31 maio 2007

O BRASIL TEM MENOS FUMANTES

Mônica Bergamo

FUMÓDROMO

O Brasil é um dos países mais bem-sucedidos do mundo na guerra contra o cigarro: um estudo feito pela USP, que será publicado em julho no Boletim da Organização Mundial de Saúde, mostra que o número de fumantes no país caiu 35% num intervalo de 14 anos: 34,8% dos brasileiros fumavam em 1989, contra 22,4% em 2003. A queda, de 2,5% ao ano, é considerada "excepcional" se comparada às de outros países: 0,7% nos EUA, 0,6% no Japão e 0, 8% no Reino Unido.

FUMÓDROMO 2
O percentual de fumantes no Brasil (22,4%) é semelhante ao dos EUA (20,8% em 2004), e do Canadá (20% em 2005). E menor que o da Argentina (40% em 2000). Coordenado pelo professor Carlos Monteiro, da USP, o trabalho tem como base pesquisa feita pelo IBGE em 1989 e outra, de 2003, realizada pela OMS/ Fiocruz, além de estudos feitos no mundo todo em período semelhante.

FUMÓDROMO 3
Um dos motivos apontados pelos estudiosos para a queda é o programa de restrição à propaganda de cigarro na TV, além da proibição de fumar em locais públicos. Nas conclusões, o trabalho propõe medida mais radical: o aumento do preço do produto, para inibir o consumo entre os que têm menor poder aquisitivo. De acordo com os números, a taxa de fumantes entre os que têm menor renda e escolaridade, de 27%, é bem mais alta que entre os mais ricos e escolarizados: 15%.

A POLÍCIA FEDERAL E "OS IN TOCÁVEIS"

FREI BETTO

Com a Operação Navalha, afirmam que a PF está "exagerando". Para estourar a boca de fumo, é chute na porta, barraco revirado

Desde que me entendo por gente, ouço dizer, sem poder discordar, que vivemos no país da impunidade. A polícia e a Justiça punem apenas os pobres passageiros atulhados nos porões deste imenso navio cargueiro chamado Brasil, que flutua nos mares do Sul. No convés, os camarotes vivem infestados de larápios, corruptos, estelionatários, sonegadores, contrabandistas, contratadores de trabalho escravo e toda sorte de bandidos, imunes e impunes.
Essa elite deletéria tem o poder de influir não apenas na elaboração das leis mas sobretudo na sua aplicação, pois indica juízes e promove togados, nomeia delegados e promotores, presenteia políticos e banca férias de magistrados em hotéis de luxo, o que lhes permite trafegar e traficar no mundo do crime com a mesma desfaçatez com que freqüentam os salões da República, os gabinetes de parlamentares e as festas em que o poder desfila e espelha seu incomensurável ego.

Diante de tanta impunidade, Chico Buarque chegou a propor: "Chamem o ladrão, chamem o ladrão!".

No governo Lula, felizmente, as ingerências políticas foram afastadas da Polícia Federal. Como nunca se havia visto antes, as grades de sua carceragem se abriram para ex-governadores, juízes, donos de grandes empresas, gente graúda. Graças à imparcialidade do Ministério Público e ao sigilo das investigações, tubarões têm caído na rede. Pena que as nossas leis sejam tão frouxas, e o Judiciário, cheio de dedos para puni-los.

Agora, diante da Operação Navalha, que corta a jugular de um dos esquemas para sugar os bilionários recursos do PAC (quantos outros não permanecem ativos?), há uma grita geral de que a Polícia Federal estaria "exagerando". Sobretudo ao vazar informações para a mídia.

Ora, na hora de estourar a boca de fumo, é chute na porta, mãos para o alto, barraco revirado, e, se o preso perguntar pelo mandado do juiz, é bem capaz de levar umas bolachas...
Mas, em se tratando de bacanas, corre-se o processo sob segredo de Justiça. Claro, isso facilita o embate entre o Judiciário, refém da elite, e a Polícia Federal, que, infelizmente, não tem tanta autonomia quanto o Banco Central.

O "exagero" não está na Polícia Federal, senhores políticos! Está nos fatos que levam uma publicação como o "Financial Times" a dizer que o Brasil é o país do "rouba, mas faz" sem que o Congresso reaja à acusação.

O "exagero" reside nas CPIs abortadas sem punir ninguém; nos inquéritos paralisados que reforçam a impunidade; no volume de dinheiro público destinado a bolsos privados; no absurdo de micros, pequenos e médios empresários ficarem à míngua diante da porta do BNDES, obrigados a suportar elevadas taxas de juros dos bancos privados, enquanto os grandes empresários se fartam com dinheiro público barato.

O "exagero" é constatar que, diante de tanta denúncia de corrupção neste país nos últimos anos, nenhum corrupto se encontra cumprindo pena atrás das grades.

O "exagero" não é a Polícia Federal investigar e capturar, é aderir à perversa ideologia de que os meus amigos corruptos são menos corruptos que os meus inimigos... Por que rejeitar o jatinho do empresário amigo? Que mal faz um mimo? Recusar um presente não é uma ofensa?
É tanto ladrão graúdo preso e muitos ameaçados que o melhor é prender e calar a polícia... Isso lembra a história de Eliot Ness, o famoso agente "usamericano" que enfrentou a máfia, retratado na série "Os Intocáveis".

Sabe por que a série foi tirada do ar pela cadeia televisiva ABC? Primeiro, a comunidade ítalo-americana protestou. Sentia-se encarada como mafiosa. A viúva de Al Capone processou a emissora por uso indevido da imagem do marido e exigiu reparação de US$ 1 milhão. O FBI também se irritou, era ele que reprimia a máfia, e os méritos ficavam com Eliot.

Tudo se complicou em 1961, quando o líder sindical "Though Tony" Anastasia, ressentido com a denúncia do caráter mafioso de sua entidade, promoveu manifestação diante da ABC em Nova York e mobilizou os estivadores para manter "intocadas" as cargas de cigarros Chesterfield Kings, patrocinadora do programa. Afetada pelo boicote, a empresa Ligett-Meyers, produtora do cigarro, retirou o patrocínio e, meses depois, o programa saiu do ar.

E, no Brasil, quem são "os intocáveis", os policiais federais ou os bandidos de colarinho branco e rabo preso?

PROPINAS: PASSADO E PRESENTE

KENNETH MAXWELL

No Brasil, a propina tem uma história venerável. As lucrativas e íntimas interconexões entre o abuso de poder governamental, as quantias substanciais propiciadas pelos contratos e os empresários que recebem do Estado esses contratos não é novidade nenhuma.

Nas Minas Gerais da era colonial, propinas generosas eram formalmente incorporadas ao custo dos contratos concedidos pelo governo. O governador da Província e os funcionários do Judiciário recebiam adicionais aos seus salários oficiais conhecidos como "propinas", o que explica a origem do uso dessa palavra para descrever tal forma de pagamento no Brasil.

Em 1780, por exemplo, o governador de Minas Gerais recebeu, além do seu salário oficial, adicionais de cerca de 50% em forma de propinas, consideradas legais e que constavam das contas oficiais do governo. Os magistrados e outros funcionários locais recebiam suplementos salariais semelhantes, se bem que menos generosos.

As propinas vinham de empreiteiros que haviam recebido contratos para arrecadar em nome do governo a maior parte das receitas do Estado. De fato, o Estado havia privatizado a função básica de recolher impostos muito antes da década do neoliberalismo.

Os contratos que envolviam arrecadar impostos de importação e de exportação para o território da Província e tributos sobre a produção, uso de estradas e venda de produtos costumavam ser concedidos aos mais importantes empresários locais. O sistema gerava muitos abusos, e reformá-lo era virtualmente impossível. De fato, quando, em 1784, um oficial da contabilidade recomenda a reforma tributária, dizendo que esse método de contratação era prejudicial para o Estado, o governador e o chefe de Judiciário foram ambos totalmente contra qualquer mudança, apesar de serem inimigos e de discordarem sobre tudo. O que fica claro é que gente demais no interior do sistema lucrava com a maneira pela qual ele operava, embora o povo, evidentemente, não se beneficiasse. O povo se via forçado a pagar impostos pelos coletores, que desejavam extrair o máximo lucro de seus contratos com as autoridades.
Quanto mais impostos eles arrecadassem para além do montante prometido ao governo, mais dinheiro sobrava para eles.

Foi Joaquim José da Silva Xavier que definiu a situação da melhor maneira: "Os governadores... cada três anos vinham... e todos iam cheios de dinheiro, que traziam uma machina de creados, e que cada um delles ia à proporção cheio".
Tiradentes estava falando, é claro, sobre governadores e criados vindos de Lisboa, e não sobre aqueles que hoje vivem em Brasília.

CORRUPÇÃO ACELERADA

CARLOS HEITOR CONY

Barragem em um rio, não sei se no Piauí ou em Alagoas, foi orçada inicialmente em R$ 30 milhões. Posteriormente, a obra recebeu novo orçamento, à base de R$ 70 milhões, mais do que o dobro da primeira avaliação. Veio o segundo mandato de Lula e, logo nos primeiros dias de seu novo governo, foi lançado o PAC, pseudônimo de Programa de Aceleração do Crescimento. A barragem passaria a custar R$ 120 milhões.

Tal como o Fome Zero do primeiro mandato, lançado entusiasticamente nos primeiros dias de Lula no poder, tanto o governo como a mídia em geral louvaram a aceleração do crescimento - agora, sim, o Brasil iria deslanchar, chegaria lá.

Evidente que o projeto da barragem fora malfeito. Logo passaria para o dobro, mas nem assim os R$ 70 milhões bastariam. Finalmente, os técnicos do governo chegaram ao preço justo, que, além da barragem propriamente dita, teria gordura suficiente para bancar todos os intermediários, laranjas, lobistas e demais interessados.

Não é sem motivo que a aplicação do PAC está patinando, com governadores, prefeitos, senadores e deputados querendo beliscar o suculento pudim que saiu dos fornos do Alvorada. Tem de dar para todos. Uma obra de R$ 30 milhões, ainda que reajustada para R$ 70 milhões, precisa de verba maior para contentar a todos.

São muitos os programas de crescimento acelerado que o governo pretende executar. Para tornar-se realidade, cada projeto precisa pagar não apenas os custos técnicos de cada empreendimento mas contemplar os inexplicáveis intermediários interessados na liberação das verbas e, se possível, no próprio aumento das verbas.
O Brasil vai bem, obrigado. Talvez não consiga acelerar o crescimento, mas conseguiu acelerar a corrupção.

30 maio 2007

BRASILEIRA FICA EM 2º LUGAR NO MISS UNIVERSO

UOL

Não foi dessa vez que o Brasil vence o concurso Miss Universo, mas quase chegou lá. A mineira Natália Guimarães, 22 anos, ficou em segundo lugar no concurso, ocorrido na noite de segunda-feira (28), no Auditório Nacional da Cidade do México. Entre as 77 candidatas do mundo inteiro, a brasileira – uma das principais favoritas da platéia - só perdeu para a japonesa Riyo Mori, que ficou na primeira posição.

Exibido ao vivo pela TV Bandeirantes, o concurso contou com a apresentação de Renata Fan e os comentários de Adalgiza Colombo, ex-Miss Brasil que também ficou em segundo lugar, em 1958. Segundo ela, o resultado desta 56ª edição foi injusto: “Ela (a japonesa) venceu por politicagem”, disse a ex-miss, que preferia que o título fosse para a bela Natália, que realmente era bem mais bela do que a concorrente.

Em quinto lugar ficou a candidata dos Estados Unidos, em quarto, a representante da Koréia e em terceiro a Venezuelana.

A vencedora do ano de 2006 foi a porto-riquenha Zulyka Mendonza.

O Brasil só teve duas ganhadoras do título Miss Universo: Ieda Vargas, em 1963 e Martha Vasconcelos, em 1968. Mas vamos combinar que um segundo lugar não é pouca coisa, em meio a tantas mulheres bonitas. Parabéns, Natália!

FRIBOI COMPRA A SWIF E VIRA LÍDER GLOBAL

Folha de S. Paulo

Brasileira adquire a gigante americana por US$ 1,4 bilhão e torna-se maior empresa em abate de bovinos no mundo

Aquisição dá acesso ao mercado americano e ocorre após a brasileira obter R$ 1,6 bi com lançamento de ações na Bovespa, em março

O grupo JBS-Friboi, maior produtor e exportador de carne bovina da América Latina, anunciou a compra da americana Swift por US$ 1,4 bilhão. A aquisição cria a maior empresa do mundo de alimentos de origem bovina, diz a empresa.

A Swift é a quarta maior do mundo em abates bovinos e a terceira maior processadora de carne suína nos Estados Unidos, com receitas líquidas de US$ 9,6 bilhões em 2006. As duas empresas, que terão 40 unidades industriais espalhadas por Argentina, EUA, Brasil e Austrália, passam a ter capacidade diária de abate de 47,1 mil bovinos, superando os 32,6 mil da Tyson, também dos EUA. Em 2006, as duas empresas abateram 9,6 milhões de bovinos e tiveram receitas líquidas de US$ 11,5 bilhões.

A compra da Swift foi feita pela J&F Participações, que tem 77% da Friboi. O negócio prevê pagamento de US$ 400 milhões já -US$ 225 milhões pelas ações da Swift da HM Capital, controladora da companhia, e US$ 175 milhões para quitar dívida antiga. A empresa fará ainda o refinanciamento de dívida de US$ 1 bilhão.

A compra da Swift nos EUA -a Friboi já detinha a marca no Brasil e na Argentina- elevará sua atuação no mercado de industrializados. O Brasil atualmente não pode exportar carne fresca para os EUA, por questões sanitárias, e embarca apenas o produto processado.
A Friboi quer melhorar os níveis de lucratividade da Swift para depois integrá-la à operação global do grupo. A redução de custos fixos "será uma grande obsessão", disse o presidente-executivo da empresa, Joesley Mendonça Batista.

Suínos
A compra dá acesso a uma área até então inédita para a empresa, a carne suína. Batista frisou, contudo, que essa parte da operação não está incluída entre os objetivos principais com a compra. Mas avaliação nos Estados Unidos indica que esse é o setor que vai bem na empresa.
"Na nossa análise, temos duas etapas nessa empresa. Temos que tirá-la de 0% a 1% de margem Ebitda [lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização] para 3% a 5%, que é o Ebitda histórico dessa indústria", disse Batista, que pretende obter isso em até dois anos, sem necessidade de investimento em ativos. Em seguida, viria uma possível expansão no processamento e industrialização. Esse é um grande passo para a Friboi, que passa a ter acesso à região do Pacífico, diz Batista.

Essa não é a primeira compra externa da Friboi, que já tem cinco unidades na Argentina. O objetivo é diversificar a origem da produção para evitar barreiras sanitárias. Para se capitalizar, a Friboi realizou uma operação de oferta inicial de ações na Bovespa em março, levantando cerca de R$ 1,6 bilhão.

Equipes de gestores da Friboi já foram enviadas aos EUA e à Austrália para iniciar o processo de transição.

O grupo JBS-Friboi vê nos canais de distribuição da Swift na Ásia e nos EUA mais opções para a sua produção no Mercosul e oportunidades de ampliar a atuação nos mercados mais lucrativos. Mas a estratégia do grupo de fortalecer a presença no Mercosul está mantida.
Para o consultor da área de carne bovina Alcides Torres, vários fatores tornam a aquisição interessante para a Friboi.

A empresa entra no mercado americano de carne fresca, o mais rentável, e, além disso, existe a perspectiva de abertura dos mercados asiáticos para as exportações dos EUA, hoje fechados por barreiras sanitárias. "O cenário é muito bom", disse.

PARA LULA, RCTV É "PROBLEMA DA VENEZUELA"

Folha de São Paulo

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva evitou se manifestar publicamente sobre a não-renovação da concessão da RCTV.
Indagado sobre o assunto ontem, rebateu: "O que o Brasil tem a ver com a concessão da Venezuela para uma TV? É um problema da legislação venezuelana, do governo venezuelano. Da mesma forma que eu não quero que eles dêem palpite nas coisas que eu fizer aqui, eu não quero [falar dos assuntos deles]".

Lula fez o comentário ao deixar o Itamaraty, depois de almoço com o secretário-geral do Partido Comunista do Vietnã, Nong Duc Manh.

À noite, em evento da Abert (Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e Televisão), depois de ouvir críticas à decisão de Hugo Chávez, o presidente fez uma defesa da liberdade de imprensa.

"Se muitas vezes, depois de uma saraivada de más notícias, eu acho ruim, muito pior seria se não existisse democracia neste país para a imprensa dizer o que bem entende, na hora em que bem entende, e ser julgada pelo único julgador, os ouvintes, os telespectadores e os leitores", disse, sem citar a Venezuela.

Antes, o presidente da Abert, Daniel Pimentel Slaviero, havia classificado o fechamento da RCTV como "um grave atentado à liberdade" e dito que, apesar de o Brasil ser muito diferente da Venezuela, "precisamos ficar vigilantes".

O ministro da Comunicação Social, Franklin Martins, também evitou criticar a Venezuela, mas disse que jamais o governo brasileiro deixaria de renovar uma concessão por causa de críticas. "Evidente que não [tiraria do ar]. Crítica ao governo faz bem ao país e ao governo. Imprensa não existe para aplaudir. Mas, se passa do ponto, o controle externo é a sociedade, não o governo", afirmou.

Embora tenha evitado se manifestar publicamente sobre a decisão de Chávez, o presidente considerou um erro político o fechamento da RCTV pelo colega, segundo apurou a Folha.
Lula avalia que Chávez deveria ser menos radical, mas não pretende criticá-lo publicamente para evitar intromissão num assunto venezuelano.

Na avaliação de integrantes da cúpula do governo, se Chávez tivesse fechado a RCTV na época da tentativa de golpe frustrada contra ele, em abril de 2002, teria justificativa política. Agora, parece retaliação.

O PT assinou no domingo um manifesto de apoio à decisão de Chávez de não renovar a concessão da RCTV. O documento também contém o apoio do MST e da Central de Movimentos Populares. O texto chama a RCTV de "TV Globo de lá". Afirma que só uma "minoria opositora" é contrária à medida, mas "faz alarde proporcional a seu poder financeiro".

25 ANOS DE PASMACEIRA

RUY CASTRO

Se você tem 25 anos ou menos, não o invejo. A leitura de uma entrevista do ex-ministro do Planejamento João Paulo dos Reis Velloso me alertou para um fato triste: há toda uma geração de brasileiros que nunca viu o Brasil crescer, nem sabe o que é desenvolvimento. Para isso basta ter nascido cerca de 1982.

Segundo Reis Velloso, a renda per capita nacional cresceu em média apenas 0,6% ao ano nesse período. Enquanto isso, a de outros países chegou a níveis de, como diria o falecido Ronaldo Bôscoli, placar de basquete americano.

Entrou governo, saiu governo e todos nos disseram que o Brasil iria fazer e acontecer no mundo. Pois quem está pintando os canecos é a China. Até o contrabando paraguaio já prefere os artigos chineses -por aí se vê como a coisa é grave.

Minha geração pegou dois surtos de desenvolvimento no Brasil. O da segunda metade dos anos 50, sob Juscelino -que costuma ser atribuído somente a JK, mas que, para mim, aconteceria com ou sem ele, pelo volume de dinheiro rolando depois da Segunda Guerra, aqui e no exterior. E o de 1970, que deu no chamado "milagre" e se estendeu a meados daquela década, antes da crise internacional do petróleo.

É divertido viver sob uma euforia "desenvolvimentista". O dinheiro sobra. Pode-se investi-lo direito e pode-se também torrá-lo construindo uma cidade com tijolos que precisam ser levados de avião, apostando as calças na Bolsa ou queimando gasolina como se ela desse na bica do quintal. Claro que, um dia, a vida real apresenta a conta.

Mas é melhor do que viver na pasmaceira, só quebrada por escândalos como os de PC Farias, dossiê Cayman, anões do Orçamento, mensalão, valerioduto, sanguessugas ou Operação Navalha.

E depois nos perguntamos por que não sobra dinheiro.

APARELHAMENTO DO ESTADO

FERNANDO RODRIGUES

O PT divulgou ontem ter 2.842 filiados em cargos federais que não pagam suas dívidas com a sigla. Esse número só se refere a integrantes de diretórios de nove das 27 capitais do país -onde estão para ocorrer reuniões locais.

As dívidas são pelo não-pagamento do "dízimo" partidário. Trata-se da doação compulsória de parte do salário de petistas nomeados para funções públicas.

Apesar de ofuscado pela crise da Operação Navalha e do balança-mas-não-cai de Renan Calheiros, o número petista é relevante por várias razões. É a primeira pista concreta sobre o quanto o PT avançou sobre o governo Lula.

Nesses 2.842 inadimplentes não estão incluídos os petistas de capitais como São Paulo e Rio de Janeiro. Também ficaram de fora aqueles em cargos nos Estados e nas centenas de prefeituras.

Outro dado inédito: entre os 2.842 inadimplentes de nove capitais, 2.015 são da administração indireta. Ou seja, para cada petista devedor da legenda na administração direta há cerca de outros dois em estatais e autarquias. O PT era um amigo da transparência no passado. Seus congressistas eram campeões de pedidos de informação. Hoje, não se sabe quantos petistas há dentro do Estado.

Também é desconhecido o quanto a sigla arrecada com o "dízimo". No plano federal, teriam sido R$ 5 milhões em 2006. Mas é um mistério o montante produzido por petistas nos Estados e municípios.

Parece uma ação legítima um deputado doar parte de seu salário a um partido. É a vida deles. No caso dos milhares de funcionários petistas em cargos públicos, a situação é outra - pois são supostamente técnicos a serviço do Estado.

Com seu enraizamento estatal profundo, o PT protagoniza a criação de uma nova oligarquia de origem sindical e partidária. Tão ou mais nefanda do que as atuais.

TEMPOS QUENTES

Editorial da Folha de São Paulo

Vão de mal a pior as relações diplomáticas entre o Ocidente - particularmente os EUA - e a Rússia. Muitos já qualificam este como o pior momento desde o fim da Guerra Fria, em novembro de 1989.

Os contenciosos entre as duas potências nucleares são muitos. O mais estridente deles diz respeito ao projeto dos norte-americanos de instalar um sistema antimísseis no leste da Europa.

Oficialmente, a iniciativa se destina a proteger os EUA e a Europa de um eventual ataque nuclear iraniano. Para o Kremlin, entretanto, essa é uma mal-disfarçada tentativa de restringir o poderio atômico russo -e uma violação aos tratados de desarmamento atualmente vigentes.

Em discurso no Dia da Vitória (9 de maio, data da derrota da Alemanha nazista em 1945), o presidente Vladimir Putin deixou claro seu descontentamento. Sem mencionar os EUA, o autocrata russo criticou aqueles que "agem e ditam regras como se fossem donos do mundo, como na época do 3º Reich".

Washington e Moscou também discordam acerca da independência de Kosovo (região da Sérvia que pode ser "emancipada" pela ONU) e da estratégia a adotar a fim de conter as ambições nucleares do Irã -para citar só dois outros pontos de atrito.

O presidente Bush despachou há pouco sua secretária de Estado, Condoleezza Rice, para Moscou a fim de esfriar os ânimos. Ao que parece, ambas as partes concordaram em moderar sua retórica, mas pouco avançaram na resolução de suas diferenças.

Para o mundo, o melhor é que EUA e Rússia atuem não como aliados próximos, mas como parceiros estratégicos que se controlam mutuamente. Desavenças mais sérias trazem o duplo risco de reforçar tendências autoritárias de Putin e de levar os EUA a, mais uma vez, afastarem-se de organismos multilaterais.

A LISTA DA GAUTAMA

Abaixo, a lista da Gautama, divulgada pela Folha Online, confirmando os nomes do deputado federal maringaense, Ricardo Barros (PP) e do ex-deputado José Borba (PMDB), também de Maringá; além do já citado, ministro do Planejamento, Paulo Bernardo (PT), de Londrina.

Leia:

A lista da construtora Gautama com pessoas que seriam presenteadas tem 38 deputados federais e ex-deputados, 18 senadores e ex-senadores, três ministros de Estado, cinco ministros do TCU (Tribunal de Contas da União) e, pelo menos, 23 governadores, prefeitos, ex-governadores e ex-prefeitos.

Esses foram os políticos que a Folha conseguiu identificar após obter a lista da empreiteira de Zuleido Veras, empresário preso pela PF (Polícia Federal) acusado de fraudar licitações de obras públicas e de pagar propina a políticos e funcionários públicos.

Ao todo, a lista enumera 225 pessoas, algumas citadas apenas pelo primeiro nome. Exemplo: os governadores, prefeitos, ex-governadores e ex-prefeitos podem ser 35 ao todo, mas a Folha identificou 23.

Para a PF, a simples menção na lista não significa que o nomeado seja suspeito. Trata-se apenas de um ponto de partida, que precisaria ser ligado a evidências, provas e depoimentos para ter valor na investigação.

Há uma menção a um ministro da Saúde, mas não há citação de qual foi esse ministro ou do presente recebido. A PF avalia que a lista apreendida se refere ao final de 2006.

Na opinião da PF, a lista é semelhante a elaboradas por empresas em festas de final de ano. A Folha apurou que, entre os brindes, haveria canetas, gravatas e bebidas, como uísque. O documento ao qual o jornal teve acesso não indica quais presentes foram dados aos listados.

Também aparecem catalogados como deputados e senadores vários políticos que não conquistaram novo mandato ou que estão em outras posições hoje, caso do atual ministro da Integração Nacional, Geddel Vieira Lima (PMDB-BA). Geddel já disse não ter relação com Zuleido e que não tem controle sobre brindes que chegam ao gabinete no fim do ano.

Os três ministros de Estado que estão na lista são Geddel, Alfredo Nascimento (Transportes) e Paulo Bernardo (Planejamento). Jaques Wagner aparece contabilizado como ministro de Estado. Ele chefiou a pasta das Relações Institucionais, mas é hoje governador da Bahia. O ex-ministro Silas Rondeau, que deixou o cargo na semana passado após suspeita de recebimento de propina, também consta da lista.

Os ministros do TCU que integram a lista são: Walton Alencar Rodrigues (presidente), Augusto Nardes, Aroldo Cedraz, Guilherme Palmeira e Benjamin Zinler.

A Folha optou por não publicar a lista com prenomes que não pôde identificar. Há diversas pessoas com apenas o primeiro nome que aparecem contabilizadas como secretários de Estado e assessores. Abaixo, segue a parte da lista com nomes identificados pelo jornal.

Deputados federais e ex-deputados
Benedito de Lyra (PP-AL)
Jonival Lucas Jr. (ex-deputado pelo PTB-BA)
Pedro Novaes (PMDB-MA)
Gastão Vieira (PMDB-MA)
Átila Lins (PMDB-AM)
Jutahy Jr. (PSDB-BA)
Paulo Magalhães (DEM-BA)
Olavo Calheiros (PMDB-AL)
José Carlos Aleluia (DEM-BA)
Marinha Raupp (PMDB-RO)
Paulo Lima (ex-deputado pelo PMDB-SP)
Vicentinho (PT-SP)
Professor Luizinho (PT-SP)
Jorge Bittar (PT-RJ)
José Borba (PMDB-PR)
Ricardo Barros (PP-PR)
Eduardo Cunha (PMDB-RJ)
Almerinda Carvalho (ex-deputada pelo PSB-RJ)
José Chaves (PTB-PE)
Luiz Piauhylino (ex-deputado pelo PDT de Pernambuco)
Maurício Quintela (PR-AL)
Eduardo Campos (PSB-PE)
Iberê Ferreira (ex-deputado federal pelo PSB-RN)
José Carlos Machado (DEM-SE)
Gervásio Oliveira (ex-deputado pelo PMDB-AP)
Milton Monte (PR-SP)5Humberto Michiles (ex-deputado pelo PL-AM)
Welington Roberto (PR-PB)
Ivan Paixão (ex-deputado federal do PPS-SE)
João Leão (PP-BA)
Wilson Santiago (PMDB-PB)
Celcita Pinheiro (ex-deputada do DEM-MT)
Osvaldo Reis (PMDB-TO)
Márcio Reinaldo (PP-MG)
ACM Neto (DEM-BA)
Albano Franco (PSDB-SE)
Pedro Passos (deputado distrital do PMDB)
Carlos Wilson (PT-PE)

Senadores e ex-senadores
José Sarney (PMDB-AP)
José Agripino (DEM-RN)
Teotônio Vilela (PSDB-AL)
Renan Calheiros (PMDB-AL)
Romero Jucá (PMDB-RR)
Antonio Carlos Valadares (PSB-SE)
Sérgio Guerra (PSDB-PE)
João Ribeiro (PFL-TO)
Roseana Sarney (PMDB-MA)
Antonio Carlos Magalhães (DEM-BA)
Almeida Lima (PMDB-SE)
Fernando Bezerra (ex-senador pelo PTB-RN)
Waldir Raupp (PMDB-RO)
José Jorge (DEM-PE)
Fernando Flexa Ribeiro (PSDB-PA)
Jonas Pinheiro (DEM-MT)
Romeu Tuma (DEM-SP)
João Tenório (PSDB-AL)

Ministros de Estado
Geddel Vieira Lima (Integração Nacional)
Alfredo Nascimento (Transportes)
Paulo Bernardo (Planejamento)

Ex-ministro
Silas Rondeau, ex-ministro das Minas e Energia

Ministros do TCU
Walton Alencar Rodrigues (presidente da entidade)
Augusto Nardes
Aroldo Cedraz
Guilherme Palmeira
Benjamin Zinler

Governadores, ex-governadores, prefeitos e ex-prefeitos
Jarbas Vasconcelos (PMDB), ex-governador de Pernambuco e atual senador
Marcone Perillo (PSDB), ex-governador de Goiás
Ronaldo Lessa, ex-governador de Alagoas (PDT)
Amazonino Mendes, ex-governador do Amazonas (DEM)
Eduardo Braga (PMDB), governador do Amazonas
Paulo Souto, ex-governador da Bahia (DEM)
Eraldo Tinoco, ex-vice-governador da Bahia (DEM)
João Alves, ex-governador de Sergipe (DEM)
Moema Gramacho, prefeita de Lauro de Freitas (PT)
Luiz Caetano, prefeito de Camaçari (PT)
Marcelo Miranda (PMDB), governador de Tocantins
Joaquim Roriz (PMDB), ex-governador do Distrito Federal e hoje senador
José Reinaldo Tavares, ex-govenador do Maranhão
Antonio Imbassahy, ex-prefeito de Salvador
Agripino Lima, prefeito de Presidente Prudente
Iris Rezende, ex-governador de Goiás
André Puccinelli, governador do Mato Grosso do Sul (PMDB)
Alcides Rodrigues, governador do Goiás (PP)
Waldez Góes, governador do Amapá (PDT)
Jackson Lago, governador do Maranhão (PDT)
Oswaldo Dias (PT), ex-prefeito de Mauá
Marcelo Déda, governador de Sergipe (PT)
Jaques Wagner, ex-ministro das Relações Institucionais e hoje governador da Bahia

Outros
Alexandra, ex-mulher do ex-governador do Maranhão José Reinaldo Tavares

29 maio 2007

NA LISTA DA GAUTAMA

A matéria abaixo da Folha de S. Paulo, não traz a lista completa, mas comentários dão conta de que um deputado federal da região, e outro ex-deputado, também da região, têm seus nomes incluídos. Vamos aguardar a confirmação.
Enquanto isso, leia a matéria.

Lista de brindes da Gautama tem 225 nomes
KENNEDY ALENCAR


A lista da construtora Gautama com pessoas que seriam presenteadas tem 38 deputados federais e ex-deputados, 18 senadores e ex-senadores, três ministros de Estado, cinco ministros do TCU (Tribunal de Contas da União) e, pelo menos, 23 governadores, prefeitos, ex-governadores, ex-vice-governador e ex-prefeitos.

Esses foram os políticos que a Folha conseguiu identificar após obter a lista da empreiteira de Zuleido Veras, preso pela PF acusado de fraudar licitações de obras públicas. Ao todo, a lista enumera 225 pessoas, algumas citadas só pelo primeiro nome. Exemplo: os governadores, prefeitos, ex-governadores e ex-prefeitos podem ser 35 ao todo, mas a Folha identificou 23.

Para a PF, a menção na lista não significa que o nomeado seja suspeito. Trata-se de um ponto de partida. A PF avalia que a lista apreendida se refere ao final de 2006.

A Folha apurou que, entre os brindes, haveria canetas, gravatas e bebidas, como uísque.

Aparecem listados como deputados e senadores políticos que perderam o mandato ou estão em outras posições, caso do ministro da Integração Nacional, Geddel Vieira Lima (PMDB-BA). Ele já disse não ter relação com Zuleido e que não tem controle sobre brindes que chegam no fim do ano. Os três ministros que estão na lista são Geddel, Alfredo Nascimento (Transportes) e Paulo Bernardo (Planejamento).

A Folha optou por não publicar a lista com prenomes que não pôde identificar.

COM LULA, NÃO EXISTE "RESPEITO ÀS LEIS", AFIRMA FHC

SILVIO NAVARRO

O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso afirmou que a reforma política é um "imperativo" ao país e criticou a impunidade nos escândalos de corrupção ocorridos no governo Lula, que acabaram reduzidos a "coisas alopradas" praticadas por "uns estranhos" e "coitadinhos".

"O que dizer dos escândalos que assistimos? Quem foi preso? Como não existe respeito às leis, como não existe igualdade, voltamos aos velhos tempos em que a lei é para os inimigos, e para os amigos a gente passa a mão", afirmou, durante o primeiro seminário do PSDB, em Brasília, que visa a atualização programática do partido.

"Temos todo o arcabouço democrático, mas não temos a alma da democracia, que é a crença de que a lei é para valer e que todos somos iguais perante a lei", afirmou.

Segundo ele, o país passa por um "processo grave de descrença nas instituições".

Ao discorrer sobre a corrupção, FHC disse que ela é "uma prática moral e pessoal", mas que as condições que favorecem sua ocorrência estão no atual sistema eleitoral.

FHC também listou críticas ao Bolsa Família, que, segundo ele, hoje "é uma pensão". Ele reclamou de falta de "avanços" na área econômica e disse que "hoje o rumo é dado pelo mercado".

Por fim, disse que o PSDB deveria "defender com mais energia seu legado", especialmente as privatizações: "foram sem roubo."

GRAMPEADOR

MELCHIADES FILHO

Espécie de resumo e guia de leitura do inquérito da Operação Navalha, o relatório de inteligência não pede providências contra Paulo Magalhães (DEM-BA), sobrinho de ACM. Mas, em um anexo, perdido entre muitos megabytes de dados, estão os grampos e a menção de que o deputado federal recebeu, pessoalmente no gabinete, R$ 20 mil de propina.

Belivaldo Chagas (PSB-SE) é outro poupado no texto principal, embora as escutas, transcritas em um link do link do link, tenham flagrado o vice-governador prometendo mundos e fundos à Gautama.

Quanto às fraudes do Luz para Todos, o relatório só centra fogo em assessores de Silas Rondeau. A acusação de corrupção passiva contra o ex-ministro? Está explícita apenas em um apêndice do catatau.

Renan Calheiros (PMDB-AL) nem de relance aparece nas deduções da polícia, ainda que o nome do presidente do Congresso pipoque nos grampos já divulgados -e, segundo arapongas de Brasília, esteja em outros "mais explosivos".

Sobre o jatinho que carregou o senador Delcídio Amaral (PT-MS), produziu-se um capítulo inteiro. Sobre a lancha que serviu a ministra Dilma Rousseff, nem uma linha.

Foram incluídas como relevantes conversas em que homens da Gautama citam os governadores petistas Jaques Wagner (BA), Marcelo Déda (SE) e Wellington Dias (PI). Qual relevância não se sabe. O relatório tampouco diz por que não foram adiante as inquirições sobre o trio. Ou, se foram, a que conclusões teriam chegado.

As omissões em casos gritantes dão margem às suspeitas de que se procurou retardar a ida do pacote para o STF e pegar embalo com a exposição na mídia. As menções sem explicações, às acusações de uso político, de que se tentou alertar ou chantagear envolvidos.

A PF deve respostas menos pelo barulho da operação e mais pelos silêncios, esses e outros, no documento que remeteu à Justiça.

UMA QUESTÃO DE HONRA

CLÓVIS ROSSI

Toshikatsu Matsuoka, ministro da Agricultura do Japão, enforcou-se ontem em sua casa depois de ser acusado de envolvimento em concorrências suspeitas e de ver contestada a declaração de gastos de seu escritório. Ele negou qualquer irregularidade. As acusações ainda não foram comprovadas.

Odílio Balbinotti, deputado federal e grande plantador de soja, foi também quase ministro da Agricultura do governo Luiz Inácio Lula da Silva, mas perdeu o emprego antes mesmo de tomar posse, sob acusação de envolvimento em uma porção de irregularidades.

Balbinotti também nega as acusações, que, como no caso Matsuoka, ainda estão sendo investigadas. Mas o deputado brasileiro nem se suicidou nem renunciou ao mandato. Apenas voltou de quase-ministro à irrelevância.

Renan Calheiros, presidente do Senado, é igualmente acusado de beneficiário de pagamentos suspeitos à mulher com a qual teve um filho, pagamentos feitos por funcionário de uma empreiteira, que teria praticado atos similares aos de que foi acusado Matsuoka.

As acusações contra Renan Calheiros não foram ainda comprovadas, como no caso Matsuoka. O senador brasileiro não se enforcou nem renunciou nem se licenciou para se defender. Ao contrário, preferiu falar de sua cátedra.

O suicídio de Matsuoka é atribuído à crença (no Japão, bem entendido) de que perder a honra é perder tudo. Logo, melhor suicidar-se do que viver sem honra.

Matsuoka ainda não havia perdido a honra. Havia apenas a suspeição de que a perdera, mas o peso moral de tal acusação contra um homem público foi tamanho que preferiu matar-se.

O Japão saiu da guerra, há quase 60 anos, como uma coleção de escombros. Hoje, é o 7º colocado no ranking de desenvolvimento humano. O Brasil não enfrentou guerras. É o 69º no mesmo índice.

PLANEJAMENTO FAMILIAR

Editorial da Folha de S. Paulo

Programa que distribui mais contraceptivos é positivo, mas controle da gestão do sistema pela Saúde precisa melhorar


O presidente Luiz Inácio Lula da Silva apresentou ontem um novo programa de planejamento familiar que prevê, entre outras medidas, a venda de anticoncepcionais com 90% de desconto em farmácias credenciadas e o aumento da oferta de contraceptivos gratuitos em postos de saúde.

A iniciativa é oportuna. O país talvez enfrentasse hoje menos problemas se tivesse sido mais atento ao problema demográfico no passado. Não parece despropositado relacionar a explosão da violência urbana, a favelização das grandes cidades e outros sintomas do mal-estar social brasileiro, que se acentuaram nos últimos 20 anos, à negligência pretérita das autoridades.

A mentalidade dos militares, que pregavam no poder a ocupação dos vazios demográficos, foi, ao lado da posição histórica da Igreja Católica a respeito dos métodos contraceptivos, um poderoso inibidor de um debate que sem dúvida faltou ao país.

Hoje, a ameaça de uma nova explosão populacional não se coloca, mas o planejamento ainda é importante por permitir que as pessoas exerçam sua sexualidade de forma responsável e sadia.

As altas taxas de fecundidade da mulher brasileira caíram em ritmo quase sem paralelo no mundo. Em 1970, o índice era de 5,8 filhos por representante do sexo feminino. Em 1980, acompanhando o rápido processo de urbanização, caiu para 4,4 e, em 1991, o Censo registrou 2,7 descendentes por brasileira. Em 2000, a taxa já baixara para 2,4 e, em 2004, à marca dos 2,1 filhos por mulher, que é a taxa de reposição -isto é, crescimento zero.

Mas há motivos para inquietação. Mulheres pobres e sem instrução ainda têm muito mais filhos do que as de maior renda e escolaridade. Este segue sendo um poderoso mecanismo de reprodução da miséria.

A receita para combatê-lo é conhecida: informação e acesso aos meios contraceptivos. É justamente isso que o novo programa do Ministério da Saúde pretende proporcionar. Além da ampliação da oferta de métodos anticoncepcionais dentro e fora do SUS -um investimento orçado em R$ 100 milhões-, estão previstas campanhas sobre o tema.
São passos importantes, mas insuficientes. É preciso -e com urgência- tornar a gestão do sistema mais eficaz. Estudo do Centro de Pesquisas em Saúde Reprodutiva de Campinas (Cemicamp), publicado em novembro de 2006, revela um quadro desolador. O ministério adquire kits com métodos anticoncepcionais e os envia às Secretarias Municipais de Saúde. Nessa primeira etapa, as coisas funcionam. Apenas 4% das secretarias deixaram de recebê-los.

O problema piora no trânsito para as Unidades Básicas de Saúde (UBS), onde o usuário é atendido. A proporção de UBS que não recebem os contraceptivos sobe para 17%, e chega a 92% no caso de kits com métodos de aplicação mais sofisticada, como DIU e hormônio injetável.
Sem melhorar a gestão, boas iniciativas serão comprometidas pelo desperdício de recursos.

BOM SENSO NA EDUCAÇÃO

Editorial da Folha de S. Paulo

A sociedade brasileira parece mais atenta aos debates sobre a educação. Tal discussão tem progredido em objetividade graças a estudos empíricos e estatísticos - como a contribuição do economista Naércio Menezes Filho, da USP e do Ibmec-SP, sobre o papel dos pais no apoio ao aluno, noticiada ontem por esta Folha.

São variados os fatores que intervêm no aprendizado, do número de horas diárias de ensino à quantidade de livros em casa. Em outros trabalhos, o estudioso já havia detectado a relativa desimportância de computadores na escola, por exemplo. Decerto essa ferramenta tão útil ao aprendizado não funciona desconectada de um sólido projeto pedagógico nem pode fazer o papel do professor preparado.

Menezes usou dados do Sistema de Avaliação da Educação Básica (Saeb) para isolar o efeito da participação paterna na execução dos deveres de casa. Como parte da avaliação, o estudante responde extenso questionário, no qual consta pergunta sobre freqüência da ajuda do pai ou da mãe na hora de fazer a lição.

De modo surpreendente, a regressão efetuada pelo economista -descontados os efeitos de outras variáveis sabidamente influentes, como renda familiar, escolaridade dos pais etc.- indicou correlação inversa. Alunos que responderam "sempre" ou "quase sempre" apresentavam médias menores. Mesmo não sendo correto extrair da correlação um elo de causalidade, ela ajuda a esclarecer como o controle dos pais afeta, de fato, o desempenho escolar dos filhos.

Na ausência de estudos mais qualitativos, especialistas lançaram a hipótese de que o problema esteja não na quantidade, mas na natureza da atenção conferida. Se os pais exigem demais, conjetura-se, ou fazem o dever pelo aluno, as notas pioram.

Nada, enfim, que o bom senso já não recomendasse. A desorientação de todos é tamanha, nessa matéria, que até o óbvio está a exigir corroboração.

28 maio 2007

O MINISTRO E A ZECA FEIRA

Roberto Pompeu de Toledo

E mais: a piada de brasileiro que é obrigar que haja avisos nos locais em que há controle de velocidade

A disputa entre o ministro da Saúde, José Gomes Temporão, e o cantor Zeca Pagodinho é mais um desses embates que revelam o que o país quer ser quando crescer. O ministro Temporão, da ala séria do governo Lula, assumiu, como uma das principais bandeiras de sua gestão, o combate ao abuso das bebidas alcoólicas. Entre outras medidas, anunciadas na semana passada no âmbito de uma Política Nacional sobre o Alcool, quer a proibição de venda de bebidas em bares de beira de estrada e a restrição dos anúncios de cerveja na televisão. Zeca Pagodinho, o mais notório garoto-propaganda de cerveja no Brasil, assumiu a bandeira oposta. "Por que o ministro não vai cuidar dos hospitais?", disse. Se ganha o ministro, o país dará num passo no rumo da civilização. Se ganha Zeca Pagodinho, continuamos no lero-lero leniente e inconseqüente que caracteriza nosotros do Terceiro Mundo. Bernie Ecclestone, o chefão da Fórmula 1, uma vez comentou, na véspera de um Grande Prêmio do Brasil, a respeito da proibição de anúncios de cigarro nos carros de corrida: "Ora, isto é Brasil!" Ele não acreditava que, num país mambembe como este, tal proibição pudesse pegar. Ganhe Zeca Pagodinho e ficará configurado que "isto" continua sendo Brasil.

A cerveja escapou da legislação que, há alguns anos, restringiu a propaganda de outras bebidas, como cachaça e uísque, por causa de seu teor alcoólico menor. Ou melhor: constou que foi por isso. O que funcionou mesmo foi o poderoso lobby cervejeiro. A cerveja é uma das maiores anunciantes da TV. E nenhum outro produto, desde a saída de cena do cigarro, tenta como ela associar-se ao sucesso e à boa vida. Numa VEJA recente, Millôr Fernandes escreveu que, ao vislumbrar a mulheraça que caminhava à sua frente, no calçadão de Ipanema, de biquíni, na flor e na explosão de saúde de seus 20 e poucos anos, um passo para cá e outro para lá, a certa altura não se agüentou, tomou coragem, avançou, emparelhou com ela... e perguntou: "Por favor, que cerveja a senhorita está anunciando?"

A última dos publicitários de cerveja foi a invenção, nos anúncios da Brahma, da "Zeca Feira". O gosto da expressão é duvidoso: juntaram o "Zeca" do Pagodinho com o "feira", que, para surpresa e graça dos estrangeiros, serve, na língua portuguesa, para distinguir os dias úteis da semana. Mas a intenção não é duvidosa: é convencer a população a devotar um dia a mais à bebedeira. A "Zeca Feira" do anúncio é a quarta-feira. Uma pessoa aparece dizendo que toda quarta-feira chegava desanimada em casa. Mas aí... Aí vem o Zeca Pagodinho, risca do calendário a quarta-feira e escreve em cima: "Zeca Feira". Viva! A quarta-feira está liberada! Dão-se como favas contadas, claro, a sexta e o sábado, quando não se trabalha no dia seguinte, e também, vá lá, o domingo, quando não se trabalha. A quinta, como é véspera da sexta, também já estava no papo. Faltava a quarta. Zeca Pagodinho decretou que não falta mais. Aguarda-se, nas próximas campanhas publicitárias, o avanço na segunda e na terça.

Haverá próximas campanhas? Eis a questão. A "Zeca Feira" foi instituída já no curso da pregação do ministro Temporão. Vai ver é tática para ganhar terreno antes de ter de entregar os pontos. "Deixa o Zeca trabalhar. Deixa o Zeca ganhar o dinheirinho dele", disse Zeca Pagodinho, num de seus acessos contra o ministro. O "dinheirinho" são alguns milhões de reais. Enquanto ele o embolsa, que continuem livres e prósperos a cirrose, os transtornos psiquiátricos causados pelo álcool, as agressões, os tiros em briga de botequim, as muitas entre as 35.000 mortes anuais em acidentes de trânsito que têm causa na embriaguez do motorista. Zeca Pagodinho está deixando a vida o levar para a condição de porta-voz dos borrachos do país.

Não nos bastasse a Zeca Feira, este é ainda o país em que os motoristas serão gentilmente avisados dos locais em que há fiscalização de velocidade. Uma resolução do Conselho Nacional de Trânsito que entrou em vigor na semana passada obriga que haja sempre, nas estradas ou nas cidades, sinais informando da existência de radares. Se o governo trabalha na direção da civilização na campanha contra o álcool, nesta toma o rumo contrário. Aliás, toma rumo contrário às próprias intenções da campanha contra o álcool, um de cujos alvos é diminuir a quantidade de mortos no trânsito no país. O carinhoso aviso ao motorista – "Olha aqui, daqui a 100 metros tem um radar, viu?" – inscreve-se no capítulo das piadas de brasileiro. Brasileiro gosta de contar piada de português e de argentino, mas as de brasileiro são melhores. Uma das preferidas do colunista que vos fala é o aviso que certas companhias telefônicas adotaram: "Esta linha no momento está ocupada". Para azar dos estrangeiros que não entendem a língua portuguesa, revogaram o sinal de ocupado universalmente adotado e entendido. Agora vem essa história do aviso nos radares. Os motoristas estão liberados para fincar o pé, nos intervalos entre um aviso e outro.

O DEBOCHE DOS PRIVILEGIADOS DA USP

Gustavo Ioschpe

"Se os estudantes uspianos não estão satisfeitos com as medidas implementadas pelos legítimos defensores do poder público, que dialoguem ou peçam transferência para escolas privadas"

A invasão da reitoria da USP por um grupo de estudantes, que já dura mais de vinte dias, é um dos retratos mais acabados das várias mazelas que continuam a condenar o nosso país ao atraso.

Começa pela rendição dos interesses de estado às demandas privadas. Os alunos da Universidade de São Paulo (USP) são os mais afortunados do país. Estudam gratuitamente naquela que provavelmente é a melhor universidade brasileira, mesmo quando oriundos de famílias dotadas de amplíssimas condições de pagar por seus estudos – nos cursos concorridos, como medicina, direito, arquitetura, administração e engenharia, a média de renda familiar do alunado que adentrou a USP em 2007 é de mais de 6 000 reais mensais, ou quatro vezes maior do que a média da população brasileira. Não bastasse esse subsídio direto, ainda contarão com as benesses oriundas da posse de um diploma de ensino superior em um país de iletrados: a taxa de retorno a um ano de estudo universitário no Brasil está entre 18% e 20%. Cada ano que uma pessoa cursa de universidade aumenta seu salário por essa magnitude, e aqueles que freqüentam uma boa universidade provavelmente obtêm retornos maiores ainda. Além disso, os alunos da USP contam com todo tipo de facilidade para que sua estada na torre de marfim, financiada pelos impostos desembolsados por todos aqueles que pagam o ICMS paulista (o que provavelmente quer dizer toda a população brasileira), seja o mais amena possível: contam com subsídios para moradia, alimentação, estacionamento e até xerox. Ademais, só precisam dividir cada professor com quinze colegas, havendo também um funcionário técnico-administrativo para servir a cada cinco alunos (nas universidades particulares, para se ter idéia do desperdício, a relação de funcionários é de um para 23 alunos).

Seria de esperar que os recipientes de tamanhos benefícios se sentissem compungidos a procurar maneiras de retribuir à sociedade pela generosidade dispensada em sua formação intelectual. Ocorre o oposto. Abastecidos há tanto tempo de tamanhas mordomias, os alunos da USP finalmente se sentem donos da instituição, a ponto de invadir sua reitoria, como forma de protestar a busca de maior transparência do governo de São Paulo, mantenedor da instituição. Investimos tanto na formação de doutores, esperando que pudessem usar suas ferramentas dialéticas para convencer-nos da justeza de sua causa pela via da argumentação e do debate, e colhemos como resultado uma manifestação de brucutus, que recorrem à força física e ao desrespeito às leis para se fazer ouvir. Trata-se do braço livresco do MST, com a agravante de que não servem nem para capinar uma roça e precisam que a mãe lhes traga abrigos para evitar o frio. Alguém deveria lembrar aos nossos bacharéis que a USP não é propriedade dos alunos, nem dos professores, nem dos funcionários: é do povo de São Paulo. Povo esse que elege democraticamente seus representantes para fazer cumprir a sua vontade. Em um regime democrático, apenas esses representantes é que têm a soberania para ditar os rumos da universidade.

Confundiu-se autonomia administrativa com autarquização, como se a USP fosse isenta de prestar contas à comunidade que a mantém e de agir na defesa dos interesses dessa coletividade. Imaginar que os estudantes possam ditar os rumos de uma universidade pública é como aceitar que a política carcerária seja ditada para atender aos interesses dos presos, que a política fiscal seja conduzida por empresários ou que o planejamento urbano seja ditado por motoristas. O compromisso da USP não é para com seus alunos, mas para com o bem público. Se os estudantes uspianos não estão satisfeitos com as medidas implementadas pelos legítimos defensores desse poder público, que dialoguem com ele. Se não ficarem satisfeitos com o resultado desse diálogo, que transfiram sua matrícula para uma universidade privada, em que os clientes do serviço prestado são apenas os alunos, e não a sociedade.

O PRENDE-E-SOLTA

André Petry

"Um bando de
gente vai para a cadeia, o bando inteiro é libertado e não há condenação de ninguém. O que isso significa?"

O leitor há de se lembrar da Operação Vampiro, promovida pela Polícia Federal em maio de 2004. A operação estourou uma quadrilha que fraudava licitações em órgãos federais e prendeu dezessete suspeitos. Passados três anos, não tem ninguém na cadeia e não tem ninguém condenado. O leitor também há de se lembrar da Operação Sanguessuga, mais famosa que a outra por ter revelado o envolvimento de dezenas de parlamentares. Realizada em maio do ano passado, a operação descobriu a existência de um propinoduto na compra de ambulâncias com recursos públicos. No dia em que foi deflagrada, a operação prendeu 48 pessoas. Um ano depois, o número de presos é zero. O de condenados também. Dos 72 parlamentares suspeitos, nenhum foi cassado.

Os vampiros e sanguessugas são dois exemplos de uma regra: as operações da Polícia Federal sempre prendem muita gente, que logo é libertada e nunca é condenada. Em novembro passado, o jornal O Globo fez um levantamento sobre vinte grandes operações de combate à corrupção e organizações criminosas desde 2003. Descobriu que 785 pessoas haviam sido presas, mas apenas quarenta permaneciam atrás das grades. O saldo: 94% dos presos estavam soltos. Claro que é melhor 6% de ladrões presos do que nada, mas há uma constante incômoda: um bando de gente vai para a cadeia, o bando inteiro é libertado e não há condenação de ninguém. O que isso significa?

Na semana passada, doze advogados criminalistas entregaram uma carta ao presidente do Superior Tribunal de Justiça, o ministro Raphael de Barros Monteiro Filho, na qual reclamam, entre outras coisas, da "forma açodada e descriteriosa com que o Judiciário tem deferido medidas de força" – entre elas, as prisões temporárias. Os advogados estão dizendo que o prende-e-solta é resultado de uma Justiça destrambelhada. Talvez tenham razão, talvez não tenham, mas uma coisa é inegável: o festival de prisões, seguido do festival de solturas, autorizadas sempre depois da simples tomada de depoimento do preso, mostra que algo está errado. Ou as prisões ou as solturas.

O pior é que as operações policiais, que no início foram como um sopro de alento para uma sociedade exausta de tanta impunidade, começam a disseminar uma atmosfera de folia inconseqüente. À impressão de que as prisões de tubarões da corrupção podiam ser o começo de um combate efetivo à corrupção segue-se a sensação de que tudo não passa de pirotecnia. Afinal, qual o efeito concreto de fazer uma saraivada de prisões e, logo em seguida, uma saraivada de solturas?

A Operação Sanguessuga flagrou um sistema de propina em torno de emendas ao Orçamento – no caso, para trambicar com ambulâncias. Agora, a Operação Navalha descobriu um esquema semelhante – no caso, para roubar em obras públicas. Ou seja: quando os sanguessugas estavam sendo presos (e soltos), os navalhentos encontravam-se em plena roubalheira. O prende-e-solta pode fazer a festa da polícia, mas parece que não intimida ninguém. Será que querem nos iludir, simulando que se disparam mísseis contra a corrupção, quando na verdade são apenas fogos de artifício?

NOVO TERMÔMETRO DA EDUCAÇÃO

Claudio de Moura Castro

"Se o ensino de qualidade fosse tão caro, como poderia ocorrer em municípios pobres?"

Tipicamente, a ciência gera os avanços que se transformam em tecnologia. Mas há o caminho inverso, pois avanços tecnológicos podem permitir saltos na ciência. Com a tecnologia do microscópio, os micróbios passaram de conjectura a entes reais. O telescópio revelou astros invisíveis a olho nu. Na economia, o conceito de PIB engendrou novas análises. Mais adiante, veio o IDH, revelando o outro lado do desenvolvimento. Na educação, o Brasil acaba de ganhar um novo termômetro: o Ideb. Trata-se de um índice de excelência da educação, que permite novas análises.

O Ideb é um indicador engenhoso, que combina a velocidade de avanço dos alunos dentro da escola com o nível de rendimento nos testes da Prova Brasil. Foi calculado para a 4ª e a 8ª séries e para a última série do ensino médio. Quanto menos repetência, maior o índice. Quanto mais altos os escores na Prova Brasil, maior o índice. O Ideb premia municípios ou escolas cujos alunos aprendem mais e repetem menos. Portanto, se a escola aprovar quem não sabe, para reduzir a repetência, perderá nos escores de rendimento escolar. A que peneirar os melhores, com o objetivo de gerar escores superiores, terá mais repetência, puxando para baixo o índice.

Sem revirar tudo de pernas para o ar, o Ideb mostra algumas novidades. Consolida-se a liderança do Centro-Sul, premiando a continuidade das suas políticas educativas. Do Rio Grande até Minas Gerais, os resultados são sempre superiores. A surpresa é que nesse time acaba de entrar o Espírito Santo e sair o Rio de Janeiro. Depois de liderar por mais de dois séculos, o Rio afundou para o meio da distribuição, equiparando-se com o Acre, Sergipe e outros estados pobres. São Paulo é reabilitado pelo Ideb, aparecendo em 1º, 1º e 4º (na 4ª, 8ª e 11ª séries). Perdão para a sua tão vilipendiada política de promoção automática? Apesar de quinze estados terem maiores gastos per capita, a educação de Minas está entre as melhores. Ou seja, gastar bem vale mais do que gastar muito.

Vínhamos observando os avanços do Centro-Oeste. De fato, está bufando no cangote do Centro-Sul, apesar de sua recentíssima colonização. A grande surpresa são os novos estados e ex-territórios, sempre subestimados. Rapidamente subiram, mesclando-se com o Centro-Oeste. Com dezoito anos de idade, o Tocantins desponta em 6º lugar (na 8ª série), mostrando que é possível criar um sistema educativo adequado em tempo recorde. Bela lição. Querendo, educação melhor não é apenas para os netos.

Em contraste, os velhos Norte e Nordeste permanecem firmes na rabeira. Foram ultrapassados até pelos ex-territórios. No ensino médio, raspando na trave, escapam o Ceará e Sergipe. Alagoas e Amazonas carregam a lanterninha. E que surpresa ver Acre, Amapá e Roraima se descolarem do Norte e Nordeste. A maior vergonha é o Distrito Federal. Na 4ª série, vai bem (2º lugar). Mas, nos níveis seguintes, cai para 13º e 9º. Com custo por aluno de quatro vezes a média nacional, é inaceitável que a politicagem de Brasília tenha provocado tão lamentáveis conseqüências.

Nos municípios, o que mais chama atenção é ver a qualidade fugir das capitais. De fato, poucas estão acima da média nacional. Curitiba é a melhor capital. Contudo, há mais de 400 municípios com educação melhor. Recentemente, ouvi depoimentos de diretoras de escolas da periferia de uma grande capital. A conflagração urbana domina a agenda. Discorreram sobre todas as desgraceiras e falaram de tudo, menos de educação. Se educação de qualidade não está na agenda delas, como poderíamos querer que se materializasse? Nem por milagre.

As grandes estrelas são municípios pouco conhecidos. Quem ouviu falar de Trajano de Morais? Pois, pasmem, tem o melhor ensino fundamental do Brasil. Mas o quarto pior (Piraí) está também no estado do Rio. Barra do Chapéu, a melhor 4ª série do país, está no Vale do Ribeira, uma região pobre do estado de São Paulo. Ou seja, para ultrapassar o desempenho das capitais não é necessário mais do que prefeitos dedicados e o feijão-com-arroz bem-feito. Se o ensino de qualidade fosse tão caro, como poderia ocorrer em municípios pobres?

FRASE

"Não, o Brasil não é o único país corrupto do mundo. Mas a nossa corrupção é a mais gratificante."
Millôr

O PAC TEM DE PARAR

Diogo Mainardi

"O PAC é infinitamente maior do que a Gautama. Maior e mais rico. Se uma empreiteira de fundo de quintal faz um estrago tão grande, subornando prefeitos do interior e assessores de ministros, imagine o que pode ocorrer nos maiores projetos"

A imprensa acoberta Lula. Quer ver como isso acontece? No último dia 17, o esquema de propinas da empreiteira Gautama foi desmantelado pela Polícia Federal. No mesmo dia, o Tribunal Superior Eleitoral divulgou que a empreiteira Andrade Gutierrez se tornara a maior mantenedora do PT, tendo doado oficialmente ao partido, no ano passado, mais de 6 milhões de reais, 2 dos quais depois da campanha presidencial. Ninguém se deu ao trabalho de associar os fatos. Ninguém comparou as duas empreiteiras. As regalias que a Gautama ofereceu aos políticos de todos os partidos foram detalhadas pela imprensa. As regalias que a Andrade Gutierrez ofereceu a Lula foram caridosamente escondidas.

É só para isso que eu sirvo. Meu dedo está eternamente apontado para o peito de Lula. Eu sou a bússola do lulismo, o ponteiro magnetizado destes tempos ruins. Se a maior parte da imprensa acha que um presente dado por uma empreiteira a um secretário de Obras nos cafundós de Alagoas é diferente de um presente dado por uma empreiteira ao presidente da República, eu acho o contrário. A amizade entre os donos da Andrade Gutierrez e Lula é conhecida. Assim como é conhecida a generosidade com que eles sempre o trataram. A Gautama deu 20.000 reais ao sobrinho de ACM? Uma das donas da Andrade Gutierrez deu uma cirurgia plástica a Lurian. A Gautama ofereceu um passeio de barco em Salvador a Dilma Rousseff? Uma das donas da Andrade Gutierrez ofereceu uma estada de seis meses em Paris a Lurian. A Gautama entregou um pacote com 100.000 reais no gabinete de Silas Rondeau? A Andrade Gutierrez, por meio da Telemar, entregou bem mais do que isso à Gamecorp. E continua a entregar. Quanto? Oito milhões de reais? Doze milhões de reais?

Nos últimos meses, a Gautama corrompia políticos e servidores públicos para ter acesso ao dinheiro do PAC. A meta era fazer obras modestas em áreas distantes. A Andrade Gutierrez pertence a outra categoria de empreiteira. Disputa todas as maiores verbas do PAC, dos 2,47 bilhões de reais para construir navios petroleiros aos 3,7 bilhões de reais destinados à usina hidrelétrica de Belo Monte. Dois dias antes de ser afastado do ministério, Silas Rondeau declarou: "O PAC está muito acima de um prefeito, de um assessor. O PAC é maior do que a navalha". Ele está certo. O PAC é infinitamente maior do que a Gautama. Maior e mais rico. Se uma empreiteira de fundo de quintal faz um estrago tão grande, subornando prefeitos do interior e assessores de ministros, imagine o que pode ocorrer nos maiores projetos. O PAC tem de parar imediatamente. O melhor caminho é decretar uma moratória das obras públicas, ao mesmo tempo em que o Congresso instala uma CPI e contrata uma auditoria independente para esquadrinhar os repasses do governo. É isso ou a Andrade Gutierrez aceita pagar para todos nós uma plástica no nariz.

PARA REFLEXÃO

"Eu não sei qual é a chave para o sucesso, mas sei qual é a chave para o fracasso.
A chave para o fracasso consiste na tentativa de agradar a todo mundo."

Bill Cosby

27 maio 2007

OPERAÇÃO NAVALHA! A MARCA DO ZULEIDO!

José Simão

Temos de investigar a origem dos nomes da Operação Navalha! E botar todos na cadeia!

BUEMBA! BUEMBA! Macaco Simão Urgente! O esculhambador-geral da República! Direto do País da Piada Pronta!

E essa foi a semana dos mil! Romário fez o milésimo gol. E já pode se aposentar. Porque já tem mais cabelo branco que o papa. O Atacante da Melhor Idade! E agora que ele tem o Gol Mil, pode pegar aquele Porsche, as duas Ferraris e o BMW. E doar pra gente!

E sabe o que o Lula foi fazer no Paraguai? Comemorar o milésimo aperitivo. Aperitivo Mil. E a dona Marisa, a nossa Hello Kitty, comemorou a milésima viagem. E o Clodovil Clodovéia comemorou o milésimo peripaque. Peripaque Mil! E agora não se diz mais patricinha, mas "parisinha", em homenagem a Paris Hilton, a renovadora do conceito!

E essa Operação Navalha? Tô adorando os nomes dos envolvidos: Zuleido, Zaqueu e Nelson Aparecido. Temos de investigar a origem desses nomes. E botar os responsáveis na cadeia. Rarará!

E a construtora do Zuleido se chama Gautama. Que é o nome do Buda, Buda Gautama. Que em hindu quer dizer A MELHOR VACA. Por isso que o Zuleido mama no governo, a Melhor Vaca! Rarará!

E a Gautama devia mudar de nome pra Gautuna. Estouraram a Gautuna, cheia de gautos goudos! Rarará! E o apelido do Zuleido (se é que com esse nome ainda precisa de apelido) é Charles Bronson. Só no Brasil o Charles Bronson passa pro lado da bandidagem.

Rarará! Não é mais a Marca do Zorro, é a Marca do Zuleido! E ainda caiu um ministro do Lula. Ministro do Lula é que nem motel: alta rotatividade. Não é ministro, é sinistro. Caiu o Silas Rondeau. Rondeau, roubeau e rodeau. E silascou. Rarará! Ministro Silascou. E PMDB agora quer dizer Pomos a Mão no Dinheiro do Brasil. E de que lista o Lula tira os ministros? Do Deic?

Rarará! É mole? É mole, mas sobe. Ou como diz o outro: é duro mas desce! Antitucanês Reloaded, a Missão. Continuo com a minha heróica e mesopotâmica campanha "Morte ao Tucanês". Acabo de receber mais um exemplo irado de antitucanês. É que em Porto Velho tem uma clinica de beleza chamada REJUVELHESCIMENTO. Mais direto impossível. Viva o antitucanês. Viva o Brasil!

E atenção! Cartilha do Lula. Mais um verbete pro óbvio lulante. "Buscopan": companheiro treinando pro Pan! O lulês é mais fácil que o inglês. Nóis sofre, mas nóis goza. Hoje só amanhã!

Que eu vou pingar o meu colírio alucinógeno!

Acorda, Brasil!

Que eu vou dormir!

"A GRANDE FAMÍLIA" MANTÉM FORMA

BIA ABRAMO

Não é pouco para uma sitcom atravessar sete temporadas e não perder a graça. Mesmo nos EUA, a pátria dos seriados cômicos, são poucas as que sobrevivem tanto. "A Grande Família" até já balançou, mas não caiu.

Qual será o segredo?

Pensando em uma outra série famosa, como "Friends", que chegou a dez temporadas, parece simples: um grupo de bons atores e um trabalho de roteiro que ao mesmo tempo garanta uma estrutura semelhante a cada episódio e a evolução dos personagens ao longo do tempo.

Mas, a julgar tanto pelas escassas experiências brasileiras como pela quantidade de tentativas e erros cometidos na televisão norte-americana, achar esses dois ele- mentos essenciais e fazê-los trabalhar juntos é mais complexo do que parece.

Não bastam os talentos individuais deste ou daquele intérprete; é preciso que o conjunto todo se harmonize nas diferenças. Não basta uma situação boa de início; é preciso que ela se estique no tempo do episódio e que tenha fôlego para suportar muitos desdobramentos.

"A Grande Família" tem tudo isso.
É quase escusado destacar a qualidade dos atores que constituem seu núcleo central, mas também não se pode deixar de notar como os coadjuvantes, mais ou menos veteranos, conseguem entrar rapidamente no espírito.

É também um grupo extremamente carismático, característica muito importante em sitcoms tão longevas.

A série também tem conseguido, à base de uma criatividade bem sintonizada, conciliar o "de sempre" com "o que vai acontecer a seguir", até mesmo recorrendo a situações ousadas, como a recente separação de Lineu e Nenê.

Mas há algo em "A Grande Família" para além disso, que é uma a- posta arriscada numa espécie de estilização do folclore a respeito da classe média.

É como se a série almejasse estar num tempo e numa geografia algo míticos, em que pudessem se encontrar Nelson Rodrigues, Pedro Almodóvar, "I Love Lucy" e as telenovelas dos anos 70.

Esse referencial da cafonice "pop" subsidia muitas produções cômi- cas de televisão, com resultados incertos. Muitas vezes, resvala numa caricatura antipática, distanciada e artificiosa.

Em "A Grande Família", entretanto, consegue dar as voltas necessárias para fazer crítica com um olhar generoso e, claro, engraçado.

A "ROLIÚDE" BRASILEIRA


Folha de S. Paulo:
Nordeste tem "Roliúde" brasileira

Vinte e dois filmes já foram rodados na cidade de Cabaceiras, na Paraíba, que tem até letreiro anunciando a "indústria"

"A Califórnia e Cabaceiras têm cenários desérticos, luminosidade, variedade de sets e mão-de-obra barata", compara pesquisador

No meio da PB-148, estrada que corta o semi-árido paraibano, um letreiro de 80 metros de comprimento por cinco metros de altura surge ao lado de mandacarus, xiquexiques e uma família de bodes.

As letras formam a expressão "Roliúde Nordestina", uma brincadeira com a Hollywood norte-americana, em Los Angeles, a cerca de 10 mil km dali.

O letreiro, inaugurado no último dia 5, anuncia a entrada de Cabaceiras (a 194 km de João Pessoa), cidade favorita de diretores de cinema, por onde as nuvens carregadas de água passam e quase nunca páram.

Vinte e dois filmes -como "Cinema, Aspirinas e Urubus", de Marcelo Gomes, e "O Auto da Compadecida", de Guel Arraes- tiveram o município como cenário.

A primeira vez que uma equipe de filmagem pisou na cidade foi em 1921, para gravar o documentário "Ferração dos Bodes", sobre a arte de marcar a ferro os animais que, desde aquela época, representam a principal atividade econômica local -a caprinocultura.

As últimas produções que fizeram de Cabaceiras um set de filmagem foram o longa-metragem "Romance", de Guel Arraes, ainda inédito, e o documentário "Cabaceiras", de Ana Bárbara Ramos.

Vantagens
O idealizador do projeto "Roliúde Nordestina", o escritor e pesquisador Wills Leal, 70, aponta, a partir de uma comparação com Hollywood, razões que levam os diretores a escolher Cabaceiras.

"Os cineastas norte-americanos notaram que em Nova York chovia muito e havia muita neve. Perceberam que não havia luminosidade e que os prédios da cidade limitavam as opções de cenário", diz.

"O terceiro ponto que levou à procura de novos lugares foi a formação de sindicatos de atores, que passaram a exigir salários mais altos para os profissionais", afirma.

Para Leal, o Estado americano tem muitas semelhanças com o município paraibano. "A Califórnia e Cabaceiras têm cenários desérticos, luminosidade, variedade de sets e mão-de-obra barata."

Há diretores que criticam o uso da expressão "roliúde", por considerar a comparação inadequada à realidade do local. "Hollywood não é só um cenário. Há estúdios, dinheiro circulando. Cabaceiras não é isso, é um set de locação", diz Ana Bárbara Ramos.

Apesar das analogias, Leal diz que a palavra "roliúde" é apenas marketing -que faz questão de grafar "marquete".

Artistas por um dia
Quase toda esquina de Cabaceiras já serviu de palco para confrontos entre cangaceiros e soldados e beijos apaixonados de mocinhas em heróis.

Pelas 20 ruas da cidade, é fácil encontrar alguém que já foi artista por um dia -ou por pouco mais de 24 horas. Garis, carteiros e comerciantes abandonaram seus postos de trabalho mais de uma vez para atuar como figurantes ao lado de famosos atores nacionais.

"Cabaceiras tem uma luz específica e é uma região seca. Deu para fazer todo o filme ali na redondeza", disse a atriz e diretora do curta "Tempo de Ira", Marcélia Cartaxo.

Segundo o Inmet (Instituto Nacional de Meteorologia), Cabaceiras é a cidade onde menos chove no Brasil. A possibilidade de não perder dias de gravação por causa da chuva atrai diretores, porque reduz tempo e custos de filmagem.

Outro ponto que barateia a produção é a locação de sets. O aluguel mensal de uma casa em Cabaceiras é de cerca de R$ 400 - valor equivalente a uma diária em São Paulo.

As diárias dos figurantes no município - de R$ 15 a R$ 20 - também ficam aquém das pagas nas metrópoles brasileiras. Em São Paulo, o preço gira em torno de R$ 50.

O pouco assédio da população aos atores e a facilidade para fechar ruas, tirar ou colocar postes, com o apoio da prefeitura, também são atrativos. Estima-se que um filme rodado em Cabaceiras possa economizar 30%, em comparação com produções rodadas em grandes centros.

A bela paisagem do local é outro chamariz. "Escolhi Cabaceiras para rodar dois filmes ["Viagem através do Brasil" e "São Jerônimo"] por causa da impressionante geologia da região", disse o diretor Júlio Bressane.

Catálogo e memorial
Por trás do letreiro, que custou R$ 15 mil e faz parte do orçamento de cerca de R$ 400 mil aprovado pelo Banco do Nordeste, está o projeto de mesmo nome, que busca catalogar filmes realizados na cidade, adquirir cópias e implantar um curso para atores. Um memorial cinematográfico já foi instalado no município.

O próximo passo é construir uma calçada da fama. Diferentemente da norte-americana, quem vai deixar a sua marca será o bode vencedor da festa tradicional "Bode Rei", que ocorre todo ano em Cabaceiras.

POLÍCIA E BANDIDO

Editorial da Folha de S. Paulo

Cabe à Justiça coibir os eventuais abusos da PF; mas o risco maior não é de um Estado policial, e sim de um sistema mafioso

Abusos, descontroles, excessos, exageros: generalizam-se, nos meios políticos e jurídicos, as críticas à atuação da Polícia Federal durante a Operação Navalha. Estaria exorbitando de suas funções? A acusação é das mais graves, e exige discussão minuciosa da sociedade a cada episódio concreto que a possa fundamentar.

Mas o que no momento parece acima de qualquer discussão, dada a sua evidência, é a presença de exageros, excessos, abusos e descontroles de outro tipo: os que caracterizam a relação de políticos dos mais variados partidos brasileiros com as empreiteiras de obras públicas.

Recaem sobre ninguém menos do que o presidente do Senado Federal, Renan Calheiros, as últimas denúncias de favorecimento. A empreiteira Gautama, que até agora assumia o primeiro plano do noticiário, passa a compartilhá-lo com a Mendes Júnior, de onde provinham, segundo a revista "Veja", mais do que mimos institucionais de fim de ano ao senador peemedebista.

Ainda que conspícuos, como não poderia deixar de ser o de Renan Calheiros, os casos suspeitos e os escândalos anunciados ultrapassam o plano individual. Se, no campo das investigações, é necessário apurar com precisão e sem prejulgamento as responsabilidades de cada político em particular, sobram evidências de que o país se encontra exposto à voracidade de uma corrupção sistêmica, capaz de tornar a ilegalidade, a burla, o roubo e a desfaçatez inerentes ao próprio funcionamento do Estado.

Abusos, excessos, exageros? De parte da Polícia Federal? Talvez. Com certeza, entretanto, de parte de um político como o governador baiano Jaques Wagner. Depois de passear, em companhia da ministra Dilma Rousseff, numa lancha cedida pelo dono da Gautama, declarou ter-se esquecido de quem lhe prestara a gentileza. "Domingo de sol, você passeando, uma cervejinha...", explicou Wagner, com serenidade apolínea, seu momentâneo congraçamento com Gautama e Dionísio.

Longe das águas da baía de Todos os Santos, nítido exagero também se verifica no estilo administrativo do governador Jackson Lago, do Maranhão. Contrapondo-se ao domínio do clã Sarney em seu Estado, o pedetista elegera-se com o lema de que o Maranhão deixaria de ser governado "por uma só família". Cumpriu a promessa. Duas dezenas de membros da sua própria foram contemplados com cargos administrativos, e dois sobrinhos seus se encontram no foco da Operação Navalha.

Casos pitorescos à parte, tudo indica que está em curso uma investida multipartidária no sentido de reduzir o impacto desmoralizador que a operação policial impôs ao sistema político brasileiro. É do conhecimento geral que das empreiteiras se originam doações milionárias para candidatos de praticamente todos os partidos; não surpreende que, ao iniciar suas investigações nessa seara, a Polícia Federal passe a ser objeto de críticas.

Vazamentos de informação, assim como prisões espetaculosas de cidadãos sem antecedentes criminais, podem ser vistos, com razão, como potencial ameaça às liberdades constitucionais. Cabe à Justiça garanti-las, limitando eventuais arbítrios da polícia. A probabilidade de que se instaure no país um Estado policialesco é, entretanto, remota; mais forte, sem dúvida, é a de estarmos diante de um sistema político mafioso -e que dele provenham, com crescente ênfase, resistências à ação policial.

SANHA TRIBUTÁRIA

Editorial da Folha de S. Paulo

A carga tributária brasileira cresce ininterruptamente. Em 2003, 36,98% do rendimento bruto do cidadão foi destinado ao pagamento de impostos; esse índice vem subindo ano a ano, chegando a 39,72 % em 2006. Em 2007, poderá atingir a marca dos 40%.

Para honrar seus compromissos fiscais, os brasileiros trabalham, em média, inacreditáveis 146 dias no ano. Ou seja, todo rendimento obtido entre 1º de janeiro e o dia de ontem foi repassado ao Estado (União, Estados e municípios). O Brasil encontra-se muito acima do que se exige em outros países para ajustar as contas com o fisco. Os contribuintes americanos trabalham 102 dias; os argentinos, 97 dias; os chilenos, 92 dias, para citar apenas três exemplos.

Além de escorchante, a carga tributária é incompatível com o nível de renda do país e com a qualidade dos serviços prestados. E a reforma tributária em discussão tem se revelado extremamente tímida. É bem-vindo por isso o movimento de entidades da sociedade civil para elaborar uma nova proposta. Ainda mais porque o governo só se mostra disposto a desonerações pontuais para poucos setores.

O crescimento econômico facilita a necessária queda da carga tributária e a expansão dos investimentos em infra-estrutura, desde que o governo se disponha a reduzir seus gastos correntes.

ABRAÇO DE AFOGADOS

VALDO CRUZ

Um clima de insegurança e incerteza tomou conta de Brasília na semana passada e vai perdurar pelas próximas. Ninguém sabe ao certo no que vão dar as investigações da Polícia Federal. Apenas a ponta do iceberg surgiu. Boa parte das maracutaias ainda está submersa e sob análise.

Campo fértil para os terroristas de plantão. Aqui e ali surge um novo rumor: nome de gente graúda de primeiro escalão virá à tona, mais governadores, nova empreiteira no escândalo com seus tentáculos no Congresso e no Executivo.

Difícil separar o que é verdade da mera especulação ou da chantagem. Afinal, numa espécie de abraço de afogados, os que estão com um pé na lama tentam arrastar outros para o mesmo destino.

O fato é que a PF realmente esbarrou em outra quadrilha e as informações indicam um esquema pelo menos com o mesmo teor explosivo do que seria comandado pela Gautama. Sem falar na segunda fase da Operação Navalha.

Será, talvez, o grande teste da instituição no governo Lula. Debaixo de uma saraivada de críticas, muita gente trabalha para que a PF seja levada a, diríamos, deixar o clima esfriar e colocar as novas apurações em banho-maria. É possível ouvir nos gabinetes da cidade que ela já fez um excelente serviço. Senha para dizer: "Olha, tá bom, pode parar por aí".

Governistas e oposicionistas levantariam as mãos para os céus. Atônitos, os dois lados sabem muito bem que em suas hostes há mocinhos e bandidos. Estão unidos, pela primeira vez, no desejo de deixar tudo como está.

Ceder a esses apelos será um retrocesso. Alguns excessos até foram cometidos e devem ser evitados, mas não comprometem as investigações nem justificam um cerceamento das ações da PF, que só beneficiaria trambiqueiros. Enfim, entre ganhos e perdas, suas operações dão muito mais lucro do que prejuízo ao país.

RENAN E A MULHER DE CÉSAR

CLÓVIS ROSSI

Renan Calheiros é inocente até prova em contrário, valha a obviedade. Inocente do ponto de vista jurídico, esclareça-se. Mas, do ponto de vista político, deveria ter caído naquela história de que à mulher de César se exige não apenas que seja inocente, mas que pareça inocente.

O problema no Brasil é que, nos últimos muitos anos, deixou-se de aplicar essa regra preciosa.

Vejamos o retrospecto político de Renan Calheiros. Foi adversário ferrenho, em Alagoas, de Fernando Collor de Mello.

De repente, virou um "collorido" desde a infância, a ponto de ter participado do esquema de lançamento da aventura Collor à Presidência da República.

Preciso lembrar tudo o que significou essa aventura, seja do ponto de vista da baixeza utilizada contra Luiz Inácio Lula da Silva, durante a campanha, seja do ponto de vista da corrupção que o levou a ser condenado por falta de decoro?

Lembro só uma história: um dia de 1992, me tocou conversar com PC Farias, o tesoureiro da aventura, no luxuosíssimo hotel Ritz de Barcelona. Queixou-se dos prejuízos que sua atividade empresarial sofrera com as acusações. Perguntei com um sorriso irônico se ele ficara pobre.

Percebeu que eu não estava acreditando no seu sofrimento. Abriu os braços para mostrar o requintado salão do hotel, repleto de cristais, e respondeu, cínico: "Você acha que quem pode se hospedar aqui está pobre?".

Renan Calheiros pode não ter se beneficiado do esquema, mas conviveu com ele gostosamente, alegremente. Portanto, não cumpre o requisito exigido da mulher de César. Não obstante, seus pares e os governos Lula e FHC (de quem foi ministro) aceitaram-no assim mesmo. A prudência pediria certo distanciamento sob pena de todas as mulheres de todos os césares caírem na boca do povo.

25 maio 2007

MIMOSOS E MIMADOS

NELSON MOTTA

Quando se ouvem os diálogos gravados entre parlamentares, funcionários, assessores e lobistas com a turma da Gautama, tudo soa parecido com o pessoal do tráfico, do movimento, armando suas paradas e se defendendo dos X9 e dos "alemão".

A diferença é que a linguagem dos bandidos do morro, criada para enganar a polícia e o pessoal do asfalto, é muito mais rica e colorida que a da turma de gravata e crachá. Mas são todos droga malhada do mesmo sacolé.

Quando os traficantes perguntam "do preto ou do branco?", é como se fossem empreiteiros e políticos combinando "é estrada ou ponte?"; "é emenda ou aditivo?", "é carro ou caneta?".

Curiosamente, tanto uns como outros jamais falam em propina - não são otários, otários somos nós-, sempre usam o código "fazer um agrado". Além de "chefe", talvez seja a única expressão usada igualmente pelas duas tribos, tão diferentes nas linguagens e tão parecidas nos objetivos.

Outra diferença é que as vítimas dos bandidos do morro são indivíduos e estabelecimentos comerciais, enquanto as quadrilhas da Esplanada roubam o dinheiro suado de todos nós e deixam um rastro de impunidade que abala a fé na democracia e nas instituições.

Como os bandidos são mimosos, os que recebem os mimos vão ficando mimados, têm prisão especial, foro privilegiado e liminares, enquanto o pessoal do short e chinelo fica em cana. Mas quem comete um crime mais grave? Quem vende droga proibida a um adulto ou quem rouba toda a coletividade, geralmente em Estados miseráveis?

Ainda sonhamos com o dia em que o Supremo Tribunal Federal mandará um parlamentar para a cadeia, pela primeira vez em toda a sua história, enquanto sustentamos os mimosos, mimados e intocáveis.

O SONETO É PIOR DO QUE A EMENDA

MELCHIADES FILHO

Na segunda-feira, o ministro da Justiça chamou os repórteres. Disse que não havia dossiês ocultos contra congressistas, mas confirmou a existência de uma lista de centenas de pessoas que receberam mimos e brindes da empreiteira arrombada pela Operação Navalha, "como ocorre em todas as empresas". Engatou comentários sobre a necessidade de uma reforma política. Fez ressalvas sobre as emendas parlamentares. Conhecido pelo esmero na escolha das palavras, associou esse instrumento, de que os deputados e senadores se servem para atender seus redutos eleitorais, a "costumes oligárquicos" e "relação fisiológica".

Não é o caso de discutir aqui a capacidade de operação de Tarso Genro - embora a relação crescente de sucessos daquele que costumava ser chamado com desdém de "Suplicy que Fala Javanês" peça uma análise dessa natureza.

Cabe, por ora, observar que a entrevista do ministro foi um ponto de inflexão. Ele falou, falou e falou... só do Legislativo. Desde então, por ingenuidade ou hábito, só se discute (e se esculacha) a relação entre Congresso e empresários.

Porém a primeira cabeça decepada pela Operação Navalha dirigia o ministério mais vital do PAC.

O lobby da Gautama bateu ao menos duas vezes à porta do próprio presidente. Lula assinou uma medida provisória para garantir uma das mais controvertidas obras.

Quase 70% das verbas públicas repassadas à construtora desde 1998 saíram diretamente do Executivo, sem mediação do Congresso.

Lobistas, padrinhos políticos, partidos implicados, tudo varia nas fraudes apontadas pela PF. A única coincidência é que elas foram alimentadas pelo dinheiro da União.

Mas quais foram as propostas lançadas até aqui? Extinguir, transformar em impositivas ou coletivizar as emendas do Congresso.

A cobertura sobre o Orçamento precisa ouvir o Outro Lado.

É SÓ BUTIM

CLÓVIS ROSSI

Juro que não é pergunta retórica: gostaria mesmo de saber do leitor se ele se surpreendeu com algum nome - qualquer um - que tenha sido mencionado no atual ou em qualquer outro escândalo recente e não tão recente.

Confesso que ainda consigo me surpreender com um ou outro nome, mas não vou antecipá-los para não condicionar uma eventual resposta do leitor. Mas, de modo geral, tenho a impressão de que nada nem ninguém mais choca o eleitor brasileiro. Por anos a fio, batalhei contra o preconceito de uma frase antiga, a de que "todo político é ladrão", que comecei a ouvir antes mesmo de me tornar jornalista.

Muitos anos atrás, até escrevi que pensar dessa forma é tão preconceituoso - e, portanto, tão odioso - quanto dizer que todo judeu é avarento, que todo negro é indolente e assim por diante.

Deve haver uma meia dúzia ou uma dúzia de políticos honestos, talvez mais. Logo, a generalização faz o inocente pagar pelo pecador, o que só é bom para o pecador. Mas é tamanha a degradação da vida política que fica difícil combater o preconceito contra ela.

Mesmo os que não enfrentam acusações em nenhum escândalo são suspeitos ao menos por omissão. Tanto que nenhum partido ousou sair em defesa de seus integrantes acusados. Um ou outro líder pode, em nome pessoal, ter defendido companheiros acusados. Mas, como instituição, ninguém ousa, porque teme os esqueletos no armário do outro.

O comportamento do PMDB no caso Silas Rondeau é definitivo: em vez de defender o ministro que seus caciques indicaram, saiu correndo atrás do butim do Ministério de Minas e Energia, antes que caísse nas mãos de outro partido.

Política no Brasil é isso: a incessante ciranda em torno do butim. Os inocentes, se há, que me desculpem, mas estão calados demais para o meu gosto.

DITADOR EM OBRAS

Editorial da Folha de S. Paulo

De modo paulatino, mas inequívoco, Chávez faz sua escalada autoritária, erodindo os pilares que sustentam a democracia


Consuma-se neste domingo, na Venezuela, mais um duro golpe contra o direito de escolha, o pluralismo de idéias, a própria liberdade de expressão. A RCTV, a mais antiga e uma das mais populares redes de televisão do país, deixará de existir, depois de ter a renovação de sua licença negada por Hugo Chávez.

Morre, assim, a última emissora com transmissão nacional que ainda se pautava pela independência em relação ao governo, uma vez que as outras duas grandes TVs privadas -a Venevisión, de Gustavo Cisneros, e a Televén- reformularam sua linha editorial e hoje operam como dóceis instrumentos do chavismo.

A RCTV deve sair do ar à 0h de segunda-feira; 15 minutos depois, conforme o script oficial, uma nova TV estatal -a Tves- surgirá ao som do hino nacional executado por uma orquestra.

Quando mais essa exibição histriônica de nacionalismo, tão típica do repertório chavista, chegar ao fim, o presidente venezuelano terá, na prática, eliminado a possibilidade de que seu governo seja alvo de questionamentos ou de críticas em qualquer programa de TV com alcance nacional.

Isso é ainda mais pernicioso num país pobre e de hábitos de leitura rarefeitos, a exemplo do Brasil, onde o peso específico da TV na formação da opinião pública tende a ser muito elevado.

Passo a passo, de modo paulatino, mas inequívoco, Chávez faz sua escalada rumo ao autoritarismo -e vai erodindo, um a um, com determinação, os sistemas de freios e contrapesos que oxigenam as sociedades democráticas e impõem limites à megalomania de todo governante.

A cooptação ou intimidação de adversários, o controle, direto ou enviesado, sobre os meios de comunicação e sobre a circulação da informação - este é apenas um de seus instrumentos.

A obra chavista - uma verdadeira ditadura "in progress"- se torna mais nítida à luz das peripécias institucionais e das alterações do arcabouço legal do país, já realizadas ou em curso.

Elabora-se em sigilo, sem que haja nenhuma discussão pública, mais uma mudança da Constituição. A tarefa está a cargo dos 11 membros do Conselho Presidencial para a Reforma Constitucional, nomeados por Chávez. Da nova Carta, deverá constar o dispositivo da reeleição indefinida para presidente.

Em seu terceiro mandato, Chávez hoje se vale da chamada Lei Habilitante, que lhe outorga o poder de dirigir o país por decreto durante 18 meses. Está em vigor desde janeiro, quando foi aprovada por uma Assembléia Nacional 100% chavista, conseqüência - diga-se - do equívoco da oposição, que boicotou as eleições legislativas em 2006.

A mesma oposição, aliás, que em 2002 já havia enveredado pelo atalho do golpismo, com o apoio da Casa Branca, deslegitimando-se à época como pólo alternativo de poder e vitimizando um presidente então fragilizado.

A força política de Chávez repousa sobre a volúvel prosperidade trazida pela alta do preço internacional do petróleo. As bases que sustentam os delírios do ditador em formação são turvas e escorregadias, como o óleo.

24 maio 2007

UEBA! LULA COMEMORA O APERITIVO MIL!

JOSÉ SIMÃO

E a moça do tempo: "Massa de instabilidade vinda da Bolívia". E ela esperava o quê?

BUEMBA! BUEMBA! Macaco Simão Urgente! O esculhambador-geral da República! Direto do País da Piada Pronta!

E peguei a gripe congonhas: aquela que te deixa no chão. Na chón! E a moça do tempo: "Uma massa de instabilidade vinda da Bolívia". E ela esperava o quê? Uma massa de estabilidade da Bolívia? Rarará!

E sabe o que o Lula foi fazer no Paraguai? Comemorar o milésimo aperitivo! Dreher Mil! E a dona Marisa neste ano comemorou a milésima viagem!

E sabe por que o dólar tá caindo? Porque depois que foi achado na cueca, ele foi pro saco. Rarará!

E como o próprio dólar declara: depois que me encontraram na cueca, nunca mais fui o mesmo!

E o site LT News revela que o Clodovil, ops, Clodovéia, recuou: "Eu peço desculpas por ter chamado a deputada Cida Diogo de feia. Na verdade, é uma baita duma mocréia mesmo". Rarará! Aliás, a Clodovéia vai comemorar o Piripaque Mil!

Sinistério do Lula Urgente! O Silas Silascou! Caiu mais um ministro do Lula. Ministro do Lula é como motel: alta rotatividade.

E é tudo do PMDB. PMDB agora quer dizer Pomos a Mão no Dinheiro do Brasil! PMDB quer comemorar o Ministro Mil. Aliás, o Banco Central acaba de lançar a nota de cem mil. Cem mil reais vale um Silas! Rarará!

E adorei a charge do Frank: "E agora apresentamos mais um ministro do PMDB". "Eu sou inocente! Eu sou inocente!."Aliás, o Lula não tem ministros, tem sinistros. O Sinistério do Lula é como o Matte Leão: já vem queimado! Rarará! Mas, como diz o "Financial Times": dessa vez o escândalo atinge posição e oposição. Escândalo dona Benta: farinha do mesmo saco. É o que eu sempre digo: não tem virgem na zona! Rarará!É mole? É mole, mas sobe. Ou, como diz o outro: é mole, mas chacoalha pra ver o que acontece!

Antitucanês Reloaded, a Missão. Continuo com a minha heróica e mesopotâmica campanha "Morte ao Tucanês". Acabo de receber mais um exemplo irado de antitucanês.É que em Porto Velho tem uma clínica chamada REJUVELHESCIMENTO. Mais direto, impossível. Viva o antitucanês. Viva o Brasil!E atenção!

Cartilha do Lula. Mais um verbete pro óbvio lulante.
"Recuar": companheiro que usa a mesma cueca duas vezes. Rarará!O lulês é mais fácil que o inglês.

Nóis sofre, mas nóis goza. Hoje só amanhã. Que eu vou pingar o meu colírio alucinógeno!

Acorda, Brasil! Que eu vou dormir!