15 janeiro 2008

MEDIOCRIDADE E MEDO


BENJAMIN STEINBRUCH

Na economia, quando se tem medo, atua-se na defensiva, perde-se o atrevimento e compromete-se o futuro

Foi péssima a decisão tomada pelo governo no início deste mês de aumentar o IOF (Imposto sobre Operações Financeiras) e a CSLL (Contribuição Social sobre o Lucro Líquido) dos bancos para compensar uma parte das perdas sofridas com o fim da CPMF. Melhor seria ter encarado o revés com firme convicção de cortar gastos supérfluos e aumentar a eficiência da arrecadação para recompor o superávit primário do Orçamento após a perda de R$ 40 bilhões.
Apesar disso, vale comentar o efeito colateral importante desse ato, que é a contenção do aumento do consumo. Ao elevar a alíquota do IOF em 0,38% e dobrar a taxação desse imposto nos empréstimos para pessoas físicas, o governo promoveu aumento considerável nos custos do crédito direto ao consumidor.
A elevação desses custos terá efeitos óbvios na contenção da demanda. Ficarão mais caras praticamente todas as linhas de crédito, com impacto direto nas vendas de automóveis, por exemplo, que cresciam em ritmo acelerado no fim do ano passado, e nas linhas de crédito consignado, outro pilar da recuperação da atividade econômica.
Simulações feitas pela Quest Investimentos (Folha, 6/1/08, pág. B3) indicam que a alta do IOF encarece o crédito na mesma proporção de uma elevação da taxa básica de juros (Selic) em 0,95 ponto percentual no caso dos veículos e de 2,03 pontos no do consignado.
Está claro, portanto, que o pacotinho tributário do pós-Réveillon abre espaço para que o Banco Central adote uma política monetária menos conservadora. Antes do pacotinho, o mercado esperava que, na próxima reunião do dia 23, o BC manteria os juros em 11,25% ao ano ou até promoveria um aumento da taxa básica. Agora, naturalmente, se prevalecer o bom senso, poderá haver uma redução da taxa. Embora seja lógica, é difícil acreditar que o BC tomará essa decisão, em razão do comportamento pregresso da autoridade monetária.
Infelizmente, grassa nas mentes ortodoxas a avaliação de que a economia sofre de excesso de demanda, que estaria provocando a elevação da inflação. A demanda, obviamente, está em alta, mas analistas menos conservadores observam que o risco inflacionário, no médio prazo, é muito pequeno por duas razões. Primeiro porque os investimentos crescem a uma taxa anual de 10%, o dobro da variação do PIB, indicando que a economia vai aumentar a oferta de produtos no futuro próximo em nível superior ao do crescimento da demanda. Segundo porque a bolha inflacionária do fim de ano decorreu de pressões de preços de alguns alimentos que já estão praticamente dissolvidas.
O grande risco que corre o país neste momento advém do medo.
Se prevalecer outra vez o comportamento medroso da autoridade monetária e houver uma ilógica elevação dos juros, o crescimento ressurgido em 2007 poderá ser abortado pela overdose de medicamentos. Já vimos esse filme no início de 2005.
Vencer a globalização do medo, numa época de inúmeras ações criminosas e atentados terroristas, é um dos desafios do momento. Na economia, tanto quanto em outras áreas, quando se tem medo, atua-se na defensiva, perde-se o atrevimento e compromete-se o futuro.
Não é assim que agem países emergentes como China, Índia e Rússia. O escritor canadense Joseph Murphy diz que o medo normal é bom, mas o anormal é destrutivo, porque acarreta obsessões, complexos, pânico e terror. Temer e vigiar a inflação, principalmente em um país de passado hiperinflacionário, é apropriado e construtivo.
Mas aterrorizar-se com ela só pode levar à mediocridade e ao fracasso.

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