24 julho 2007

NINGUÉM SEGURA

CLÓVIS ROSSI

Dois dias após o acidente com o avião da TAM, tanto a diretoria (em pleno) da empresa como os responsáveis no governo federal pelo transporte aéreo no Brasil (em pleno) deram intermináveis entrevistas coletivas em que juraram que as pistas de Congonhas são seguras.

Dois dias depois, em pleno horário nobre, um piloto da TAM dá a cara, nome e sobrenome (José Eduardo Brosco) para dizer: "Não pouso mais na pista principal com chuva; ela não segura".
No domingo, o presidente da Associação dos Tripulantes da TAM, Hugo Schaffel, fechou o quadro: "Se tiver qualquer garoa, meio milímetro de lâmina d'água, não vamos mais arriscar. É perigoso".
Esses três momentos acabam sendo o retrato acabado do Brasil como a mais perfeita esculhambação e uma coleção de mentiras tanto do poder público como do setor privado.
Lembro bem que, na entrevista, o presidente da TAM, Marco Antônio Bologna, citou até o número de vôos (mais de mil) que haviam pousado sem problemas na pista de Congonhas, inclusive o próprio avião que se acidentaria.
Qual é a única conclusão possível do conjunto da obra? A TAM, as demais empresas aéreas que operam em Congonhas e o governo federal, responsável pela fiscalização do setor, submeteram milhares de pessoas ao "perigo".
Ou, posto de forma bastante crua: milhares de passageiros foram e continuam sendo cadáveres em potencial, porque, com chuva, a pista "não segura".
Aliás, é o aeroporto-jabuticaba: o único do mundo em que "qualquer garoa" é impedimento para operações seguras.
Em outra época de ufanismo idiota, similar ao do atual governo, dizia-se "ninguém segura este país". Nem precisa dizer: se o país é incapaz de segurar um avião na pista, vai segurar o quê?


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