17 julho 2007

FAVELÓPOLIS

FERNANDO DE BARROS E SILVA

Como você, morador de Higienópolis, do Pacaembu, de Perdizes, da Vila Madalena, do Alto de Pinheiros, do Itaim Bibi, da Vila Nova Conceição, do Morumbi, dos Jardins -como você, leitor, reagiria à notícia de que um em cada seis paulistanos vive em favelas?
É o que diz um estudo divulgado ontem pelo jornal "O Estado de S. Paulo". Em quatro anos, a população favelada da cidade teria crescido assombrosos 38% -eram 290 mil famílias nessa condição em 2003; são hoje 400 mil famílias (de 1,6 milhão a 2 milhões de pessoas).
O estudo revela, porém, que a área ocupada pelas favelas permaneceu praticamente a mesma; a expansão se deu sobretudo pela verticalização e/ou pelo inchaço das favelas já existentes, o que aponta para os limites da fronteira urbana e sugere um processo de "marginalização dentro da marginalidade", para usar as palavras do ensaísta Mike Davis, autor do livro "Planeta Favela" (2006, Boitempo).
Parece que estamos diante do PAF -o Programa de Aceleração das Favelas-, cujo êxito é incontestável. A favelização de São Paulo nessa escala é ainda mais assustadora porque vem acompanhada por uma cortina de invisibilidade.
No Rio, bem ou mal as favelas têm história, têm enredo, inventam seus heróis e seus bandidos, são, como diz Walter Benjamin, monumentos de cultura e de barbárie. Várias delas estão debruçadas sobre a zona sul, produzindo um ambiente de promiscuidade e contraste, o cenário de uma cidade conflagrada. Prédios de alto padrão estão blindando suas fachadas contra os efeitos da guerra do tráfico.
Em São Paulo, por ironia perversa, o agravamento da favelização vem a público em meio a um boom imobiliário. Chovem nos jornais ofertas de recantos paradisíacos, repletos de área verde, lazer, segurança total. Há até um empreendimento que usa a Bossa Nova como isca de um estilo de vida desfrutável. Não temos o Pan, não temos o Cristo Redentor, mas Tom Jobim - agora ele é nosso!

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É extremamente preocupante esta situação.
E a gente vê isso o Brasil inteiro.
Pena que as autoridades não tenham os olhos voltados para o povo.
Infelizmente no Brasil, só o povo vê o povo.

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