26 março 2008

A VOCAÇÃO DA DERROTA


Eliane Cantanhêde

A gente não pode nem dar um pulo ali em Washington porque, quando volta, encontra tudo de pernas para o ar na politicagem nacional e os tucanos trocando bofetadas em praça pública.

José Serra era o candidato natural do PSDB à Presidência e estava em primeiro lugar nas pesquisas em 2006, mas quem levou a candidatura foi Geraldo Alckmin. Assim como Alckmin não ajudou Serra na eleição de 2002, Serra também lavou as mãos para Alckmin em 2006. Todos os tucanos perderam juntos tanto em 2002 quanto em 2006. Mas não aprenderam nada.

Agora, Alckmin é o candidato natural do PSDB à Prefeitura de São Paulo e está na dianteira das pesquisas, mas o partido não consegue responder em consenso se é melhor ir com um nome próprio para a disputa, ou garantir uma aliança com o DEM para a eleição que realmente interessa: a presidencial, em 2010.

No andar da carruagem, Alckmin e o atual prefeito, Gilberto Kassab, do DEM, vão disputar um contra o outro no primeiro turno, enquanto a petista Marta Suplicy corre lépida e fagueira em faixa própria - e com o PT unido.

Serra anda no inferno astral, com o PSDB rachado dentro de São Paulo e acossado pela divisão nacional, em que parecem todos, mineiros à frente, contra São Paulo. Leia-se: contra o meio São Paulo serrista.

Ou seja, Serra enfrenta Alckmin dentro de casa e, fora, dá de cara com Aécio Neves, em aliança com o PT em Minas e com Tasso Jereissati, Sérgio Guerra e parte dos governadores - além do próprio Alckmin, claro - no resto do país.

Aliás, registre-se a crescente desenvoltura de Aécio e a aparente submersão de Serra no cenário nacional. Um dá entrevistas, viaja, desfila com petistas e até namora misses. O outro parece imobilizado nessa teia Alckmin-Kassab.

Se não perderem a eleição na principal capital, o que passa a ser possível, os tucanos já entrarão em 2009 e 2010 cheios de cicatrizes e sequelas internas que só se aprofundam desde 2002.

Enquanto isso, Lula tem a popularidade que tem, a máquina do governo, o Bolsa Família, o PAC. Pode ir de Dilma Rousseff, pode ir como uma porta e mesmo assim será forte, muito forte, na sua sucessão.

Barack Obama e Hillary Clinton deveriam vir até o Brasil para observar os tucanos e fazer o oposto do que eles fazem. Ninguém como eles é tão craque em perder eleições, inclusive eleições tidas como ganhas.

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