Folha de S. Paulo
O governo federal anunciou a criação, em Campinas, de um Centro de Tecnologia do Bioetanol. Já era tempo. Toda a euforia com o álcool como biocombustível globalizado não havia produzido efeitos concretos para o corolário óbvio: sem investimento em tecnologia, o Brasil pode perder a liderança conquistada. Hoje o álcool de cana nacional é mais eficiente que o de milho americano, mas isso não vai durar para sempre.
O centro surgiu de diagnóstico do Núcleo Interdisciplinar de Planejamento Energético da Unicamp, coordenado pelo físico Rogério Cezar de Cerqueira Leite, membro do Conselho Editorial da Folha. Conclusão: o país se atrasou na ciência básica e aplicada do álcool.
De 10 mil artigos científicos pesquisados, nenhum contava com autores brasileiros. Não se fez muito mais, por aqui, do que adaptar para combustível uma planta destinada a produzir açúcar. O centro, com orçamento anual de R$ 35 milhões iniciais, pretende atrair de 60 a 100 pesquisadores para aperfeiçoar essa cadeia de conhecimento e valor.
O Santo Graal da pesquisa é o aproveitamento da celulose, cuja energia química não conta com tecnologia de escala industrial para conversão em combustível. O Departamento de Energia americano investiu quase 20 vezes mais (US$ 385 milhões) só para tirar do chão seis unidades-piloto de etanol celulósico.
Surgem a toda hora nos EUA empresas de alta tecnologia de olho nesse mercado bilionário. Buscam novos processos, plantas, enzimas e microrganismos para desbancar a cana brasileira. Até novos biocombustíveis estão em pesquisa, como butanol e isobutanol. Segundo o periódico científico "Nature", eles teriam vantagens técnicas sobre o etanol na cadeia industrial hoje baseada em petróleo.
É uma disputa de gigantes, que exige investimentos de vulto. No melhor dos mundos, o centro em Campinas seria só o embrião de uma grande rede de pesquisa.
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