RUY CASTRO
Dentro de um mês, haverá um telefone celular para cada duas pessoas na Terra. Pelos cálculos, serão 3,3 bilhões de aparelhos para 6,6 bilhões de pessoas. Parece, mas não é -ainda- o fim dos tempos. Significa que, de cada duas pessoas no planeta, restará uma que não sente ânsias de se comunicar o tempo todo, que não aceita ficar disponível 24 horas por dia e não corre o risco de constranger os artistas deixando seu aparelho tocar no meio da platéia do Teatro Municipal. Essa pessoa ainda valoriza o ato de falar ao telefone, usando-o apenas quando tem algo prazeroso ou inadiável a dizer. E valoriza, sobretudo, o ato de não falar ao telefone.
Mas o dito placar, de alto conteúdo simbólico, só terá a duração de 60 segundos. Como, no mundo, são assinados mil novos contratos de telefonia móvel por minuto, este é o tempo que levará para que os usuários de celular passem à frente dos não usuários e disparem na corrida para empatar com o número total de habitantes.
Quais são os maiores responsáveis pelo galopante aumento na quantidade de celulares? A China, a Índia, a África e, claro, o Brasil. Quanto mais emergente, mais um povo parece precisar de celulares. Os americanos, os japoneses e os europeus, pelo visto, não precisam de tantos ou já têm todos os de que precisam.
Não me entendam mal, sou a favor do celular. Apenas me pergunto o que a turma tanto fala ao telefone. Do tambor ao computador, o ser humano sempre inventou meios para trocar mensagens. Mas, pelas amostras que recolho de ouvido nas ruas, fala-se ao celular apenas porque ele está à mão. Marshall McLuhan acertou na pinta: o meio é a mensagem. Temo que, um dia, exceto por Caetano Veloso e Vera Fischer, eu seja a única pessoa das minhas relações a não ter celular.
Nenhum comentário:
Postar um comentário