Suzana Herculano-Houzel
Janeiro é o mês de férias por excelência, sobretudo para quem tem crianças em idade escolar. Para outros, no entanto, é apenas mais um mês de trabalho - ou, pior, o mês para fazer previsões nada realistas para os 11 meses que se seguem. Se você está em dúvida sobre o que fazer do seu mês de janeiro, eis a dica da neurocientista de plantão: tire férias.
Para quem já não lembra o que a palavra significa, férias são períodos de descanso de uma atividade constante - ou seja, épocas do ano em que se tem licença oficial para ficar longe de todo o estresse associado ao trabalho. Como diz Robert Sapolsky, especialista em estresse, o cérebro humano é tão capaz que consegue enxergar problemas onde ainda não há nenhum. Essa preocupação com o futuro, ou ansiedade, é fonte de úlceras quando se torna crônica - e muitos de nós somos pagos para fazer exatamente isso no trabalho: pensar hoje em tudo o que pode dar errado amanhã.
Para que as férias funcionem como um período anual de estresse mínimo, um descanso verdadeiro para a capacidade quase inesgotável do cérebro de encontrar razões para preocupação, é preciso respeitar um código de etiqueta básico com você mesmo.
Se estresse é por definição tudo o que se tenta controlar com alguma dificuldade, ou toda atividade cuja probabilidade de erro é preocupante para o cérebro, planeje suas férias com o mínimo de chance para chateação: nada de horários a cumprir, listas de monumentos a conferir, traslados múltiplos e grupos grandes, incontroláveis. Só goza das férias antiestressantes quem consegue de fato não criar preocupações e afazeres - e sobretudo não levar o trabalho consigo.
Pense, inclusive, em dar um descanso ao seu telefone celular - e escolha a dedo a quem dar o telefone do seu hotel para emergências. Caso você consiga realmente tirar férias de verdade, elas são a oportunidade ideal para o cérebro se recuperar de períodos de estresse crônico usando de uma tacada só todas as estratégias conhecidas pela neurociência: mudar de assunto, divertir-se e achar graça na vida, dormir à vontade, fazer atividades físicas (nem que seja pegar marola e jogar frescobol na praia), afastar-se de confrontos, pessoas negativas, chateações variadas e cobranças, aproximar-se de pessoas queridas, interessantes e de bem com a vida, reduzir ao mínimo a lista de "coisas a fazer" do cérebro e curtir algo raro: a possibilidade de viver no presente. Se você pode... aproveite!
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Então, boas férias para todos nós!
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