04 julho 2007

ULTIMATO

Eliane Cantanhêde

Hugo Chávez agora dá ultimato no Congresso brasileiro, exigindo a aprovação até setembro da entrada da Venezuela no Mercosul, senão ele cai fora. Chávez, assim, só consegue irritar o Congresso, cansar o governo e jogar a opinião pública contra ele. Ou seja: se isolar.

Chávez tem uma personalidade curiosa, senão perturbadora. A Venezuela era uma festa da corrupção, da desigualdade, da falência das instituições. Ele chegou ao poder justamente contra isso, com apoios poderosos e, por exemplo, simpatia de parcela da mídia, da política e do empresariado no Brasil. Por que insiste em jogar isso fora?

O discurso dos defensores de Chávez está ficando cada vez mais difícil. Os empresários estavam maravilhados com ele, até porque as exportações do Brasil para a Venezuela pularam sete vezes nos últimos anos, mas agora estão amedrontados, perguntando-se sobre nacionalizações, estatizações, fechamento da economia. Enfim, sobre o risco Venezuela.

Na imprensa, os defensores não só se assustaram com a não-renovação da concessão de uma rede de TV poderosa na Venezuela, sinalizando endurecimento político e ataque à liberdade de expressão, como não entendem o rumo que a política interna do país está tomando. O que vem a ser "socialismo do século 21".

No Congresso, deputados e senadores de esquerda (inclusive do PT) não sabem mais se estão do lado do seu Congresso ou do presidente venezuelano. É como se não tivessem para onde correr.

Nas Forças Armadas e nos setores de inteligência, a grande indagação é qual o objetivo de Chávez ao armar a Venezuela com jatos militares, tanques, fuzis e agora submarinos russos. Não custa lembrar que ele tem origem na caserna e tentou um golpe de Estado contra um governo eleito, senão me engano, em 1992. Como não custa lembrar que a Venezuela vive às turras com países da vizinhança, especialmente a Colômbia e a Guiana. Pode partir para uma aventura bélica, empurrando o continente para o precipício? (Atenção: isso é uma pergunta, não uma afirmação).

E o governo Lula --aliás, o próprio Lula-- já cansou. Cansou de passar a mão na cabeça de Chávez, tentando levar tudo meio na brincadeira reagindo às suas surpresas e à sua falta de limite verbal com imensa paciência. Ao contrário, o que se ouve e nota é cada vez mais impaciência, sem entender até onde ele quer --e pode-- chegar.

O Brasil foi o principal patrocinador e avalista da entrada da Venezuela no Mercosul, sob o argumento pragmático de que o país de Chávez é o quinto produtor de petróleo do mundo, e onde jorra petróleo jorra dinheiro. Ou seja: ele aumenta significativamente o PIB do bloco e, portanto, sua força negociadora nesse nosso mundo global. Só que, agora, Planalto, Itamaraty e Congresso, sob pressão da mídia e de setores empresariais, já se perguntam se o ônus político da entrada da Venezuela compensa o bônus econômico.

Ninguém sabe, como ninguém sabe exatamente o que fazer com Chávez além de mandar recadinhos e ameaças às vezes veladas, às vezes escancaradas, pela imprensa. A resposta dele também vem por recadinhos e ameaças pela imprensa.

Lula é homem de negociação, de conciliação. Chávez, ao contrário, é belicista, provocativo, adora um confronto. Olhando o cenário sob ótica panorâmica, ele precisa muito mais de Lula do que Lula dele. Mas parece que Chávez não quer. Prefere o isolamento.

Onde isso vai parar? Nenhum dos lados sabe, mas, a julgar pela situação de hoje, em boa coisa é que não é.

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