11 julho 2007

AUTO-AJUDA

FERNANDO BONASSI

Quem não procura espera pelo acaso que por acaso pode nem acontecer

Tirar força do que for violento. Violentar a fraqueza dos covardes.
Conhecer a pequenez de si mesmo.
Ensimesmar-se no que for íntimo.
Tornar público aquilo que não deve ser jogado, ou julgado por iniciativas de privada (este é um país gigante, com milhões de ignorantes cuja intolerância dos eleitos é preciso controlar).
Suspeitar do respeito a despeito dos pleitos que advoga.
Evitar os honorários dos advogados, as abordagens das polícias, os achaques dos bandidos e o juízo dos juízes.
Assegurar-se que o bom julgamento seja protegido por princípios (os fins acabam que mal justificam os meios).
Saber abandonar o receio do que deve ser esquecido.
Ser esquisito; ou não ser.
Envergonhar a célebre elite de malandros exibidos.
Fustigar a massa indistinta dos otários acomodados.
Não trabalhar pelo salário dos escravos.
Nem pela renda dos senhores.
Devolver aos pobres o que for dos deuses e aos doentes o que for dos doutores.
Amar os amores das mulheres como aos rancores dos filhos.
Expandir é melhor do que concentrar; espantar-se é melhor do que entender, mas explorar é pior do que assaltar.
Estudar para aprender a criar e multiplicar. Parar de somar com o esforço desencontrado de repartir esse pão sovado e amassado pelos diabos dentre todos nós fominhas.
Resultado: não é preciso ter muitos inteligentes para sabermos o tamanho de nossa própria burrice, nem que os primeiros mais esclarecidos são melhores do que os últimos indolentes por conhecerem os limites de sua incapacidade.
Quem procura acha algumas verdades, por piores que sejam.
Quem não procura espera pelo acaso que por acaso pode nem acontecer.
Aquilo que jamais acontecer poderá ser tão importante para a conclusão dessa "História" quanto aquilo que vier a acontecer.
Quando vier, que seja de frente.
Quando for, que vire de costas.
De um modo ou de outro, aquilo que acontecer pode até ser inacreditável!
Quanto a isso é bom lembrar que a moral não é material nem imaterial.
Atentar ao movimento final: as coisas se completam e se estragam.
A fertilização já acontece na desagregação.
Muitos abortos permanecem vivos, ativos e com imunidades parlamentares para varejar na desordem.
A questão de ordem é saber por que obedecê-la.
O tal do progresso é uma pulga na orelha quando se pára para pensar.
Pensar pode ser um retrocesso, enquanto houver razão suficiente num orçamento militar, por exemplo.
Os orçamentos militares, por exemplo, deveriam ser aprovados para morrer, não para matar.
Separar o trigo da experiência do joio da tradição e as pérolas da juventude dos porcos da repetição.
Dar aos dias a indiferença e a diferença que merecem.
Dar passagem à escuridão para que os novos possam descobrir o velho conjunto vazio dos iluminados.
Aliás, é bom saber que muitos méritos só serão reconhecidos pelos inimigos mais severos.
A fidelidade dos amigos não deve fazer certas coisas erradas em nome da própria amizade que cativam.
Todos são irresponsáveis pelo que não cultivam.
Aqueles que aprenderam a obedecer também podem aprender a escolher.
As escolhas sempre estiveram diante de nossos olhos, mas por medo do que podem se enxergar, os surdos insistem que não querem ver. Assim, muitas ovelhas ainda serão cegadas pelas vidências e evidências de uns pastores que se querem santos venerados.
Os venerandos santos, se existissem, deveriam exigir que mendigássemos por uma solução!
A solução costuma estar no problema. O problema é pagar para trabalhar quando deveriam receber... Ou não?
Convém observar: nem todos os culpados estão nas prisões, nem todos os vagabundos estão desempregados e nem todos os empregados valem o que comem os patrões.
O fundo do fosso esplêndido pode ser ainda mais embaixo e enjoativo.
O que é demais nunca alcança.
E não venham me falar em esperança... A última que morre está só.
Os muito manjados, velhos, ou apegados, que me perdoem, mas saber se conter, largar e se retirar também é fundamental.
Em tempo: estes conselhos não são de graça, já que o articulista leva o seu.

*

Eu também já levei o meu. Espero que você também.

Nenhum comentário: