21 dezembro 2007

POR QUE, PARA QUE, PARA QUEM?

ELIANE CANTANHÊDE

É emocionante ver uma mãe chorando num programa eleitoral porque o filho pobre chegou à universidade? Sem dúvida. É ótimo que jovens com poucas chances de estudo tenham diploma universitário? Com certeza.
Mas a principal questão da educação não é essa, nem são de todo graves os dados do MEC mostrando que 12% dos jovens de 18 a 24 anos estão matriculados no ensino superior, quando o Plano Nacional de educação prevê 30% até 2011.
O grave começa no ensino fundamental. O Brasil foi competente no rumo da universalização, mas não é preciso fazer prova em cima de prova para mostrar que os alunos saem das escolas sem aprender.
E o grave continua no ensino médio, até com a falta de escolas técnicas para os milhões de jovens que, em vez de anos e anos numa universidade teórica, precisam e querem empregos reais. O percentual de jovens no ensino técnico nos EUA é de 60%; no Brasil, de 9%.
Quem não tem um parente, amigo, filho que fez universidade por fazer e ocupa função técnica, com salário de técnico e vai continuar técnico? É legítima a vontade da mãe e do estudante de ter um diploma superior na mão - ou melhor, na parede. Mas quem de fato lucra com isso são as universidades particulares, muitas com ensino sofrível e preços escorchantes. O "doutor" gasta o que tem e o que não tem por um sonho fugaz - e inútil.
Falta estratégia de educação no país, e não é de hoje. É preciso saber para quem, por que e para que abrir vagas no ensino superior, combinando o arbítrio pessoal e o interesse nacional. Ou seja: vagas com mercado de trabalho.
É melhor investir num ensino que dê oportunidades iguais para todos e trate a universidade como o que é: centro de excelência. Até lá, levar a sério as escolas técnicas, para que o aluno tenha opções reais e orgulho da sua profissão, em vez de ter um diploma vazio e uma frustração travestida de orgulho.

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