21 julho 2007

QUERIDOS VILÕES

Nelson Motta

Sempre na história deste país os vilões das novelas foram execrados pelo público. Atores que os interpretavam não podiam sair às ruas sem ouvir vaias e ofensas e alguns chegavam até a levar uns safanões. A odiada arquivilã Maria de Fátima, de "Vale Tudo" (1988), vivida por Glória Pires, se tornou sinônimo nacional de mau caráter, virou ofensa grave.
Hoje, a maior audiência de televisão no país, da classe A à Z, em todas as faixas etárias, é a novela "Paraíso Tropical", que tem na garota de programa e alpinista social Bebel e no executivo bandido Olavo os personagens preferidos do público, seguidos pela pérfida Marion, mãe de Olavo e picareta vocacional. Mãe e filho se odeiam, mas o público adora os dois. Os personagens positivos, também muito bem feitos, despertam menos empatia, os vilões são os mais queridos.
Parte da culpa, e dos méritos, cabe à maestria dos autores Gilberto Braga e Ricardo Linhares e ao talento e ao charme de Camila Pitanga, Wagner Moura e Vera Holtz, criadores desses personagens que vivem de armações, tramóias, mentiras e toda sorte de canalhices para subir na vida a qualquer preço. São cínicos e dissimulados, simpáticos e afetuosos como políticos em campanha.
"Estou pasmo. Muita gente perdeu completamente o sentido de ética", disse Gilberto Braga, com sua autoridade em vilões, a Patrícia Kogut, em "O Globo".
O exemplo vem do alto, todos os dias. O cansaço e o desencanto de ver tantos escândalos e impunidades, com os vilões da vida real se dando bem no final, parece estar levando muita gente a se identificar com os vilões da ficção e a aplaudir suas vilanias.
Mas eles serão duramente punidos. Na novela, pelo menos, promete Gilberto. Enquanto isso, em Brasília...

*

Tem sempre alguém nos olhando... em todos os lugares, o tempo todo, todo o tempo.
E o exemplo tem que ser o melhor possível.

Nenhum comentário: