Folha de S. Paulo
Na sucessão paulistana, alianças políticas e identidades partidárias se esfacelam em meio à disputa entre caciques
O absurdo qüiproquó em que se enreda a política paulistana, até que tem certa lógica a atitude do tucano Alexandre Schneider, secretário municipal da Educação. A exemplo de outros quadros do PSDB, Schneider ocupa um cargo vital na administração de Gilberto Kassab, do DEM. As eleições para a prefeitura se aproximam.
Como deixar de apoiar o atual prefeito, com quem tantos tucanos colaboram? Ao mesmo tempo, como apoiar o prefeito, se o PSDB lançar outro candidato?
Tudo se encaminha para que Geraldo Alckmin, do PSDB, dispute a prefeitura. Tudo se encaminha para que Gilberto Kassab, do DEM, tente a reeleição. São remotas, no momento, as chances de composição entre os dois.
Em entrevista à Folha, Alexandre Schneider afirmou que não pode "virar as costas para Kassab, que foi leal e é leal com o programa que elegeu José Serra". Mas Schneider pertence ao partido de Alckmin.
Que partido? O dilema se concentra nesse ponto. Há o PSDB de Serra, que empresta sua plumagem à administração Kassab; e o PSDB de Alckmin, que cada vez tem menos pontos em comum com o primeiro.
É natural que, dentro de uma mesma agremiação, rivalidades pessoais se manifestem. Pretensões desse tipo não costumam, porém, levar a uma crise de identidade tão intensa quanto a que se verifica em São Paulo.
Há algo de cômico em tamanha seriedade: o prefeito do DEM estaria cumprindo à risca os programas do PSDB; mas um tucano afirma sua disposição de recuperar para o partido a condução dos destinos paulistanos.
Na verdade, os caciques de um partido supostamente moderno e programático, como o PSDB, giram em falso numa dança tribal. E uma sigla muitas vezes tida como atrasada e fisiológica, o ex-PFL, coloca seu pragmatismo sob a orientação técnica de quadros tucanos. Todos se misturam, e ninguém se entende.
A idéia moderna do que deveria ser uma agremiação política - articulando visões de mundo próprias, a serem implementadas sob o controle de uma militância de base - desaparece na cidade mais desenvolvida do país, por força de um personalismo arcaico de cúpulas.
Enquanto isso, o PT de Marta Suplicy, outra desmoralizada promessa de modernidade organizacional, dá sinais de articular uma aliança com o PMDB quercista, e o partido de Maluf compõe a base de sustentação de Lula no plano federal.
A lógica política, dentro desse quadro, desiste de qualquer linearidade. Espera, inutilmente talvez, os programas que cada candidato venha a apresentar.
Programas? Que programas? Partidos? Que partidos? Oposição? Situação? Quem as distingue? Restará ao eleitor votar em pessoas, apenas? Mas a pergunta se repete: que pessoas? Nem elas mesmas parecem saber o que representam, nem para onde vão.
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