FERNANDO DE BARROS E SILVA
Durante a viagem que fez ao Brasil ao lado de Sartre, em 1960, Simone de Beauvoir escreve da capital recém-inaugurada:
"Estou em Brasília, a mais demente lucubração que o cérebro humano jamais concebeu. (...) Que loucura erguer uma cidade tão artificial no meio de um deserto!" Beauvoir prossegue: "Algo notável é que os operários trazidos para trabalhar aqui começaram construindo sua própria cidade, algumas milhas afastadas, simples barracos de madeira e lojas. (...) Parece uma cidadezinha de western, onde os cavalos são substituídos por jipes. (...) Vou deixar Brasília com o maior prazer -esta cidade jamais terá alma, coração, carne ou sangue".
O trecho faz parte de "Um Amor Transatlântico - Cartas a Nelson Algren" (Nova Fronteira, pág. 525).
Já em 1960 era claro para uma observadora privilegiada (parisiense, além de intelectual) o artificialismo histórico da cidade em cujos traços modernistas estavam inscritas a aposta e a promessa de uma nação socialmente integrada. Em poucas linhas, Beauvoir põe a nu a modernização postiça do país.
O cenário western descrito pela escritora era o embrião das cidades-satélite, que deveriam ser desmontadas uma vez concluído o Plano Piloto, mas que só se multiplicaram pelas décadas seguintes.
Findo o ciclo militar, a cidade que se redescobriu em meados dos anos 80 estava duplamente desfigurada: pela favelização do seu entorno e pela irrupção de construções pós-modernas, verdadeiros monstrengos arquitetônicos que parecem estar ali para zombar do sonho de Niemeyer.
Faz sentido que Joaquim Roriz -o coronel- e Luiz Estevão -o yuppie- fossem os representantes políticos dessa nova ordem social e urbana. A era Collor significou a fusão dessas figuras numa só.
Hoje Brasília parece adaptada aos ares do tempo: de símbolo de uma nova civilização, passou a recanto da "qualidade de vida", tão cara à minoria rica da região dos lagos. A utopia social foi privatizada. E os pobres? Deixa com o Roriz!
*
Ultimamente, tenho ido mais à Brasília.
Além do trabalho, tenho também laços afetivos com a capital do meu país.
Confesso que gosto da cidade. Sua arquitetura é admirável e sua diversidade proporciona, digamos assim, uma rápida viagem ao resto do Brasil .
O trânsito é intenso, mas flui muito bem; as pessoas apesar de distantes, são objetivas e fáceis de lidar; o clima, muito seco, reserva noites agradabilíssimas.
A esplanada dos ministérios, prédios e palácios próximos, costumam hipnotizar e maravilhar visitantes de primeira viagem.
Em seu Hino, fala-se que Brasília é a capital da esperança. Creio realmente que seu idealizador, o ex-presidente Juscelino Kubitschek, quis isso. Infelizmente, Brasília é hoje um grande problema em vários sentidos. Politicamente é a responsável por todos os demandos que assolam a nação, pois é dela que saem todas as decisões.
Enfim, Brasília carrega um grande patrimônio: milhões e milhões de brasileiros, que esperam dela o seu melhor.
Só que o melhor de Brasília, está em você!
É com o seu voto que prá lá vão os homens do bem e os homens do mal.
É você quem escolhe o que Brasília vai fazer por você, por sua família e por todo o Brasil.
Brasília pode realizar o seu desejo e ser a capital da esperança! Esperança de um Brasil decente, justo, fraterno e grande. Que é o que o Brasil é. Grande. Grande para mudar e ser a pátria que todo brasileiro sonha, deseja e merece. Porque o Brasil é você.
Pense nisso!
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