07 janeiro 2008

PRA FRENTE, BRASIL

CARLOS HEITOR CONY

Impossível não comentar o primeiro escândalo do ano. Não tenho condições para analisar o pacote baixado na última quarta-feira, aumentando impostos para cobrir a arrecadação da CPMF, que não foi prorrogada. Nada entendo de economia e de tributação, dou de barato que as medidas tomadas são necessárias e em proporção adequada.
Contudo não preciso entender de números e verbas para lamentar a flagrante quebra de credibilidade do presidente da República. No mesmo momento em que o governo enfrentou sua pior derrota política, sem conseguir a prorrogação de um imposto que, por natureza, era provisório, Lula garantiu que não haveria aumento de impostos e que não baixaria pacotes, recurso que atribuiu a regimes totalitários.
Três semanas depois, baixou pacote e aumentou tributos. A desculpa esfarrapada que seu ministro da Fazenda arranjou foi cínica. A promessa só valia para os dias que faltavam para 2007 terminar. Ano novo, vida e impostos novos e a velha mania de baixar pacotes.
A ênfase com que o presidente negou as novas medidas foi a mesma que garantiu sua ignorância dos recentes escândalos, principalmente do mensalão. Ele não sabia de nada. Nem ficou sabendo, apesar da gritaria nacional, que ainda não acabou.
Outra afirmação habitual do presidente é que ele não será candidato a um possível terceiro mandato. Que não é hora para emendas constitucionais. Que não moverá um dedo para ficar no poder. Nem que o mundo caia sobre ele.
Poderá alegar que a afirmação foi feita para o ano velho, para uma realidade extinta. Estamos em 2008, as exigências da continuidade administrativa superam os escrúpulos de uma Constituição feita no século passado, em 1988. Para a frente é que o Brasil deve andar.

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