08 janeiro 2008

DE VOLTA À SALA DE AULA

RUY CASTRO

O historiador e diplomata Alberto da Costa e Silva deu, como sempre, uma ótima entrevista, esta para a repórter Mariana Filgueiras, no "Jornal do Brasil", em que fala de quatro atividades essenciais que praticávamos na sala de aula e que, pelo visto, a escola brasileira abandonou.
Uma, a leitura em voz alta. Um aluno lia alto e os outros o acompanhavam no mesmo texto, em silêncio. Depois se revezavam. "Quem lê em voz alta toma gosto pela leitura", diz ele. "Ler alto ensina a virgular, ensina as respirações da fala." Outra, o ditado. "Ele educa o ouvido", observa Da Costa e Silva, além de exigir do aluno o conhecimento da palavra e da estrutura da frase, a destreza e a clareza caligráficas. Quantas crianças no Brasil de hoje serão capazes de tomar um ditado sem cometer grossas batatadas com seus garranchos?
Uma terceira, a cópia. O simples ato de copiar um texto estimula a concentração para a grafia, os acentos e a pontuação. Não que os garotos não estejam entregando trabalhos baseados em textos que copiam liberalmente da internet -mas a cópia na sala de aula é outra coisa. Ali é que, diante do professor, a onça bebe água. E, por fim, a redação -ou composição, como se chamava, baseada na observação de objetos. "A composição estimula os sentidos. A criança aprende a pôr no papel, com palavras, o que vê", diz Alberto. "A descrição de quadros de natureza-morta, por exemplo, é essencial." Ou a visita ao zoológico, diria eu, ou à fábrica de sorvete.
Alguém dirá que o próprio conceito de sala de aula mudou e que o importante agora é enchê-la de computadores. Mas a mecânica elementar do conhecimento em nossos meninos terá se sofisticado a esse ponto? Por enquanto, o que estamos produzindo são crianças que marcam xis no chute em testes de múltipla escolha.

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