03 julho 2007

A PEÇA QUE FALTAVA

ELIANE CANTANHÊDE

Cai o último grande mistério da queda do Gol 1907: os pilotos Joe Lepore e Jan Paladino desligaram involuntariamente o transponder, aparelho que, se operante, teria salvado 154 vidas. O Legacy era novo, acabava de sair da Embraer. Lepore tinha pilotado aviões semelhantes, e ele e Paladino haviam treinado em simuladores, mas a caixa-preta mostra que tinham pouco conhecimento do aparelho, das regras de aviação no Brasil e até da carta aeronáutica.
Um dos dois confundiu o rádio e o transponder e digitou códigos de freqüência no transponder. Resultado: o rádio não recebia nem transmitia ligações para os controles em terra, e o transponder desligou. Um erro fatal. E só depois do choque os pilotos se deram conta.
A queda do Gol 1907 é uma seqüência inacreditável de falhas humanas e de coincidências. Os pilotos e o controlador de São José dos Campos (origem do vôo) não se entenderam, e o Legacy seguiu numa só altitude, quando o plano de vôo previa três. Os controladores de Brasília tiveram tempo para corrigir o erro, mas estavam distraídos. Era hora da troca de turno.
Depois, houve várias tentativas inúteis de contato por rádio. Nem os pilotos digitaram o código de falta de comunicação nem os controladores acionaram o Cindacta-4, de Manaus, para que desviasse o Gol -que costumava voar em 41 mil pés, não em 37 mil, como naquele dia. E o choque foi num ponto em que o Legacy saía do Cindacta-1 para o 4, e o Boeing, o contrário.
Mesmo com todas essas falhas e coincidências, o acidente teria sido certamente evitado caso o transponder estivesse acionado. Não estava, e houve o maior acidente da história da aviação civil no Brasil, com todas as suas conseqüências. Com o fim do mistério do transponder, a comissão aeronáutica deve anunciar suas conclusões já no próximo mês. E aí começa uma outra guerra, a judicial.

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