FERNANDO RODRIGUES
O Senado começou a acordar ontem para o mundo. Emitiu sinais claros em direção ao presidente da Casa, Renan Calheiros:
1) Não será tolerada a tramóia jurídica urdida por José Sarney -a proposta de enviar o Renangate para um enterro de luxo no STF (Supremo Tribunal Federal); 2) O processo agora foi declarado oficialmente aberto. Uma renúncia não interrompe mais uma eventual punição para Renan. O alagoano, é verdade, ganhou um tempo extra. Pode tentar alguma mágica no Conselho de Ética. O processo recomeça quase da estaca zero. Mas não se livrou de uma sessão constrangedora, com discursos propondo sua saída da cadeira de presidente do Senado. Ex-aliados como o tucano Arthur Virgílio pediram explicitamente o licenciamento do peemedebista. É como se os senadores falassem, em coro: "Sai daí, Renan. Sai!". Nunca um presidente da Câmara ou do Senado enfrentou até o final um processo de cassação no cargo. É fácil entender a aparente transmutação em curso no Senado. Renanzistas não estão trocando de lado por terem encontrado uma luz divina iluminando uma verdade até agora submersa. Nada disso. Essa turma só recalculou a relação custo-benefício. Já não vale mais a pena proteger um amigo. Custará caríssimo. É o bom e velho mecanismo de pesos e contrapesos, um pilar da democracia. Muitos senadores também têm um pensamento pessoal utilitário: "Quanto mais tempo Renan for investigado, maior a possibilidade de desejarem investigar a mim também". Que o diga o tocantinense Leomar Quintanilha, encrencado com acusações de corrupção e formação de quadrilha. Tudo somado, o Senado passou a diferenciar solidariedade de cumplicidade. O serviço ainda está incompleto. Mas os senadores, enfim, entraram na estrada correta.
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