Chávez volta à carga, provoca o governo da Colômbia e torna ainda mais incerta hipótese de soltura de outros reféns
A libertação de Clara Rojas e Consuelo González tornara-se imperiosa para as Farc depois que se descobriu a farsa do menino Emmanuel - o filho de Rojas que a guerrilha colombiana prometera libertar, mas que não estava no cativeiro. Era a única maneira de amenizar um pouco a desmoralização dos seqüestradores flagrados na mentira, que respingou no patrocinador político da operação, o presidente Hugo Chávez.O desfecho dessa novela estabanada foi de extrema felicidade para as reféns libertadas, que passaram mais de cinco anos sob o jugo da guerrilha na selva, vítimas de inominável violência. "Foi uma imagem desoladora a despedida dos companheiros de seqüestro", afirmou Rojas, num lembrete de que as Farc ainda mantêm em cativeiro, sob as mesmas condições cruéis, mais de 700 inocentes.
Mas a hipótese de que o episódio de quinta seja o início de um processo ambicioso, que dê esperança a essas centenas de reféns e seus familiares, ainda é incerta. Chávez é o primeiro a sabotá-la com seus hábitos verbais de fanfarrão e provocador.
O presidente da Venezuela defendeu ontem que as Farc sejam reconhecidas como um "exército" que tem "um projeto político, um projeto bolivariano que aqui é respeitado". Pediu a retirada da guerrilha da lista de organizações terroristas da União Européia. Chávez, dessa forma, esclareceu o sentido das palavras de seu ministro do Interior, que em solo colombiano, no ato da entrega das reféns, disse a um guerrilheiro: "Estamos muito atentos à sua luta; mantenham esse esforço e contem conosco".
Trata-se de mais um insulto do chavismo à soberania colombiana. O maior trunfo do governo Álvaro Uribe foi ter rompido com a diretriz acomodatícia de seu antecessor, Andrés Pastrana. Uribe foi eleito, reeleito e mantém popularidade alta porque encara as Farc como elas são: uma organização criminosa, que há muito abandonou a pretensão de converter a Colômbia numa ditadura socialista e aderiu ao narcotráfico e à indústria do seqüestro como modo de vida.
A atitude dos bandoleiros que Chávez chama de bolivarianos é cínica. O menino Emmanuel não estava com a guerrilha porque o governo Uribe o "seqüestrou", disseram as Farc, como se o refém lhes pertencesse. As pessoas arrancadas de seus lares e mantidas cativas por anos a fio, nas piores condições de subsistência, seriam objeto, nas palavras do grupo responsável pelas atrocidades, de uma negociação "humanitária".
Uma solução que dê liberdade aos reféns das Farc - a todos eles, e não só às poucas dezenas de seqüestrados ilustres, como a franco-colombiana Ingrid Betancourt- continua sendo prioritária na Colômbia. Mas essas negociações só podem ser conduzidas dentro dos marcos estabelecidos pela única fonte de poder legítimo naquele país, o seu governo eleito.
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Sinceramente não sei qual é pior: o presidente Hugo Chávez ou as FARC.
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