Reportagem de Julio Wiziack, alçada à manchete de domingo nesta Folha, ajuda a desmontar mais uma lenda brasileira, a da queda da desigualdade. O texto mostra que mais da metade da riqueza brasileira vai para uma pequena fatia de milionários. "Apenas 10% da população continua se apropriando de 80% da renda nacional", diz Gabriel Ulyssea, pesquisador do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada do Ministério do Planejamento.
A origem da lenda é uma só: a Pnad (Pesquisa Nacional por Amostragem de Domicílio), feita pelo IBGE. Nela, como é lógico, mas não é registrado, a parte dos pesquisados que tem outra renda, além do salário, não declara tudo o que de fato ganha. Outros pesquisadores do Ipea já mostraram que há 90% de subdeclaração.
Os mais pobres tendem a declarar o que de fato ganham. Como ganharam mais, parece menor a diferença com o andar de cima, mas só porque esse subdeclara.
Essa constatação vale para qualquer pesquisa do gênero, como diz Ulyssea: "Eles [os milionários] temem por sua segurança [e] querem pagar menos impostos".
Contribuiu para a lenda o fato de que realmente diminuiu a desigualdade entre os assalariados, por uma série de fatores. Mas aumentou a diferença entre assalariados e rentistas, como constata um dos melhores pesquisadores do tema no Brasil, Marcio Pochmann (Unicamp), em artigo para o jornal "Valor Econômico": "A parte da renda do conjunto dos verdadeiramente ricos afasta-se cada vez mais da condição do trabalho para aliar-se a outras modalidades de renda, como aquelas provenientes da posse da propriedade (terra, ações, títulos financeiros, entre outras)".
Conseqüência inescapável: a participação do trabalho na renda brasileira caiu de 50% em 1980 para 39,1% em 2005. Não se constrói um país decente propagando lendas.
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O Brasil é o país do faz-de-conta?!
Por que é tão difícil para nossos governantes assumir a realidade brasileira?
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