ELIANE CANTANHÊDE
Lembrança do ministro Celso Amorim (Relações Exteriores), velho morador de Brasília: há 30 anos, não havia macaquinhos nem aves exóticas no bairro do Lago Sul, onde hoje esse animais fazem a festa de seus netos. Lembrança de qualquer morador antigo de Brasília: todo janeiro, chovia de manhã, de tarde, de noite. Neste mês, a chuva só chegou mesmo na quarta-feira.
Algo está mudando no mundo, no Brasil, no centro do país, e convém ampliar as discussões sobre a febre amarela, focadas só na Saúde, e sobre a ameaça de "apagão", focadas só em Minas e Energia. Vale polemizar: e quanto ao desmatamento?
Para Marina Silva (Meio Ambiente), é claro que a migração de animais silvestres para áreas urbanas e o desequilíbrio nas precipitações de chuva são resultado de uma história de agressão ao ambiente.
Muita coisa já melhorou e vem melhorando, a partir da consciência das pessoas, de entidades e dos governos, mas persiste "um tensionamento" na sociedade entre a preservação e a competitividade econômica imediatista. Inclusive no próprio governo: "O governo não é diferente daquilo que acontece dentro da sociedade, é resultado", diz Marina Silva.
Sua advertência: "As pessoas que só pensam no lucro aqui e agora não estão preocupadas com o que vai acontecer daqui a 20, 30 ou 100 anos. Mas, se destruírem a Amazônia, por exemplo, teremos escassez de água no Sul e no Sudeste". E alerta também para o desmatamento e a ampliação desordenada das cidades e seus efeitos no ecossistema.
Não há certezas, mas talvez esteja aí uma das explicações para a volta do Aedes aegypti, o recrudescimento da febre amarela e a falta de água nas hidrelétricas, que atiça o fantasma do apagão. Os erros de ontem geraram as crises de hoje. Os de hoje produzem as crises de amanhã. E eles, os erros, e elas, as crises, serão cada vez piores.
Nenhum comentário:
Postar um comentário