17 julho 2007

EXPANSÃO ÀS PRESSAS

Editorial da Folha de S. Paulo

Falta estrutura para sustentar a ampliação de vagas em faculdades federais; modelo de ensino precisa mudar

As primeiras avaliações acerca da recente onda de expansão de vagas no ensino superior público federal confirmam os temores de seus críticos. Marcado pelo açodamento - por sua vez impulsionado pelas intenções eleitorais do presidente Lula -, esse processo deu à luz instituições que não merecem ser chamadas de universidades.
Uma escola de educação física sem quadras nem piscina, uma faculdade de farmácia sem material para experimentos, um curso de computação sem computadores, uma instituição que corre o risco de nem ser implantada por falta de terreno: eis alguns dos resultados do crescimento atabalhoado de vagas verificados por reportagem desta Folha.
O desconforto com a criação de postos universitários a toque de caixa é notório até mesmo dentro do sistema federal. "Essa expansão não foi planejada", diz o reitor da Universidade Federal de Tocantins, Alan Barbiero. Foi "planejada" muito rapidamente, no final de 2005, quando a crise do mensalão derrubava a cotação de Lula nas pesquisas para a disputa do segundo mandato.
O Planalto anunciou naquela época a criação de 18 mil vagas - acréscimo de quase 15% em relação à oferta de 2004-, privilegiando regiões do país não abrangidas pelo sistema federal. Das 59 iniciativas de expansão previstas, só 14 estão prontas, muitas funcionando, como visto, em condições precárias.
O governo federal tenta dourar a pílula dizendo que os problemas de instalação são momentâneos, efeitos colaterais de uma política "ousada". Ousadia decerto haveria se o Executivo tivesse resolvido o problema da reforma do modelo universitário federal antes de deslanchar a expansão do sistema - que vive uma crise crônica de financiamento, com perda de quadros, deterioração da infra-estrutura e derrocada acadêmica.
Dorme no Congresso a reforma universitária, que um dia despertou os brios do governo Lula. O Plano de Desenvolvimento da Educação, lançado em março, aproveitou alguns itens modernizantes daquele debate, mas a sua preocupação continua centrada na expansão das vagas na graduação -a promessa é dobrá-las em uma década.
O aumento de matrículas, se não vier acompanhado de um projeto de melhoria do ensino universitário público, será um desperdício de recursos. É mais barato ampliar o acesso à faculdade por meio de ações como o ProUni - bolsa para alunos carentes em cursos particulares.
É preciso enfrentar questões como o pagamento pelo ensino ministrado nas instituições públicas, na medida da condição financeira do aluno; a abertura dessas universidades a modelos mistos de financiamento; a absorção de instrumentos de gestão atualizados que minimizem os custos burocráticos; e a mudança do regime de trabalho.
Se o governo Lula defende que hospitais públicos passem a contratar servidores pela CLT, não há motivo para deixar as universidades federais de fora dessa inovação.

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À educação, infelizmente, tem-se dado pouca importância.
É lamentável, pois a educação é a base de todas as coisas.
Talvez por isso alguns políticos ainda mantenham seus currais eleitorais.
Às custas da ignorância e desinformação de um povo sofrido, que não tem a oportunidade de fazer um Brasil melhor.

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