31 dezembro 2007

CAI O NÚMERO DE FORMADOS NA REDE PÚBLICA

Folha de S. Paulo

Levantamento mostra que, apesar de mais alunos entrarem nas universidades públicas, quantidade de formados caiu 9,5% em 2 anos

Resultado revela perda na eficiência das instituições, que são financiadas com verba pública; evasão é tida como uma das causas

O número de alunos que entra nas universidades públicas brasileiras cresce desde a década passada. Nos dois últimos anos, porém, a quantidade de estudantes formados nessa rede caiu quase 10%, apontam dados do Ministério da Educação.
O resultado representa uma perda na eficiência nessas instituições, que são financiadas com recursos públicos. Neste ano, somente a rede federal terá R$ 1,7 bilhão para custeio, três vezes mais do que há quatro anos, segundo o MEC.
Pesquisadores afirmam que a queda ocorre devido ao aumento da evasão (estudantes que desistem dos cursos). Outro ponto é o aumento do tempo que os estudantes têm levado para se formar.
Para esses analistas, diversos motivos causam os dois problemas, entre eles a necessidade de o aluno começar a trabalhar e o descontentamento com os cursos.
Tabulação feita pela Folha com base nos dados do Censo da Educação Superior, divulgado neste mês, mostra que 19.177 estudantes a menos se formaram nas instituições públicas em 2006 do que em 2004 (queda de 9,5%).
A perda de mais de 19 mil alunos representa quase o dobro de vagas oferecidas pela USP no vestibular para 2008.
Também houve diminuição de formados na rede pública entre 2005 e o ano passado. Até 2004, a quantidade de estudantes formados nessa rede vinha aumentando.
O volume de ingressantes cresceu 17% entre 2001 e 2003, quando entrou a maioria dos alunos que deveriam se formar entre 2004 e 2006. No período em que as instituições públicas perderam eficiência, houve aumento de 30,5% de formados nas universidades privadas.
Também utilizando dados do censo, o professor Oscar Hipólito (ex-diretor do Instituto de Física USP-São Carlos e consultor do Instituto Lobo para o Desenvolvimento da Educação, da Ciência e da Tecnologia) calculou a evasão na rede pública, a pedido da Folha.
Os dados mostram que o número de alunos que deixaram seus cursos cresceu de 11,8% para 12,3% entre 2005 e 2006 (variação de 4,2%). "Só isso não explica a queda de egressos [formados]. Os alunos também estão demorando mais para se formarem", disse Hipólito.
Segundo seus cálculos, em 2006 apenas 43% dos estudantes concluíram seus cursos no tempo esperado.
"A queda no número de formandos é preocupante. Representa prejuízo financeiro para o Estado, além de perdas acadêmicas e sociais", afirmou.
Os resultados do Enade (antigo Provão) mostram que os cursos de melhor qualidade estão nas instituições públicas.
Na edição 2006 do exame, 21,2% dos cursos das universidades pública alcançaram o conceito 5 (máximo), ante 1,6% do sistema particular.


Para educadores, desinteresse por cursos e problemas financeiros aumentam a evasão

Dificuldade para se manter na universidade, desencanto com os cursos e problemas de gestão são algumas das possibilidades citadas por pesquisadores e gestores para explicar o aumento da evasão e do tempo de conclusão dos cursos das instituições públicas.
O presidente da Andifes (associação que reúne as universidades federais), Arquimedes Diógenes Ciloni, afirma que o aumento das matrículas que ocorre desde a década passada fez com que entrassem nas universidades camadas mais pobres da sociedade -que possuem mais dificuldades para seguir no ensino superior.
"Mesmo que o curso seja gratuito, há gastos com transporte, livros, alimentação. Fica pesado, principalmente para os que precisam mudar de cidade. Muitos desistem", afirmou.
O consultor em ensino superior Carlos Monteiro também cita as dificuldades financeiras dos estudantes. "Durante o ensino superior, muitos passam a ser chefe de família e precisam começar a trabalhar. Às vezes não é possível conciliar."
Monteiro aponta também que o modelo do ensino superior pode desagradar. "Na maioria absoluta dos casos, as aulas repetem o modelo do ensino básico. O aluno se cansa."
Para Monteiro, uma das principais medidas para "segurar" os alunos no ensino superior é diversificar o sistema, aumentando os cursos de curta duração, por exemplo.
O pesquisador Oscar Hipólito, ex-diretor do Instituto de Física USP-São Carlos, diz que a queda no número de concluintes ocorre principalmente devido a problema de gestão das universidades. E cita como exemplo o sistema de créditos, no qual o próprio aluno monta sua carga horária de aulas. "Do mesmo modo que dá mais liberdade para o aluno, o que pode ajudá-lo, muitas universidades deixam o estudante solto, e ele acaba se perdendo."

Gestões Lula e FHC
O Ministério da Educação do governo Lula culpou a gestão FHC (1995-2002) pela perda de eficiência nas universidades federais do país. Os tucanos rebateram a crítica.
Para o atual secretário de Ensino Superior, Ronaldo Mota, a queda de concluintes entre 2004 e 2006 é reflexo de "políticas adotadas" na década de 2000. Mota cita as verbas de custeio, que, de acordo com ele, eram, em 2003, cerca de um terço das deste ano.
"O número de concluintes de agora reflete políticas adotadas no período anterior. Com falta de custeio e carência de recursos humanos, as universidades se sentiram pouco estimuladas a repensarem seus modelos acadêmicos e a combaterem a evasão", disse.
Ministro da Educação na gestão FHC, Paulo Renato Souza negou que as universidades tenham sofrido problemas financeiros em seu período.
De acordo com o ex-ministro, a análise apresentada pelo governo Lula desconsidera convênios feitos em 2000 que renderam R$ 500 milhões (valor da época) em equipamentos para as instituições.
"Tanto não houve problema de recursos que o número de alunos nas universidades federais cresceu na minha gestão", afirmou. Segundo dados do MEC, entre os anos de 1995 e de 2002, o número de vagas nesse sistema cresceu 46,43%.
De acordo com o ex-ministro, atualmente deputado federal pelo PSDB-SP, o número de concluintes caiu nas universidades federais "porque não está havendo cobrança do governo" em cima das universidades públicas.

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