"Jade, aos 16 anos, diante da necessidade de superar-se, parece que já começou a
aprender tudo. Oscar, aos 49 anos, superou-se tantas vezes e, no entanto, parece que não aprendeu nada"
A ginasta Jade Barbosa, com seus 16 anos, comoveu o país nas provas do Pan ao desequilibrar-se e cair das barras assimétricas. Jade estava em primeiro lugar nos exercícios do dia. Dera um show no solo, no salto e na trave. Estava preparada para ganhar, mas acabou ficando sem medalha. Com um choro aberto no rosto, Jade lamentou sua queda e lembrou que se esforçara tanto nos treinos que não merecia desfecho tão adverso. Até Oleg Ostapenko, o técnico ucraniano que tem fama de gelado, no fim da prova acolheu-a com algo semelhante a ternura. No dia seguinte, Jade, na flor de seus 16 anos, encantou a platéia ao se recuperar do dia anterior e ganhar duas medalhas: ouro no salto, bronze no solo. Estava feliz e, como um dia antes, lembrou que treinara tanto que merecia um prêmio.
É bom o exemplo de Jade num país tão descrente de si mesmo. Sobretudo porque, aos 16 anos, na sua primeira competição para adultos, Jade já tem o que ensinar aos mais velhos – por exemplo, a Oscar Schmidt, legenda do basquete brasileiro.
Talvez nenhum atleta brasileiro tenha chorado tanto em público quanto Oscar. Chorou como Jade, como atleta. Chorou pela aspereza da derrota, pela recompensa da vitória. Pela emoção de superar-se. Pois Oscar apareceu nas provas de ginástica do Pan – e, do alto de seus 49 anos, constrangeu a platéia e os atletas, sobretudo os brasileiros, ao vaiar estrepitosamente quando algum estrangeiro se preparava para um exercício. Da platéia, Oscar parecia um potro fugido, rabioso, corcovando contra as exigências da civilidade.
É estranho um atleta, logo um atleta, exibir tanto desprezo pelo trabalho de outro atleta e, ainda por cima, desconhecer a diferença entre esporte coletivo e individual. Como desafiam apenas um atleta, e não um conjunto deles, os esportes individuais costumam cativar a platéia, que tende a torcer pelo sucesso do competidor e a lamentar seu eventual fracasso, não importando o time que defende ou o país de onde vem. Não é como no vôlei, no futebol ou no basquete de Oscar. Não é como diante do presidente Lula, na abertura do Pan. Nesses casos, quer vaiar, vaia. Ali, na ginástica, na exibição de um único atleta, a massa não vaia. É o decoro coletivo. É respeito pelo esforço alheio, um pulsar de solidariedade, uma simpatia quase atávica com o atleta, como se a sua superação, movendo-se solitário sob os olhos de uma multidão, fosse também a superação da humanidade inteira.
Oscar não entendeu isso. Desinibidamente, vaiou qualquer estrangeiro. "Vai cair, Chile", berrava para um atleta chileno. "Vai escorregar", gritava para um americano, indiferente aos apelos vindos do sistema de som do ginásio, que pedia aplausos para todos os atletas.
Jade, aos 16 anos, diante da exaustiva maratona de treinos, diante da necessidade de superar-se, parece que já começou a aprender tudo. Oscar, aos 49 anos e uma carreira singularmente vitoriosa, treinou tanto, superou-se tantas vezes e, no entanto, parece que não aprendeu nada.
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Oscar é um grande atleta.
Teve um momento infeliz.
Todos erramos.
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