ELIANE CANTANHÊDE
O presidente da Venezuela, Hugo Chávez, perdeu o plebiscito que lhe daria mandatos sucessivos e perdeu o seu grande lance internacional, que seria a libertação de três reféns emblemáticos das Farc na Colômbia.
Chávez embolou a campanha do plebiscito com o vai-não-vai da intermediação entre as Farc e o governo da Colômbia. Primeiro, bateu de frente e trocou impropérios com Uribe ao passar por cima do presidente e ir direto aos comandantes militares. Uma ousadia que nenhum presidente poderia cometer, muito menos um que tem origem na caserna, como Chávez.
Passado o plebiscito, ele tentou se recuperar da derrota voltando ao palanque, ou à cena, não mais apenas como intermediário entre Uribe e Farc, mas como ator principal de um espetáculo cheio de personagens estrangeiros, inclusive o assessor internacional de Lula, Marco Aurélio Garcia.
O Brasil, o governo e Garcia não tinham alternativa senão a de atender ao chamado, que, ademais, tem um forte apelo humanitário. Mas ninguém chegou a acreditar que tudo aquilo daria realmente certo naquele momento, por causa da contaminação política.
O que fica, por hora, é uma dúvida atroz: por que, depois de tantos anos do polêmico "Plan Colômbia" - que, aliás, o Brasil rejeitou com FHC e com Lula -, o país ainda vive em tal estado de guerra? Com todos os bilhões de dólares, armamentos e soldados americanos, como ainda há 3.000 seqüestros, cerca de 45 deles políticos?
Pode-se falar tudo das polícias de São Paulo e do Rio, mas lá os criminosos roubam, matam, estupram, porém não seqüestram (pelo menos como antes). Em vez de EUA, Chávez e observadores internacionais, Uribe deveria chamar as equipes anti-seqüestro dos dois Estados. Ficaria mais barato. E o Brasil não reclamaria tanto da bota do Tio Sam em solo sul-americano.
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