05 julho 2007

JOVENS PROTEGIDOS

Rosely Sayão

Já comentei que os pais podem deixar de se preocupar com o malfadado vestibular porque a oferta de vagas no ensino universitário tem sido maior do que a demanda. Agora, a preocupação avançou para um pouco além dessa etapa: como o filho irá se comportar na faculdade a fim de conseguir concluir o curso que escolheu.

Aliás, escolher um curso tem sido um problema para esses jovens, já que programas de orientação vocacional - mesmo os mais competentes - não têm sido suficientes para que eles escolham com convicção. Por isso, já temos até desenvolvido a hipótese de que escolher um curso nessa idade talvez seja precoce. Por conta dessa conjectura, muitos pais estimulam o filho a retardar a decisão para não exigir demais dele.

Não é tão difícil os jovens distinguirem alguns interesses para que consigam visualizar um curso a fazer. O mais difícil, parece, é mesmo renunciar a tantas opções e possibilidades de futuro e, assim, restringir a vida ou a liberdade - imaginam eles. Pois é, renunciar exige mesmo maturidade e coragem, e os jovens têm chegado à idade quase adulta bem imaturos e infantilizados. Não aprenderam sequer o significado da palavra liberdade, o que é absolutamente necessário para desfrutá-la.

Constatamos esse fenômeno em várias situações, inclusive ao ler as palavras do pai de um dos jovens - de 19 anos - que agrediram uma mulher no Rio de Janeiro. Ele se referiu ao filho e aos amigos envolvidos como "crianças", lembram?

O fato é que muitos professores universitários já não sabem mais o que fazer diante dessa criançada, que chega ao curso de graduação com comportamento digno de alunos de curso fundamental. Eles precisam de tutela (e assim a demandam) para tudo, menos para transgredir e testar os limites da instituição, claro.

Os pais, por sua vez, ficam perdidos quando os filhos expressam insatisfação com alguns professores ou com algumas disciplinas que são obrigados a cursar ou com a exigência e o rigor da nova empreitada e passam a abandonar as obrigações e a desejar mudar de curso e fazer novo vestibular, entre outras possibilidades.

E não vamos cair na tentação de pensar que a juventude atual - estamos nos referindo especialmente à classe média - é inconseqüente, irresponsável, não tem limites, só quer desafiar etc. Mais responsável é a atitude de reconhecer que, talvez, eles não tenham estado em boas mãos no período de sua formação, por mais difícil que isso seja. Vamos nos colocar em causa nessa questão.

Já faz tempo que estamos comprometidos com nossa jovialidade e isso tem respingado na maneira como educamos os mais novos. A questão é que, por conta dessa nossa jovialidade, não temos conjugado contenção e rigor, por exemplo, com busca de prazer e satisfação. Queremos tudo no presente imediato. Isso resulta na desvalorização da obstinação e da tenacidade, entre outras coisas.

Do mesmo modo, temos escolhido proteger os mais novos de atitudes que exigem concentração e conexão com a realidade e temos elogiado o resultado em vez do esforço. Conseguimos, sem pretender, fazer com que os jovens acreditem que quase tudo o que fazemos bem é resultado mais de inspiração e sorte do que de transpiração e perseverança.

Muitos jovens conseguem usar a coragem que têm potencialmente para praticar um esporte radical, para transgredir leis que existem para protegê-los - basta lembrar o número de mortes de jovens entre 19 e 25 anos no trânsito -, para desafiar normas da convivência civil e para competir e tentar ser o melhor. Entretanto, não sabem dedicar a mesma coragem para se relacionarem com a diferença, para ir até o final de uma atividade iniciada por mais maçante que seja, para aprender o que não sabem, para controlar impulsos imediatistas e para renunciar quando devem fazer escolhas, por exemplo.

Pelo jeito, colocamos nossos jovens em maus lençóis.

[...] RENUNCIAR EXIGE MATURIDADE E CORAGEM, E OS JOVENS TÊM CHEGADO À IDADE QUASE ADULTA INFANTILIZADOS.


NOSSO COMENTÁRIO:
Olha os filhos aí de novo, pais!
Pensem nisso!

Nenhum comentário: