Muita gente morre de medo de avião, até presidentes e governadores, obrigados, pelo ofício, a voar por aí (no bom sentido) o tempo inteiro. Mas o perigo não está no ar, está muito mais na terra.
Em 2006, morreram 215 pessoas em acidentes aéreos, 154 delas só no choque do Legacy com o Boeing da Gol. Em 2007, foram 264 mortos até ontem, sendo 186 passageiros de um só vôo, o TAM 3054.
No trânsito, foram cerca de 34 mil mortos no ano passado, 5.054 só nas rodovias federais, e podem chegar a 40 mil neste ano, quando já morreram mais de 6.000 nas federais -196 (mais do que no Boeing e no Airbus) apenas no feriadão de Natal. O que é mais perigoso, viajar de avião ou de carro/ônibus?
Todo ano, vou e volto de carro para São Paulo e escrevo sobre os sobressaltos (literais) nas estradas. Uma cratera atrás da outra. E tome curva! Tome chuva! Não é surpresa que o recordista de tragédias no Natal tenha sido Minas, com 460 acidentes, 309 feridos e 26 mortos.
Neste ano, as pessoas fugiram do caos aéreo e caíram no risco das estradas. Fiz o contrário: fugi das estradas. Aeroportos lotados, vôos atrasados, mas nada que não fosse suportável para épocas de pico -e muito menos tragédias.
Em dez anos, a frota de veículos no Brasil pulou de 28,8 milhões para quase 50 milhões. Palmas para a economia, para indústria automobilística, para a classe média motorizada. Só que... à explosão da frota não corresponderam a ampliação e a melhoria da malha viária. A infra-estrutura continua praticamente a mesma. Não pode dar certo.
Entra ano, sai ano, vem a ladainha do governo de que infra-estrutura é fundamental, mas... fica para depois. Agora, o fim da CPMF ameaça o PAC, bem diante da expectativa de 5% de crescimento. Alto crescimento com baixa infra-estrutura gera caos, como nos aeroportos, e tragédia, como a das estradas e de suas vítimas.
28 dezembro 2007
NATAL SANGRENTO
ELIANE CANTANHÊDE
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