um outro Brasil possível".
Nem parece ter servido de lição a crise ética de 2005, tumor fétido de alianças nefastas que reduziram o contrato programático a um balcão de negócios com moeda suspeita". Contra Betto, os debilóides do lulo-petismo, incluídos intelectuais e jornalistas chapa-branca, não podem invocar a teoria da conspiração para explicar as críticas. Teoria que é apenas a maneira covarde e vil de fugir aos fatos fielmente relatados no livro.

*

Provavelmente Frei Betto seja o único amigo de Lula.
Porque amigo que é amigo sabe muito bem criticar (e deve fazer) na hora certa.
Seria bom se o presidente deixasse de ouvir os "amigos" que lhe falam somente o que quer ouvir, e prestasse atenção nos conselhos do verdadeiro amigo.

26 julho 2007

QUINZE MINUTOS PARA OS FILHOS

Rosely Sayão

Ter filhos exige tempo, dedicação, investimento, paciência e esforço. E a falta de tempo para estar com os filhos preocupa muitas mães e pais. Uma delas escreveu perguntando como demonstrar interesse pelas atividades dos filhos se trabalha o dia todo e, quando chega, eles já estão se preparando para dormir, o que não permite que tenha, portanto, a chance de participar das brincadeiras deles e acompanhar as descobertas que fazem.

É: parece que a cada ano que passa temos menos tempo para a família. Em geral, o trabalho dos pais tem exigido dedicação intensa e, além disso, ainda há o trânsito a enfrentar, a casa para administrar, as compras para fazer, a tensão e o cansaço que chegam quase ao limite do suportável. Será que tem de ser assim mesmo? Creio que pode ser diferente, caso os pais priorizem certos períodos de seu tempo para a convivência com o filho.

Quem é que já tentou falar com determinada pessoa, no horário de trabalho, e não teve de ligar em outro momento porque ela estava em uma reunião ou fazendo alguma atividade que não permitia interrupção? Quase todo mundo. Mas quem é que já teve de esperar para tratar de um assunto com alguém porque a pessoa estava se dedicando aos filhos? Pouca gente. Ouvi um pai dizer, certa vez, comentando justamente o que lhe acontecia quando chegava em casa à noite, depois do trabalho, que nessa hora tudo o que ele queria era paz, enquanto que tudo o que os filhos queriam eram pais. Pois é, isso nos faz pensar que, talvez, a falta de tempo para os filhos não seja resultado apenas do acúmulo de tarefas, mas também de falta de prioridade.

Quinze minutos de convivência com o filho são muito mais importantes, tanto para a educação quanto para o afeto, do que meio dia juntos sem o foco estar dirigido ao relacionamento entre eles. O problema, hoje, é que esses quinze minutos não têm recebido a atenção necessária de muitos pais.

Quantas vezes, no pouco tempo que passam com os filhos, os pais escutam o que eles falam sem ouvir, respondendo apenas com um "hã-hã"? Quantas vezes, nesses quinze minutos, os pais se dirigem ao filho sem ao menos olhar para o rosto dele? Quantas vezes, nesses quinze minutos, os pais não atendem mil telefonemas, muitas vezes para falar de trabalho?

Tem mais: muitos pais abrem mão de colocar limites e de ser firme com as regras estabelecidas para os filhos nesse período de quinze minutos porque acreditam que essa atitude prejudica a qualidade do pouco tempo que passam com eles. Ao contrário! Já que os pais têm pouco tempo, precisam aproveitá-lo para dirigir o processo educativo dos filhos. Não é se passando por "bonzinho" que se constrói um tempo de qualidade com o filho!

E no fim de semana? Será que os pais se lembram de dedicar pelo menos uma parte do tempo que têm disponível para acompanhar o filho em atividades do interesse dele? E ao ver televisão ou na hora do jantar, por exemplo, dirigem-se a ele e buscam seus comentários? Ao conversar a respeito da escola e dos estudos, lembram-se de reconhecer os avanços que ele conseguiu, de fazer perguntas específicas que demonstrem estar a par dos acontecimentos?

Esses são apenas alguns exemplos que mostram o quanto pode passar despercebidos dos pais momentos que poderiam ser dedicados à convivência com os filhos, mas que ficam perdidos por causa do cansaço, do estresse, das atividades múltiplas que os pais têm de realizar. Seria bom aprender a respeitar esses quinze minutos.

*

Priorizemos sempre nossos filhos.
A felicidade deles depende da nossa atenção hoje.

NELSON JOBIM: MINISTRO DA DEFESA DA IMAGEM DO GOVERNO!

Do Ex-Blog de César Maia

1. A escolha de Nelson Jobim para Ministro da Defesa é um caso clássico na linhagem
dos governos politicamente fragilizados e com flancos insustentáveis. Nesses casos -
chefes de governo fracos- escolhem para ministro ou ministros, num momento de crise
aguda, algum personagem que possa -por sua imagem- dar cobertura ao governo. Isso
permite ainda ganhar tempo, na medida que não vai se cobrar do novo ministro
resultados em curto prazo.



2. Esse é um velho e carcomido recurso dos governos em processo de desintegração.
Collor é um exemplo. No auge da desmoralização do governo, cobriu seu ministério de
nelsons jobins, como Celio Borja, Marcilio Marques Moreira, e por aí foi. O
resultado já sabemos.



3. A escolha nada tem a ver com a crise aérea, mas com a hemorragia política interna:
o presidente precisa de cobertura para fazer transfusão de sangue. O perfil do novo
ministro - perfil técnico - é o antípoda das questões que vai enfrentar. Nada de seu
currículo tem a ver com essa função.



4. E ainda agrega um problema novo e insolúvel que cai exatamente dentro do
aconselhamento de Tancredo Neves: - Nunca nomeie quem você não pode exonerar. Esse é
um caso. Quando levarem a Jobim as informações relativas aos recursos necessários
para reconstruir o sistema aeroportuário e de controles do espaço aéreo brasileiros
e o tempo que isso vai requerer, não haverá Banco Central para dizer não ao novo
ministro. Isso é bom para o setor. Mas só fará acentuar - interna córporis - a
velocidade da hemorragia que vai deixando de ser apenas interna. A velocidade de
resposta exigia outro tratamento operacional.



5. Entre as histórias contadas por políticos, todos conhecem a das três cartas que o
presidente que saía deixou ao que entrava. Na primeira crise a carta aberta dizia: -
Ponha toda a culpa no governo anterior. Na segunda crise a carta aberta dizia: Faça
uma reforma ministerial. A terceira crise e a terceira carta: -Escreva três cartas a
quem vai lhe substituir. A nomeação de um ministro apenas para dar cobertura à
imagem do governo é uma espécie de retardamento da terceira carta. Só que a torna
mais inevitável ainda. Se houvesse uma carta antes da última, se poderia dizer: - Não
há mais presidente.

6. A tempo! E nem se tratou aqui das Forças Armadas, que com um ministro a quem o
frágil presidente não pode dizer não, vão tirar das gavetas todos os programas de
modernização de equipamentos e todo o atraso remuneratório aos quais foram ditos -
nãos - no passado.


*


Alguém tem que fazer alguma coisa.
Não dá é pra continuar assim.

25 julho 2007

O PRINCÍPIO 90/10

Stephen Covey

Na sua vida, 10% estão relacionados com o que se passa com você, os outros 90% da vida estão relacionados com a forma como você reage ao que se passa com você.

O que isto quer dizer? Realmente, nós não temos controle sobre 10% do que nos sucede. Não podemos evitar que o carro enguice, o avião atrase, que o semáforo fique no vermelho. Mas, você é quem determinará os outros 90%. Como? Com sua reação.

Exemplo: você está tomando o café da manhã com sua família.
Sua filha, ao pegar a xícara, deixa o café cair na sua camisa branca de trabalho. Você não tem controle sobre isto. O que acontecerá em seguida será determinado por sua reação.
Então, você se irrita. Repreende severamente sua filha e ela começa a chorar. Você censura sua esposa por ter colocado a xícara muito na beirada da mesa. E tem prosseguimento uma batalha verbal.
Contrariado e resmungando, você vai mudar de camisa. Quando volta, encontra sua filha chorando mais ainda e ela acaba perdendo o ônibus para a escola. Sua esposa vai pro trabalho, também contrariada. Você tem de levar sua filha, de carro, pra escola. Como está atrasado, dirige em alta velocidade e é multado. Depois de 15 min. de atraso, uma discussão com o guarda de trânsito e uma multa, vocês chegam à escola, onde sua filha entra, sem se despedir de você. Ao chegar atrasado ao escritório, você percebe que esqueceu de sua maleta. Seu dia começou mal e parece que ficará pior. Você fica ansioso pro dia acabar e quando chega em casa, sua esposa e filha estão de cara fechada, em silêncio e frias com você.

Por quê? Por causa de sua reação ao acontecido no café da manhã.
Pense: por quê seu dia foi péssimo?
A) por causa do café?
B) por causa de sua filha?
C) por causa de sua esposa?
D) por causa da multa de trânsito?
E) por sua causa?

A resposta correta é a E. Você não teve controle sobre o que aconteceu com o café, mas o modo como você reagiu naqueles 5 minutos foi o que deixou seu dia ruim.

O café cai na sua camisa. Sua filha começa a chorar. Então, você diz a ela, gentilmente: "está bem, querida, você só precisa ter mais cuidado". Depois de pegar outra camisa e a pasta executiva, você volta, olha pela janela e vê sua filha pegando o ônibus. Dá um sorriso e ela retribui, dando adeus com a mão. Notou a diferença? Duas situações iguais, que terminam muito diferente. Por quê? Porque os outros 90% são determinados por sua reação.

Aqui temos um exemplo de como aplicar o Princípio 90/10. Se alguém diz algo negativo sobre você, não leve a sério, não deixe que os comentários negativos te afetem. Reaja apropriadamente e seu dia não ficará arruinado.

Como reagir a alguém que te atrapalha no trânsito? Você fica transtornado? Golpeia o volante? Xinga? Sua pressão sobe? O que acontece se você perder o emprego? Por quê perder o sono e ficar tão chateado? Isto não funcionará. Use a energia da preocupação para procurar outro trabalho. Seu vôo está atrasado, vai atrapalhar a sua
programação do dia. Por quê manifestar frustração com o funcionário do aeroporto? Ele não pode fazer nada. Use seu tempo para estudar, conhecer os outros passageiros. Estressar-se só piora as coisas.

Agora que você já conhece o Princípio 90/10, utilize-o. Você se surpreenderá com os resultados e não se arrependerá de usá-lo.

Milhares de pessoas estão sofrendo de um stress que não vale a pena, sofrimentos, problemas e dores de cabeça. Todos devemos conhecer e praticar o Princípio 90/10.

Pode mudar a sua vida!

Para complementar o texto, segue uma historinha:

O colunista Sydney Harris acompanhava um amigo à banca de jornal.

O amigo cumprimentou o jornaleiro amavelmente, mas como retorno recebeu um tratamento rude e grosseiro.

Pegando o jornal que foi atirado em sua direção, o amigo de Sydney sorriu atenciosamente e desejou ao jornaleiro um bom final de semana.

Quando os dois amigos desciam pela rua, o colunista perguntou:

- Ele sempre te trata com tanta grosseria?

- Sim, infelizmente é sempre assim.

- E você é sempre tão atencioso e amável com ele?

- Sim, sou.

- Por que você é ta educado, já que ele é tão rude com você?

- Porque não quero que ele decida como eu devo agir. “Nós somos nossos próprios donos”.

Não devemos nos curvar diante de qualquer vento que sopra, nem estar à mercê do mau humor, da mesquinharia, da impaciência e da raiva dos outros.

Não são os ambientes que nos transformam, e sim nós que transformamos os ambientes.

NINGUÉM PODE ESTRAGAR SEU DIA, A MENOS QUE VOCÊ PERMITA!


*

É tão fácil, não é mesmo?

A MICROMEGALOMANIA DE LULA É CONTAGIOSA

ELIO GASPARI

O presidente da Infraero diz que "os mortos são nossos", triste fim para o slogan da campanha do petróleo

O festival de besteiras com que o governo de Nosso Guia tem assolado o país é algo sem precedente, mas seria uma pobreza condená-lo apenas por dizer bobagens. O problema é bem outro, pior. Houve o "relaxa e goza" de Marta Suplicy, mas, antes dele, Lula anunciou, do alto da sua micromegalomania (caso raro de mania de pequena grandeza): "Quero prazo, dia e hora para anunciar o fim da crise dos aeroportos".
Na segunda-feira, o presidente da Infraero produziu uma nova marca, difícil de ser superada. A Federação Internacional dos Controladores de Vôo condenou a gestão da crise e sugeriu uma interferência externa. Trata-se de um organismo corporativo e sem representatividade, mas nem por isso se pode dizer que esteja propondo um absurdo. A resposta veio do brigadeiro José Carlos Pereira, presidente da Infraero: "A crise é nossa, os mortos são nossos".
Para quem lembra desse tipo de retórica na campanha do petróleo, no anos 50, esse é um triste fim para os sentimentos nacionalistas. Exacerbações nativistas podem atrair uma velha maldição do ensaísta inglês Samuel Johnson (1709-1784): "O patriotismo é o último refúgio do canalha". Em Pindorama, o patriotismo foi usado pelos escravocratas do século 19 para desqualificar as pressões da esquadra inglesa e pelos ditadores do 20 para acobertar as torturas e os assassinatos condenados pelo governo do presidente americano Jimmy Carter (1977-1981).
A economia brasileira foi vigiada pelo Fundo Monetário Internacional. Há lixões em São Paulo cuja emissão de gases é monitorada por empresas americanas a serviço de organismos internacionais. Em 2003, interessado em conhecimentos técnicos sobre segurança nos aeroportos, um diretor da Infraero pediu socorro à Embaixada americana. Se alguém dissesse que a desordem fiscal, os lixões e a ignorância aerocrática são nossos, certamente passaria por bobo.
Numa primeira camada, as tolices ditas pelos companheiros refletem a inteligência de cada um deles. Até aí tudo bem, ninguém é obrigado a fazer nexo. Olhando-se com mais atenção, vê-se que há em cada bobagem um elemento de prepotência. O rapaz da Anac ganha uma pataca e quando lhe perguntam se não há contradição entre a homenagem e o tamanho da crise, explica: "A Aeronáutica é que tem que responder". Uma senhora que ocupa uma cadeira na diretoria da Agência e fuma charutos em público, dá aulas: "Deixa eu te falar uma coisa: o acidente não foi no ar. Ninguém bateu no ar, tá? Então, o acidente não tem nada a ver com o número de vôos em Congonhas, tá?"
As besteiras que desmoralizam o segundo mandato do Nosso Guia resultam de uma concepção burocrática, autoritária e delirante do exercício do poder. É o contágio da micromegalomania. Cada um manda no seu pedaço com a imponência de Al Gore e a inteligência de Mike Tyson. Lula exige dia e hora para a crise acabar, a Anac informa que não teve nada a ver com o que aconteceu em Congonhas, a Infraero diz que "os mortos são nossos" e quem cobra soluções ao conjunto do governo é considerado um idiota. Reencarnam um superintendente da Sudene que, durante a ditadura, atribuiu a seca do Nordeste à falta de chuvas.

*

Que governo é esse?!

24 julho 2007

PAN...DEMÔNIO

ELIANE CANTANHÊDE

Um sargento da manutenção mexe em alguma coisa errada no Cindacta-4 e - puf! - o sistema inteiro cai. Não por dois ou três minutos, mas por duas horas e justamente no início da madrugada, quando os vôos internacionais que partem de Guarulhos e do Galeão sobrevoam a Amazônia. Um pandemônio, com aviões de companhias estrangeiras voltando para o Sudeste ou para os EUA.

Ou o sistema é uma porcaria e basta um erro qualquer para entrar em colapso, ou andaram tirando proveito desse erro para transformar uma pane que seria rápida numa grande dor de cabeça nacional, com reflexos nos vôos domésticos e nos aeroportos de todo o país.

No jogo de empurra-empurra, os controladores de vôo surgem na TV dissimulados pela contraluz e por modificadores de voz, alardeando para o distinto público que o sistema é uma porcaria e relatando que dois vôos quase batem em Belém.

A FAB, muito mais lenta e medrosa, reage mais de dez horas depois com uma nota lacônica em que não diz nada, enquanto seus brigadeiros juram pelos cantos que o sistema é ótimo e que não houve quase-acidente nenhum. No Planalto e na área militar, todos coçam a cabeça pensando num fantasma que ronda o governo desde setembro do ano passado: o da sabotagem.

E assim vai-se vivendo. Vivendo perigosamente, sem saber se técnicos sabem mesmo apertar botões e parafusos, se controladores vão ou não fazer nova greve, se a Aeronáutica é capaz de dar uma resposta à opinião pública e se, um dia, Lula vai dar ordem à bagunça.

Após a queda do Boeing da Gol, instalou-se um apagão com direito a greve e panes sucessivas. Após a queda do Airbus da TAM, instalou-se a pane no Cindacta-4 - justamente onde houve a reação mais inconformada com a punição dos controladores pela Aeronáutica.

Más notícias: essa crise vai longe.

O Pan acaba, o pandemônio fica.


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Quando vai acabar a bagunça?

NINGUÉM SEGURA

CLÓVIS ROSSI

Dois dias após o acidente com o avião da TAM, tanto a diretoria (em pleno) da empresa como os responsáveis no governo federal pelo transporte aéreo no Brasil (em pleno) deram intermináveis entrevistas coletivas em que juraram que as pistas de Congonhas são seguras.

Dois dias depois, em pleno horário nobre, um piloto da TAM dá a cara, nome e sobrenome (José Eduardo Brosco) para dizer: "Não pouso mais na pista principal com chuva; ela não segura".
No domingo, o presidente da Associação dos Tripulantes da TAM, Hugo Schaffel, fechou o quadro: "Se tiver qualquer garoa, meio milímetro de lâmina d'água, não vamos mais arriscar. É perigoso".
Esses três momentos acabam sendo o retrato acabado do Brasil como a mais perfeita esculhambação e uma coleção de mentiras tanto do poder público como do setor privado.
Lembro bem que, na entrevista, o presidente da TAM, Marco Antônio Bologna, citou até o número de vôos (mais de mil) que haviam pousado sem problemas na pista de Congonhas, inclusive o próprio avião que se acidentaria.
Qual é a única conclusão possível do conjunto da obra? A TAM, as demais empresas aéreas que operam em Congonhas e o governo federal, responsável pela fiscalização do setor, submeteram milhares de pessoas ao "perigo".
Ou, posto de forma bastante crua: milhares de passageiros foram e continuam sendo cadáveres em potencial, porque, com chuva, a pista "não segura".
Aliás, é o aeroporto-jabuticaba: o único do mundo em que "qualquer garoa" é impedimento para operações seguras.
Em outra época de ufanismo idiota, similar ao do atual governo, dizia-se "ninguém segura este país". Nem precisa dizer: se o país é incapaz de segurar um avião na pista, vai segurar o quê?


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Você consegue responder?

GARGALOS ESTRUTURAIS

Editorial da Folha de S. Paulo

Crescimento sustentável exige que governos, em especial o federal, retomem investimentos em infra-estrutura

A recente tragédia no aeroporto de Congonhas explicitou mais uma vez as deficiências na infra-estrutura do país, sobretudo nos setores mais dependentes do gasto público.
O Tesouro tornou-se refém das políticas monetária e cambial implementadas pelo Banco Central. Os elevados rendimentos distribuídos aos detentores de títulos da dívida pública travaram a expansão dos gastos em infra-estrutura econômica e social, a despeito de uma carga tributária crescente.
Os tributos arrecadados - que ultrapassam 34% do PIB (Produto Interno Bruto) - foram usados para ampliar o saldo primário do setor público e garantir o pagamento das despesas com juros, não para aumentar a oferta de bens e serviços. Na verdade, os gastos em investimentos fixos foram dramaticamente reduzidos, resultando na deterioração do sistema de transporte rodoviário, aéreo, saneamento, e na pequena expansão das fontes de energia elétrica.
Estudo de José Roberto Afonso e Geraldo Biasoto Jr. publicado pelo BNDES revela que as aplicações do setor público brasileiro (administração direta e empresas estatais) caíram de 4,3% do PIB em 1995 para 2,7% em 2003. Reduziram-se não apenas as despesas das estatais (algumas privatizadas) como também encolheram os investimentos diretos das três esferas de governo. Considerando apenas os gastos públicos em infra-estrutura, eles diminuíram de 2,4% do PIB em 1995 para 1% em 2003.
Em termos internacionais, observa-se que a Tailândia aloca 7,7% do PIB em investimentos públicos; a Coréia, 5,4%; a Turquia, 4,6%; e o México, 3,8%.
Assim, a retomada dos investimentos em infra-estrutura é essencial para sustentar um novo ciclo de crescimento. Há algumas estimativas que indicam uma necessidade anual de investimentos da ordem de R$ 90 bilhões a fim de encaminhar os principais estrangulamentos na infra-estrutura doméstica.
Esse volume de recursos exige o desenho de engenharias financeiras inovadoras. Ampliar as captações no mercado de capitais - ações, debêntures, recebíveis - pode aumentar os recursos disponíveis para infra-estrutura. Essas captações podem viabilizar as parceiras público-privadas, liderando a expansão dos investimentos nos setores com rentabilidade positiva.
Há ainda importantes fontes de recursos para investimentos provenientes da tributação de combustíveis, comunicações, energia que são contingenciados para consolidar o superávit fiscal. Esses recursos deveriam ter sua destinação garantida.
Outros setores (transporte, saneamento etc.), no entanto, exigem um aumento dos gastos públicos, em decorrência da baixa rentabilidade prevista nos projetos. Para viabilizá-los seria necessário reduzir as despesas correntes e os desperdícios tão típicos do setor público.

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O desvio de recursos é um sério problema. A destinação nunca poderia ser alterada. Mas, ocorre com muita frequência.

O CHORO E A VAIA

André Petry

"Jade, aos 16 anos, diante da necessidade de superar-se, parece que já começou a
aprender tudo. Oscar, aos 49 anos, superou-se tantas vezes e, no entanto, parece que não aprendeu nada"

A ginasta Jade Barbosa, com seus 16 anos, comoveu o país nas provas do Pan ao desequilibrar-se e cair das barras assimétricas. Jade estava em primeiro lugar nos exercícios do dia. Dera um show no solo, no salto e na trave. Estava preparada para ganhar, mas acabou ficando sem medalha. Com um choro aberto no rosto, Jade lamentou sua queda e lembrou que se esforçara tanto nos treinos que não merecia desfecho tão adverso. Até Oleg Ostapenko, o técnico ucraniano que tem fama de gelado, no fim da prova acolheu-a com algo semelhante a ternura. No dia seguinte, Jade, na flor de seus 16 anos, encantou a platéia ao se recuperar do dia anterior e ganhar duas medalhas: ouro no salto, bronze no solo. Estava feliz e, como um dia antes, lembrou que treinara tanto que merecia um prêmio.

É bom o exemplo de Jade num país tão descrente de si mesmo. Sobretudo porque, aos 16 anos, na sua primeira competição para adultos, Jade já tem o que ensinar aos mais velhos – por exemplo, a Oscar Schmidt, legenda do basquete brasileiro.

Talvez nenhum atleta brasileiro tenha chorado tanto em público quanto Oscar. Chorou como Jade, como atleta. Chorou pela aspereza da derrota, pela recompensa da vitória. Pela emoção de superar-se. Pois Oscar apareceu nas provas de ginástica do Pan – e, do alto de seus 49 anos, constrangeu a platéia e os atletas, sobretudo os brasileiros, ao vaiar estrepitosamente quando algum estrangeiro se preparava para um exercício. Da platéia, Oscar parecia um potro fugido, rabioso, corcovando contra as exigências da civilidade.

É estranho um atleta, logo um atleta, exibir tanto desprezo pelo trabalho de outro atleta e, ainda por cima, desconhecer a diferença entre esporte coletivo e individual. Como desafiam apenas um atleta, e não um conjunto deles, os esportes individuais costumam cativar a platéia, que tende a torcer pelo sucesso do competidor e a lamentar seu eventual fracasso, não importando o time que defende ou o país de onde vem. Não é como no vôlei, no futebol ou no basquete de Oscar. Não é como diante do presidente Lula, na abertura do Pan. Nesses casos, quer vaiar, vaia. Ali, na ginástica, na exibição de um único atleta, a massa não vaia. É o decoro coletivo. É respeito pelo esforço alheio, um pulsar de solidariedade, uma simpatia quase atávica com o atleta, como se a sua superação, movendo-se solitário sob os olhos de uma multidão, fosse também a superação da humanidade inteira.

Oscar não entendeu isso. Desinibidamente, vaiou qualquer estrangeiro. "Vai cair, Chile", berrava para um atleta chileno. "Vai escorregar", gritava para um americano, indiferente aos apelos vindos do sistema de som do ginásio, que pedia aplausos para todos os atletas.

Jade, aos 16 anos, diante da exaustiva maratona de treinos, diante da necessidade de superar-se, parece que já começou a aprender tudo. Oscar, aos 49 anos e uma carreira singularmente vitoriosa, treinou tanto, superou-se tantas vezes e, no entanto, parece que não aprendeu nada.


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Oscar é um grande atleta.
Teve um momento infeliz.
Todos erramos.

CHIMPANZÉS PATINADORES

Diogo Mainardi

"O que um secretário de Turismo, uma procuradora do estado e um deputado do
interior da Bahia podem saber sobre segurança aérea? Eu me sentiria mais seguro se seus cargos na Anac fossem ocupados por chimpanzés patinadores"

Onde está Lula? Lula está de cama. Duzentas pessoas morreram no acidente da TAM. No dia seguinte, Lula preferiu ficar em repouso, de olhos fechados, de barriga para cima, depois de sofrer uma cirurgia cosmética. Sobre os 200 mortos do acidente da TAM, ele se calou. Ele se escondeu. Assim como se calou e se escondeu quando foi vaiado nos Jogos Pan-Americanos. Pode-se argumentar que Lula, o Churchill de Garanhuns, é melhor calado do que falando. Mas é temerário ter um presidente que sempre amarela na hora do aperto.

Ao ser reeleito, em outubro do ano passado, Lula declarou que continuaria a governar para os mais pobres. No setor aéreo, isso se traduziu num descaso criminoso que culminou com os 200 mortos do acidente da TAM, independentemente das falhas do aparelho. O eleitorado de Lula é formado por gente que nunca voou. Quem morre em acidente aéreo é aquela parcela minoritária dos eleitores que sente ojeriza por ele. Na China, Mao Tsé-tung puniu a burguesia obrigando-a a trabalhar em fábricas e em campos de arroz. No Brasil, a luta de classes lulista puniu a burguesia transformando os jatos da Airbus em paus-de-arara.

Os pilotos apelidaram a pista principal do Aeroporto de Congonhas de "Holiday on Ice". Isso significa que os passageiros assumiram o papel de chimpanzés patinadores. A Anac autorizou a reabertura da pista antes que sua reforma fosse concluída. A Anac é o retrato perfeito da pilhagem lulista. Milton Zuanazzi, seu presidente, fez carreira como secretário de Turismo do Rio Grande do Sul. A melhor credencial que ele tem para ocupar o cargo é a carteirinha do PT. Uma das diretoras da Anac, Denise de Abreu, era assessora jurídica de José Dirceu na Casa Civil. Outro diretor da Anac, Leur Lomanto, é ligado a Geddel Vieira Lima e, alguns anos atrás, foi acusado de negociar vantagens para se filiar ao PMDB. O que um secretário de Turismo, uma procuradora do estado e um deputado do interior da Bahia podem saber sobre segurança aérea? Pergunte ao Lula, quando ele decidir sair da cama. Eu me sentiria mais seguro se seus cargos na Anac fossem ocupados por chimpanzés patinadores.

Em abril, sete meses depois do acidente da Gol, enquanto os deputados do PT tentavam abafar a CPI Aérea, Lula se reuniu sorrateiramente com Carlos Wilson num hotel do Recife. Carlos Wilson presidiu a Infraero no primeiro mandato de Lula e é lembrado por ter reformado os aeroportos com os azulejos da Oficina Brennand, de propriedade de sua mulher. É o modelo de moralidade lulista: sobra dinheiro para os azulejos, mas falta para os radares e o grooving. Outro modelo de moralidade lulista é Luis Fernando Verissimo. Ele disse que prefere ficar calado diante das "mutretas" do lulismo porque teme ser confundido com os reacionários. É o mesmo argumento usado pelos stalinistas para acobertar os crimes do comunismo. Pode roubar, desde que seja para combater o inimigo. Pode matar? Pode, sim. Só uns 200 reacionários de cada vez.


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Vale perguntar de novo: Cadê o presidente?