24 julho 2007

PAN...DEMÔNIO

ELIANE CANTANHÊDE

Um sargento da manutenção mexe em alguma coisa errada no Cindacta-4 e - puf! - o sistema inteiro cai. Não por dois ou três minutos, mas por duas horas e justamente no início da madrugada, quando os vôos internacionais que partem de Guarulhos e do Galeão sobrevoam a Amazônia. Um pandemônio, com aviões de companhias estrangeiras voltando para o Sudeste ou para os EUA.

Ou o sistema é uma porcaria e basta um erro qualquer para entrar em colapso, ou andaram tirando proveito desse erro para transformar uma pane que seria rápida numa grande dor de cabeça nacional, com reflexos nos vôos domésticos e nos aeroportos de todo o país.

No jogo de empurra-empurra, os controladores de vôo surgem na TV dissimulados pela contraluz e por modificadores de voz, alardeando para o distinto público que o sistema é uma porcaria e relatando que dois vôos quase batem em Belém.

A FAB, muito mais lenta e medrosa, reage mais de dez horas depois com uma nota lacônica em que não diz nada, enquanto seus brigadeiros juram pelos cantos que o sistema é ótimo e que não houve quase-acidente nenhum. No Planalto e na área militar, todos coçam a cabeça pensando num fantasma que ronda o governo desde setembro do ano passado: o da sabotagem.

E assim vai-se vivendo. Vivendo perigosamente, sem saber se técnicos sabem mesmo apertar botões e parafusos, se controladores vão ou não fazer nova greve, se a Aeronáutica é capaz de dar uma resposta à opinião pública e se, um dia, Lula vai dar ordem à bagunça.

Após a queda do Boeing da Gol, instalou-se um apagão com direito a greve e panes sucessivas. Após a queda do Airbus da TAM, instalou-se a pane no Cindacta-4 - justamente onde houve a reação mais inconformada com a punição dos controladores pela Aeronáutica.

Más notícias: essa crise vai longe.

O Pan acaba, o pandemônio fica.


*

Quando vai acabar a bagunça?

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