18 abril 2008

PADIM LULA

Kennedy Alencar


Em conversas reservadas, o governador de Minas, Aécio Neves (PSDB), explica por que seria um candidato "pós-Lula", caso viabilize a sua candidatura à Presidência em 2010. Para o tucano, se a economia mantiver um ritmo de crescimento anual na casa dos 5%, Luiz Inácio Lula da Silva vai terminar o mandato superpopular. "Vai virar Padim Lula", disse Aécio.

Ou seja, será inútil para um candidato da oposição atacar ferozmente Lula na campanha eleitoral de 2010. O crescimento da economia e a ampliação inédita na nossa história recente de programas sociais para os mais pobres tendem a "canonizar" Lula em vida. Se o Nordeste já tem o Padim Ciço, o Brasil poderá ganhar o Padim Lula.

Exagero?

Não.

O próprio Lula aposta no fortalecimento da sua liderança nos próximos três anos. Vai patrulhar o Banco Central para tentar evitar que uma política monetária rigorosa em excesso esfrie demais a economia. Na área social, a ordem continua a mesma: ampliar e melhorar os programas para os mais pobres. E tem ainda o PAC (Programa de Aceleração do Crescimento).

Até agora não dá para dizer que o PAC decolou. Mas Lula acredita piamente que o programa decolará nos dois últimos anos de seu mandato.

Sua intenção é manter nos próximos anos o intenso roteiro de viagens que anda fazendo agora por conta do PAC. A fase atual é a do anúncio, do pontapé na bola. A próxima etapa será a de colher os frutos do que plantou, como diz o presidente.

Lula espera deixar o poder com força política maior do que já tem hoje. Essa avaliação do presidente ajuda a entender por que ele não embarca na tese do terceiro mandato seguido. Travaria uma batalha de preço altíssimo que o enfraqueceria politicamente. O petista sonha alto. Sonha com o cenário de um ex-presidente visto como o líder político mais forte do país _mais forte até mesmo do que o seu sucessor. Padim Lula é o nome do jogo. Aécio já entendeu faz tempo.

Prêmio Nobel

A coisa começou com um tucano baiano, da ala serrista, dizendo que fez uma pesquisa e... bomba! Dilma Rousseff cresceu. E a razão, diz o gênio, seria o caso do dossiê com gastos secretos do governo FHC que saiu de dentro do Palácio do Planalto. A ministra da Casa Civil teria passado dos 2% de intenção de voto para 9% devido a esse episódio.

Ora, é óbvio que, a dois anos e meio da eleição, intenção de voto também reflete taxa de conhecimento. Dilma ficou mais conhecido porque Lula a tem levado a tiracolo nas últimas semanas aos eventos do PAC. Era natural que Dilma subisse nas pesquisas, algo que ainda precisa ser confirmado por levantamentos de maior amplitude e confiabilidade.

Não parece inteligente achar que o caso do dossiê ajuda a viabilizar o projeto presidencial de Dilma. É pouco sagaz a avaliação tucana de que o dossiê deu voto à ministra. Pela lógica desse gênio do PSDB, a Casa Civil poderia preparar mais uns quatro dossiês.

Já foi feito um dossiê sobre gastos secretos do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. A ministra deveria agora elaborar um sobre Aécio, outro a respeito de José Serra (PSDB), fazer um de Ciro Gomes (PSB) e também dar uma fuçada na vida de Heloisa Helena (PSOL). Assim, Dilma explodiria nas pesquisas e ganharia no primeiro turno. Não precisaria nem do apoio de Lula.

O risco é aparecer um chato desses da imprensa golpista e lembrar que intenção de voto ajuda, sim, a viabilizar uma candidatura. Mas preparo político e pessoal ajudam mais.

Dilma pode ser candidata. Dilma pode ser eleita. No entanto, encolheu politicamente com o caso do dossiê. Retrocedeu algumas casas no jogo pela conquista da Presidência.

Te cuida, governador

Político preparado, o governador de São Paulo, José Serra, deveria tomar cuidado com as análises geniais de alguns de seus fiéis seguidores no PSDB. Convém prestar mais atenção em Aécio, que parece mais antenado.

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