28 maio 2007

NOVO TERMÔMETRO DA EDUCAÇÃO

Claudio de Moura Castro

"Se o ensino de qualidade fosse tão caro, como poderia ocorrer em municípios pobres?"

Tipicamente, a ciência gera os avanços que se transformam em tecnologia. Mas há o caminho inverso, pois avanços tecnológicos podem permitir saltos na ciência. Com a tecnologia do microscópio, os micróbios passaram de conjectura a entes reais. O telescópio revelou astros invisíveis a olho nu. Na economia, o conceito de PIB engendrou novas análises. Mais adiante, veio o IDH, revelando o outro lado do desenvolvimento. Na educação, o Brasil acaba de ganhar um novo termômetro: o Ideb. Trata-se de um índice de excelência da educação, que permite novas análises.

O Ideb é um indicador engenhoso, que combina a velocidade de avanço dos alunos dentro da escola com o nível de rendimento nos testes da Prova Brasil. Foi calculado para a 4ª e a 8ª séries e para a última série do ensino médio. Quanto menos repetência, maior o índice. Quanto mais altos os escores na Prova Brasil, maior o índice. O Ideb premia municípios ou escolas cujos alunos aprendem mais e repetem menos. Portanto, se a escola aprovar quem não sabe, para reduzir a repetência, perderá nos escores de rendimento escolar. A que peneirar os melhores, com o objetivo de gerar escores superiores, terá mais repetência, puxando para baixo o índice.

Sem revirar tudo de pernas para o ar, o Ideb mostra algumas novidades. Consolida-se a liderança do Centro-Sul, premiando a continuidade das suas políticas educativas. Do Rio Grande até Minas Gerais, os resultados são sempre superiores. A surpresa é que nesse time acaba de entrar o Espírito Santo e sair o Rio de Janeiro. Depois de liderar por mais de dois séculos, o Rio afundou para o meio da distribuição, equiparando-se com o Acre, Sergipe e outros estados pobres. São Paulo é reabilitado pelo Ideb, aparecendo em 1º, 1º e 4º (na 4ª, 8ª e 11ª séries). Perdão para a sua tão vilipendiada política de promoção automática? Apesar de quinze estados terem maiores gastos per capita, a educação de Minas está entre as melhores. Ou seja, gastar bem vale mais do que gastar muito.

Vínhamos observando os avanços do Centro-Oeste. De fato, está bufando no cangote do Centro-Sul, apesar de sua recentíssima colonização. A grande surpresa são os novos estados e ex-territórios, sempre subestimados. Rapidamente subiram, mesclando-se com o Centro-Oeste. Com dezoito anos de idade, o Tocantins desponta em 6º lugar (na 8ª série), mostrando que é possível criar um sistema educativo adequado em tempo recorde. Bela lição. Querendo, educação melhor não é apenas para os netos.

Em contraste, os velhos Norte e Nordeste permanecem firmes na rabeira. Foram ultrapassados até pelos ex-territórios. No ensino médio, raspando na trave, escapam o Ceará e Sergipe. Alagoas e Amazonas carregam a lanterninha. E que surpresa ver Acre, Amapá e Roraima se descolarem do Norte e Nordeste. A maior vergonha é o Distrito Federal. Na 4ª série, vai bem (2º lugar). Mas, nos níveis seguintes, cai para 13º e 9º. Com custo por aluno de quatro vezes a média nacional, é inaceitável que a politicagem de Brasília tenha provocado tão lamentáveis conseqüências.

Nos municípios, o que mais chama atenção é ver a qualidade fugir das capitais. De fato, poucas estão acima da média nacional. Curitiba é a melhor capital. Contudo, há mais de 400 municípios com educação melhor. Recentemente, ouvi depoimentos de diretoras de escolas da periferia de uma grande capital. A conflagração urbana domina a agenda. Discorreram sobre todas as desgraceiras e falaram de tudo, menos de educação. Se educação de qualidade não está na agenda delas, como poderíamos querer que se materializasse? Nem por milagre.

As grandes estrelas são municípios pouco conhecidos. Quem ouviu falar de Trajano de Morais? Pois, pasmem, tem o melhor ensino fundamental do Brasil. Mas o quarto pior (Piraí) está também no estado do Rio. Barra do Chapéu, a melhor 4ª série do país, está no Vale do Ribeira, uma região pobre do estado de São Paulo. Ou seja, para ultrapassar o desempenho das capitais não é necessário mais do que prefeitos dedicados e o feijão-com-arroz bem-feito. Se o ensino de qualidade fosse tão caro, como poderia ocorrer em municípios pobres?

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