11 março 2008

FARSA SINDICAL

FERNANDO DE BARROS E SILVA

"Não estou à venda." A frase aparece quatro vezes na boca de Paulinho, o presidente da Força Sindical, durante uma entrevista à Folha em 2004. O então candidato à prefeitura tratava de insistir que nem Serra nem Marta conseguiriam comprar seu apoio.
Na mesma entrevista, Paulo Pereira da Silva, eleito deputado dois anos depois, repetia outras três vezes: "Deputado eu não vou ser. Não saí [a prefeito] para ser candidato a deputado". Com a licença de Caetano Veloso: como pode querer que o político vá viver sem mentir?
"Não estou à venda." Freud (não o "aloprado" de Lula, o outro) talvez explique a repetição obsessiva da frase. O fato é que Paulinho terminou aquela campanha municipal nos braços de Serra, o eleito.
Dois anos antes, vice de Ciro Gomes na disputa presidencial, o sindicalista era adversário mortal do tucano e havia apoiado Lula no segundo turno. Em 98, estava engajado na coordenação da campanha de Fernando Henrique à reeleição.
Essa tem sido a regra: Paulinho não está à venda, mas sempre acaba ao lado dos vitoriosos, não importa se tucano, petista ou tucano de novo. Ele não tem restrições partidárias, ideologia, idéias ou ideais; tem interesses. Seu negócio é o Estado.
"Sindicalismo de resultados" é um slogan propagandístico que não deixa de exprimir o que é a Força Sindical. Seu segredo reside na associação da velha cultura pelega e clientelista com técnicas de aliciamento e entretenimento importadas do showbizz. Com uma mão, se beneficia de convênios "republicanos" com o Estado; com a outra, distribui brindes às massas.
A central presidida por Paulinho mistura política retrógrada com a negação da política.
Este pequeno Lula paraguaio agora anuncia entre palavrões que vai entupir o Judiciário de ações contra jornalistas da Folha. Ameaça imitar os fiéis seguidores de Edir Macedo e nem sequer disfarça que pretende recorrer a chicanas com o intuito de intimidar a imprensa. Pobre deputado, pensa que os outros estão à venda.

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