08 março 2008

A CAMPANHA ELEITORAL JÁ COMEÇOU

MARCO ANTONIO VILLA

Todos os atos do governo federal estão marcados pela obsessão do poder; 2010 terá a campanha mais longa e violenta da história do país

O presidente Lula só pensa naquilo: a eleição de 2010. Todos os atos do governo federal estão marcados pela obsessão do poder. Como uma nova reeleição está descartada -a mudança constitucional teria de ser feita em 2009, já com várias candidaturas lançadas-, o governo movimenta suas peças em quatro direções principais: a primeira é o lançamento de duas candidaturas da base de apoio, uma do PT e outra dos partidos menores. A segunda é a tentativa de acabar com a reeleição -o que facilitaria a candidatura de Lula em 2014. A terceira é acabar com a reeleição, porém ampliando o mandato presidencial para cinco anos. A última é estabelecer "cabeças-de-ponte" na oposição, com o pretexto de manter a governabilidade.
O primeiro movimento já começou.
Ciro Gomes será o candidato dos pequenos partidos da base. Resta o PT, até o final de 2009, conseguir ter um candidato com viabilidade eleitoral, o que não será nada fácil. Durante quase 30 anos, o partido foi refém de Lula -e não o contrário. Não tem até hoje nenhum nome que consiga caminhar eleitoralmente com as próprias pernas. O candidato dependerá necessariamente do apoio de Lula. Mas aí mora o perigo: se o governo tivesse um só candidato, não haveria problema. Contudo, terá dois. Por isso que não se aplica o exemplo de Pernambuco, em 2006, quando os candidatos do PT e PSB eram oposição. Em 2010, a máquina governamental será usada para privilegiar o candidato do PT.
O segundo movimento também já começou. Lula diversas vezes manifestou publicamente que é contrário à reeleição. Claro que estas manifestações se intensificaram após a sua reeleição, em 2006. Insinuou que tentaria um grande acordo nacional sobre a questão alterando a Constituição e impedindo a reeleição a partir de 2010. Os argumentos usados são frágeis, pois se o problema é a utilização da máquina governamental na eleição, há inúmeros casos de prefeitos e governadores que destruíram as finanças públicas para eleger o sucessor. Na verdade, Lula sabe a importância de estar no governo no momento da eleição: seria muito mais difícil vencer em 2014 um presidente que estivesse lutando pela reeleição.
Daí transformar a demanda pessoal em causa republicana.
O simples fim da reeleição tem de ser apresentado como uma defesa do interesse público. Extingui-la simplesmente não seria tático, segundo o governo. Daí a proposta -é o terceiro movimento- de ampliar o mandato para cinco anos, tal qual o disposto na Constituição de 1946. A não-coincidência das eleições presidenciais com a renovação do Congresso Nacional, como em 1955 e 1960, foi uma das razões que levaram à crise de 1964.
Mantendo-se a duração dos mandatos de deputados federais e de senadores como está, só haverá coincidência a cada 20 anos. É uma proposta oportunista e que traz, no seu interior, uma crise política latente.
O quarto movimento é semear a cizânia na oposição. É inegável que o presidente Lula faz isso com rara competência -e não é de hoje. O governador de Minas Gerais é o peão que sistematicamente é movido pelo governo no xadrez sucessório. Não será candidato, mas, pela sua ação, acaba desgastando os outros possíveis presidenciáveis da oposição. Todos os programas governamentais estarão focados na reeleição.
Além do Bolsa Família, que tem um enorme efeito eleitoral, o PAC irá priorizar investimentos que tenham retorno político. A tríade foi completada com o Territórios da Cidadania. Segundo o site do programa, serão beneficiadas mais de 5 milhões de famílias. Metade delas já tem o Bolsa Família e receberia mais uma ajuda assistencialista. Se, como é sabido, os mecanismos de avaliação do Bolsa Família -que é um programa mais antigo- são falhos, não é exagero imaginar que o governo terá dificuldades para poder acompanhar os resultados do novo programa.
Mas, parece, esse nem é um problema para o governo. O que importa é o resultado eleitoral. Discutir economia internacional, por exemplo, é bobagem. É melhor imputar a Deus, como fez Lula, os bons resultados obtidos. Dessa forma, teremos até 2010 um sem-número de cerimônias como a do lançamento do Territórios da Cidadania, que se repetiu em Brasília e outras cidades. Só nos dois primeiros meses de 2008 foram duas dúzias de discursos -recordando que na primeira quinzena de janeiro Lula não discursou, e em fevereiro tivemos o Carnaval. Mas uma coisa é certa: a campanha de 2010 será a mais longa e violenta da história da República. O que menos será discutido são as propostas dos candidatos. É o cenário perfeito para um salvador da pátria.

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