30 maio 2007

TEMPOS QUENTES

Editorial da Folha de São Paulo

Vão de mal a pior as relações diplomáticas entre o Ocidente - particularmente os EUA - e a Rússia. Muitos já qualificam este como o pior momento desde o fim da Guerra Fria, em novembro de 1989.

Os contenciosos entre as duas potências nucleares são muitos. O mais estridente deles diz respeito ao projeto dos norte-americanos de instalar um sistema antimísseis no leste da Europa.

Oficialmente, a iniciativa se destina a proteger os EUA e a Europa de um eventual ataque nuclear iraniano. Para o Kremlin, entretanto, essa é uma mal-disfarçada tentativa de restringir o poderio atômico russo -e uma violação aos tratados de desarmamento atualmente vigentes.

Em discurso no Dia da Vitória (9 de maio, data da derrota da Alemanha nazista em 1945), o presidente Vladimir Putin deixou claro seu descontentamento. Sem mencionar os EUA, o autocrata russo criticou aqueles que "agem e ditam regras como se fossem donos do mundo, como na época do 3º Reich".

Washington e Moscou também discordam acerca da independência de Kosovo (região da Sérvia que pode ser "emancipada" pela ONU) e da estratégia a adotar a fim de conter as ambições nucleares do Irã -para citar só dois outros pontos de atrito.

O presidente Bush despachou há pouco sua secretária de Estado, Condoleezza Rice, para Moscou a fim de esfriar os ânimos. Ao que parece, ambas as partes concordaram em moderar sua retórica, mas pouco avançaram na resolução de suas diferenças.

Para o mundo, o melhor é que EUA e Rússia atuem não como aliados próximos, mas como parceiros estratégicos que se controlam mutuamente. Desavenças mais sérias trazem o duplo risco de reforçar tendências autoritárias de Putin e de levar os EUA a, mais uma vez, afastarem-se de organismos multilaterais.

Nenhum comentário: