08 maio 2007

2010 E LULA

FERNANDO RODRIGUES

De todos os balões de ensaio sobre 2010 surgidos até agora nos ares de Brasília, um deles é o principal para clarear o cenário da próxima eleição presidencial: o interesse real (ou não) de Lula em relação a eleger o seu sucessor.

Exceto Itamar Franco, todos os presidentes brasileiros pós-ditadura militar fracassaram na tentativa de fazer um sucessor. José Sarney foi patético. Seu supostamente aliado Ulysses Guimarães recebeu humilhantes 4,4% dos votos em 1989. Collor sofreu o impeachment. FHC sucumbiu com José Serra - não se sabe até hoje se o ex-presidente ficou feliz ou triste.

Itamar lançou o Plano Real. Pavimentou o caminho para FHC. Logo em seguida, decepcionou-se com a criatura. O ressentimento virou a marca da relação entre ambos.

Lula, tudo indica, terá céu de brigadeiro até 2010 - dizem os oráculos da economia. Se assim for, poderia com facilidade anabolizar alguém para sucedê-lo. A história política é pródiga em exemplos de transferência de votos. Maluf inventou Celso Pitta. Quércia fez Fleury. Em certa medida, Itamar criou FHC, ao nomeá-lo ministro da Fazenda do Real. Todos esses episódios têm um ponto em comum. Os pupilos, uma vez eleitos, tornaram-se desafetos figadais dos seus mestres.

Lula talvez tenha em mente esse histórico negativo entre criadores e criaturas. Vale a pena transferir votos para algum aliado e depois ficar à mercê de um possível inimigo em 2014? "Cría cuervos y te sacarán los ojos", diz o batido ditado espanhol. Para o petista, interessadíssimo em retornar ao Palácio do Planalto no futuro, fazer um sucessor poderá significar uma chance maior ou menor de êxito no momento de tentar o terceiro mandato.

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