14 janeiro 2008

ACIONISTA CONTROLADOR DA OI FOI O MAIOR FINANCIADOR DO PT EM 2006

Folha de S. Paulo

Andrade Gutierrez doou R$ 6,4 milhões para o partido, o dobro do 2º colocado

Um dos principais acionistas privados da Oi e maior interessado na compra da Brasil Telecom, o grupo Andrade Gutierrez foi também o maior financiador do PT em 2006, ano com o último dado disponível.
A construtora mineira doou R$ 6,4 milhões para o partido - dinheiro usado sobretudo para financiar a reeleição do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, além de outras campanhas petistas. Em um distante segundo lugar, de acordo com a prestação de contas feita ao TSE (Tribunal Superior Eleitoral), veio o Santander, com contribuição de R$ 3,23 milhões.
Além da doação ao partido, a Andrade Gutierrez doou R$ 1,52 milhão diretamente para a campanha de Lula em 2006.
Para que a Oi possa comprar a BrT, é preciso um decreto presidencial mudando a legislação. O governo apóia a venda da BrT. Na semana passada, os controladores da Oi acertaram o preço de compra da outra tele por R$ 4,8 bilhões. Os grandes mentores do projeto e principais negociadores foram os empresários Sérgio Andrade, da Andrade Gutierrez, e Carlos Jereissati, do grupo La Fonte.
Andrade teve como avalistas da operação o próprio presidente Lula e a ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff. Andrade é um empresário bem próximo de Lula. Os dois se conhecem desde a época em que Lula perdeu a eleição para Fernando Collor de Mello (1989), quando Andrade lhe deu apoio.
Procurada na noite de sexta, a assessoria de imprensa da Andrade Gutierrez afirmou que a empresa não iria se pronunciar.
O tesoureiro do PT, Paulo Ferreira, disse não haver nada de anormal no grande volume de doações da Andrade Gutierrez. "Na eleição de 2006, houve, por parte de várias empresas, uma política de centralizar as doações para o PT. Houve um contato com a empresa e as doações foram feitas."
Na campanha de 2006, a maior doação da Andrade Gutierrez foi para o PT. O PSDB recebeu R$ 3,1 milhões, menos da metade da contribuição dada aos petistas. A construtora, contudo, doou R$ 1,5 milhão para o candidato tucano à Presidência, Geraldo Alckmin, praticamente a mesma quantia destinada a Lula.
Em anos eleitorais, várias empresas preferem usar uma brecha jurídica conhecida como doação oculta. Em vez de darem dinheiro para as campanhas eleitorais, elas doam recursos para o caixa dos partidos, que então repassam o montante a seus candidatos.
São duas as vantagens para a empresa. A primeira e mais óbvia é evitar que a doação fique carimbada para determinada campanha, o que pode se tornar um problema futuro.
A segunda e mais sutil é burlar o limite legal de doações eleitorais de 2% do faturamento bruto da empresa doadora no ano anterior ao pleito. Por isso é impossível determinar quanto cada campanha eleitoral petista recebeu da doação feita via partido.
Na soma do que foi dado ao PT e a Lula, a Andrade Gutierrez contribuiu com R$ 7,92 milhões. A vice-líder, a Vale, doou, por meio de suas subsidiárias, R$ 6,65 milhões. Em terceiro lugar, ficou a construtora Camargo Corrêa, com R$ 5,5 milhões. O PT diz que as doações são corretas e registradas na Justiça Eleitoral. E admite que a maior parte das contribuições recebidas em 2006 foi empregada na campanha de reeleição de Lula.
Nos bastidores, o argumento apresentado pelo Planalto para aceitar mudar o decreto seria criar uma grande empresa nacional para competir com gigantes mundiais do setor, como a mexicana Telmex -que no Brasil controla a Claro- e a espanhola Telefónica. Lula teria recebido estudos mostrando que os preços praticados pelas multinacionais, principalmente a Telmex, estão muito acima das tarifas do Brasil.
Maior adversário do governo no setor de telefonia e ex-controlador da BrT, o banqueiro Daniel Dantas (Opportunity) tem uma versão diferente. Num processo nos EUA, movido pelo Citibank, advogados do Opportunity acusaram a Oi de ter corrompido integrantes do PT no governo para que a lei fosse alterada para permitir a compra da BrT.
Por isso, a Oi teria investido (mais de R$ 10 milhões) na Gamecorp, do filho do presidente Lula Fábio Luiz Lula da Silva, o Lulinha -segundo os advogados do Opportunity.

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