A seguinte avaliação é de um importante aliado do governo Lula no Congresso. Obviamente, ele pede a reserva do seu nome. "Se a Dilma não consegue enfrentar o Arthur Virgílio numa CPI, não dá para ser candidata a presidente. Isso é fichinha perto dos desafios que ela terá de enfrentar para disputar a Presidência. O presidente Lula pode e ainda vai insistir na candidatura dela, mas acho que ficou difícil."
A ministra da Casa Civil encolheu com o Dilmagate. A tendência é sua sobrevivência no cargo, com apoio de Lula, mas sem o poder e a expectativa de poder de outrora. No Palácio do Planalto, diz-se que a culpa é da imprensa. Fala-se que a mídia inventou um escândalo e quis derrubar Dilma.
Ora, o dossiê com gastos sigilosos foi feito dentro da Casa Civil. A número 2 de Dilma, Erenice Guerra, confirmou que deu a ordem para elaboração dos dados. O governo quer encontrar um culpado para o vazamento a fim de esconder o culpado pela confecção de um peça política que seria usada, sim, contra adversários políticos.
Em fevereiro, ouvia-se no Palácio do Planalto: "Se a oposição quer um Carnaval, vai ter um Carnaval e meio". Também se dizia: "O Lula não tem chef de cozinha como o Fernando Henrique tinha". Nos jornais, começaram a aparecer notas com dados sobre tucanos que soaram como tiros de advertência. Algo na linha: temos munição para perturbar vocês. Dilma foi a um encontro com empresários em São Paulo e disse, em tom ameaçador, que reunia dados sobre FHC.
E a culpa é da imprensa?
A culpa é da arrogância do governo.
Esse escândalo teve uso da máquina pública para luta política, mas não teve ladroagem, como no mensalão. No mensalão, o PT fez aliança com um bandido para consertar um buraco em suas finanças e aliciar parlamentares venais no Congresso. Ou será que Marcos Valério arrumou dinheiro para o PT porque acreditava na causa? O PT cuspiu na própria história.
Apesar de não ter havido ladroagem, o Dilmagate é grave porque dados sigilosos, importantes ou não, foram selecionados para servir de munição contra adversários.
Quem sofreu na pele as atrocidades da ditadura militar de 1964 deveria ter mais cuidado ao usar o poder do Estado contra opositores. Dilma tem uma biografia respeitável. Foi uma jovem que teve a coragem de arriscar a vida para enfrentar uma ditadura. Hoje, é muito fácil criticar os que optaram pela luta armada na virada dos anos 60 para os 70. Em 2008, parece claro que se tratava de uma batalha perdida. Mas aqueles jovens tiveram uma atitude heróica naquele contexto, por mais equívocos que tenham cometido.
O Brasil mudou desde então. Mudou para melhor. Não dá para avançar o sinal em nome da causa. Dilma avançou o sinal quando telefonou para a ex-primeira Ruth Cardoso a fim de negar a existência de um dossiê montado por sua principal auxiliar e com o seu conhecimento.
Repetindo: Dilma tem uma história de vida que merece respeito. Foi presa. Torturada. Difícil para alguém da geração que não pegou aquela barra pesada imaginar o que ela passou. No entanto, por mais que tenha sofrido, Dilma não tem o direito de esculhambar aos berros ministros, secretários-executivos, presidentes de estatais e auxiliares. Ela não gosta que se escreva isso e vive dizendo que até parece ser a única mulher dura cercada por homens meigos. Ou seja, se vitimiza. Mas quem já levou um sabão dela sabe como doeu. Alguns pediram para sair da Casa Civil. Outros se sentiram humilhados na frente de colegas de governo. Pior ainda: servidores em cargos mais simples, como secretárias e garçons, simplesmente suportam broncas calados.
Nesta semana, Dilma vestiu a roupa de vítima ao receber uma visita de "solidariedade" de um grupo de congressistas porque o senador Mão Santa (PMDB-PI) disse que ela era uma "galinha cacarejadora" ao falar de sua participação em palanques do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento). Dilma voltou a usar a frase de que parece ser a única mulher dura no meio de homens meigos.
Mão Santa recorreu a uma expressão de mau gosto. Mas ela não tinha conotação sexual. Ele explicou o uso que os nazistas faziam da imagem para ilustrar a necessidade de alardear feitos. Mas foi conveniente para a ministra posar de vítima.
A cadeira de presidente da República tem botões que, se apertados, explodem o ocupante pelos ares. A elaboração do dossiê na Casa Civil é um exemplo de botão que o dono aciona e vai embora junto. Para disputar a Presidência, não falta a Dilma apenas a capacidade de enfrentar um tucano articulado, como Arthur Virgílio, numa CPI.
Faltam-lhe preparo político e pessoal mesmo.
Que abacaxi!
Já virou folclore no Palácio do Planalto a predileção de Dilma por suco de abacaxi. Na cozinha, servidores ficam em polvorosa provando abacaxis maduros. Se um garçon serve para a ministra um suco que ela acha meio azedo, a casa cai. Secretárias vivem em tensão. Se a ministra pede uma ligação, monta-se uma operação de guerra, porque o telefonema é para ontem. Na FAB (Força Aérea Brasileira), pilotos rezam para não serem escalados para os jatinhos das viagens da ministra. Ela detesta turbulências e, em voz alta, costuma se queixar da suposta falta de habilidade de pilotos para evitá-las.
Saída de emergência
No Palácio do Planalto, já se ouve que o governo deveria admitir que fez um levantamento específico para comparar gastos do casal FHC com despesas do casal Lula. E ponto. O vazamento de dados e a tentativa de intimidar a oposição continuariam a ser negados. Assim, argumentaria que fez um documento preventivo, para se defender em eventual embate na CPI dos Cartões.
Há dois problemas caso se recorra a essa saída de emergência. Os tiros de advertência que ministros e parlamentares petistas andaram dando para assustar tucanos. E a versão de Dilma de que fazia um inocente banco de dados.
Em tempo: numa entrevista a Gustavo Krieger, no "Correio Braziliense, o ministro Tarso Genro (Justiça) já colocou na praça a saída de emergência. Disse que não é crime um governo "organizar dossiês de natureza política".
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