05 março 2008

AS GALINHAS INFORMÁTICAS

JANIO DE FREITAS

Não está excluída a hipótese de que a conclusão das investigações do roubo da Petrobras seja temporária

Entre aqueles que de fato fazem a Petrobras, e não estão lá por negócios políticos ou para negócios financeiros, pessoas de relevo não subscrevem a conclusão oficial de que computadores e componentes tenham sido levados em roubo comum, por ladrões de galinhas que substituíram as penosas pela informática petroleira.
Não está excluída a hipótese de que a conclusão das investigações venha a mostrar-se temporária. Mas, por ora, lembra um precedente de igual fragilidade. Foi o pretenso achado dos fuzis roubados em assalto a um quartel do Exército no Rio. A descoberta das armas não teve explicação, só alegação; deu-se sem problemas e sem prisão dos assaltantes e dos depositários; e entregou ao quartel armas que saíram bem conservadas, por serem da Casa de Guarda, e chegaram com ferrugem e ares de longo abandono, imprestáveis.
As tais "razões de Estado" prestam-se a muito conveniências. E não discriminam entre armas, petróleo, computadores, gravações de presidente negociando privatização, projetos nucleares ditos paralelos, negócios preestabelecidos para compras militares, e muito, muito mais. Onde faltarem razões para convencimento, cabem as razões de Estado.
O ministro da Justiça, Tarso Genro, deu boa ajuda para entender-se a conclusão sobre o roubo em contêineres da Petrobras. Passados alguns dias da divulgação do fato, afirmou não se tratar de interesses empresariais, espionagem privada, mas de espionagem com motivação geopolítica, isto é, de outro país. Afirmação clara e direta, sem hipótese ou ressalva alguma. Agora, na véspera de divulgar-se a conclusão estabelecida, Tarso Genro quis fazer, com direito a TV, nova afirmação: "[Tudo relacionado ao roubo] é uma questão de Estado; não quer dizer que seja espionagem industrial ou outra, quer dizer que é do interesse do Estado, é uma questão de Estado".
Quer dizer mais do que isso. Por exemplo, que os fatos reais podem ficar no conhecimento de apenas um punhado de pessoas, e entre elas é decidida a cara que a eles darão para efeito geral.
A explicação para os roubos está simplória demais. Contêineres da Petrobras têm feito os mesmos percursos e as mesmas paradas, mas os arrombamentos dos tais ladrões comuns deram-se onde havia equipamento da estatal. Também por acaso, quando o equipamento continha informações valiosas sobre novas pesquisas em área de promessas gigantescas. Isso é que é "acaso feliz".

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