Nelson Motta
Sempre na história deste país os vilões das novelas foram execrados pelo público. Atores que os interpretavam não podiam sair às ruas sem ouvir vaias e ofensas e alguns chegavam até a levar uns safanões. A odiada arquivilã Maria de Fátima, de "Vale Tudo" (1988), vivida por Glória Pires, se tornou sinônimo nacional de mau caráter, virou ofensa grave.
Hoje, a maior audiência de televisão no país, da classe A à Z, em todas as faixas etárias, é a novela "Paraíso Tropical", que tem na garota de programa e alpinista social Bebel e no executivo bandido Olavo os personagens preferidos do público, seguidos pela pérfida Marion, mãe de Olavo e picareta vocacional. Mãe e filho se odeiam, mas o público adora os dois. Os personagens positivos, também muito bem feitos, despertam menos empatia, os vilões são os mais queridos.
Parte da culpa, e dos méritos, cabe à maestria dos autores Gilberto Braga e Ricardo Linhares e ao talento e ao charme de Camila Pitanga, Wagner Moura e Vera Holtz, criadores desses personagens que vivem de armações, tramóias, mentiras e toda sorte de canalhices para subir na vida a qualquer preço. São cínicos e dissimulados, simpáticos e afetuosos como políticos em campanha.
"Estou pasmo. Muita gente perdeu completamente o sentido de ética", disse Gilberto Braga, com sua autoridade em vilões, a Patrícia Kogut, em "O Globo".
O exemplo vem do alto, todos os dias. O cansaço e o desencanto de ver tantos escândalos e impunidades, com os vilões da vida real se dando bem no final, parece estar levando muita gente a se identificar com os vilões da ficção e a aplaudir suas vilanias.
Mas eles serão duramente punidos. Na novela, pelo menos, promete Gilberto. Enquanto isso, em Brasília...
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Tem sempre alguém nos olhando... em todos os lugares, o tempo todo, todo o tempo.
E o exemplo tem que ser o melhor possível.
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