Valor desembolsado pela indiana, produtora do carro mais barato do mundo, será 44% do pago pela Ford nas marcas
Negócio muda setor, que deve ter crescimento de produção nos próximos cinco anos liderado por Índia e demais emergentes
A Tata Motors anunciou ontem a aquisição da Jaguar e da Land Rover, marcas da Ford, por US$ 2,3 bilhões, uma transação que dá à montadora indiana uma linha que vai do carro mais barato a alguns dos mais caros do mundo.
Depois que o negócio for efetivado, a Ford vai dar à Tata US$ 600 milhões destinados aos fundos de pensão da Jaguar e da Land Rover. Logo, o negócio renderá à montadora americana US$ 1,7 bilhão líquido. A Ford continuará a fornecer motores e componentes e oferecerá financiamento às concessionárias por até um ano.
No Brasil, o Land Rover foi o carro importado mais vendido no ano passado, com 3.245 veículos, desbancando os tradicionais BMW e Mercedes-Benz. Para a Tata, que planeja lançar o ultrabarato Nano, ou "Carro do Povo", por US$ 2.500, acrescentar a lucrativa marca Land Rover gera vantagem sobre a rival indiana Mahindra & Mahindra, que também estava interessada em um acordo com a Ford.
A montadora norte-americana se livra da deficitária Jaguar e recebe injeção de caixa em momento de desaceleração no mercado dos EUA e em meio a esforços para se recuperar de prejuízos de mais de US$ 15 bilhões nos dois últimos anos.
O preço de venda é 44% do que a Ford pagou pelas duas marcas. A Jaguar foi adquirida por US$ 2,5 bilhões em 1989, e a Land Rover, em 2000, por US$ 2,75 bilhões.
O acordo também destaca a mudança no equilíbrio de poder no setor automobilístico mundial, no qual a Índia e os demais mercados emergentes devem responder por quase todo o crescimento de produção nos próximos cinco anos. Nenhuma das montadoras européias estabelecidas, como BMW ou Daimler, fez ofertas por Jaguar ou Land Rover.
Elas enfrentam um novo concorrente, personificado por Ratan Tata, o presidente do conselho do grupo Tata. A Tata Motors, que ele comanda, é a terceira maior montadora indiana de automóveis e faz parte do conglomerado amplamente diversificado que a família Tata criou ao começar a fabricar locomotivas, depois da Segunda Guerra Mundial.
A Ford está vendendo a Jaguar e a Land Rover a fim de concentrar seus esforços em reverter suas operações deficitárias na América do Norte. A empresa diz que está a caminho de sair do vermelho em 2009, ainda que a reestruturação tenha sido complicada pelo risco de recessão na economia dos EUA e pelo sucesso limitado da empresa em convencer os operários sindicalizados de altos salários a aceitarem ofertas de indenização que permitam sua demissão, segundo analistas.
"Isso certamente lhes propiciaria [à Ford] algum caixa", disse Eric Merkle, analista da IRN. "Também deteria os prejuízos [causados pela Jaguar] e permitiria que eles concentrassem recursos." Com a transação, a Ford eliminará seu Premier Automotive Group, cuja única marca restante é a Volvo. Os analistas esperam que a Ford termine por promover uma cisão da montadora sueca, cujo foco é a fabricação de automóveis de alta segurança, mas apenas depois que esta sair do vermelho.
Os analistas haviam mostrado preocupação quanto ao financiamento da aquisição pela Tata e ao encaixe entre as marcas de luxo e as divisões de ônibus, caminhões e automóveis - a última em preparativos para comercializar o Nano, o carro mais barato do mundo.
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